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sábado, 15 de março de 2025

A Lição da Formiga

Na escola de Otávio organizava-se uma festa e os alunos, animados, ultimavam os preparativos. Alguns penduravam enormes cordões de bandeirinhas coloridas, outros faziam cartazes, outros varriam o chão, outros ainda limpavam as mesas e cadeiras.

Na cozinha, preparavam-se bolos e tortas, doces e salgados, para serem servidos durante a festa.

Trabalhavam com amor, enquanto conversavam e se divertiam.

Otávio era o único que não quisera colaborar em nada.

A professora, atenta e dedicada, solicitou-lhe várias vezes que ajudasse nesse ou naquele setor de serviço, mas ele recusava-se terminantemente a auxiliar no esforço de todos.

Certo momento, a professora ordenou-lhe, severa:

— Já que você se recusa a colaborar na organização de nossa festa, a exemplo dos demais, terá uma outra tarefa: deverá entregar-me amanhã, sem falta, uma redação sobre o tema: A Vida das Formigas.

— Mas professora, isso não é justo! — reclamou o garoto. — Só eu tenho que fazer esse trabalho?

— Engano seu, Otávio. Não é justo é você estar sem fazer nada enquanto seus colegas trabalham e se esforçam a benefício de todos.

Fez uma pausa e, vendo a indecisão de Otávio, completou:

— Pode começar já, caso contrário não conseguirá terminar até amanhã.

— Mas, como fazer isso? Não sei por onde começar! — retrucou o garoto.

— É simples. Observe as formigas no jardim!

Muito embaraçado, Otávio encaminhou-se para o jardim da escola. Suspirando, sentou-se no chão e pensou: Bolas! Onde é que vou encontrar formigas?

Nisso, viu uma formiguinha que passou apressada entre seus pés. Seguiu-a com o olhar e logo em seguida reparou em duas outras que seguiam apressadas, no mesmo sentido.

Curioso, levantou-se e acompanhou-as. Um pouco adiante, viu uma formiga que voltava carregando um pedaço de pão que, não obstante pequeno, era muitas vezes maior do que ela.

Sorriu, divertido, e, ao mesmo tempo, admirado: — Aonde será que ela vai levar aquele pedacinho de pão duro? — pensou.

Olhou em volta e, um pouco à frente, viu um grande pedaço de sanduíche que alguém jogara. Em torno dele, dezenas de formigas trabalhavam diligentes. Algumas cortavam em pedaços menores e outras os transportavam.

Quando o pedaço era ainda muito pesado para suas pequenas forças, uniam os esforços e carregavam juntas.

Seguindo o trajeto que faziam, Otávio percebeu que entravam num formigueiro, deixavam a carga e retornavam ao trabalho.

— Que interessante! — murmurou Otávio, impressionado com a cooperação e a união existente entre as pequenas operárias. — São tão pequenas e tão unidas e trabalhadeiras!

Nesse momento, lembrou-se da festa da escola e que só ele não estava colaborando. Levantou-se, envergonhado, procurou a professora pedindo que lhe desse uma tarefa.

Sorridente, a mestra perguntou:

— Muito bom! Mas o que fez você mudar de ideia, Otávio?

— As formigas que a senhora mandou que eu pesquisasse. Vivem unidas num sistema de cooperação fraterna e amiga. Se elas podem trabalhar, eu também posso.

Parou de falar, fitando a professora e disse:

— Só que, ajudando na festa, não terei muito tempo para preparar a redação. Preciso mesmo entregar amanhã cedo?

A mestra sorriu, satisfeita, e, colocando a mão sobre a cabeça do menino falou, com carinho:

— Não, Otávio. Não há necessidade de fazer a redação. Você já aprendeu sua lição.

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.
 

sábado, 1 de março de 2025

Aproveitando as Férias

Caminhando pela rua, Celso ia desanimado. Chutou uma lata e pensou:

— As férias não estão sendo como eu sonhei.

Durante o ano letivo, tendo que fazer tarefas e enfrentar provas, ele ansiava pelas férias escolares prometendo a si mesmo não fazer nada, nadinha. Queria descansar!

Até para a sua mãe Celso avisou, irredutível:

— Mamãe, nas férias não quero fazer nada. Nada de trabalho, nada de atividades. Não me acorde! Quero dormir bastante!

A mãe concordou. Agora, Celso dormia até o meio-dia, acordando somente à hora do almoço. Depois, ficava o resto do dia sem fazer nada. No começo achava essa vida ótima, depois, sem saber por que, começou a sentir-se irritado e descontente, reclamando de tudo.

Os colegas insistiam para que fosse com eles jogar futebol ou ir à piscina, mas o menino recusava dizendo:

— Não vou, não. Quero descansar!

Certo dia uma amiguinha de Celso, passando por sua casa e vendo-o no portão, convidou:

— Tem um grupo que vai levar sopa numa favela e estou indo juntar-me a eles. Quer ir também?

— Está brincando? Com esse sol e esse calor que está fazendo? Nem pensar!

Passou-se uma semana... Duas semanas...

Na terceira, Celso não aguentava mais a monotonia.

Observando a mãe lavar roupas, o menino desabafou:

— Mamãe, não sei o que está acontecendo comigo. Estou sem ânimo. Perdia a fome. Não tenho conseguido dormir direito à noite. Passo horas acordado, sem sono. E, o pior, é que vivo cansado!

A mãezinha enxugou as mãos no avental, olhou o filho desanimado e sorriu, compreensiva:

— É exatamente porque você não está tendo nenhuma atividade útil, meu filho, Quanto menos fizer, mais cansado ficará.

Sentou-se ao lado de Celso num banco ali perto e continuou:

— Para podermos viver, Deus nos dotou de energias. Essas energias têm que ser bem utilizadas por nós. Por isso sentimos necessidade de trabalho, de movimento, de atividades.

— Mas quando terminou o ano letivo eu estava muito cansado e não queria ver livros na minha frente!

— Muito justo, porque você estudou e se esforçou bastante durante o ano, meu filho, e precisava descansar. Agora, já está descansado e precisando movimentar o corpo e a mente. Existem outros tipos de atividades que nos distraem, alegram e animam. Ler um bom livro, fazer um esporte, uma visita, ajudar alguém, são coisas úteis e agradáveis.

Celso pensou um pouco e concluiu que a mãe tinha razão.

Naquela tarde, acompanhou os amigos ao clube para uma partida de futebol. Voltou para casa com outro aspecto.

No dia seguinte encontrou a menina que ia levar sopa na favela e dispôs-se a acompanhá-la. Viu tanta necessidade e sofrimento, que se comoveu. Ajudou a distribuir a sopa e o pão, conversou com as crianças, visitou as famílias e voltou para casa, com novo ânimo.

Corado e sorridente, entrou em casa e relatou à mãe tudo o que fizera. Estava com outro aspecto e tinha um brilho diferente no olhar.

Sentou-se e comeu sem reclamar. Com as atividades do dia, sentia-se cansado, mas satisfeito. Naquela noite dormiu logo e teve sono tranquilo. No dia seguinte acordou cedo, bem disposto e animado, afirmando:

— Mamãe, eu quero aproveitar minhas férias!

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.
 

sábado, 15 de fevereiro de 2025

Ano Novo, vida nova!

Caminhando pela rua, sem pressa, Roberta, de oito anos, encaminhou-se para o parquinho próximo de sua casa. Sentou-se no balanço preferido e ali ficou quieta, pensando na vida.

O ano tinha sido bom. Apesar de não ter se dedicado especialmente aos estudos, havia sido aprovada na escola, e sentia-se aliviada.

A festa de Natal tinha sido muito boa, com comida à vontade, frutas, doces, chocolates e balas. Além disso, ganhara vários presentes, inclusive uma nova bicicleta, exatamente a que desejava.

No entanto, apesar de estar tudo bem, algo a incomodava. Lembrando do Natal, cuja data representava o aniversário de Jesus, chegou à conclusão de que só pensara em si mesma. O ano estava para terminar e isso lhe dava certa tristeza.

Como o ano novo chegaria dentro de alguns dias, Roberta pensou que gostaria de mudar sua vida para que ela fosse melhor ainda.

Mas mudar o quê?

Em relação à escola, deveria estudar mais, não apenas para passar de ano, mas para aprender realmente.

Ao pensar na escola, imediatamente a imagem de Tereza surgiu em sua mente. Era uma colega com quem teve uma briga por um motivo qualquer, e não tinham se falado mais. E ela sentia falta da amiga.

Lembrando da festa de encerramento do ano letivo, Roberta reviu o momento em que um grupo de alunas apresentou lindos números de dança. Ela tinha se emocionado porque o balé era seu sonho! Sempre quis aprender a dançar! Quem sabe a hora tinha chegado?

Nesse momento, Roberta viu uma garotinha bem pobre que chegou ao parquinho, tímida, sem saber o que fazer. Enquanto a mãe dela, parada na calçada, entretinha-se a conversar com uma moça, a menina ficou parada, indecisa.

Intimamente, Roberta tomou uma decisão:

— Isso mesmo! O ano novo será diferente! E vou começar agora.

Então, Roberta deixou o balanço e aproximou-se da menina, convidando:

— Quer balançar? Venha, eu ajudo você!

Sentou a garotinha e pôs-se a balançá-la, enquanto a menina ria, feliz. Logo estavam amigas. Roberta ficou sabendo que o nome dela era Carolina, tinha 4 anos e morava num bairro bem distante. Quando a mãe da garotinha chegou, elas conversaram e Roberta disse:

— Tenho alguns brinquedos e quero dar para Carolina. Tenho também roupas e calçados que não me servem mais, além de doces e balas que ganhei no Natal. Venham comigo até minha casa. É aqui pertinho.

A mãe ficou toda contente e agradecida:

— Você não imagina o que isso significa para nós. Sem dinheiro, nada pude comprar para Carolina no Natal. Nem comida nós temos em casa.

Penalizada, Roberta levou mãe e filha até sua casa, apresentou-as a sua mãe e, como o almoço estivesse pronto e seu pai já tivesse chegado, sentaram-se e almoçaram todos juntos.

Ao se despedir, a mulher estava emocionada. Sentia-se agradecida pela ajuda e pelo acolhimento que tivera naquele lar. Carolina jogou-se nos braços de Roberta e disse:

— Obrigada, Roberta. Você agora é minha amiga do coração!

Ao receber o abraço a garotinha, Roberta sentiu que jamais tinha experimentado tal sensação de bem-estar, paz e felicidade.

Mais tarde, ela foi até a casa de Tereza. Tocou a campainha e, para sua surpresa, foi a própria colega que abriu a porta. Ao vê-la, a menina arregalou os olhos, surpresa.

— Roberta! Você, aqui em casa?...

— Vim para lhe pedir desculpas, Tereza. Sinto muito o que aconteceu naquele dia.

— Roberta, eu é que devo lhe pedir desculpas. Falei coisas que não devia e acabamos brigando. Você me perdoa?

As duas trocaram um olhar e caíram na risada.

— Bem, acho que somos amigas de novo, não é?

Elas se abraçaram com carinho, contentes por terem resolvido a questão.

Deixando a casa de Tereza, Roberta voltou para seu lar e contou a sua mãe o que tinha acontecido, que tinha feito as pazes com Tereza e concluiu:

— Mamãe, graças a Deus agora está tudo bem entre nós.

— Fico feliz, minha filha, que você e Tereza tenham se acertado. Nunca estaremos bem se alguém tiver algo contra nós.

— Tem razão, mamãe. Estou aliviada. Ah! Também resolvi que o ano novo seja diferente, por isso gostaria de lhe pedir: posso estudar balé no ano que vem?

— Se você realmente deseja, é claro que pode!

— Obrigada, mamãe! Vou telefonar para a professora e me matricular no curso.

Nos próximos dias, Roberta fez uma programação de tudo o que gostaria de fazer para o próximo ano, e aproveitou para realizar algumas coisas que estavam faltando antes do fim do ano: fez visita aos seus avós e a um colega que estava enfermo, deu banho no cachorro; arrumou seu quarto separando o que iria precisar daquilo que poderia dispor e muitas outras coisas.

No dia 31 de dezembro, sentia-se em paz consigo mesma e com o mundo.

Quando soou a meia-noite e os festejos começaram, o céu ficou todo iluminado com a queima de fogos de artifício. A cidade ganhou vida nova, com buzinas de carros soando, gritos de alegria e pessoas que deixavam suas casas para cumprimentar vizinhos, parentes e amigos.

Sob o céu iluminado, a mãe olhou para a filha e disse com amor:

— Feliz Ano Novo, minha filha!

— Feliz Ano Novo, mamãe!

Roberta agora tinha certeza do que queria: ANO NOVO, VIDA NOVA!

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.
 

sábado, 1 de fevereiro de 2025

A Caminho da Praia

Gabriel estava muito contente. Tinham tido um belo Natal em família e o Ano Novo começava bem.

Seu pai tinha resolvido que iriam passar alguns dias na praia e era preciso correr com os preparativos.

Tanta coisa para arrumar! Tanta coisa para levar! Roupas, calçados, esteira, guarda-sol, cadeiras. Ah! Não poderiam esquecer a bola, os patins, as raquetes, o boné e o protetor solar! — pensava Gabriel.

Na véspera do dia combinado todos se deitaram cedo. Sairiam antes de o sol raiar. Gabriel nem conseguiu dormir. Estava ansioso demais e não via a hora de colocarem o pé na estrada.

Depois de muita confusão, acomodaram-se no carro e partiram eufóricos.

Viajaram muitas horas sem problemas. Tudo era festa.

Por volta do meio-dia já estavam todos cansados e com fome. O pai prometeu que parariam para almoçar no primeiro restaurante que encontrassem.

Nisso, viram um carro estacionado à beira da estrada. Pareciam estar com problemas e Jorge, o pai de Gabriel, resolveu parar e ver se eles precisavam de ajuda.

Roberto, o irmão mais velho, reclamou:

— O senhor vai parar, papai? Ah! Não para não! Estamos cansados e com fome. Além disso, nem conhecemos essa gente!

Jorge virou-se para o filho e afirmou, sério:

— Roberto, temos que ser solidários, meu filho! E se fôssemos nós que estivéssemos em dificuldade numa estrada deserta? Também não gostaríamos de receber ajuda?

— Claro! — respondeu o garoto de má vontade, suspirando.

Jorge desceu, enquanto a família ficou no carro aguardando. O outro veículo estava com defeito e Jorge, que entendia de mecânica, dispôs-se a examinar.

Não demorou muito, e as famílias estavam conversando fora dos carros. As mães trocavam informações, enquanto as crianças brincavam, comiam bolachas e bebiam água.

Descobriram, por coincidência, que iriam para a mesma cidade do litoral.

Jorge terminou o conserto e despediram-se, já como velhos amigos. Cláudio abraçou Jorge dizendo:

— Nem sei como lhe agradecer, Jorge. Se não fosse você, não sei o que faria. A cidade mais próxima está longe e o socorro demoraria a chegar.

— Não me agradeça, Cláudio. Tenho certeza de que faria o mesmo por mim.

Reiniciaram a viagem e algumas horas depois chegaram ao destino.

Ver o mar é sempre uma alegria e eles estavam muito animados.

O dia ensolarado era um convite que eles não podiam deixar de aproveitar. Não viram mais a família de Cláudio e até se esqueceram do incidente na estrada.

Certa manhã, a praia estava cheia de gente e de guarda-sóis. Gabriel estava brincando com um baldinho cheio de água, quando viu um siri. Saiu correndo atrás do bichinho, mas por mais que se esforçasse, não conseguia alcançá-lo.

Quando cansou da brincadeira, Gabriel quis voltar para junto dos pais e dos irmãos, mas só viu gente desconhecida. Não sabia mais onde estava.

Era muito pequeno e estava exausto. Olhava para cima, e o sol a pino não deixava que visse o rosto das pessoas.

Desesperado, sem saber para onde ir, pôs-se a chorar gritando:

— Mamãe! Papai!...

Mas ninguém atendia aos seus chamados.

Gabriel estava cansado de gritar quando ouviu uma voz conhecida dizer:

— Ei, menino, onde estão seus pais?

— Não sei. Estou perdido. Buáááá! Buááááá!

Olhando-o atentamente, o homem perguntou:

— Mas você não é o Gabriel?!...

— Sou.

— Então não se preocupe. Pare de chorar. Vamos procurar seus pais. Lembra-se de mim? Sou Cláudio, o homem que vocês ajudaram na estrada.

Cláudio dirigiu-se a um alto-falante ali perto e mandou avisar Jorge que o pequeno Gabriel estava com ele.

Logo em seguida apareceram os familiares do menino. Mostrando grande alívio, a mãe abraçou o filhinho, chorando de alegria.

Jorge, surpreso, agradeceu o amigo Cláudio.

— Graças a Deus que você encontrou meu filho. Estávamos desesperados e já não sabíamos onde procurar. Nem sei como lhe agradecer!

Cláudio abriu um grande sorriso e respondeu:

— Não precisa! Tenho certeza de que faria o mesmo por mim.

Roberto olhou para o pai com lágrimas nos olhos:

— Ainda bem que Cláudio reconheceu Gabriel. E isso foi graças a você, papai! Agora entendo que tinha toda razão quando parou à beira da estrada para ajudar aquelas pessoas. É dando que recebemos.

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.
 

quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

Natal Com Jesus

Aproveitando a aproximação de dezembro, a professora falava sobre o assunto, ponderando com os alunos:

— Nossas aulas estão terminando e logo vocês estarão de férias. Natal está chegando e hoje vamos falar sobre esse assunto tão importante para nós que somos cristãos. Todos os dias devemos nos lembrar de Jesus e procurar estar junto dele! Contudo, Natal é um momento especial porque toda a cristandade comemora nesse dia a vinda do Cristo ao mundo. Então, gostaria de saber: Como vocês esperam comemorar o Natal?

O entusiasmo foi geral. O assunto era palpitante! Cada criança falou sobre suas expectativas para a festa: As visitas de parentes que viriam de longe, os preparativos e as compras que estavam sendo feitos para o grande momento e, especialmente, os presentes que esperavam ganhar.

A professora ouviu com atenção as informações infantis, deixando que falassem à vontade. Depois, considerou, com um sorriso:

— Ótimo! Vejo que estão animados e sabem o que querem! Mas será que alguém se lembrou de que o aniversariante é Jesus, e, portanto, a festa é para Ele?

Silêncio geral. Os alunos trocaram entre si olhares surpresos e constrangidos. Ninguém havia pensado nisso!

Um aluno quebrou o silêncio, arriscando:

— Bem, se o aniversariante é Jesus, então, devemos pensar como Ele gostaria que preparássemos a comemoração, não é?

Todos concordaram. Porém, como fazer isso? Perguntar a Jesus?

Um outro garoto, que ouvia pensativo, disse:

— Bem, professora, acho que só podemos fazer isso buscando nos ensinamentos de Jesus. Minha mãe me ensinou que o Cristo gostava de estar sempre junto com os sofredores e necessitados do mundo.

— Excelente, Joãozinho. Alguém se lembra de mais alguma coisa?

Dorinha, menina estudiosa e disciplinada, comentou:

— Professora, outro dia abri a Bíblia ao acaso e li um trecho que Jesus dizia que, ao darmos uma festa, não deveríamos convidar os ricos, mas os que não nos poderiam retribuir a gentileza.

— Muito bom, Dorinha. Você provou que entendeu a mensagem do Mestre.

Ismael, o menorzinho da turma, que acompanhava tudo com atenção, levantou-se e disse:

— Professora, meu pai fala que Jesus ama a todo mundo: as pessoas, os bichinhos, as plantas. É verdade?

— Sem dúvida, Ismael. O amor do nosso Mestre se reflete em toda a natureza.

— Então, acho que Jesus não gostaria de chegar em nossa casa e encontrar a mesa cheia de animais mortos. Eu não gosto!

Diante da ponderação daquela criança, que lembrava o respeito à vida, os demais se calaram. A professora passou o olhar pela sala, onde os alunos se mantinham em silêncio, pensativos, e sugeriu:

— A classe já se manifestou abordando coisas importantes que devem ser analisadas com seriedade. Gostaria que o grupo refletisse sobre o assunto e encontrasse a melhor solução para festejarmos o Natal de Jesus. Vocês terão até o final desta aula para resolver, está bem? Depois desse tempo, voltarei para saber o que decidiram.

As crianças passaram a refletir no assunto, cada um dando sua sugestão. Afinal, depois de muita conversa, resolveram. A decisão foi unânime e estavam todos entusiasmados.

Retornando, a mestra olhou para a classe e indagou:

— E então? Chegaram a uma decisão?

O líder a turma, levantou-se e informou:

— Sim, professora. Depois de tudo o que foi falado, decidimos que a melhor maneira de festejarmos o Natal, é fazer visitas aos hospitais. Jesus cercava-se especialmente dos sofredores e doentes, e onde encontrá-los em maior número a não ser num hospital? Deve ser muito triste ser criança e ter que passar o Natal separado da família, não é? Podemos ensaiar um teatro, levar alegria, músicas, brincadeiras e algumas guloseimas que eles possam comer. O que a senhora acha?

A professora acompanhava comovida a explicação do aluno, que era interrompida pelos demais com palmas e gritos de alegria. Com lágrimas nos olhos, ela aprovou:

— Parabéns, vocês decidiram sabiamente. Por certo este ano teremos um Natal diferente!

A partir daquele dia, com a cooperação das famílias que aderiram eufóricas à ideia dos filhos, arrecadaram recursos para realizar o projeto, ganharam doces e presentes. Cada aluno contribuiria com suas tendências, mostrando o que tinha de melhor. Assim, surgiram atores para um pequeno teatro; palhaços, mágicos e, como não poderia faltar, ensaiaram músicas natalinas.

Chegou o grande dia.

Era véspera de Natal. Em um grande comboio se dirigem para o primeiro hospital. Foi um momento inesquecível! Médicos, enfermeiras, atendentes, todos aprovaram a iniciativa. Os pacientes, então, nem se diga! Acompanhavam com olhos brilhantes de animação e alegria as apresentações variadas e cheias de humor. Receberam presentes, balões coloridos e doces. Naturalmente, os alunos haviam se informado antes para saber o que os pacientes poderiam comer, inclusive os diabéticos, que receberam guloseimas especiais.

Notadamente no Hospital do Câncer, a emoção foi maior, diante das crianças pálidas, abatidas, muitas sem cabelos, com feridas, mas todas demonstrando no olhar a felicidade daquele momento.

O ambiente saturado de luz se derramava em bênçãos de paz, de amor e de alegria para todos.

Certamente, tanto as crianças enfermas quanto os alunos daquela classe, jamais esqueceriam esse Natal, quando tiveram a oportunidade de sentir a presença de Jesus, tão viva e tão forte entre eles!

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.
 

domingo, 1 de dezembro de 2024

A Baleia Azul

Ela nasceu grande e forte.

Desde recém-nascida era muito maior do que os outros habitantes das profundezas do oceano.

Afinal, era uma baleia. Uma linda baleia azul!

Mas Balofa, como seus amigos peixes a chamavam, não conseguia brincar e se divertir como todos os outros seres do mar por causa do seu tamanho.

Com o passar do tempo, como só conseguisse brincar com as outras baleias iguais a ela, começou a desenvolver dentro de si um enorme desprezo pelas outras criaturas, fossem peixes, moluscos ou crustáceos.

Considerava-os pequenos e insignificantes, e o orgulho pelo seu tamanho e beleza tomou conta do seu coração. Quando eles se aproximavam querendo brincar, ou apenas conversar, ela respondia altaneira:

– Não se enxergam? Vejam o meu tamanho e vejam o de vocês! Vão procurar sua turma que eu tenho mais o que fazer.

E como muitos seres do mar se afastassem à sua aproximação temendo ser esmagados por ela, Balofa acreditou-se verdadeiramente invencível e autossuficiente, afirmando convicta e cheia de orgulho:

– Eu sou forte e poderosa. Não preciso de ninguém.

Certo dia, contudo, passeando com sua mamãe, afastou-se do cardume encantada com a beleza de alguns corais que vira ao longe.

Aquela região era absolutamente desconhecida para ela.

Não se preocupou, porém. Era grande e sabia se defender. Não havia morador das profundezas do mar que pudesse vencê-la. Quanto ao caminho de casa, logo o encontraria. Era só questão de tempo. Com sua inteligência e sua força não tinha medo de nada.

Assim pensando, Balofa percorreu enormes distâncias sem saber para que lado estava indo. Já estava cansada quando, sem perceber, aproximou-se muito de uma praia e ficou presa num banco de areia. Lutou bastante, debateu-se, suplicando ajuda:

– Socorro! Socorro! Estou presa e não posso sair! Socorro! Acudam!

Mas, qual! Aquela era uma praia quase deserta e dificilmente passava alguém.

Há horas estava fora da água, sob o sol inclemente. Exausta de lutar, sentia-se cada vez mais fraca.

Ninguém atendia às suas súplicas e a pobre baleia azul pensou que era o fim. Morreria ali, sem socorro e longe da família.

Chorou, chorou muito. Desesperou-se e compreendeu, finalmente, que não era tão autossuficiente como sempre acreditara. E que o seu tamanho, aquele enorme corpo do qual sempre se orgulhara, era justamente a razão de estar presa no banco de areia.

Com lágrimas nos olhos, lamentava-se:

– Ah! Se eu fosse pequenina como os outros peixes não estaria agora nesta situação.

Meditou bastante e decidiu que, se conseguisse se salvar, seria diferente e não desprezaria ninguém. Deixaria de ser tão orgulhosa e faria amizade com todo mundo.

Algumas horas depois passou um garoto pela praia. Vendo-a, gritou encantado:

– Uma baleia azul! E parece que está encalhada, pobrezinha. Vou buscar ajuda.

Se fosse em outra época, Balofa reviraria os olhos com desprezo, não acreditando que uma criatura tão insignificante pudesse ser de alguma utilidade. Agora, porém, era diferente. Agradeceu a Deus pelo auxílio que lhe mandava na pessoa de uma criança tão pequena.

Logo depois o menino voltou com o pai e algumas pessoas das redondezas. Com grande esforço, aproveitando a subida da maré, conseguiram finalmente soltar a grande baleia, que sumiu nas águas, toda feliz.

Um pouco adiante, encontrou sua mãe, muito preocupada, que a procurava sem descanso. Ufa! Que alívio!

Naquele dia, no fundo do mar houve grande festa, e os peixes ficaram admirados de serem convidados por Balofa. E, mais ainda, de serem recebidos com muito carinho e atenção pela linda baleia azul, toda sorridente e gentil.

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.
 

sexta-feira, 15 de novembro de 2024

Tempo Perdido

Certo homem era marceneiro de profissão e possuía extraordinária facilidade para trabalhar com madeira. Era um verdadeiro mestre em seu ofício e todos admiravam seus trabalhos.

Esse homem tinha um sonho.

Desejava esculpir na madeira uma imagem de Jesus, a quem ele amava profundamente, em tamanho natural.

Conversando com um amigo, o marceneiro falou do sonho que acalentava em seu íntimo e o companheiro o incentivou:

- Então por que você não começa? Com seu talento e habilidade nas mãos, tenho certeza que a escultura será uma obra prima!

Ao que o marceneiro respondeu:

- Ah! Meu amigo! Desejo não me falta. Contudo, o trabalho deverá ser perfeito e ainda não resolvi qual a madeira que irei utilizar.

Sempre em dúvida, o artesão deixava o tempo passar. Uma madeira porque era muito rija; a outra porque não era resistente o suficiente; outra era macia e de fácil manejo, porém a tonalidade não o agradava.

E assim o tempo foi passando e o marceneiro não se dava conta.

Alguns anos depois reencontrou o amigo que tinha retornado à cidade e, curioso, perguntou sobre a obra.

- Já resolvi o tipo de madeira que irei trabalhar. Entretanto, ainda não iniciei porque não estou nas minhas melhores condições íntimas. Creio que para esculpir a figura do Mestre preciso estar bem comigo mesmo e com o mundo. Sabe como é, os fregueses exigem muito da minha atenção e, não raro me irrito, perdendo a paciência. Além disso, não podendo dispensar o serviço da marcenaria, onde ganho o sustento para minha família, só posso dedicar-me ao sonho acalentado pela minha alma nos momentos de folga. E aí, grande parte das vezes, eu sinto-me exausto e sonolento. Contudo — completava tentando aparentar entusiasmo —, pretendo começar minha obra prima dentro em breve.

Algum tempo depois, voltaram a se encontrar e, questionado pelo amigo que demonstrava interesse pelo assunto, o artesão argumentava:

- Infelizmente, ainda não iniciei o trabalho porque as condições não permitem. A família exige muito da minha atenção e os filhos requisitam meus carinhos. Você compreende, ainda são pequenos e dependentes. Porém, quando que eles crescerem um pouco mais, poderei trabalhar em paz.

E assim o tempo foi passando. Muitos anos depois, em visita à cidade, o amigo foi procurar o marceneiro. Encontrou-o velho e doente.

Após os cumprimentos e a troca de notícias, felizes com o reencontro, o visitante interrogou, curioso:

- E daí? Estou ansioso para ver o trabalho que você tanto desejava executar. Com certeza deve ter ficado soberbo!

Os olhos do artesão se apagaram e uma tristeza infinita vibrou em sua voz já trêmula pela idade:

- Ah, meu amigo! Infelizmente, nem cheguei a iniciar o trabalho que representava o sonho de toda uma vida. As dificuldades foram muito grandes e a necessidade de prover o sustento da família me absorveu. Agora, encontro-me doente e sem forças. A vista está fraca e já não enxergo mais como antes, e as mãos, trêmulas, não me permitem mais trabalhar.

Penalizado, o visitante amigo viu-o puxar um lenço e enxugar uma lágrima, cheio de arrependimento e amargura.

- É tarde, meu amigo. Tive todas as condições e não soube aproveitar. Perdi a oportunidade que o Senhor me concedeu.

Tentando animá-lo, o visitante considerou:

- Quem sabe? Não desanime. Talvez ainda seja possível.

O marceneiro fitou o amigo, demonstrando que compreendia toda a extensão da sua inutilidade e da sua cegueira, e respondeu convicto:

- Não agora; só se forem outra existência!

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.
 

sexta-feira, 1 de novembro de 2024

Tomando Decisões

Enquanto o pai se entretinha a ler um jornal, Gustavo, de onze anos, pegou um livro da estante e pôs-se a folheá-lo. De repente parou, e perguntou:

– Papai, o que é livre-arbítrio?

O pai colocou o jornal de lado e tirou os óculos:

– Livre-arbítrio, meu filho, é a capacidade que o ser humano tem de tomar suas próprias decisões, fazer suas escolhas. Entendeu?

– Não.

Cheio de paciência, o pai respondeu:

– Por exemplo, Gustavo. Amanhã é sábado e tem treino de futebol à tarde. Você vai?

– Não sei, papai. Também tenho convite para ir a uma festa de aniversário, no mesmo horário.

– Eu sei. Aniversário do Jorginho, seu amigo de infância. E então? O que você vai resolver? Vai ao treino ou vai à festa?

– Acho que não vou à festa do Jorginho, papai. Creio que vou ao treino.

– Ah, então você já se decidiu?

O garoto pensou um pouco e respondeu:

– O futebol é um compromisso que assumi no início do ano e não devo faltar. O time precisa de mim. Porém, pensando bem, papai, se eu não for ao aniversário, o Jorginho vai ficar chateado comigo.

– Então, você vai ao aniversário do seu amigo?

Gustavo coçou a cabeça, confuso, e considerou:

– Pensando bem, existe um outro problema. Na próxima semana nosso time tem um jogo importante, que faz parte do campeonato entre as escolas. Ah, Meu Deus! Não sei o que fazer!

O pai sorriu e explicou:

– Livre-arbítrio é exatamente isso, meu filho. Entre duas ou mais opções, você tem que decidir. Nesse momento, você vai ter que se resolver: o prazer ou o dever.

– Agora eu entendi, papai. Mas é muito difícil tomar decisões!

O pai concordou com ele, recomendando que pensasse bastante até o dia seguinte para não tomar uma decisão errada.

– Meu filho, o livre-arbítrio é um dádiva de Deus, mas também é uma conquista do espírito no trajeto evolutivo realizado. Então, precisamos pensar bem antes de qualquer decisão. Seja ela certa ou errada, ficaremos sempre condicionados às consequências dos nossos atos, segundo a Lei de Ação e Reação, ou Lei de Causa e Efeito.

Como era tarde, foram dormir.

No dia seguinte, Gustavo estava sentado à mesa tomando o café da manhã, quando o pai lhe perguntou:

– E daí, meu filho? Resolveu?

– Pensei bastante e ainda não me decidi. Porém até à tarde, eu resolvo.

Quase na hora de sair, Gustavo apareceu na sala com a mochila e um pacote embrulhado para presente na mão.

– Vejo que você se decidiu pelo aniversário, Gustavo. Quer dizer que o prazer ganhou – disse o pai.

O garoto balançou a cabeça negativamente.

– Não? Então, vai ao treino. Ficou com o dever.

Gustavo balançou a cabeça novamente:

– Também não, papai.

– Não estou entendendo!

– É que apareceu uma terceira opção, papai. Lembrei que teremos prova de matemática na segunda-feira. Então, vou estudar na casa de um colega que entende bem a matéria. Antes, porém, vou passar na casa do Jorginho, dar-lhe os parabéns e entregar o presente que comprei para ele. Assim, o prazer e o dever serão igualmente atendidos.

O pai estava surpreso e maravilhado. Seu filho Gustavo, que ele julgara um pouco desleixado com relação às suas tarefas, mostrara que era ponderado e responsável, tomando decisões com habilidade.

Levantou-se, estendendo os braços para o rapazinho:

– Parabéns, meu filho. Você soube decidir entre o prazer e o dever. Mas, diga-me, e o treino? O time tem jogo importante na semana que vem...

Abraçando o pai, com enorme sorriso no rosto, o garoto explicou:

– É verdade, papai. Porém, fiquei sabendo hoje cedo que o jogo será adiado. Então, não tive mais dúvidas. Agora estou tranquilo, certo de que fiz o melhor.

Gustavo despediu-se do pai e da mãe, pegou a mochila com os livros, o presente e, acenando uma última vez, fechou a porta atrás de si.

O pai estava feliz. Sentia-se realizado por ter um filho que usara o livre-arbítrio de maneira tão responsável.

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.
 

terça-feira, 15 de outubro de 2024

A Experiência da Raposa

Certa vez, uma raposa de lindo rabo peludo e de elegante nariz pontudo, aproveitando a noite que tinha chegado de mansinho, entrou em um galinheiro.

Fez-se grande tumulto. As aves corriam assustadas, trombando umas nas outras e cacarejando de medo.

Satisfeita com a confusão que se estabeleceu entre as galinhas, a raposinha corria de um lado para o outro, arrancando-lhes as penas e divertindo-se a valer. Até que percebeu uma galinha que continuava no mesmo lugar. Parou a brincadeira e aproximou-se, curiosa.

A galinha, com as asas abertas, arrepiada, protegia seu ninho onde sete pintainhos, mal acabados de sair da casca do ovo, pipilavam. Ao ver que a raposa se aproximava, tremendo de pavor, a pobre mãe suplicou:

— Por favor, dona Raposa, não destrua minha família que amo tanto. Se quiser pode comer a mim, mas não mate meus filhinhos e Deus a recompensará por sua generosidade. Eles nada lhe fizeram! São pobres criaturinhas indefesas. Tenha piedade!

Ouvindo a súplica da mãezinha aflita, a pequena raposa condoeu-se e foi embora do galinheiro, para grande surpresa das aves que respiraram aliviadas.

Algum tempo depois, a raposa, já crescida, foi também abençoada com duas lindas raposinhas, que eram o seu maior tesouro.

Certo dia percebeu, nas imediações da sua toca, um cachorro adestrado na caça às raposas, e procurou proteger seus filhotinhos da melhor maneira possível.

Porém o cão, que possuía faro muito delicado, encontrou o esconderijo. Impedindo que elas fugissem, arreganhou os dentes, rosnando colérico e pronto para atacá-las.

Nesse instante, a raposa-mãe lembrou-se da vez em que entrara no galinheiro e das palavras da galinha.

Tremendo de medo ela gaguejou:

— Você tem filhotes?

Surpreso, o cachorro parou e respondeu:

— Tenho.

Criando coragem, a raposa continuou:

— Então sabe o que estou sentindo. Por piedade, não mate minhas filhas que são tudo o que tenho. E se isso estivesse acontecendo com sua família? Poupe-nos e Deus o recompensará por sua generosidade.

O valente cão de caça pensou... Pensou... E achou que a raposa tinha razão. Cheio de piedade foi embora sem molestá-las.

A raposa abraçou as filhas com amor, agradecendo a Deus a ajuda e reconhecendo o valor da lição que manda fazer ao próximo aquilo que queremos que os outros nos façam.

Como naquele dia em que ela tinha ajudado uma pobre galinha desesperada que suplicava pela vida de seus pintainhos, agora, por sua vez, num momento de perigo, tinha recebido a mesma ajuda de um cão de caça, que se condoeu da sua situação de mãe, que defendia seus filhotes.

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.
 

terça-feira, 1 de outubro de 2024

A Descoberta

Toninho, de nove anos, era um menino diferente e, por isso, causava muitas preocupações aos seus pais.

Frequentava a escola, mas não gostava de estudar e apresentava dificuldades em acompanhar a classe.

Apreensivos com seu futuro, os pais tentavam de todas as maneiras fazer com que Toninho se interessasse por alguma coisa. Mas, qual nada! Ele gostava mesmo era de brincar.

À medida que o tempo passava, os pais do menino ficavam cada vez mais aflitos. Já haviam tentado de tudo.

Procuraram despertar-lhe interesse pela música. Foi um desastre. Piano, Toninho não tinha paciência para suportar os monótonos exercícios. Violão, ele ficava irritado e colocava tanta força no manejo que em pouco tempo arrebentava as cordas. Violino, nem pensar. Bateria, ele não gostava de barulho. Enfim, para a música, não tinha vocação, nem ritmo e nem sensibilidade, deixando os professores desanimados.

— Já que você não tem tendência para a música, meu filho, quem sabe uma outra arte? A pintura, por exemplo. Veja o exemplo dos grandes gênios da pintura. É fascinante!

— Está bem. Vou tentar.

Mas, qual! Toninho não conseguia lidar com os pincéis nem com a mistura das cores. Ficava entediado, e logo desistiu.

— Se você não gosta de estudar, nem de música ou de pintura, quem sabe se interessa por algum esporte? Poderia talvez jogar futebol! — considerou a mãezinha dedicada.

— Nem pensar. Gosto de assistir jogo, mas não de correr atrás de uma bola.

— Bem, talvez então alguma modalidade de atletismo?

— Corrida, salto em distância, arremesso de peso... Nada disso faz o meu gênero.

— Tênis?

— Nem pensar.

— Talvez vôlei?

— Não tenho altura suficiente.

— Natação?

— Gosto de ir à piscina, mas entro na água apenas para refrescar o corpo do calor do sol.

— Basquete?

— Não tenho pontaria.

Enfim, tentaram todas as modalidades de esporte. Nada.

Os pais, cada vez mais preocupados. Toninho contava agora quinze anos. Crescera, transformando-se num rapaz alto e magro. Porém ainda não descobrira nada que o interessasse.

Experimentaram a informática, mas ele usava o computador apenas para divertir-se com os jogos.

A mãe de Toninho estava cada vez mais aflita, mas o pai insistia em afirmar:

— Fique calma, querida. Todas as pessoas têm habilidade ou tendência para alguma coisa. Nosso filho não é diferente. Ele vai acabar descobrindo do que gosta.

— Será? Tenho pedido tanto a Deus que ilumine nosso filho! — dizia a mãezinha um tanto desanimada.

Certo dia, Toninho encontrava-se passeando num parque. Sentou-se à borda do lago e pôs-se a pensar. Aquela situação também não era agradável para ele. Tinha vontade de fazer alguma coisa, mas não sabia o quê. Nesse momento, lembrou-se de Deus e orou com fervor suplicando ajuda e proteção. Sentia-se inútil e sem objetivos na vida. Abaixou a cabeça e chorou sentidamente.

Sentiu-se mais reconfortado. De repente, Toninho olhou em torno e viu um pedaço de madeira ali perto. Teve o impulso de pegá-lo nas mãos. Revirou-o para todos os lados, observando-o. Interessante! Pareceu-lhe ver a imagem de um pássaro de asas fechadas naquela madeira. No mesmo instante, Toninho pegou um canivete de estimação que trazia sempre no bolso, e começou a trabalhar.

Com habilidade, esculpiu a cabeça, colocou os olhos no lugar, trabalhou as asas. Depois, modelou as pernas e os pés, que se apoiavam num pedaço de galho.

Toninho não viu o tempo passar. Quando terminou, ele ficou extasiado diante da pequena escultura, obra de suas mãos.

Correu para casa. Queria contar a novidade. Chegando, mostrou a escultura.

— Vejam! Papai, você tinha razão. Todos nós temos potencialidades ignoradas e habilidades insuspeitas. Descobri que minhas mãos servem para alguma coisa. Também posso ser útil e criativo.

— Mas, quando foi que aprendeu a esculpir em madeira? — indagou o pai, intrigado.

— Não sei. Parece-me que já aprendi e que estou apenas recordando!

Era imensa a perplexidade e a alegria dos pais. Finalmente, Toninho descobrira uma razão para viver!

Desse dia em diante, Toninho como que tivera sua vista alargada. Tudo o que via, enxergava com outros olhos, vislumbrando sempre o que poderia fazer, modificar, transformar, esculpir.

Tornou-se um grande artista. Seus trabalhos eram muito procurados e suas exposições bastante concorridas. Ficou conhecido no Brasil e no exterior, mas jamais deixou de ser a criatura simples que era.

Agora, porém, tinha um objetivo. Ajudar crianças, passando seus conhecimentos e ensinando que somente nos sentiremos felizes quando trabalharmos com amor fazendo aquilo que gostamos.

Agradecia sempre a Deus, que o ajudara quando mais precisava, indicando-lhe o caminho que deveria trilhar.

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.
 

domingo, 15 de setembro de 2024

A Galinha Intransigente

Existiu certa vez uma galinha que nunca estava satisfeita com nada. Vivia de mal com o mundo e não perdoava a menor ofensa, mesmo involuntária.

Passava o tempo a queixar-se da vida e a criticar tudo o que os animais da fazenda faziam. No terreiro, ninguém estava livre dos seus comentários.

Se um patinho se machucava, ela logo dizia:

- Bem feito! Quem manda dona Pata deixar seus filhotes soltos por aí?

Se o cachorrinho era picado por uma abelha ao enfiar o focinho no tronco de uma árvore, ela logo exclamava com ar satisfeito:

- Teve o que merecia! Quem manda ficar enfiando o nariz onde não deve?

Se o gatinho, sem querer, entornava o prato de leite, ela reagia:

- Também com a educação que dona Gata lhe dá, só podia ser um trapalhão mesmo!

E assim ela criticava todos os animais do terreiro. E ai de alguém que lhe fizesse a mínima ofensa. Jamais teria o seu perdão.

Certo dia, ela descuidou-se arrumando o galinheiro e não viu que um de seus pintinhos desaparecera.

Quando percebeu, ficou apavorada e saiu gritando por ele:

- Chiquinho! Chiquinho! Onde está você?

Mas nada do Chiquinho aparecer. Perguntou para os vizinhos, para dona coruja, sempre muito esperta, e nada. Ninguém sabia dar notícias do pintinho.

Todos estavam preocupados e ajudando a procurar o filhote da galinha, até que dona Vaca lembrou-se de tê-lo visto atravessando o pasto a caminho do riacho.

Correram todos, e lá chegando ficaram surpresos e encantados com a cena que viram.

O pintinho caíra na água e, não sabendo nadar, debatera-se, ficando preso em umas plantas na outra margem do riacho que, embora estreito, não dava para alcançar.

O patinho, excelente nadador, já fizera vãos esforços para soltar o pintinho, que estava preso por uma das patas, mas ele era muito fraco e não tinha força suficiente.

O cachorrinho e o gatinho tiveram uma ideia e, nesse exato momento, a colocavam em execução.

O cachorrinho, que era o mais forte, se pendurou num galho de árvore à margem do regato e, ao mesmo tempo, segurou uma das patas do gatinho, que se esticou... Esticou... Esticou até conseguir agarrar o Chiquinho pelo pescoço. Depois, puxando-o com força, pode livrá-lo dos ramos que o prendiam.

Foi um alívio geral! Em pouco tempo, Chiquinho estava nos braços da mamãe Galinha, que respirava aliviada.

- Graças a Deus! Não sei como agradecer a vocês todos pela ajuda que me deram! — disse com lágrimas nos olhos.

Depois, pensando um pouco, completou envergonhada:

- E logo eu que sempre fui tão intolerante com todos! Mas, nunca mais criticarei ninguém. Nunca se sabe quando nós também vamos precisar da ajuda e do perdão dos outros. Hoje, por minha falta de atenção, meu filho quase perde a vida. Porém, em vez de me censurar, vocês me ajudaram. Quero que me perdoem tudo o que já lhes fiz, como espero que Deus me perdoe também.

E deste dia em diante, dona Galinha transformou-se numa criatura boa, paciente, tolerante e compreensiva para com as falhas do próximo e nunca mais criticou ninguém.

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.