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sexta-feira, 15 de novembro de 2024

Tempo Perdido

Certo homem era marceneiro de profissão e possuía extraordinária facilidade para trabalhar com madeira. Era um verdadeiro mestre em seu ofício e todos admiravam seus trabalhos.

Esse homem tinha um sonho.

Desejava esculpir na madeira uma imagem de Jesus, a quem ele amava profundamente, em tamanho natural.

Conversando com um amigo, o marceneiro falou do sonho que acalentava em seu íntimo e o companheiro o incentivou:

- Então por que você não começa? Com seu talento e habilidade nas mãos, tenho certeza que a escultura será uma obra prima!

Ao que o marceneiro respondeu:

- Ah! Meu amigo! Desejo não me falta. Contudo, o trabalho deverá ser perfeito e ainda não resolvi qual a madeira que irei utilizar.

Sempre em dúvida, o artesão deixava o tempo passar. Uma madeira porque era muito rija; a outra porque não era resistente o suficiente; outra era macia e de fácil manejo, porém a tonalidade não o agradava.

E assim o tempo foi passando e o marceneiro não se dava conta.

Alguns anos depois reencontrou o amigo que tinha retornado à cidade e, curioso, perguntou sobre a obra.

- Já resolvi o tipo de madeira que irei trabalhar. Entretanto, ainda não iniciei porque não estou nas minhas melhores condições íntimas. Creio que para esculpir a figura do Mestre preciso estar bem comigo mesmo e com o mundo. Sabe como é, os fregueses exigem muito da minha atenção e, não raro me irrito, perdendo a paciência. Além disso, não podendo dispensar o serviço da marcenaria, onde ganho o sustento para minha família, só posso dedicar-me ao sonho acalentado pela minha alma nos momentos de folga. E aí, grande parte das vezes, eu sinto-me exausto e sonolento. Contudo — completava tentando aparentar entusiasmo —, pretendo começar minha obra prima dentro em breve.

Algum tempo depois, voltaram a se encontrar e, questionado pelo amigo que demonstrava interesse pelo assunto, o artesão argumentava:

- Infelizmente, ainda não iniciei o trabalho porque as condições não permitem. A família exige muito da minha atenção e os filhos requisitam meus carinhos. Você compreende, ainda são pequenos e dependentes. Porém, quando que eles crescerem um pouco mais, poderei trabalhar em paz.

E assim o tempo foi passando. Muitos anos depois, em visita à cidade, o amigo foi procurar o marceneiro. Encontrou-o velho e doente.

Após os cumprimentos e a troca de notícias, felizes com o reencontro, o visitante interrogou, curioso:

- E daí? Estou ansioso para ver o trabalho que você tanto desejava executar. Com certeza deve ter ficado soberbo!

Os olhos do artesão se apagaram e uma tristeza infinita vibrou em sua voz já trêmula pela idade:

- Ah, meu amigo! Infelizmente, nem cheguei a iniciar o trabalho que representava o sonho de toda uma vida. As dificuldades foram muito grandes e a necessidade de prover o sustento da família me absorveu. Agora, encontro-me doente e sem forças. A vista está fraca e já não enxergo mais como antes, e as mãos, trêmulas, não me permitem mais trabalhar.

Penalizado, o visitante amigo viu-o puxar um lenço e enxugar uma lágrima, cheio de arrependimento e amargura.

- É tarde, meu amigo. Tive todas as condições e não soube aproveitar. Perdi a oportunidade que o Senhor me concedeu.

Tentando animá-lo, o visitante considerou:

- Quem sabe? Não desanime. Talvez ainda seja possível.

O marceneiro fitou o amigo, demonstrando que compreendia toda a extensão da sua inutilidade e da sua cegueira, e respondeu convicto:

- Não agora; só se forem outra existência!

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.
 

sexta-feira, 1 de novembro de 2024

Tomando Decisões

Enquanto o pai se entretinha a ler um jornal, Gustavo, de onze anos, pegou um livro da estante e pôs-se a folheá-lo. De repente parou, e perguntou:

– Papai, o que é livre-arbítrio?

O pai colocou o jornal de lado e tirou os óculos:

– Livre-arbítrio, meu filho, é a capacidade que o ser humano tem de tomar suas próprias decisões, fazer suas escolhas. Entendeu?

– Não.

Cheio de paciência, o pai respondeu:

– Por exemplo, Gustavo. Amanhã é sábado e tem treino de futebol à tarde. Você vai?

– Não sei, papai. Também tenho convite para ir a uma festa de aniversário, no mesmo horário.

– Eu sei. Aniversário do Jorginho, seu amigo de infância. E então? O que você vai resolver? Vai ao treino ou vai à festa?

– Acho que não vou à festa do Jorginho, papai. Creio que vou ao treino.

– Ah, então você já se decidiu?

O garoto pensou um pouco e respondeu:

– O futebol é um compromisso que assumi no início do ano e não devo faltar. O time precisa de mim. Porém, pensando bem, papai, se eu não for ao aniversário, o Jorginho vai ficar chateado comigo.

– Então, você vai ao aniversário do seu amigo?

Gustavo coçou a cabeça, confuso, e considerou:

– Pensando bem, existe um outro problema. Na próxima semana nosso time tem um jogo importante, que faz parte do campeonato entre as escolas. Ah, Meu Deus! Não sei o que fazer!

O pai sorriu e explicou:

– Livre-arbítrio é exatamente isso, meu filho. Entre duas ou mais opções, você tem que decidir. Nesse momento, você vai ter que se resolver: o prazer ou o dever.

– Agora eu entendi, papai. Mas é muito difícil tomar decisões!

O pai concordou com ele, recomendando que pensasse bastante até o dia seguinte para não tomar uma decisão errada.

– Meu filho, o livre-arbítrio é um dádiva de Deus, mas também é uma conquista do espírito no trajeto evolutivo realizado. Então, precisamos pensar bem antes de qualquer decisão. Seja ela certa ou errada, ficaremos sempre condicionados às consequências dos nossos atos, segundo a Lei de Ação e Reação, ou Lei de Causa e Efeito.

Como era tarde, foram dormir.

No dia seguinte, Gustavo estava sentado à mesa tomando o café da manhã, quando o pai lhe perguntou:

– E daí, meu filho? Resolveu?

– Pensei bastante e ainda não me decidi. Porém até à tarde, eu resolvo.

Quase na hora de sair, Gustavo apareceu na sala com a mochila e um pacote embrulhado para presente na mão.

– Vejo que você se decidiu pelo aniversário, Gustavo. Quer dizer que o prazer ganhou – disse o pai.

O garoto balançou a cabeça negativamente.

– Não? Então, vai ao treino. Ficou com o dever.

Gustavo balançou a cabeça novamente:

– Também não, papai.

– Não estou entendendo!

– É que apareceu uma terceira opção, papai. Lembrei que teremos prova de matemática na segunda-feira. Então, vou estudar na casa de um colega que entende bem a matéria. Antes, porém, vou passar na casa do Jorginho, dar-lhe os parabéns e entregar o presente que comprei para ele. Assim, o prazer e o dever serão igualmente atendidos.

O pai estava surpreso e maravilhado. Seu filho Gustavo, que ele julgara um pouco desleixado com relação às suas tarefas, mostrara que era ponderado e responsável, tomando decisões com habilidade.

Levantou-se, estendendo os braços para o rapazinho:

– Parabéns, meu filho. Você soube decidir entre o prazer e o dever. Mas, diga-me, e o treino? O time tem jogo importante na semana que vem...

Abraçando o pai, com enorme sorriso no rosto, o garoto explicou:

– É verdade, papai. Porém, fiquei sabendo hoje cedo que o jogo será adiado. Então, não tive mais dúvidas. Agora estou tranquilo, certo de que fiz o melhor.

Gustavo despediu-se do pai e da mãe, pegou a mochila com os livros, o presente e, acenando uma última vez, fechou a porta atrás de si.

O pai estava feliz. Sentia-se realizado por ter um filho que usara o livre-arbítrio de maneira tão responsável.

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.
 

terça-feira, 15 de outubro de 2024

A Experiência da Raposa

Certa vez, uma raposa de lindo rabo peludo e de elegante nariz pontudo, aproveitando a noite que tinha chegado de mansinho, entrou em um galinheiro.

Fez-se grande tumulto. As aves corriam assustadas, trombando umas nas outras e cacarejando de medo.

Satisfeita com a confusão que se estabeleceu entre as galinhas, a raposinha corria de um lado para o outro, arrancando-lhes as penas e divertindo-se a valer. Até que percebeu uma galinha que continuava no mesmo lugar. Parou a brincadeira e aproximou-se, curiosa.

A galinha, com as asas abertas, arrepiada, protegia seu ninho onde sete pintainhos, mal acabados de sair da casca do ovo, pipilavam. Ao ver que a raposa se aproximava, tremendo de pavor, a pobre mãe suplicou:

— Por favor, dona Raposa, não destrua minha família que amo tanto. Se quiser pode comer a mim, mas não mate meus filhinhos e Deus a recompensará por sua generosidade. Eles nada lhe fizeram! São pobres criaturinhas indefesas. Tenha piedade!

Ouvindo a súplica da mãezinha aflita, a pequena raposa condoeu-se e foi embora do galinheiro, para grande surpresa das aves que respiraram aliviadas.

Algum tempo depois, a raposa, já crescida, foi também abençoada com duas lindas raposinhas, que eram o seu maior tesouro.

Certo dia percebeu, nas imediações da sua toca, um cachorro adestrado na caça às raposas, e procurou proteger seus filhotinhos da melhor maneira possível.

Porém o cão, que possuía faro muito delicado, encontrou o esconderijo. Impedindo que elas fugissem, arreganhou os dentes, rosnando colérico e pronto para atacá-las.

Nesse instante, a raposa-mãe lembrou-se da vez em que entrara no galinheiro e das palavras da galinha.

Tremendo de medo ela gaguejou:

— Você tem filhotes?

Surpreso, o cachorro parou e respondeu:

— Tenho.

Criando coragem, a raposa continuou:

— Então sabe o que estou sentindo. Por piedade, não mate minhas filhas que são tudo o que tenho. E se isso estivesse acontecendo com sua família? Poupe-nos e Deus o recompensará por sua generosidade.

O valente cão de caça pensou... Pensou... E achou que a raposa tinha razão. Cheio de piedade foi embora sem molestá-las.

A raposa abraçou as filhas com amor, agradecendo a Deus a ajuda e reconhecendo o valor da lição que manda fazer ao próximo aquilo que queremos que os outros nos façam.

Como naquele dia em que ela tinha ajudado uma pobre galinha desesperada que suplicava pela vida de seus pintainhos, agora, por sua vez, num momento de perigo, tinha recebido a mesma ajuda de um cão de caça, que se condoeu da sua situação de mãe, que defendia seus filhotes.

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.
 

terça-feira, 1 de outubro de 2024

A Descoberta

Toninho, de nove anos, era um menino diferente e, por isso, causava muitas preocupações aos seus pais.

Frequentava a escola, mas não gostava de estudar e apresentava dificuldades em acompanhar a classe.

Apreensivos com seu futuro, os pais tentavam de todas as maneiras fazer com que Toninho se interessasse por alguma coisa. Mas, qual nada! Ele gostava mesmo era de brincar.

À medida que o tempo passava, os pais do menino ficavam cada vez mais aflitos. Já haviam tentado de tudo.

Procuraram despertar-lhe interesse pela música. Foi um desastre. Piano, Toninho não tinha paciência para suportar os monótonos exercícios. Violão, ele ficava irritado e colocava tanta força no manejo que em pouco tempo arrebentava as cordas. Violino, nem pensar. Bateria, ele não gostava de barulho. Enfim, para a música, não tinha vocação, nem ritmo e nem sensibilidade, deixando os professores desanimados.

— Já que você não tem tendência para a música, meu filho, quem sabe uma outra arte? A pintura, por exemplo. Veja o exemplo dos grandes gênios da pintura. É fascinante!

— Está bem. Vou tentar.

Mas, qual! Toninho não conseguia lidar com os pincéis nem com a mistura das cores. Ficava entediado, e logo desistiu.

— Se você não gosta de estudar, nem de música ou de pintura, quem sabe se interessa por algum esporte? Poderia talvez jogar futebol! — considerou a mãezinha dedicada.

— Nem pensar. Gosto de assistir jogo, mas não de correr atrás de uma bola.

— Bem, talvez então alguma modalidade de atletismo?

— Corrida, salto em distância, arremesso de peso... Nada disso faz o meu gênero.

— Tênis?

— Nem pensar.

— Talvez vôlei?

— Não tenho altura suficiente.

— Natação?

— Gosto de ir à piscina, mas entro na água apenas para refrescar o corpo do calor do sol.

— Basquete?

— Não tenho pontaria.

Enfim, tentaram todas as modalidades de esporte. Nada.

Os pais, cada vez mais preocupados. Toninho contava agora quinze anos. Crescera, transformando-se num rapaz alto e magro. Porém ainda não descobrira nada que o interessasse.

Experimentaram a informática, mas ele usava o computador apenas para divertir-se com os jogos.

A mãe de Toninho estava cada vez mais aflita, mas o pai insistia em afirmar:

— Fique calma, querida. Todas as pessoas têm habilidade ou tendência para alguma coisa. Nosso filho não é diferente. Ele vai acabar descobrindo do que gosta.

— Será? Tenho pedido tanto a Deus que ilumine nosso filho! — dizia a mãezinha um tanto desanimada.

Certo dia, Toninho encontrava-se passeando num parque. Sentou-se à borda do lago e pôs-se a pensar. Aquela situação também não era agradável para ele. Tinha vontade de fazer alguma coisa, mas não sabia o quê. Nesse momento, lembrou-se de Deus e orou com fervor suplicando ajuda e proteção. Sentia-se inútil e sem objetivos na vida. Abaixou a cabeça e chorou sentidamente.

Sentiu-se mais reconfortado. De repente, Toninho olhou em torno e viu um pedaço de madeira ali perto. Teve o impulso de pegá-lo nas mãos. Revirou-o para todos os lados, observando-o. Interessante! Pareceu-lhe ver a imagem de um pássaro de asas fechadas naquela madeira. No mesmo instante, Toninho pegou um canivete de estimação que trazia sempre no bolso, e começou a trabalhar.

Com habilidade, esculpiu a cabeça, colocou os olhos no lugar, trabalhou as asas. Depois, modelou as pernas e os pés, que se apoiavam num pedaço de galho.

Toninho não viu o tempo passar. Quando terminou, ele ficou extasiado diante da pequena escultura, obra de suas mãos.

Correu para casa. Queria contar a novidade. Chegando, mostrou a escultura.

— Vejam! Papai, você tinha razão. Todos nós temos potencialidades ignoradas e habilidades insuspeitas. Descobri que minhas mãos servem para alguma coisa. Também posso ser útil e criativo.

— Mas, quando foi que aprendeu a esculpir em madeira? — indagou o pai, intrigado.

— Não sei. Parece-me que já aprendi e que estou apenas recordando!

Era imensa a perplexidade e a alegria dos pais. Finalmente, Toninho descobrira uma razão para viver!

Desse dia em diante, Toninho como que tivera sua vista alargada. Tudo o que via, enxergava com outros olhos, vislumbrando sempre o que poderia fazer, modificar, transformar, esculpir.

Tornou-se um grande artista. Seus trabalhos eram muito procurados e suas exposições bastante concorridas. Ficou conhecido no Brasil e no exterior, mas jamais deixou de ser a criatura simples que era.

Agora, porém, tinha um objetivo. Ajudar crianças, passando seus conhecimentos e ensinando que somente nos sentiremos felizes quando trabalharmos com amor fazendo aquilo que gostamos.

Agradecia sempre a Deus, que o ajudara quando mais precisava, indicando-lhe o caminho que deveria trilhar.

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.
 

domingo, 15 de setembro de 2024

A Galinha Intransigente

Existiu certa vez uma galinha que nunca estava satisfeita com nada. Vivia de mal com o mundo e não perdoava a menor ofensa, mesmo involuntária.

Passava o tempo a queixar-se da vida e a criticar tudo o que os animais da fazenda faziam. No terreiro, ninguém estava livre dos seus comentários.

Se um patinho se machucava, ela logo dizia:

- Bem feito! Quem manda dona Pata deixar seus filhotes soltos por aí?

Se o cachorrinho era picado por uma abelha ao enfiar o focinho no tronco de uma árvore, ela logo exclamava com ar satisfeito:

- Teve o que merecia! Quem manda ficar enfiando o nariz onde não deve?

Se o gatinho, sem querer, entornava o prato de leite, ela reagia:

- Também com a educação que dona Gata lhe dá, só podia ser um trapalhão mesmo!

E assim ela criticava todos os animais do terreiro. E ai de alguém que lhe fizesse a mínima ofensa. Jamais teria o seu perdão.

Certo dia, ela descuidou-se arrumando o galinheiro e não viu que um de seus pintinhos desaparecera.

Quando percebeu, ficou apavorada e saiu gritando por ele:

- Chiquinho! Chiquinho! Onde está você?

Mas nada do Chiquinho aparecer. Perguntou para os vizinhos, para dona coruja, sempre muito esperta, e nada. Ninguém sabia dar notícias do pintinho.

Todos estavam preocupados e ajudando a procurar o filhote da galinha, até que dona Vaca lembrou-se de tê-lo visto atravessando o pasto a caminho do riacho.

Correram todos, e lá chegando ficaram surpresos e encantados com a cena que viram.

O pintinho caíra na água e, não sabendo nadar, debatera-se, ficando preso em umas plantas na outra margem do riacho que, embora estreito, não dava para alcançar.

O patinho, excelente nadador, já fizera vãos esforços para soltar o pintinho, que estava preso por uma das patas, mas ele era muito fraco e não tinha força suficiente.

O cachorrinho e o gatinho tiveram uma ideia e, nesse exato momento, a colocavam em execução.

O cachorrinho, que era o mais forte, se pendurou num galho de árvore à margem do regato e, ao mesmo tempo, segurou uma das patas do gatinho, que se esticou... Esticou... Esticou até conseguir agarrar o Chiquinho pelo pescoço. Depois, puxando-o com força, pode livrá-lo dos ramos que o prendiam.

Foi um alívio geral! Em pouco tempo, Chiquinho estava nos braços da mamãe Galinha, que respirava aliviada.

- Graças a Deus! Não sei como agradecer a vocês todos pela ajuda que me deram! — disse com lágrimas nos olhos.

Depois, pensando um pouco, completou envergonhada:

- E logo eu que sempre fui tão intolerante com todos! Mas, nunca mais criticarei ninguém. Nunca se sabe quando nós também vamos precisar da ajuda e do perdão dos outros. Hoje, por minha falta de atenção, meu filho quase perde a vida. Porém, em vez de me censurar, vocês me ajudaram. Quero que me perdoem tudo o que já lhes fiz, como espero que Deus me perdoe também.

E deste dia em diante, dona Galinha transformou-se numa criatura boa, paciente, tolerante e compreensiva para com as falhas do próximo e nunca mais criticou ninguém.

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.
 

domingo, 1 de setembro de 2024

O Pastor Invigilante

Em certa região vivia um pequeno pastor que passava o tempo a pastorear suas ovelhas.

Pela manhã, levava o rebanho para o campo, onde as ovelhas tinham vegetação abundante e água fresquinha de um regato que corria entre as pedras ali perto. À tarde, elas voltavam felizes para o redil. O pastorzinho vinha cansado, mas satisfeito.

Um dia, porém, começou a ficar enjoado do seu trabalho, desejando fazer algo melhor. Já não cuidava direito das ovelhas e, quando uma delas se afastava das demais, não se apressava em trazê-la de volta. Deixava-as livres e entregues a si mesmas, enquanto ele ficava sentado à sombra de uma árvore sonhando em mudar de vida.

Certo dia, um lobo faminto aproximou-se do local e, como elas estavam sozinhas, avançou sobre as indefesas ovelhinhas, enquanto o pastor dormia despreocupado das suas tarefas.

Com o barulho que as ovelhas fizeram, balindo desesperadas, o pastorzinho acordou e, percebendo o perigo, tocou sua trompa, um chifre que era usado para pedir ajuda quando necessário, ou apenas para se comunicar à distância com outro pastor.

Logo seu pai e alguns empregados da fazenda chegaram correndo e o lobo fugiu, às pressas.

Mas, uma das ovelhinhas tinha sido atingida e esvaía-se em sangue no chão, toda machucada.

O pai levou-a com muito cuidado para casa e cuidou de suas feridas com todo carinho. O pastorzinho, arrependido, chorava, vendo sua ovelhinha sofrendo por sua causa.

Depois, seu pai o chamou e falou-lhe severamente:

— Você não merece minha confiança. Dei-lhe a tarefa de cuidar de minhas ovelhas e você foi descuidado e invigilante. Se não estivesse distraído na execução das tarefas que lhe confiei, teria percebido o perigo a tempo de evitá-lo, pedindo socorro com presteza. Agora, um animalzinho indefeso sofre por seu descaso e talvez até venha a perder a vida.

Cabeça baixa, triste, o pastorzinho respondeu:

— Sei que tem razão, meu pai. Reconheço o meu erro. Mas não me negue uma outra oportunidade! Prometo ser mais cuidadoso e vigilante nas minhas obrigações E cuidarei com muito amor das ovelhas que o senhor me confiar.

Satisfeito, o pai o abençoou, sabendo que já aprendera a lição, e concedeu-lhe nova oportunidade de provar que mudara de comportamento.

A ovelhinha, sob os cuidados do pequeno pastor, em pouco tempo estava curada e corria alegremente pelos campos com as outras ovelhas, seguida pelo olhar atento do rapaz.

Também assim acontece conosco. Quantas vezes Deus, Nosso Pai, confiante, nos concede a bênção de realizarmos alguma tarefa que, por descuido, não executamos com proveito.

O Senhor coloca à nossa disposição os meios necessários para nosso progresso e, invigilantes, nos entregamos à preguiça e ao descaso, indiferentes à divina oportunidade que nos é concedida e, ainda, muitas vezes, prejudicando outras criaturas com a nossa irresponsabilidade.

Deus, porém, é Pai Amoroso e, sempre nos dará novas oportunidades para recomeçarmos de onde paramos.

E, se tocarmos a “trompa” pedindo socorro através de uma prece, não deixará de nos atender em nossos momentos de dificuldades.

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.
 

quinta-feira, 15 de agosto de 2024

Tucumim, o Indiozinho

Tucumim era um pequeno índio muito estimado em toda a floresta. Gostava de correr, brincar com os animais, pescar. Caçar só quando estava com muita fome, pois evitava provocar sofrimento em outros seres da Criação.

Alimentava-se geralmente de raízes, ervas ou frutos silvestres que colhia no meio do mato.

Amava o sol, a lua, o vento, a chuva e, principalmente, as outras criaturas. Quando encontrava um animalzinho ferido, não descansava enquanto não o visse curado.

Certa vez, voltando de um passeio pela floresta, Tucumim viu um passarinho preso numa arapuca, com a asinha quebrada. Retirou a ave da arapuca e colocou uma pequena tala, que amarrou com fibra vegetal, para imobilizar a asa. Em poucos dias a avezinha, já curada, partiu, agradecendo ao amigo com lindos trinados pela alegria de poder voar novamente.

Nesse mesmo dia, andando à procura de raízes comestíveis, Tucumim topou com um coelhinho, seu amigo, que estava numa armadilha com a pata machucada. O indiozinho colocou sobre o ferimento uma pasta feita com ervas, conforme lhe ensinara seu avô, e, em pouco tempo, o coelhinho saiu pulando. Antes de internar-se na floresta, ele se virou como a dizer:

— Obrigado, Tucumim. Você é um amigão!

Na manhã seguinte, quando foi pescar, Tucumim ouviu gemidos de dor. Era uma oncinha caída num buraco preparado como armadilha e que, na queda, tinha se machucado. Incansável, Tucumim fez um curativo na ferida e logo a oncinha corria feliz pela floresta, muito agradecida pela ajuda.

Tucumim, porém, estava preocupado.

Quem estaria colocando aquelas armadilhas na floresta e tirando a paz de seus habitantes? Sentiu medo.

Seu avô sempre dissera que ele deveria ter muito cuidado com o homem branco, que era mau e matava sem piedade, pelo prazer de matar.

Por isso, Tucumim tinha muito medo dos homens brancos.

Na verdade, nunca tinha visto um homem branco. Imaginava-os gigantescos e de fisionomia terrível e assustadora.

Assim, ao encontrar pegadas diferentes no chão, concluiu que só poderiam ser de homem branco, e ficou apavorado.

Contou na aldeia o que estava acontecendo e todos os índios ficaram assustados também. Resolveram sair e procurar essa criatura malvada que estava colocando em pânico os moradores da mata.

Procuraram... procuraram... procuraram...

Estavam cansados de andar quando ouviram uma voz que gritava:

— Socorro! Socorro! Tirem-me daqui!...

Seguindo o som da voz, chegaram até a beira de um grande buraco, no fundo do qual um homem gemia de dor.

Apesar de assustados, de arco e flechas em punho, os índios gritavam satisfeitos:

— Nós o apanhamos! Nós o apanhamos! Vamos acabar com ele!

Porém, Tucumim, que possuía um coração bondoso e sensível, ao ver aquela criatura gemendo de dor, condoído pensou:

“Mas ele não tem a aparência terrível e assustadora que eu imaginava. É igualzinho a nós. Só a roupa é diferente.”

Virando-se para seus irmãos de raça, falou:

— Não podemos matá-lo. Não percebem que ele é uma criatura como nós, que sofre e chora? Vamos, ajudem-me a tirá-lo do buraco. Está ferido e precisando de ajuda.

Com o auxílio de um cipó, os índios retiraram o caçador com todo o cuidado, colocando-o sobre a relva, à sombra de uma árvore.

Emocionado, o caçador não parava de agradecer:

— Se não fossem vocês, provavelmente eu morreria dentro daquele buraco. Não sei como lhes agradecer. Percebo agora o mal que fiz colocando todas aquelas armadilhas na floresta. Acabei caindo numa delas e agradeço a Deus por vocês terem me salvado. Como posso retribuir o bem que me fizeram?

Tucumim, porta-voz de toda a tribo, respondeu:

— É fácil. Não coloque mais armadilhas na floresta. Deixe os animais em paz.

O caçador, envergonhado, concordou:

— Nunca mais farei isso, prometo. Agora sei que tive o que merecia. Cada um é responsável por tudo o que faz, e eu mereci essa lição. Perdoem-me. Quero que sejamos amigos.

Percebendo a sinceridade do homem, os índios estenderam-lhe as mãos em sinal de amizade e depois o levaram para a taba.

Nesse dia prepararam uma grande festa para comemorar o acontecimento.

Afinal, todos somos irmãos!

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.
 

quinta-feira, 1 de agosto de 2024

Aprendendo com a Natureza

Laurinha, menina boa e amorosa, ouviu uma palestra na escola dizendo que trabalhar é para pessoas adultas, e que crianças tinham apenas que estudar e brincar.

Assim, quando a mãe lhe pedia para fazer alguma coisa, alegava que precisava estudar, que os amigos estavam esperando para brincar, ver televisão, ou, simplesmente, que estava cansada.

Certo dia, vendo Laurinha sem fazer nada, sentada a soleira da porta da cozinha, a mãe pediu:

– Minha filha, enxugue a louça para mim, sim?

A resposta veio rápida:

– Não posso, mamãe, estou descansando.

A mãezinha pensou um pouco e disse com carinho:

– Laurinha, todos nós temos que dar nossa contribuição na vida colaborando para o bem-estar geral.

– Criança tem que estudar e brincar. Trabalho é coisa de adulto, mamãe – retrucou a menina, mostrando o que tinha aprendido.

– Não é bem assim, minha filha. A atividade remunerada, o trabalho profissional, é serviço de pessoas adultas. Porém, dentro da nossa capacidade, é preciso retribuir um pouco do muito que temos recebido da vida.

A senhora parou de lavar a louça e, virando-se para a menina, sugeriu:

– Laurinha, aproveite que não está fazendo nada, vá até o quintal e observe bem a natureza. Depois volte e conte-me o que você viu.

Embora de má-vontade, a menina levantou-se e saiu caminhando pelo quintal. No começo nada percebeu. Passou os olhos pelas flores que se abriam, coloridas e belas, enfeitando o quintal. Andou mais um pouco e viu uma laranjeira coberta de flores perfumadas. Depois, viu uma abelhinha apressada que ia de flor em flor, retirando o alimento, e em seguida, voava para o toco de uma árvore onde fabricava um favo de mel.

Observou laranjeiras com frutos pequenos e verdes, enquanto outras já tinham laranjas maduras.

Passando por uma mangueira, apanhou uma manga e sentou-se no chão para saboreá-la. Adorava mangas!

Olhou para o alto e viu um passarinho que apanhava gravetos no chão e levava para um galho, no alto da mangueira, e ali o depositava cuidadosamente construindo o seu ninho.

Olhando para o chão, viu uma fileira de formigas que carregavam folhas, cascas de frutas e migalhas de pão para o formigueiro.

Laurinha admirou a organização delas, andando em fila ordenadamente. Todas carregavam alguma coisa. Todas trabalhavam!

Depois de chupar a manga, como estivesse toda lambuzada, a garota voltou para casa. Lavou-se na torneira do quintal e entrou na cozinha, procurando uma toalha para se enxugar.

Vendo a menina, a mãe perguntou:

– E então? O que você observou?

– Bem, vi uma abelhinha recolhendo o néctar das flores de uma laranjeira e levando para produzir o mel. Observei também que tem laranjeiras com frutos pequenos e outras com laranjas maduras. Vi nossa mangueira cheia de mangas maduras e apanhei uma para chupar. Estava uma delícia!

A menina parou de falar, pensando.

– O que mais você observou, minha filha?

– Vi também formigas levando comida para o formigueiro. Era como
se elas tivessem ido ao supermercado fazer compras! Creio que foi só.

– E o que você achou de tudo isso?

– Percebi que a senhora tem razão, mamãe. Todos trabalham, mesmo os mais pequeninos: a abelha produz o mel, a árvore produz as flores que vão se transformar em frutos, as formigas levam comida para a família, o passarinho constrói sua casa...

– Muito bem, minha filha! E você poderia ter visto ainda muito mais: os insetos e pequenos animais que se alimentam dos frutos maduros que caem e que limpam o solo, a terra que recebe a semente e que a faz germinar, e tantas outras coisas.

Entusiasmada pelas descobertas, a menina concordou:

– Tem razão, mamãe, E tem o Sol que nos ilumina e aquece, a água que bebemos...

– Isso mesmo, minha filha. E tudo para quê?

– Para nos tornar a vida melhor e mais feliz. Tudo na natureza trabalha a benefício de todos. Como eu nunca tinha percebido isso?

Abraçando a mãe, Laurinha disse:

– Mamãe, também quero ajudar, colaborando para que todos sejam felizes. Aqui em casa, o papai trabalha para trazer dinheiro e podermos comprar alimentos e tudo o mais de que precisamos. A senhora faz todo o serviço da casa, limpando, lavando, arrumando e cozinhando. Também quero ajudar fazendo aquilo que for possível. Vou trabalhar daqui por diante ajudando a senhora e todos da nossa família. Sempre tenho recebido muito, agora quero aprender também a dar.

E a menina lembrava, com novo ânimo: posso regar o jardim, varrer o quintal, cuidar do cachorro, enxugar a louça, deixar meus brinquedos e minhas roupas arrumadas. Vou ter muito que fazer!

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.


segunda-feira, 15 de julho de 2024

O Esforço da Semente

A sementinha soltou-se da árvore e caiu no solo, e lá permaneceu. Certo dia, um vento passou soprando forte, e a arrastou para longe.

Nesse lugar estranho, longe do local onde sempre vivera, longe da árvore-mãe que a tinha agasalhado, a sementinha sentia-se solitária, mas confiante de que sua vida ia mudar. Uma manhã, olhando para o alto, viu pesadas nuvens que se acumulavam no céu e percebeu que ia chover.

Logo, o vento começou a soprar, e a chuva forte caiu, molhando a terra, se acumulando em poças e depois formando um pequeno regato.

A sementinha, apavorada, viu-se arrastada pela enxurrada por um longo trecho..., até que notou que havia parado. A lama acabou por envolvê-la, e ali ela ficou escondida no escuro, coberta pela terra.

Sem nada ver, a sementinha sentia-se muito triste. Estava sozinha e sem poder sair daquele lugar onde não entrava luz. Não gostava da escuridão, nem da umidade, nem da terra que a mantinha presa, impedindo-a de ver o sol.

Todavia, ela não perdia as esperanças de ter um futuro melhor. Confiava que o Criador não a fizera nascer em vão.

E a sementinha sentia a vida pulsar dentro de si: Toc... toc... toc... Eram as batidas do seu coração.

Mas o que adiantava ter um coração, sentir-se viva, se nada podia fazer entregue à inutilidade embaixo da terra?

Então, a sementinha, em lágrimas, orou com muita fé:

– Ajude-me, Senhor. Quero ter uma vida diferente, realizar alguma coisa de útil e de bom! Não me deixe aqui sem poder fazer nada.

Depois, cansada de chorar, a sementinha acabou por se acomodar, adormecendo aconchegada à terra.

Certo dia, algum tempo depois, ela acordou. Dormira bastante. Sentia-se descansada. Teve vontade de espreguiçar-se.

Encheu o peito de ar e abriu os braços com força. Então, viu que dois delicados brotinhos surgiam do seu corpo. Mais animada, começou a fazer força: Esticou... esticou... esticou bem os braços... e, cheia de alegria, conseguiu romper o solo!

E um espetáculo lindo surgiu diante de seus olhos maravilhados: O céu azul, as árvores verdes e floridas que existiam ali perto, os pássaros, e especialmente o sol, cujos raios mornos aqueciam seu corpo, fortalecendo sua seiva.

Poucos dias depois, já era uma linda plantinha, forte e decidida, cheia de pequenos galhos e de folhas verdinhas.

Em breve, tinha crescido e se transformado num belo arbusto. Não demorou muito, e era uma árvore, de tronco robusto e cujos galhos avançavam para todos os lados formando uma grande copa.

Surpresa e feliz, descobriu que era uma Macieira!

Agora, olhando tudo do alto, a Macieira pensava em como se modificara sua vida. Os pássaros vinham fazer ninhos em seus ramos; os pequenos animais se abrigavam sob sua copa; as pessoas protegiam-se sob sua sombra, as crianças subiam em seus galhos, e, no tempo certo, colhiam seus frutos, alimentando-se com suas doces e saborosas maçãs. E até os vermes existentes no solo se beneficiavam, aproveitando os frutos estragados que caíam no chão.

E a Macieira acolhia a todos, satisfeita por poder ser útil. Sentia-se agora feliz e realizada.

Seu coração grande e generoso, repleto de gratidão, reconhecia o quanto devia à terra que a agasalhara em seu seio por tanto tempo, à água que mantivera sua vida latente, e ao calor do sol que lhe dera condições de crescer e se desenvolver.

Compreendia agora que, sem as dificuldades que tinha atravessado, não poderia ter chegado a ser a bela árvore em que se transformara.

E certamente, agradecia a Deus, que a criara, consciente de que precisava passar por aquele processo de aprendizado para crescer e realizar a tarefa que lhe fora destinada.

Sentia-se importante; deixara de considerar-se inútil.

Sua tarefa poderia ser pequena, mas só ela a poderia realizar, por isso agora se considerava muito feliz.

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.
 

segunda-feira, 1 de julho de 2024

O Sonho da Esperança

Clarindo era um menino para quem as dificuldades da vida chegaram cedo. Desde tenra idade viu-se, por contingências alheias à sua vontade, obrigado a lutar pela própria sobrevivência.

Morava numa pequena casa nos arrabaldes da cidade que, embora humilde, era um verdadeiro lar, pois ali existia o amor e a paz.

Quando seu pai desencarnou, vitimado por um acidente de trabalho, tudo mudou na vida de Clarindo.

Não contando mais com a presença e o amparo do pai, que trazia sempre o necessário para o sustento da família, a situação tornou-se muito difícil. Sua mãe foi obrigada a deixar o lar para trabalhar numa casa rica, e ele, Clarindo, também resolveu trabalhar de engraxate para ajudar nas despesas.

Como não tivessem com que pagar o aluguel da pequena casa, eles foram obrigados a mudar para uma favela, onde a generosidade de alguém lhes conseguiu um barraco.

Ao chegar na favela, o ambiente diferente e hostil causou infinita tristeza e angústia à pobre mulher que, intimamente, entrou a conversar com Deus:

“Oh! Senhor, o que será de meu filho? Obrigado a crescer neste ambiente, a conviver com criaturas de baixo nível moral, poderá vir a se tornar um delinquente! Ajuda-me! Sinto-me tão sozinha desde que meu querido esposo morreu! Mas, confio no Senhor e sei que não me deixarás ao desamparo”.

Naquela noite, já instalados na favela, a mãe adormeceu chorando escondida para que o filho não percebesse suas lágrimas de tristeza e dor.

No dia seguinte, logo que os primeiros raios de sol invadiram o pequeno e miserável barraco pelas frestas da parede, a mãe levantou-se para preparar o café da manhã. Leite não tinha. Nem café. Só um pouco de chá e um pedaço de pão duro.

Clarindo acordou bem disposto. Percebeu pelo rosto da mãe, inchado de tanto chorar, que ela estava sofrendo bastante.

Satisfeito e sorridente o menino contou:

— Mãe, eu tive um lindo sonho esta noite.

Procurando demonstrar interesse, ela pediu:

— Conte-me, meu filho. Que lindo sonho foi esse?

— Sonhei que estava num lugar muito bonito, todo cheio de flores luminosas, quando vi meu pai que se aproximava. Abraçou-me com carinho e disse-me que tivesse confiança em Deus.

“Sabe, meu filho — disse ele —, nada acontece por acaso. Numa outra existência você e sua mãe, por ambição, prejudicaram muito um seu irmão. Vocês roubaram tudo o que ele tinha e o deixaram na rua da amargura. Sem um lar, maltrapilho, seu irmão vagou por longo tempo vivendo da piedade alheia, até que ficou doente e morreu. É por isso que agora estão passando por tantas dificuldades. Confiem em Deus e suportem as privações com resignação, pois será a libertação de vocês. O Senhor é muito bom e não deixará de assisti-los”.

Surpresa e muito comovida, a mãe de Clarindo deixou que as lágrimas corressem pelo seu rosto. E o garoto, também com os olhos úmidos da emoção que ainda sentia, continuou:

— Engraçado, mãe, é que, enquanto meu pai falava, eu via as cenas que ele descrevia como se fosse um filme. E sabe o que mais? Eu senti que meu pai era aquele irmão que nós prejudicamos! Será que é verdade?

A mãe olhou o filho com carinho e, comovida, falou:

— Meu filho, esta é a resposta de Deus às minhas preces. Atendeu às minhas íntimas indagações através do sonho de uma criança. Sim, Clarindo. Acredito que tudo isso seja verdade. Devemos ter prejudicado muito alguém para que estejamos agora passando por essa provação.

Limpando as lágrimas, fitou o filho com determinação e coragem, e disse-lhe resoluta:

— Vamos vencer, meu filho. Tenhamos bom-ânimo, coragem e muita fé em Deus que é Pai e, tenho certeza, não nos deixará ao desamparo.

Clarindo sorriu feliz ao perceber que sua mãe estava mais contente e conformada.

Nesse instante alguém bate à porta. Clarindo vai atender e se depara com uma mulher pobremente vestida, mas com largo sorriso no rosto simpático. Disse a visitante:

— Olá! Sou Cecília, sua vizinha aqui do lado. Como vocês se mudaram ontem e não tiveram tempo de ajeitar as coisas, trouxe-lhes um pão quentinho que acabou de sair do forno, e uma garrafa com café.

Antes que a mãe de Clarindo tivesse tempo de agradecer a bondade da vizinha, eles viram chegar uma menina franzina, de dez anos mais ou menos, que lhe estendeu uma pequena lata com linda flor plantada:

— Tome, é para a senhora. Fui eu que plantei.

Logo em seguida, surgiu na porta o rosto moreno de um homem que lhe perguntou, sorridente:

— A senhora gosta de chuchu? Trouxe-lhe alguns que colhi agora mesmo no meu quintal.

Sentindo um nó na garganta, e sob forte emoção, a mãe de Clarindo abraçou os estranhos que lhe invadiam a casa como um raio de sol, enquanto pensava que tinha julgado mal as pessoas da favela, e compreendeu que todos os lugares e todas as pessoas são de Deus. Que, em qualquer situação a que formos chamados a viver, encontramos pessoas boas e podemos crescer e evoluir.

E, agradecendo ao Alto as bênçãos do momento, exclamou, sorridente:

— Obrigada. Sejam bem-vindos! Foi Jesus que os enviou!

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.
 

sábado, 15 de junho de 2024

O Farol Apagado

Numa região muito distante, sobre um alto rochedo, existia um pequeno farol.

Naquele trecho da costa, o mar era muito perigoso, pois havia inúmeros rochedos que poderiam levar as embarcações a desastres, caso não percebessem o perigo a tempo.

Por essa razão foi construído o farol, para que os navios passassem em segurança pelo local.

Mas o pequeno farol vivia descontente. Achava sua vida muito monótona e sentia uma terrível inveja das embarcações que passavam ao longe, rumo a lugares distantes; das gaivotas que voavam livres pelos ares e que poderiam conhecer terras estranhas; e, até, das estrelas que contemplava todas as noites brilhando no firmamento.

Mas ele vivia ali, parado, sem sair do lugar, dia após dia, noite após noite.

Sua única distração era esperar o faroleiro, isto é, o homem que cuidava dele, que todos os dias, ao anoitecer, vinha acender sua luz. E então, ele ficava ali, girando... girando... girando...

O faroleiro vivia sozinho e era a única pessoa que existia nas imediações. Certo dia, ele caiu doente na cama, ardendo em febre e sem condições de se levantar e executar suas obrigações costumeiras.

Naquela noite ninguém acendeu a luz do farol.

O farol estranhou o acontecimento, pois nunca antes ocorrera tal coisa, e estranhou ainda mais a escuridão que tomou conta de tudo. Ficou tudo escuro... escuro...

Naquela noite, nuvens pesadas cobriam o céu prenunciando tempestade, e logo um vento forte começou a soprar. Em pouco tempo a chuva caiu, torrencial.

Sem poder enxergar nada, só escutando o barulho da chuva que caía e o ruído das ondas do mar que faziam chuá... chuá... chuá..., o farol acabou adormecendo. No dia seguinte, aos primeiros raios do sol é que pôde ver o que acontecera durante a noite.

Uma canoa fora arrastada pelas ondas do mar, batendo de encontro aos rochedos; um barco de pescadores acostumados com o farol que lhes indicava o caminho, bateram nas pedras, soçobrando. E até um grande navio, que fazia sua rota para terras distantes, também ficou preso entre os rochedos, sem possibilidade de sair.

Só então o pequeno farol, ao ver a extensão da tragédia que acontecera pela falta da sua luz, percebeu como sua tarefa era importante.

As pessoas foram socorridas a tempo, e o faroleiro, levado a um hospital para receber o necessário atendimento médico.

Em seu lugar, porém, ficou um substituto, outra pessoa responsável para acender a luz do farol, enquanto o faroleiro não estivesse curado e pronto para voltar ao trabalho.

A partir desse dia, o farol nunca mais lamentou seu destino, cumprindo sua tarefa com boa-vontade e amor.

Feliz, todas as noites ele podia ser visto girando... girando... girando...

E quem o visse, de longe, poderia notar que sua luz se tornara mais viva e mais brilhante.

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.
 

sábado, 1 de junho de 2024

A Existência de Deus

Certa professora estava tendo problemas em sua classe com os alunos.

Um deles, Luizinho, de família afastada da religião e de ideias profundamente negativas, começou a passar essas mesmas ideias para as outras crianças.

Afirmava, esse menino, que Deus não existia e que tudo era uma invenção do homem.

As outras crianças, surpresas e inquietas, não sabiam como refutar as palavras do colega e começaram a se sentir inseguras.

Chegando ao conhecimento da professora, preocupada com o problema, ela pensou como poderia modificar aquela situação, resolvendo a questão.

Pensou... pensou... e, afinal, teve uma ideia.

Certo dia avisou aos alunos que, na manhã seguinte, iriam fazer uma experiência. Deveriam trazer todas as peças de um relógio, um rádio, um toca-fitas, ou qualquer outro objeto que estivesse quebrado. E deveriam trazer também uma caixa que coubesse esse objeto.

Os alunos estavam cheios de curiosidade, mas a professora não quis adiantar nada, afirmando sorridente:

— Amanhã vocês ficarão sabendo.

No dia seguinte, compareceram todos os alunos, sob intensa expectativa, portando o material solicitado.

A aula transcorreu normalmente. No final do período, a professora pediu que colocassem o material para a experiência sobre a carteira.

Em seguida, mandou que cada um colocasse o objeto quebrado dentro da caixa, com todas as peças, e tampasse bem.

Eles assim o fizeram, sem entender o propósito a que a professora queria chegar.

— Muito bem! Agora, agitem a caixa com força, tentando fazer com que as peças todas se encaixem em seus lugares e os maquinismos voltem a funcionar.

— Mas, professora!... — gaguejou uma das crianças.

— Não discutam. Façam o que estou mandando.

As crianças agitaram as caixas durante um minuto, cinco minutos, dez minutos, quinze minutos...

Já não aguentavam mais. Estavam exaustas!

Após esse tempo, a professora pediu que abrissem as caixas e verificassem o resultado do esforço despendido.

— Como estão os aparelhos?

Desanimadas, as crianças olharam o conteúdo de suas caixas e uma delas respondeu:

— Continuam quebrados, professora.

Fingindo surpresa, ela perguntou à classe:

— NINGUÉM? — disse, frisando bem a palavra. — Ninguém conseguiu consertar a sua máquina?!...

Todos responderam negativamente balançando a cabeça.

Um deles afirmou, convicto:

— Claro, professora! Nem que ficássemos aqui o dia inteiro, o mês inteiro ou o ano inteiro, conseguiríamos consertá-las desta maneira!

— Ah! — exclamou a professora. — E por quê?

— Porque para que alguma coisa funcione é preciso que “alguém” coloque as peças no lugar, ajuste os parafusos etc. Enfim, é preciso a mão de uma pessoa que conheça aquele mecanismo e saiba fazer o serviço.

Os outros alunos foram unânimes em concordar com o colega.

Satisfeita, a professora questionou:

— Muito bem. Então todos concordam que para que alguma coisa funcione é preciso o esforço de alguém?

Fez uma pausa, passando o olhar lentamente pela sala, depois continuou:

— Ótimo! E o Universo, que é tão imenso? Quem pode me dizer quem é que faz com que o Sol nasça todas as manhãs? Ou que faz as plantinhas brotarem? Ou que as estações aconteçam sempre em épocas certas?

Percebendo, afinal, onde a professora pretendia chegar, as crianças sorriram satisfeitas.

O garoto que afirmara que Deus não existia, baixou a cabeça, envergonhado.

A professora aproveitou o momento para fixar a lição, perguntando a todos:

— Então, quem faz todas estas coisas maravilhosas?

E todos responderam em uníssono:

— DEUS!

— Alguém tem alguma dúvida?

Luizinho levantou a cabeça e respondeu:

— Não, professora!

Satisfeita, a professora concluiu o assunto:

— Muito bem. Deus criou tudo o que existe, inclusive nós mesmos. Por isso é NOSSO PAI. O Universo é regido por leis sábias e justas, perfeitas e imutáveis, e todos estamos sujeitos a elas. Mas, sobretudo, devemos nos lembrar que Deus nos ama a todos, porque é profundamente bom e misericordioso.

Luizinho, afinal, disse para alegria de todos:

— Vou passar a lição para meus pais, professora. Acho que eles nunca pensaram nisso que a senhora explicou!

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.