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sábado, 27 de novembro de 2010


A ESCOLA DAS ALMAS


Congregados, em torno do Cristo, os domésticos de Simão ouviram a voz suave e persuasiva do Mestre, comentando os sagrados textos.

Quando a palavra divina terminou a formosa preleção, a sogra de Pedro indagou inquieta: — Senhor, afinal de contas, que vem a ser a nossa vida no lar? Contemplou-a Ele, significativamente, demonstrando a expectativa de mais amplos esclarecimentos, e a matrona acrescentou: — Iniciamos a tarefa entre flores para encontrarmos depois pesada colheita de espinhos.

No começo é a promessa de paz e compreensão; entretanto, logo após, surgem pedras e dissabores...

Reparando que a senhora galiléia se sensibilizara até às lágrimas, deu-se pressa Jesus em responder: — O lar é a escola das almas, o templo onde a sabedoria divina nos habilita, pouco a pouco, ao grande entendimento da Humanidade.

E, sorrindo, perguntou: — Que fazes inicialmente às lentilhas, antes de servi-las à refeição? A interpelada respondeu titubeante: — Naturalmente, Senhor, cabe-me levá-las ao fogo para que se façam suficientemente cozidas.

Depois, devo temperá-las, tornando-as agradáveis ao sabor.

— Pretenderias, também, porventura, servir pão cru à mesa? — De modo algum — tornou a velha humilde —; antes de entregá-lo ao consumo caseiro, compete-me guardá-lo ao calor do forno.

Sem essa medida...

O Divino Amigo então considerou: — Há também um banquete festivo, na vida celestial, onde nossos sentimentos devem servir à glória do Pai.

O lar, na maioria das vezes, é o cadinho santo ou o forno preparador.

O que nos parece aflição ou sofrimento dentro dele é recurso espiritual.

O coração acordado para a Vontade do Senhor retira as mais luminosas bênçãos de suas lutas renovadoras, porque, somente aí, de encontro uns com os outros, examinando aspirações e tendências que não são nossas, observando defeitos alheios e suportando-os, aprendemos a desfazer as próprias imperfeições.

Nunca notou a rapidez da existência de um homem? A vida carnal é idêntica à flor da erva.

Pela manhã emite perfume, à noite, desaparece...

O lar é um curso ligeiro para a fraternidade que desfrutaremos na vida eterna.

Sofrimentos e conflitos naturais, em seu círculo, são lições.

A sogra de Simão escutou atenciosa, e ponderou: — Senhor, há criaturas, porém, que lutam e sofrem; no entanto, jamais aprendem.

O Cristo pousou na interlocutora os olhos muito lúcidos e tornou a indagar: — Que fazes das lentilhas endurecidas que não cedem à ação do fogo? — Ah! sem dúvida, atiro-as ao monturo, porque feririam a boca do comensal descuidado e confiante.

— Ocorre o mesmo — terminou o Mestre — com a alma rebelde às sugestões edificantes do lar.

A luta comum mantém a fervura benéfica; todavia, quando chega a morte, a grande selecionadora do alimento espiritual para os celeiros de Nosso Pai, os corações que não cederam ao calor santificante, mantendo-se na mesma dureza, dentro da qual foram conduzidos ao forno bendito da carne, serão lançados fora, a fim de permanecerem, por tempo indeterminado, na condição de adubo, entre os detritos da Natureza.


Livro Jesus no Lar, lição 2 - Médium: Chico Xavier – Espírito: Néio Lúcio.

sábado, 20 de novembro de 2010


O MINISTRO SÁBIO


Mateus discorria solene, sobre a missão dos que dirigem a massa popular, especificando deveres dos administradores e dificuldades dos servos.

A conversação avançava, pela noite a dentro, quando Jesus, notando que os aprendizes lhe esperavam a palavra amiga, narrou, sorridente: — Um reino existia, em cuja intimidade apareceu um grande partido de adversários do soberano que o governava.

Pouco a pouco, o espírito de rebeldia cresceu em certas famílias revoltadas e, a breves semanas, toda uma província em desespero se ergueu contra o monarca, entravando-lhe as ações.

Naturalmente preocupado, o rei convidou um hábil juiz para os encargos de primeiro ministro do país, desejoso de apagar a discórdia; mas o juiz começou a criar quantidade enorme de leis e documentos escritos, que não chegaram a operar a mínima alteração.

Desiludido, o imperante substituiu-o por um doutrinador famoso.

O tribuno, porém, conduzido à elevada posição, desfez-se em discursos veementes e preciosos que não modificaram a perturbação reinante.

Continuavam os inimigos internos solapando o prestígio nacional, quando o soberano pediu o socorro de um sacerdote que, situado em tão nobre posto, amaldiçoou, de imediato, os elementos contrários ao rei, piorando o problema.

Desencantado, o monarca trouxe um médico à direção dos negócios gerais, mas tão logo se viu em palácio, partilhando as honras públicas, o novo ministro afirmou, para conquistar o favor régio, que o partido de adversários da Coroa se constituía de doentes mentais, e fez disso propaganda tão ruinosa que a indisciplina se tornou mais audaciosa e a revolta mais desesperada.

Pressentindo o trono em perigo, o soberano substituiu o médico por um general célebre, que tomou providência drástica, arregimentando forças armadas nas regiões fiéis e mobilizando-as contra os irmãos insubmissos.

Estabeleceu-se a guerra civil.

E quando a morte começou a ceifar vidas inúmeras, inclusive a do temido lidador militar que se convertera em primeiro ministro do reino, o imperante, de alma confrangida, convidou um sábio a ocupar-se do posto então vazio.

Esse chegou à administração, meditou algum tempo e deu início a novas atividades.

Não criou novas leis, não pronunciou discursos, não censurou os insurretos, não perdeu tempo em zombaria e nem estimulou qualquer cultura de vingança.

Dirigiu-se em pessoa à região conflagrada, a fim de observar-lhe as necessidades.

Reparou, aí, a existência de inúmeras criaturas sem teto, sem trabalho e sem instrução, e erigiu casas, criou oficinas, abriu estradas e improvisou escolas, incentivando o serviço e a educação, lutando, com valioso espírito de entendimento e fraternidade, contra a preguiça e a ignorância.

Não transcorreu muito tempo e todas as discórdias do reino desapareceram, porque a ação concreta do bem eliminara toda a desconfiança, toda a dureza e indecisão dos espíritos enfermiços e inconformados.

Mateus contemplava o Senhor, embevecidamente, deliciando-se com as idéias de bondade salvadora que enunciara, e Jesus, respondendo-lhe à atenção com luminoso sorriso, acrescentou para finalizar: — O ódio pode atear muito incêndio de discórdia, no mundo, mas nenhuma teoria de salvação será realmente valiosa sem o justo benefício aos espíritos que a maldade ou a rebelião desequilibraram.

Para que o bem possa reinar entre os homens, há de ser uma realidade positiva no campo do mal, tanto quanto a luz há de surgir, pura e viva, a fim de expulsar as trevas.


Livro Jesus no Lar, lição 15 – Médium: Chico Xavier – Espírito: Néio Lúcio.

sábado, 13 de novembro de 2010


A Serpente e o Sábio


Contam as tradições populares da Índia que existia uma serpente venenosa em certo campo. Ninguém se aventurava a passar por lá, receando-lhe o assalto. Mas um santo homem, a serviço de Deus, buscou a região, mais confiado no Senhor que em si mesmo.

A serpente o atacou, desrespeitosa. Ele dominou-a, porém, com o olhar sereno, e falou: - Minha irmã, é da lei que não façamos mal a ninguém.

A víbora recolheu-se, envergonhada.

Continuou o sábio o seu caminho e a serpente modificou-se completamente. Procurou os lugares habitados pelo homem, como desejosa de reparar os antigos crimes. Mostrou-se integralmente pacífica, mas, desde então, começaram a abusar dela.

Quando lhe identificaram a submissão absoluta, homens, mulheres e crianças davam-lhe pedradas. A infeliz recolheu-se à toca, desalentada. Vivia aflita, medrosa, desanimada.

Eis, porém, que o santo voltou pelo mesmo caminho e deliberou visitá-la. Espantou-se, observando tamanha ruína. A serpente contou-lhe, então, a história amargurada.

Desejava ser boa, afável e carinhosa, mas as criaturas perseguiam-na. O sábio pensou, pensou e respondeu após ouví-la: - Mas, minha irmã, ouve um engano de tua parte.

Aconselhei-te a não morderes ninguém, a não praticares o assassínio e a perseguição, mas não te disse que evitasses de assustar os maus.

Não ataques as criaturas de Deus, nossas irmãs no mesmo caminho da vida, mas defende a tua cooperação na obra do Senhor. Não mordas, nem firas, mas é preciso manter o perverso à distância, mostrando-lhe os teus dentes e emitindo os teus silvos.


Livro: Os Mensageiros – Médium: Chico Xavier – Espírito: André Luiz.

sábado, 6 de novembro de 2010


O RICAÇO DISTRAÍDO


Existiu um homem devoto que chegou ao céu e, sendo recebido por um anjo do Senhor; implorou enlevado:

-Mensageiro Divino, que devo fazer para vir morar, em definitivo, ao lado de Jesus?

-Faze o bem – informou o Anjo – e volta mais tarde.

-Posso rogar-te recursos para semelhante missão?

-Pede o que desejas.

-Quero dinheiro, muito dinheiro, para socorrer o meu próximo.

O emissário estranhou o pedido e considerou:

-Nem sempre o ouro é o auxiliar mais eficiente para isso.

-Penso, contudo, meu santo amigo, que, sem o ouro, é muito difícil praticar a caridade.

-E não temes as tentações do caminho?

-Não.

-Terás o que almejas – afirmou o mensageiro -, mas não te esqueças de que o tesouro de cada homem permanece onde tem o coração, porque toda alma reside onde coloca o pensamento. Tuas possibilidades materiais serão multiplicadas. No entanto, não ouvides que as dádivas divinas, quando retidas despropositadamente pelo homem, sem qualquer proveito para os semelhantes, transformam-no em prisioneiro delas. A lei determina sejamos escravos dos excessos a que nos entregarmos.

Prometeu o homem exercer a caridade, servir extensamente e retornou ao mundo.

Os Anjos da Prosperidade começaram, então, a ajudá-lo.

Multiplicaram-lhe, de início, as peças de roupa e os pratos de alimentação; todavia, o devoto já remediado suplicou mais roupas e mais alimentos.

Deram-lhe casa e haveres. Longe, contudo, de praticar o bem, considerava sempre escassos os bens que possuía e rogou mais casas e mais haveres. Trouxeram-lhe rebanhos e chácaras, mas o interessado em subir ao paraíso pela senda da caridade, temendo agora a miséria, implorou mais rebanhos e mais chácaras. Não cedia um quarto, nem dava uma sopa a ninguém, declarando-se sem recursos para auxiliar os necessitados e esperava sempre mais, a fim de distribuir algum pão com eles. No entanto, quanto mais o Céu lhe dava, mais exigia do Céu.

De espontâneo e alegre que era, passou a ser desconfiado, carrancudo e arredio.

Receando amigos e inimigos, escondia grandes somas em caixa forte, e quando envelheceu, de todo, veio a morte, separando-o da imensa fortuna.

Com surpresa, acordou em espírito, deitado no cofre grande.

Objetos preciosos, pedaços de ouro e prata e vastas pilhas de cédulas usadas serviam-lhe de leito.

Tinha fome e sede, mas não podia servir-se das moedas; queria a liberdade, porém, as notas de banco pareciam agarrá-lo, à maneira de visco retentor de pássaro cativo.

-Santo Anjo! – gritou, em pranto – vem! Ajuda-me a partir, em direção à Casa Celestial!...

O mensageiro dignou-se a baixar até ele e, reparando-lhe o sofrimento, exclamou:

-É muito tarde para súplicas! Estás sufocado pelas correntes de facilidades materiais que o Senhor te confiou, porque a fizeste rolar tão somente em torno de ti, sem qualquer benefício para os irmãos de luta e experiência...

-E que devo fazer – implorou o infeliz – para retomar a paz e ganhar o paraíso?

O Anjo pensou, pensou... e respondeu:

-Espalha com proveito as moedas que ajuntas-te inutilmente, desfaze-te da terra vasta que retiveste em vão, entrega à circulação do bem todos os valores que recebeste do Tesouro Divino e que amontoaste em derredor de teus pés, atendendo ao egoísmo, à vaidade, à avareza e à ambição destrutiva e, depois disso, vem a mim para retomarmos o entendimento efetuado a sessenta anos...

Reconhecendo, porém, o homem que já não dispunha de um corpo de carne para semelhante serviço, começou a gritar e blasfemar, como se o inferno estivesse morando em sua própria consciência.


Livro: Alvorada Cristã – Médium: Chico Xavier - Espírito Néio Lúcio.