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sábado, 31 de março de 2012

A GLÓRIA DO ESFORÇO

Relacionava Tiago, filho de Alfeu, as dificuldades naturais na preparação do discípulo, quando várias opiniões se fizeram ouvir quanto aos percalços do aprimoramento.

É quase impossível praticar as lições da Boa Nova, no mundo avesso à bondade, à renúncia e ao perdão — concluíram os aprendizes de maneira geral.

A maioria das criaturas comprazem-se na avareza ou no endurecimento.

Registrava o Mestre a conceituação expendida pelos companheiros, em significativa quietude, quando Pedro O convocou diretamente ao assunto.

Jesus refletiu alguns instantes e ponderou:

— Entre ensino e aproveitamento, tudo depende do aprendiz.

E a seguir, falou com brandura: — Existiu no tempo de David um grande artista que se especializara na harpa com tamanha perfeição que várias pessoas importantes vinham de muito longe, a fim de ouvi-lo.

Grandes senhores com as suas comitivas descansavam, de quando em quando, junto à moradia dele, cercada de arvoredo, para escutar-lhe as sublimes improvisações.

O admirável mestre fez renome e fortuna, parecendo a todos que ninguém o igualaria na Terra na expressão musical a que se consagrara.

Em seus saraus e exibições, possuía em seu serviço pessoal um escravo aparentemente inábil e atoleimado, que servia água, doce e frutas aos convivas e que jamais conversava, fixando toda a atenção no instrumento divino, como se vivesse fascinado pelas mãos que o tangiam.

Muitos anos correram quando, certa noite, o artista volta, de inesperado, ao domicílio, findo o banquete de um amigo nas vizinhanças e, com indizível espanto, assinala celeste melodia no ar.

Alguém tocava magistralmente em sua casa solitária, qual se fora um anjo exilado no mundo.

Quem seria o estrangeiro que lhe tomara o lugar? Em lágrimas de emoção por pressentir a existência de alguém com ideal artístico muito superior ao dele, avança devagar para não ser percebido e, sob intraduzível assombro, verificou que o harpista maravilhoso era o seu velho escravo tolo que, usando os minutos que lhe pertenciam por direito e sem incomodar a ninguém, exercitava, as lições do senhor, às quais emprestava, desde muito tempo, todo o seu vigilante amor em comovido silêncio.

Foi então que o artista magnânimo e famoso libertou-o e conferiu-lhe a posição que por justiça merecia.

Diante da estranheza dos discípulos que se calavam, confundidos, o Mestre rematou: — A aquisição de qualidades nobres é a glória infalível do esforço.

Todo homem e toda mulher que usarem as horas de que dispõem na harpa da vida, correspondendo à sabedoria e à beleza com que Nosso Pai se manifesta em todos os quadros do mundo, depressa lhe absorverão a grandeza e as sublimidades, convertendo-se em representantes do Céu para seus irmãos em humanidade.

Quando a criatura, porém, somente trabalha na cota de tempo que lhe é paga pelas mordomias da Terra, sem qualquer aproveitamento das largas concessões de horas que a Divina Bondade lhe concede no corpo, nada mais receberá, além da remuneração transitória do mundo.

Livro: Jesus no Lar, lição 43 - Médium: Chico Xavier – Espírito: Néio Lúcio.
Fonte da imagem: Internet Google.

sábado, 24 de março de 2012

O PODER DAS TREVAS

Centralizando-se a palestra no estudo das tentações, contou Jesus, sorridente: — Um valoroso servidor do Pai movimentava-se, galhardamente, em populosa cidade de pecadores, com tamanho devotamento à fé e à caridade, que os Espíritos do Mal se impacientaram em contemplando tanta abnegação e desprendimento.

Depois de lhe armarem os mais perigosos laços, sem resultado, enviaram um representante ao Gênio da Trevas, a fim de ouvi-lo a respeito.

Um companheiro de consciência enegrecida recebeu a incumbência e partiu.

O Grande Adversário escutou o caso, atenciosamente, e recomendou ao Diabo Menor que apresentasse sugestões.

O subordinado falou, com ênfase:

— Não poderíamos despojá-lo de todos os bens?

— Isto, não — disse o perverso orientador —; para um servo dessa têmpera a perda dos recursos materiais é libertação.

Encontraria, assim, mil meios diferentes para aumentar suas contribuições à Humanidade.

— Então, castigar-lhe-emos a família, dispersando-a e constrangendo-lhe os filhos a enchê-lo de opróbrio e ingratidão...

— aventou o pequeno perturbador, reticencioso.

O perseguidor maior, no entanto, emitiu gargalhada franca e objetou: — Não vês que, desse modo, se integraria facilmente com a família total que é a multidão? O embaixador, desapontado, acentuou:

— Será talvez conveniente lhe flagelemos o corpo; crivá-lo-emos de feridas e aflições.

— Nada disto — acrescentou o gênio satânico —, ele acharia meios de afervorar-se na confiança e aproveitaria o ensejo para provocar a renovação íntima de muita gente, pelo exercício da paciência e da serenidade na dor.

— Movimentaremos a calúnia, a suspeita e o ódio gratuito dos outros contra ele! — clamou o emissário.

— Para quê? — tornou o Espírito das Sombras.

— Transformar-se-ia num mártir, redentor de muitos.

Valer-se-ia de toda perseguição para melhor engrandecer-se, diante do Céu.

Exasperado, agora, o demônio menor aduziu:

— Será, enfim, mais aconselhável que o assassinemos sem piedade...

— Que dizes? — redargüiu a Inteligência perversa — A morte ser-lhe-ia a mais doce bênção por reconduzi-lo às claridades do Paraíso.

E vendo que o aprendiz vencido se calava, humilde, o Adversário Maior fez expressivo movimento de olhos e aconselhou loquaz:

— Não sejas tolo.

Volta e dize a esse homem que ele é um zero na Criação, que não passa de mesquinho verme desconhecido...

Impõe-lhe o conhecimento da própria pequenez, a fim de que jamais se engrandeça, e verás...

O enviado regressou satisfeito e pôs em prática o método recebido.

Rodeou o valente servidor com pensamentos de desvalia, acerca de sua pretendida insignificância e desfechou-lhe perguntas mentais como estas:

Como te atreves a admitir algum valor em tuas obras destinadas ao pó?

Não te sentes simples joguete de paixões inferiores da carne?

Não te envergonhas da animalidade que trazes no ser?

Que pode um grão de areia perdido no deserto?

Não te reconheces na posição de obscuro fragmento de lama?

O valoroso colaborador interrompeu as atividades que lhe diziam respeito e, depois de escutar longamente as perigosas insinuações, olvidou que a oliveira frondosa começa no grelo frágil e deitou-se, desalentado, no leito do desânimo e da humilhação, para despertar somente na hora em que a morte lhe descortinava o infinito da vida.

Silenciou Jesus, contemplando a noite calma...

Simão Pedro pronunciou uma prece sentida e os apóstolos, em companhia dos demais, se despediram, nessa noite, cismarentos e espantadiços.


Livro: Jesus no Lar, lição 39 - Médium: Chico Xavier – Espírito: Néio Lúcio.
Fonte da imagem: Internet Google.

sábado, 17 de março de 2012

O Educador Conturbado

Comentava André, o apóstolo prestativo, as dificuldades para afeiçoar-se às verdades novas, quando Jesus narrou para a edificação de todos: — Um homem, singularmente forte, que se especializara em variados serviços de reparação e reajustamento, foi convidado por um anjo a consertar um aleijado que aspirava ao ingresso no paraíso e aceitou a tarefa.

Avizinhou-se do enfermo, de martelo em punho, e, não obstante os gritos e lágrimas que a sua obra arrancava do infeliz, aprimorando-o, dia a dia, cumpriu o prometido.

O mensageiro divino, satisfeito, rogou-lhe a contribuição no aperfeiçoamento de uma velha coxa que desejava ardentemente a entrada na Corte Celeste. O trabalhador robusto, indiferente aos gemidos da anciã, impôs-lhe a disciplina curativa e, gradativamente, colocou-a em condições de subir às Esferas Sublimes.

O ministro do Alto, jubiloso, solicitou-lhe o concurso no refazimento de um homem chagado e aflito que anelava a beatitude endêmica. O consertador não hesitou. Absolutamente inacessível aos petitórios do infortunado, queimou-lhe as úlceras com atenção e rigor, pondo-o em posição de elevar-se.

Terminada a tarefa, o anjo retornou e requisitou-lhe a cooperação em beneficio de um jovem perdido em maus costumes.

O restaurador tomou o rapaz à sua conta e deu-lhe trabalho e contenção, com tamanho tirocínio, que, em tempo breve, a tarefa se fazia completa.

E, assim, o emissário de Cima pediu-lhe colaboração em diversos casos complexos de reestruturação física e moral, até que, um dia, o emérito educador, entediado da existência imperfeita na Terra, implorou ao administrador angélico a necessária permissão para seguir em companhia dele, na direção do Céu.

O embaixador sublime revistou-o, minuciosamente, e informou que também ele devia preparar-se com vistas ao grande cometimento; mostrou-lhe os pés irregulares, os braços deficientes e os olhos defeituosos e rogou, dessa vez, reajustasse ele a si mesmo, a fim de elevar-se.

O disciplinador começou a obra de auto-aprimoramento, esperançoso e otimista; entretanto, o seu antigo martelo lhe feria agora tão rudemente a própria carne que ele, ao invés de consertar os pés, os braços e os olhos, caiu a contorcer-se no chão, desditoso e revoltado, proferindo blasfêmias e vomitando injúrias contra Deus e o mundo, quase paralítico e quase cego.

Ele mesmo não suportara o regime de salvação que aplicara aos outros e o próprio anjo amigo, ao reencontrá-lo, com extrema dificuldade o identificou, tão diferente se achava.

Findo o longo exame a que submeteu o infortunado, o mensageiro do Eterno não teve outro recurso senão confiá-lo a outros educadores para que o reajustamento necessário se fizesse, com o mesmo rigor salutar com que funcionara para os outros, a fim de que o notável consertador se aperfeiçoasse, convenientemente, para, então, ingressar no Paraíso.

Diante da estranheza que senhoreara o ânimo dos presentes, o Senhor concluiu: — Usemos de paciência e amor em todas as obras de corrigenda e aprendamos a suportar as medidas com que buscamos melhorar a posição daqueles que nos cercam, porque para cada espírito chega sempre um momento em que deve ser burilado, com eficiência e segurança, para a Luz Divina.

Livro: Jesus no Lar, lição 47 – Médium: Chico Xavier – Espírito: Néio Lúcio.
Fonte da imagem: Internet Google.

sábado, 10 de março de 2012

LOUVADO SEJA DEUS

O velho André era um escravo resignado e sofredor.

Certo dia, ele soube que Jesus nos ensinara a santificar o nome de Deus e prometeu a si mesmo jamais praticar o mal.

Se o feitor da fazenda o perseguia, André perdoava e dizia de todo o coração: - Louvado seja Deus.

Se algum companheiro tentava-o a fugir das obrigações de cada dia, considerando as injustiças que os cercavam, ele dizia contar com a Bondade Divina, indicava o céu e repetia: - Louvado seja Deus.

Quando veio a libertação dos cativos, o dono da fazenda chamou-o e disse-lhe que a pobreza e a doença lhe batiam à porta e pediu-lhe que não o abandonasse. Todos os companheiros se ausentaram, embriagados de alegria, mas André teve compaixão do Senhor, agora humilhado, e permaneceu no serviço, imaginando que Deus estaria satisfeito com o seu procedimento.

O proprietário da terra, pouco a pouco, perdeu o que possuía, arruinado pela enfermidade, mas o generoso servidor cuidou dele, até à morte, afirmando sempre: - Louvado seja Deus.

André estava cansado e envelhecido, quando o antigo patrão faleceu. Quis trabalhar, mas o corpo encarquilhado curvava-se para o chão, com muitas dores.

Esmolou, então, com humildade e paciência e, de cada vez que recebia algum pão para saciar a fome ou algum trapo para cobrir o corpo, exclamava alegremente: - Louvado seja Deus.

Certa noite, muito sozinho, com sede e febre, notou que alguém penetrava em sua choça de palha. Quem seria?

Em poucos instantes, um anjo erguia-se à frente dele.

Acanhado e aflito, quis falar alguma coisa, mas não pôde. O anjo, porém, sorrindo, abraçou-o e exclamou:

André, o nome de Nosso Pai Celestial foi exaltado por seu coração e vim buscar você para que a sua voz possa louvá-lo agora no céu.

No dia seguinte, o corpo do velho escravo apareceu morto na choupana, mas, sobre o teto rústico as aves pousavam, cantando, e muita gente afirmou que os passarinhos pareciam repetir: - Louvado seja Deus!

Livro: Pai Nosso – Médium: Chico Xavier – Espírito: Meimei.
Fonte da imagem: Internet Google.

sábado, 3 de março de 2012

O INCENTIVO SANTO

Aberta a sessão de fraternidade em casa de Pedro, Tadeu clamou, irritado, contra as próprias fraquezas, asseverando perante o Mestre: — Como ensinar a verdade se ainda me sinto inclinado à mentira? Com que títulos transmitir o bem, quando ainda me reconheço arraigado ao mal? Como exaltar a espiritualidade divina, se a animalidade grita mais alto em minha própria natureza?

O companheiro não formulava semelhantes perguntas por espírito de desespero ou desânimo, mas sim pela enorme paixão do bem que lhe tomava o íntimo, a observar pela inflexão de amargura com que sublinhava as palavras.

Entendendo-lhe a mágoa, Jesus falou, condescendente:

— Um santo aprendiz da Lei, desses que se consagram fielmente à Verdade, chamado pelo Senhor aos trabalhos da profecia entre os homens, mantinha-se na profissão de mercador de remédios, transportando ervas e xaropes curativos, da cidade para os campos, utilizando-se para isso de um jumento caprichoso e inconstante, quando, refletindo sobre os defeitos de que se via portador, passou a entristecer-se profundamente.

Concluiu que não lhe cabia colaborar nas revelações do Céu, pelo estado de impureza íntima, e fez-se mudo.

Atendia às obrigações de protetor dos doentes, mas recusava-se a instruir as criaturas, na Divina Palavra, não obstante as requisições do povo que já lhe conhecia os dotes de inteligência e inspiração.

Sentido, porém, que a Celeste Vontade o constrangia ao desempenho da tarefa e reparando que os seus conflitos mentais se tornavam cada vez mais esmagadores, certa noite, depois de abundantes lágrimas, suplicou esclarecimento ao Todo-Poderoso.

Sonhou, então, que um anjo vinha encontrá-lo em suas lides de mercador.

Viu-se cavalgando o voluntarioso jumento, vergado ao peso de preciosa carga, em verdejante caminho, quando o emissário divino o interpelou, com bondade, em seguida às saudações habituais: — Meu amigo, sabes quantos coices desferiu hoje este animal?

— Muitíssimos — respondeu sem vacilação.

— Quantas vezes terá mordido os companheiros de estrebaria? — prosseguiu o enviado, sorridente — quantas vezes terá insultado o asseio de tua casa e orneado despropositadamente? E porque o discípulo aturdido não conseguisse responder, de pronto, o anjo considerou: — Entretanto, ele é um auxiliar precioso e deve ser conservado.

Transporta medicamentos que salvam muitos enfermos, distribuindo esperança, saúde e alegria.

E fitando os olhos lúcidos no pregador desalentado, rematou:

— Se este jumento, a pretexto de ser rude e imperfeito, se negasse a cooperar contigo, que seria dos enfermos a esperarem confiantes em ti? Volta à missão luminosa que abandonaste, e, se te não é possível, por agora, servir a Nosso Pai Supremo na condição de um homem purificado, atende aos teus deveres, espalhando reconforto e bom ânimo, na posição do animal valioso e útil.

Nas bênçãos do serviço, serás mais facilmente encontrado pelos mensageiros de Deus, os quais, reconhecendo-te a boa-vontade nas realizações do amor, se compadecerão de ti, amparando-te a natureza e aprimorando-a, tanto quanto domesticas e valorizas o teu rústico, mas prestimoso auxiliar! Nesse instante, o pregador viu-se novamente no corpo, acordado, e agora feliz em razão da resposta do Alto, que lhe reajustaria a errada conduta.

Surgindo o silêncio, o discípulo agradeceu ao Mestre com um olhar.

E Jesus, transcorridos alguns minutos de manifesta consolação no semblante de todos, concluiu: — O trabalho no bem é o incentivo santo da perfeição.

Através dele, a alma de um criminoso pode emergir para o Céu, à maneira do lírio que desabrocha para a Luz, de raízes ainda presas no charco.

Em seguida, o Mestre pôs-se a contemplar as estrelas que faiscavam, dentro da noite, enquanto Tadeu, comovido, se aproximava, de manso, para beijar-lhe as mãos com doçura reverente.

Livro: Jesus no Lar, lição 41 - Médium: Chico Xavier – Espírito: Néio Lúcio.
Fonte da imagem: Internet Google.