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sábado, 30 de abril de 2011

A PREGAÇÃO FUNDAMENTAL




Um aprendiz de Nosso Senhor Jesus Cristo entusiasmou-se com os ensinamentos do Evangelho e decidiu propagá-los, enquanto vivesse.


Leu atencioso as lições do Mestre e começou a comentá-las por toda parte, gastando dias e noites nesse mister.


Chegou, porém, o momento em que precisou pagar as próprias despesas e foi compelido a trabalhar.


Empregou-se sob as ordens de um orientador que lhe não agradou. Esse diretor de serviço achava-se muito distante da fé e, por isto, contrariava-lhe as tendências religiosas. Controlava-lhe as horas com rigor e observava-o com apontamentos acrimoniosos e rudes.


O pregador do Crucificado não mais se movimentava com a liberdade de outro tempo. Era obrigado a consagrar largos dias a trabalhos difíceis que lhe consumiam todas as forças. Prosseguia, ensinando a boa doutrina, quanto lhe era possível; porém, não mais podia agir e falar, como queria ou quando pretendia. Tinha os minutos contados, as oportunidades divididas, as semanas tabeladas e, porque se julgasse vítima das ordenações de sua chefia, procurou o diretor do serviço e despediu-se.


O proprietário que o empregara indagou do motivo que o levava a semelhante resolução.


Um tanto irônico, o rapaz explicou-se:


-Quero ser livre para melhor servir a Jesus. Não posso, pois, aceitar o cativeiro de sua casa.


Nesse dia de folga absoluta, sentiu-se tão independente e tão satisfeito que discorreu, animadamente, sobre a doutrina cristã, até depois de meia-noite, em várias casas religiosas.


Repousando, feliz, alta madrugada sonhou que o Mestre vinha encontrá-lo. Reparou-lhe a beleza celeste e ajoelhou-se para beijar-lhe a túnica resplandecente.


Jesus, porém, estampava na fisionomia dolorosa e indisfarçável tristeza.


O discípulo inquietou-se e interrogou:


-Senhor, porque te sentes amargurado?


O Cristo, respondeu, melancolicamente:


-Porque desprezaste, meu filho, a pregação que te confiei?


-Como assim, Senhor? — replicou o jovem — ainda hoje abandonei um homem tirânico para melhor ensinar a tua palavra. Tenho discursado em vários templos e comentado a Boa Nova por onde passo.


-Sim — exclamou o Mestre —, esta é a pregação que me ofereces e que desejo continues fervorosamente; todavia, confiei ao teu espírito a pregação fundamental da verdade a um homem que administra os meus interesses na Terra e não soubeste executá-la. Classificaste-o de ignorante e cruel; entretanto, olvidas que ele ignora o que sabes.


E pretendes, acaso, desconhecer que o orientador humano que te dei somente poderia abordar-me os ensinos, nesta hora, através de teu exemplo? Tua humildade construtiva, no espírito de serviço, modificar-lhe-ia o coração... Se lhe desses cinco anos consecutivos de demonstrações evangélicas, estaria preparado a caminhar, por si mesmo, na direção do Reino Divino!... E ele, que determina sobre o tempo de duzentos homens, se faria melhor, mais humano e mais nobre, sem prejuízo da energia e da eficiência... Poderás ensinar o caminho celestial a cem mil ouvidos, mas a pregação do exemplo, que converta um só coração ao Infinito Bem, estabelece com mais presteza a redenção do mundo!...


O aprendiz desejou perguntar alguma coisa; entretanto, o Cristo afastou-se num turbilhão de luminosa neblina.


Acordou, sobressaltado, e não mais dormiu naquela noite.


De manhã, pôs-se a caminho do estabelecimento em que trabalhara, procurou o diretor de quem se despedira e pediu humildemente:


-Senhor, rogo-lhe desculpas pelo meu gesto impensado e, caso seja possível, readmita-me nesta casa! Aceitarei qualquer gênero de tarefa.


O chefe, admirado, indagou:


-Quem te induziu a esta modificação?


-Foi Jesus — respondeu o rapaz —; não podemos servi-lo por intermédio da indisciplina ou do orgulho pessoal.


O diretor concordou sem vacilação, exclamando:


-Entre! Estamos ao seu dispor.


Anotou a boa vontade e o sincero desejo de servir de que o empregado dava agora vivo testemunho e passou a refletir na grandeza da doutrina que assim orientava os passos de um homem no aperfeiçoamento moral. E o aprendiz do Evangelho que retomou o trabalho comum, intensamente feliz, compreendeu, afinal, que poderia prosseguir na propaganda verbal que desejava e na pregação básica do exemplo que Jesus esperava dele.




Livro: Alvorada Cristã – Médium: Chico Xavier – Espírito: Néio Lúcio.

sábado, 23 de abril de 2011

O BARRO DESOBEDIENTE




Houve um oleiro que chegou ao pátrio de serviço e reparou com alegria um pequeno bloco de barro. Contemplou-o, enlevado, em face da cor viva com que se apresentava e falou:


- Vamos! Farei de ti delicado pote de laboratório. O analista alegrar-se-á com teu concurso valioso.


Imensamente surpreendido, porém, notou que o barro retrucava:


- Oh! Não, não quero! Eu, num laboratório, tolerando precipitações químicas? Por favor, não me toques para semelhante fim!


O oleiro, espantado, considerou:


- Desejo dar-te forma por amor, não por ódio. Sofrerás o calor do forno para que te faças belo e útil... Entretanto, porque te recusas ao que proponho, transformar-te-ei numa caprichosa ânfora destinada a depósito de perfumes.


- Oh! Nunca! Nunca! ... - exclamou o barro - isto não! Estaria exposto ao prazer dos inconscientes. Não estou inclinado a suportar essências, através de peregrinações pelos móveis de luxo.


O dono do serviço meditou muito na desobediência da lama orgulhosa, mas, entendendo que tudo devia fazer por não trair a confiança do Céu, ponderou:


- Bem, converter-te-ei, então, num prato honrado e robusto. Comparecerás à mesa de meu lar. Ficarás conosco e serás companheiro de meus filhinhos


- Jamais! - bradou o barro, na indisciplina - isto seria pesada humilhação... Transportar arroz cozido e agüentar caldos gordurosos na face? Assistir, inerme, às cenas de glutonaria em tua casa? Não, não me submetas! ...


O trabalhador dedicado perdoou-lhe a ofensa e acrescentou


- Modificaremos o programa ainda uma vez. Serás um vaso amigo, em que a límpida água repouse. Ajudarás aos sedentos que se aproximarem de ti. Muita gente abençoar-te-á a cooperação. Despertarás o contentamento e a gratidão nas criaturas! ...


- não, não! - protestou a argila - não quero! Seria condenar-me a tempo indefinido nas cantoneiras poeirentas ou nas salas escuras de pessoas desclassificadas. Por favor, poupa-me! Poupa-me! ...


O oleiro cuidadoso considerou, preocupado:


- Que será de ti quando te conduzirem ao forno? Não passarás de matéria endurecida e informe, sem qualquer utilidade ou beleza. Sem sacrifício e sem disciplina, ninguém se eleva aos planos da vida superior.


O barro, todavia, recusou a advertência, bradando:


- Não aceito sacrifício, nem disciplina...


Antes que pudesse prosseguir, passou o enfornador arrebanhando a argila pronta, e o barro desobediente foi também conduzido ao forno em brasa.


Decorrido algum tempo, a lama vaidosa foi retirada e - ó surpresa! - não era pote de laboratório, nem ânfora de perfume, nem prato de refeição, nem vaso para água e, sim, feio pedaço de terra requeimada e morta, sem qualquer significação, sendo imediatamente atirada ao pântano.


Assim acontece a muitas criaturas no mundo. Revoltam-se contra a vontade soberana do Senhor que as convida ao trabalho de aperfeiçoamento, mas, depois de levadas pela experiência ao forno da morte, se transformam em verdadeiros fantasmas de desilusão e sofrimento, necessitando de longo tempo para retornarem às bênção da vida mais nobre.




Livro: Alvorada Cristã – Médium: Chico Xavier – Espírito: Néio Lúcio.

sábado, 16 de abril de 2011

APONTAMENTO




Manifestaste indisfarçável aborrecimento, ante as observações paternas que te contrariaram os propósitos impensados.


Ontem abusaste da alimentação, hoje pretendias uma excursão inconveniente.


Referiu-se teu pai às necessidades do espírito com acentuada tristeza; todavia, longe de lhe entenderes a nobreza do gesto, buscaste, intempestivo, os braços maternos, na ânsia incontida de aprovação aos teus caprichos juvenis.


Foste, porém, injusto.


O jovem que recusa a orientação acertada dos mais velhos que lhe desejam o bem, procede qual lavrador leviano que reprova a boa semente.


Estimas as longas incursões no pomar, quando as laranjeiras se cobrem de frutos e quando a parreira deita uvas doces.


Acreditas, no entanto, que as árvores excelentes teriam crescido sem cuidado? Admites que a vinha não necessitou de amparo em pequena?


Todas as plantas, mormente as mais tenras, sofrem insistentes perseguições de detritos e vermes . Sem carinhosas mãos que as protejam, ser-lhes-ia impraticável o desenvolvimento e a frutificação; muitos dias de vigilância requerem do pomicultor antes de nos atenderem na chácara.


Ignoras que o mesmo acontece no campo do coração?


As más experiências de uma criança acompanham-na a vida inteira.


Diz o provérbio: "Com o tempo, a folha da amoreira converte-se em veludoso cetim"; mas não podemos esquecer que também com o tempo as águas desamparadas e esquecidas se transformam em pântano.


Não te revoltes contra a sementeira de reflexão e bondade que o carinho paterno realiza em teu espírito.


Sobretudo, não te impressiones com a fantasiosa opinião de colegas de rua. O tempo dará corpo aos princípios inferiores ou superiores que abraçares e, enquanto o companheiro estranho ao teu lar pode ser o amigo de alguns dias, o papai ser-te-á o amigo e benfeitor de muitos anos.




Livro: Alvorada Cristã – Médium: Chico Xavier – Espírito: Néio Lúcio.

sábado, 9 de abril de 2011

CARTA PATERNA




Meu filho; não tinhas razão em favor da cólera.


Vi, perfeitamente, quando o velhinho se aproximou para servir-te.


Trazia um coração amoroso e atento que não soubeste compreender.


Deste uma ordem que o pobrezinho não ouviu tão bem, quanto desejavas. Repetiste-a e, porque novamente te perguntasse qualquer coisa, proferiste palavras feias, que lhe feriram as fibras mais íntimas.


Como foste injusto!...


Quando nasceste, o antigo servidor já vencera muitos invernos e servira a muita gente.


Enfraqueceram-se-lhe os ouvidos, ante as imperiosas determinações alheias.


Nunca refletiste na neblina que lhe enevoa o olhar? Adquiriu-a trabalhando à noite, enquanto dormias despreocupado.


Sabes por que traz ele as pernas trêmulas? Devorou muitas léguas a pé, solucionando problemas dos outros.


Irritas-te, quando se demora a movimentar-se a teu mando. Contudo, exiges o automóvel para a viagem de dois quilômetros.


Em muitas ocasiões, queixas-te contra ele. É relaxado aos teus olhos, tem as mãos descuidadas e a roupa não muito limpa. Entretanto, nunca imaginaste que o apagado servidor jamais encontrou oportunidades iguais às que recebeste. Além disto, não lhe oferecem o ensinamento amigo e nem tempo para cogitar das próprias necessidades espirituais.


Reclamas longos dias para examinar pequenina questão, referente ao teu bem estar; todavia, não lhes consagra nem mesmo uma hora por semana, ajudando-o a refletir...


Respondes, enfadado, quando o velho companheiro te pede alguns níqueis, mais não vacilas em despender pequenas fortunas com amigos ociosos, em noitadas alegres, nas quais te mergulhas em fantasioso contentamento.


Interrogas, ingrato: – que fizeste do dinheiro que te dei?


Esqueces que o servidor de fronte enrugada não dispôs de tempo e recurso para calcular, com exatidão, os processos de ganhar além do necessário e não conseguiu ensejo de ilustrar o raciocínio com o refinamento que caracteriza o teu.


Ah! meu filho quando a impaciência te visita o espírito, recorda que o monstro da ira indesejável te bate à porta do coração. E quando a ele te entregas, imprevidente, tuas conquistas mais elevadas tremem nos alicerces. Chego a desconhecer-te, porque a fúria dos elementos interiores te alteram a individualidade aos meus olhos e eu não sei se passas à condição de criança ou de demônio!...


Se não podes conter, ainda, os movimentos impulsivos de sentimentos perturbadores; chegado o instante do testemunho, cala-te e espera.


A cólera nada edifica e nada restaura... Apenas semeia desconfiança e temor, ao redor de teus passos.


Não ameaces com a voz, nem te insurjas contra ninguém.


É provável que guardes alguma reclamação contra mim, teu pai, porque eu também sou ainda humano. No entanto, filho, acima de nós ambos permanece o Pai Supremo, e que seria de ti e de mim, se Deus, um dia, se encolerizasse contra nós?




Livro: Alvorada Cristã – Médium: Chico Xavier – Espírito: Néio Lúcio.

sábado, 2 de abril de 2011

O DIVINO SERVIDOR




Quando Jesus nasceu, uma estrela mais brilhante que as outras luzia, a pleno céu, indicando a manjedoura.


A princípio, pouca gente lhe conhecia a missão sublime.


Em verdade, porém, assumindo a forma duma criança, vinha Ele, da parte de Deus, nosso Pai Celestial, a fim de santificar os homens e iluminar os caminhos do mundo.


O Supremo Senhor que no-lo enviou é o Deus de Todas as Coisas. Milhões de mundos estão governados por suas mãos. Seu poder tudo abrange, desde o Sol distante até o verme que se arrasta sob nossos pés; e Jesus, emissário d’Ele na Terra, modificou o mundo inteiro.


Ensinando e amando, aproximou as criaturas entre si, espalhou as sementes da compaixão fraternal, dando ensejo à fundação de hospitais e escolas, templos e instituições, consagrados à elevação da Humanidade. Influenciou, com seus exemplos e lições, nos grandes impérios, obrigando príncipes e administradores, egoístas e maus, a modificarem programas de governo. Depois de sua vinda, as prisões infernais, a escravidão do homem pelo homem, a sentença de morte indiscriminada a quanto não pensassem de acordo com os mais poderosos, deram lugar à bondade salvadora, ao respeito pela dignidade humana e pela redenção da vida, pouco a pouco.


Além dessas gigantescas obras, nos domínios da experiência material, Jesus, convertendo-se em Mestre Divino das almas, fez ainda muito mais.


Provou ao homem a possibilidade de construir o Reino da Paz, dentro do próprio coração, abrindo a estrada celeste à felicidade de cada um de nós.


Entretanto, o maior embaixador do Céu para a Terra foi igualmente criança.


Viveu num lar humilde e pobre, tanto quanto ocorre a milhões de meninos, mas não passou a infância despreocupadamente. Possuiu companheiros carinhosos e brincou junto deles. No entanto, era visto diariamente a trabalhar numa carpintaria modesta. Viva com disciplina. Tinha deveres para com o serrote, o martelo e os livros.


Por representar o Supremo Poder, na Terra, não se movia à vontade, sem ocupações definidas. Nunca se sentiu superior aos pequenos que o cercavam e jamais se dedicou à humilhação dos semelhantes.


Eis porque o jovem mantido à solta, sem obrigações de servir, atender e respeitar, permanece em grande perigo.


Filho de pais ricos ou pobres, o menino desocupado é invariavelmente um vagabundo. E o vagabundo aspira ao título de malfeitor, em todas as circunstâncias. Ainda que não possua orientadores esclarecidos no ambiente em que respira, o jovem deve procurar o trabalho edificante, em que possa ser útil ao bem geral, pois se o próprio Jesus, que não precisava de qualquer amparo humano, exemplificou o serviço ao próximo, desde os anos mais tenros, que não devemos fazer a fim de aproveitar o tempo que nos é concedido na Terra?




Livro: Alvorada Cristã – Médium: Chico Xavier – Espírito: Néio Lúcio.