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sexta-feira, 15 de março de 2024

O Sapo Sabido

Quac era um sapo muito sabido e todos o admiravam pela sua inteligência e sabedoria.

Na lagoa onde residia, era ele quem ensinava outros sapos e rãs, fazendo às vezes de professor.

Mas, justamente por ser sábio, havia aqueles que tinham inveja dele e desejavam o seu mal.

Croc era um desses. Orgulhoso e egoísta, sentia-se enciumado toda vez que seus irmãos, os outros sapos, demonstravam afeição por Quac, pois não admitia que ninguém fosse melhor do que ele.

Por isso, resolveu dar-lhe uma lição.

Croc sabia que no tronco de certa árvore, um pouco distante da lagoa, habitava uma serpente.

Certo dia convidou Quac para darem um passeio e, perto da árvore onde sabia morar a serpente, parou e disse:

— Ali no tronco daquela árvore existem minhocas muito apetitosas.

Aos pulos, Quac para lá se dirigiu e, qual não foi sua surpresa quando, de dentro do buraco, surgiu uma cobra de cabeça erguida e de língua de fora, pronta para dar o bote.

Ele levou um susto danado! Deu um pulo para o lado e escapou por pouco, desaparecendo no meio do mato.

Croc ficou muito decepcionado porque o sábio Quac escapou do bote da serpente.

Alguns dias depois, Quac andava procurando comida pela mata, quando viu alguns homens que, munidos de faroletes e redes, dirigiam-se para a lagoa. Eram caçadores de rãs. Esperavam a noite cair para, sem piedade, dizimarem seus irmãos sapos.

Rapidamente, aos pulos, Quac voltou para a lagoa e, encontrando Croc, avisou-o do perigo que estava correndo, e notificou também os outros do grupo, alertando-os para que se escondessem o mais depressa possível.

E assim eles fizeram, escondendo-se bem. Em pouco tempo os homens chegaram e não encontraram nenhuma rãzinha.

Procuraram... procuraram... mas as rãs tinham sumido, então os caçadores foram embora muito irritados por não terem conseguido caçar nada.

Aliviados, os sapos saíram de seus esconderijos e comemoraram a vitória, agradecendo ao querido Quac por salvar suas vidas.

Croc estava pensativo. Aproximando-se de Quac, perguntou por que ele os alertara do perigo, especialmente ele, Croc, quando teria sido mais fácil fugir, abandonando-os à própria sorte.

Arregalando os grandes olhos, Quac respondeu:

— Porque eu aprendi que devemos fazer aos outros o que desejamos que os outros nos façam!

Croc meditou sobre estas palavras e sentiu-se envergonhado da atitude que tivera.

Pediu perdão a Quac, afirmando:

— Você é realmente um grande sábio e muito bom também. Agora compreendo porque todos o admiram.

E, a partir desse dia, tornaram-se verdadeiros amigos e a paz voltou a reinar na lagoa.

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.
 

sexta-feira, 1 de março de 2024

O Remédio

Dentre todos os garotos da vizinhança, Juquinha era o mais levado.

Cheio de energia, estava sempre inventando algo para fazer.

Quando não estava no telhado da casa, arriscando-se a cair e quebrar o pescoço, ele estava em cima do muro do vizinho mexendo com as pessoas que passavam na rua.

Gostava também de apanhar, às escondidas, frutos no pomar do senhor José. De outras vezes, ele subia nas árvores arrancando dali ninhos de pobres aves indefesas, destruindo-os depois, pelo simples prazer de destruir.

Os garotos da rua o temiam e muitos não brincavam com ele para evitar brigas e encrencas.

A mãe de Juquinha dava-lhe sempre bons conselhos, mas ele ria, e saía de perto sem lhe atender aos apelos.

Dona Joana tentava fazer com que Juquinha se interessasse em mudar de vida, e explicava-lhe que não devia agir de maneira maldosa, causando confusão e inimizades.

Quando era dia do Evangelho no Lar, dona Joana procurava atrair Juquinha para a reunião singela, ciente de que as preces e leituras das passagens evangélicas poderiam auxiliar poderosamente na mudança de atitudes do filho, mas qual nada!...

Juquinha alegava obrigações inadiáveis e fugia ao convívio carinhoso da família.

Triste, dona Joana elevava o pensamento em prece e, com o coração repleto de emoção, suplicava a ajuda de Jesus. Não desejava que seu filho persistisse no mal e temia, com justa razão, que com o passar do tempo, ele se tornasse cada vez pior.

Sabia que, se não conseguisse incutir nele ideias sadias de amor, trabalho, devotamento, respeito, piedade, etc., enquanto ainda era um garoto, depois seria mais difícil.

E atendendo às súplicas do seu coração generoso, a resposta do Alto não se fez esperar.

Certo dia, enquanto fugia do proprietário de uma chácara aonde fora roubar frutas, Juquinha caiu do muro, fraturando um osso da perna.

Como consequência, ele, que nunca parava em casa e estava sempre inventando alguma arte, foi obrigado a permanecer preso a uma cadeira de rodas sem poder caminhar por quarenta dias.

E, quando Juquinha reclamava da inatividade forçada, dona Joana respondia-lhe com um sorriso:

— Tenha paciência, meu filho. Este foi o remédio que Deus encontrou para que você pudesse dar um novo rumo à sua vida e repensar suas atitudes.

E, com um suspiro aliviado, completava satisfeita:

— Podia ser pior!...

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.
 

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

O Intruso

Alberto era uma criança muito feliz. Tinha apenas quatro anos e sentia-se o centro do Universo. Rodeado pelo amor de quantos conviviam com ele, bastava que manifestasse um desejo e logo os pais se apressavam em satisfazê-lo.

O quarto de Alberto, decorado especialmente para ele, era cheio de brinquedos.

Certo dia a mamãe informou, com lindo e doce sorriso:

— Alberto, você vai ganhar um irmãozinho!

O menino sentiu que o mundo desabava sobre sua cabecinha. Não sabia bem o que era isso, mas percebeu que sua vida ia ser invadida por um estranho. Ouvindo a mãe referir-se ao intruso com amor, dentro dele acendeu-se uma luz de alerta que parecia dizer:

— PERIGO! PERIGO! PERIGO!...

Com o passar dos dias, suas suspeitas se confirmaram. Um dia a mamãe convidou:

— Vamos sair e comprar roupinhas para o bebê?

E lá foram eles percorrer as lojas e escolher roupinhas e presentes para o intruso.

E dali por diante era sempre assim:

— Temos que comprar móveis para o quarto do bebê!

— O bebê vai precisar de uma banheira!

— Que tal comprar ursinhos de pelúcia para enfeitar o quarto do bebê?

Que tal comprar isso, que tal comprar aquilo... Era sempre assim.

E não parou por aí. Um dia a mamãe chamou Alberto e perguntou com delicadeza:

— Filhinho, quer trocar de quarto?

— Por quê?

— Porque eu e seu pai achamos que será melhor montar o quarto do bebê ali.

— Por quê?

— Você ficará com um quarto maior e mais bonito. Você se incomoda?

Alberto não se incomodou e mudou de quarto. Mas só por fora. Por dentro, a cada dia gostava menos desse “irmãozinho” que nem chegara e já fazia tanta confusão em sua vida.

A barriga da mamãe começou a aumentar, e ela falava com carinho:

— Veja, Alberto, o nenê está se mexendo. Coloque a mão na minha barriga e sinta.

— Não. Não quero.

— Então venha almoçar, meu filho.

— Não.

— Por que não quer comer?

— Porque não gosto dessa comida.

E Alberto, num repente, empurrou o prato que caiu ao chão em mil pedaços, espalhando comida para todo lado.

Ele mostrava-se irritado, nervoso, e a mãe perguntou:

— Por que fez isso? De uns tempos para cá, você está ficando insuportável, meu filho. Está manhoso e chorão, coisa que nunca foi. Se continuar assim, vai levar umas boas palmadas no bumbum.

Alguns meses depois, a mãe foi para a maternidade, e Alberto ficou a sentir-se sozinho e abandonado, em casa. Na verdade, ficou com a vovó, enquanto o pai acompanhava a mamãe até o hospital.

Quando sua mãe voltou, trazia um embrulho nos braços. Alberto, saudoso, correu para abraçá-la, gritando de alegria:

— Mamãe! Senti muito a sua falta! Que bom que você voltou!

Em vez de abraçá-lo com carinho, ela disse:

— Cuidado, meu filho! Não faça barulho. Vai acordar o bebê. Veja, Alberto, é seu irmãozinho! Não é lindo?

O garoto contemplou o pequeno rosto vermelho que saía do meio das roupas e deu sua opinião:

— Não. Ele é feio. Muito feio.

Se Alberto achava que antes o bebê ocupava muito o tempo e as atenções da mãe, agora então nem se fala! Ele desejava ficar junto da mãe, mas o colo dela estava sempre ocupado. Lidava o dia inteiro com o bebê. Dava de mamar, trocava as fraldas, dava banho, fazia dormir.

Nem durante a noite “aquela coisinha” dava sossego. Ninguém mais dormia naquela casa. O intruso chorava o tempo todo.

E as visitas? Gente que nunca tinha aparecido na sua casa, agora vinha visitar e trazer presentes. Sabem para quem? Para o bebê, é claro!

Cada vez mais Alberto sentia-se infeliz e descontente. E cheio de raiva, também.

Enquanto a mãe conversava com as amigas, ele aproximava-se do bebê fingindo abraçá-lo. Apertava suas bochechas. No fundo, gostaria mesmo é de machucar aquele intruso.

— Veja como ele gosta do irmãozinho! Não sai de cima dele! — dizia a mãe, convicta.

— Alberto está com ciúmes porque perdeu o colo!

O menino olhou para a mulher que tinha dito aquelas palavras, fez uma careta e saiu da sala, emburrado.

Ele não sabia o que fazer. A cada dia o “inimigo” ganhava mais espaço e ele era deixado de lado.

A mamãe, percebendo o que estava acontecendo com Alberto, tomou-o no colo com muito carinho e disse:

— Meu filho, nós o amamos muito. Não é porque ganhamos um outro bebê que deixamos de amar você. Os pais amam os filhos da mesma maneira e com o mesmo amor. Deus, que é Pai de todas as criaturas, nos deu a vida e nos colocou em famílias para que pudéssemos viver juntos nos ajudando mutuamente e aprendendo uns com os outros. Seu irmãozinho é um espírito que o Papai do Céu mandou para que nós cuidássemos dele, protegendo-o e educando-o de forma a se conduzir bem na vida. Entendeu? Você não precisa ficar com ciúmes dele. O que acontece é que, no momento, ele precisa mais de mim. Como você, quando era bebê!

Alberto ficou mais tranquilo depois dessa conversa e, com o passar do tempo, foi prestando mais atenção no bebê, até que, um dia, ele sorriu! Aquela coisinha feia e desengonçada, abriu um lindo sorriso.

Foi tão inesperado que deixou Alberto surpreso e encantado.

— Mamãe! Veja, ele sorriu para mim. O bebê é meu amigo!

— Viu? Ele gosta de você, meu filho. O primeiro sorriso dele foi para você!

A partir desse dia, Alberto passou a ver o irmão com outros olhos. Já não o achava tão feio. Até que era engraçadinho!

A mãe agora tinha mais tempo para Alberto e, sempre que necessário, pedia sua ajuda para cuidar do bebê, enquanto fazia os serviços domésticos.

Sentindo-se mais seguro e feliz, Alberto esperava ansiosamente que o irmãozinho crescesse para poderem brincar juntos.

Afinal, o bebê não era mais um intruso. Era seu amigo!

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.
 

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

O Tesouro do Cristo

Conta-se que há muito tempo atrás, Paulo de Tarso e seu amigo Barnabé estavam viajando a serviço da divulgação da doutrina cristã.

Levavam a palavra do Mestre, pregando o seu Evangelho para povos incultos e rudes, mas necessitados de Deus. Viajavam com muita simplicidade, geralmente a pé, levando o mínimo indispensável para sua sobrevivência.

Certa vez, estavam passando por regiões desertas, cheias de precipícios e de florestas infestadas de bandidos. Seu destino era a cidade de Antioquia da Pisídia, que ainda estava longe. Pela primeira vez, foram obrigados a dormir ao relento, no seio da natureza.

Venceram precipícios, atravessaram rio caudaloso e, do outro lado, encontraram uma caverna nas rochas, onde se acomodaram para descansar o corpo exausto e dolorido.

Quase não tinham o que comer, mas estavam animados, vencendo obstáculos com otimismo e coragem.

A solidão lhes sugeria belos pensamentos.

Ao cair da tarde e após uma refeição frugal, passaram a comentar animadamente sobre as excelências do Evangelho, exaltando a grandeza da missão de Jesus Cristo.

– Se os homens soubessem... – dizia Barnabé, fazendo comparações.

– Todos se reuniriam em torno do Senhor e descansariam – rematava Paulo cheio de convicção.

– Ele é o príncipe que reinará sobre todos.

– Ninguém trouxe a este mundo riqueza maior.

– Ah! – comentava Barnabé. – O tesouro de que foi mensageiro engrandecerá a Terra para sempre.

E, assim, continuaram conversando, quando singular movimento lhes despertou a atenção. Dois homens armados precipitaram-se sobre ambos, à fraca luz de uma tocha acessa com resinas.

– A bolsa! – gritou um dos malfeitores.

Barnabé empalideceu ligeiramente, mas Paulo estava sereno e impassível.

– Entreguem o que têm ou morrem! – exclamou o outro bandido, alçando o punhal.

Olhando fixamente o companheiro, Paulo ordenou:

– Dá-lhes o dinheiro que resta. Deus suprirá nossas necessidades de outro modo.

Barnabé esvaziou a bolsa que trazia entre as dobras da túnica, enquanto os malfeitores recolhiam, ávidos, a pequena quantia.

Reparando nos pergaminhos do Evangelho que os missionários consultavam à luz da tocha improvisada, um dos ladrões interrogou desconfiado e irônico:

– Que documentos são esses? Falavam de um príncipe opulento... Ouvimos referências a um tesouro... Que significa isso?

Com admirável presença de espírito, Paulo explicou:

– Sim, de fato, estes pergaminhos são o roteiro do imenso tesouro que nos trouxe o Cristo Jesus, que há de reinar sobre os príncipes da Terra.

Um dos bandidos, grandemente interessado, examinou o rolo de anotações do Evangelho.

– Quem encontrar esse tesouro – prosseguia Paulo, resoluto – nunca mais sentirá necessidades.

Os ladrões guardaram o Evangelho cuidadosamente e, apagando a tocha bruxuleante, desapareceram na escuridão da noite.

Quando se viram a sós, Barnabé não conseguiu dissimular o assombro:

– E agora? – perguntou com voz trêmula.

– A missão continua bem – disse Paulo, cheio de ânimo. – Não contávamos com a excelente oportunidade de transmitir a Boa Nova aos ladrões.

Admirando-se de tamanha serenidade, Barnabé considerou, um tanto preocupado:

– Mas levaram-nos, além das moedas, os derradeiros pães de cevada, bem como as capas com que nos agasalhávamos...

– Haverá sempre alguma fruta na estrada – esclarecia Paulo, decidido – e quanto às coberturas, não tenhamos maior cuidado, pois não nos faltarão as folhas das árvores.

– Mas, como recomeçar nossa tarefa, se não temos sequer as anotações do Evangelho?

Paulo, todavia, desabotoando a túnica, retirou alguma coisa que guardava junto ao coração.

– Enganas-te, Barnabé. – disse com sorriso otimista. – Tenho aqui o Evangelho que ganhei de meu mestre Gamaliel e que guardei sempre comigo com muito carinho.

O missionário apertou nas mãos o tesouro do Cristo e o júbilo voltou a iluminar lhe o coração.

Aqueles homens valorosos poderiam dispensar todo o conforto do mundo, mas a palavra de Jesus não poderia faltar.

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.
 

segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

Presente Para Jesus

Quando a professora entrou na sala, os alunos estavam conversando entre si e cada um falava do presente que iria pedir no Natal.

Aproveitando a oportunidade, já que este seria o último dia de aula antes do encerramento do ano letivo, a professora lembrou aos seus alunos:

— Na Festa de Natal comemora-se o nascimento de Jesus. Então, o aniversariante é Jesus e não devemos ficar tão preocupados em ganhar presentes. Ao contrário, devemos nos lembrar das palavras do Mestre quando disse que tudo o que fizermos aos mais necessitados será a ele mesmo que estaremos fazendo.

— Mas então o que podemos fazer, professora? — perguntou um dos garotos.

— Isso é vocês que devem resolver. Pensem e decidam.

De toda a classe, somente Vera, Carla e Raul ficaram preocupados com as palavras da professora.

A caminho de casa eles iam conversando. Eram vizinhos e amigos, e estavam sempre juntos.

— O que podemos dar de presente de Natal para as pessoas, como se o estivéssemos dando ao próprio Jesus? — perguntou Carla, pensativa.

— Que tal dar balas e doces? Cada um de nós pedirá dinheiro à sua mãe e compraremos as guloseimas. Depois, sairemos distribuindo às pessoas! — sugeriu Raul.

Vera, porém, ponderou:

— Desse modo, na verdade serão nossas mães que estarão dando os presentes, não nós, porque não temos dinheiro! Então, penso que não podem ser coisas que precisamos comprar. Que tal darmos nossas roupas?

Carla e Raul ficaram pensativos durante alguns instantes, depois Carla retrucou:

— Acho que não daria certo. Mesmo porque, se nós dermos nossas roupas, teremos que comprar outras! Ou então, daremos as que não usamos mais e que nem gostamos. Não seria um verdadeiro presente.

— Já sei! — disse Raul — e se fizermos visitas às casas?

— Bem lembrado. Contudo, só a visita não é suficiente. Também precisamos levar “algo mais”. Mas, o quê?!... E não pode ser de comprar porque não temos dinheiro! — lembrou Vera.

Afinal, Carla, de olhos brilhantes, disse:

—Tive uma ideia! Se nós desejamos dar alguma coisa, e não pode ser adquirido com dinheiro, mas deve representar nosso esforço, nosso sentimento, que tal levarmos alegria e espírito natalino através da música? Olhem! Nós três gostamos de cantar. Podemos ensaiar algumas músicas natalinas e, na véspera do Natal iremos cantar para as pessoas! Que tal?

Vera e Raul bateram palmas, aplaudindo a ideia.

Assim, os três amiguinhos escolheram as músicas e ficaram dias ensaiando.

Na véspera do Natal, se arrumaram direitinho e saíram de casa percorrendo as ruas do bairro. Paravam na frente das casas, começavam a cantar e, ao ouvirem as vozes infantis, os moradores abriam as portas, atraídos pelas belas melodias.

E em cada casa que eles passavam, os moradores iam acompanhando o pequeno grupo, que crescia sempre. Percebendo o movimento, eles olharam para trás e perceberam, com emoção, que agora todas as pessoas do bairro os acompanham e cantavam junto com eles. A alegria, o entendimento e a fraternidade haviam dominado os corações de todos, graças àquelas crianças.

Como a noite avançasse, sorridentes e felizes, os moradores resolveram fazer uma grande festa no meio da rua.

Em pouco tempo, trouxeram mesas, cadeiras, toalhas e enfeites natalinos. Cada um colaborou com os pratos que havia preparado em casa para a sua ceia, e, juntando tudo, uma linda festa surgiu!

Pessoas necessitadas, moradores de rua, se aproximaram, encantados, e também participaram, tornando-se a grande festa realmente uma comemoração digna do Aniversário de Jesus.

Vibrações de paz, amor e fraternidade envolveram a todos. Vizinhos que estavam brigados fizeram as pazes. Pessoas que não se conheciam, começaram a conversar e se tornaram amigas, aumentando os elos afetivos.

Estavam todos satisfeitos e abraçaram Carla, Vera e Raul, agradecendo-lhes pela excelente ideia.

Pela primeira vez na vida, sentiam-se mais perto de Jesus, comemorando a Festa de Natal como se o Divino Aniversariante estivesse ali presente!

FELIZ NATAL!

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.
 

sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

O Brinquedo Avariado

Naquele quarteirão morava uma criança diferente.

Netinho havia nascido com uma deficiência mental e não conseguia pensar ou falar direito. Ficava sentado no portão, quietinho, pois gostava de olhar o movimento da rua e ver as crianças brincarem.

E, porque era diferente, muitas crianças o rejeitavam, maltratando-o, jogando-lhe pedras ou caçoando dele. Agiam assim especialmente os amigos André, Tiago, Pedro e Alfredo.

Às vezes, atingido por uma pedrada, Netinho corria para dentro do portão, chorando. Sua mãe abraçava-o com carinho, olhava os meninos e dizia:

— Por que agem assim com meu filho? Que mal ele lhes fez?!...

Um dia, Dona Júlia, a mãe de Pedro, passando por ali viu o grupo de meninos mexendo com Netinho. Encolhido num canto, com os braços protegendo a cabeça, ele chorava, assustado.

A senhora aproximou-se, cheia de compaixão, abraçou o menino, consolando-o, e levou-o para dentro, entregando-o aos cuidados da mãe.

Depois voltou e, sem qualquer crítica ao comportamento dos garotos, convidou-os para irem tomar um suco em sua casa. Eles aceitaram satisfeitos o convite, muito surpresos por não terem levado a bronca que esperavam.

Enquanto preparava o suco, a mãe de Pedro deu alguns brinquedos para eles se distraírem: um violão, um pequeno toca-fitas, um pianinho, alguns jogos e várias outras coisas.

Quando voltou trazendo os copos de suco, perguntou risonha:

— Como é, estão se divertindo?

Os garotos reclamaram, decepcionados:

— Não dá para brincar! Está tudo quebrado! O violão está sem cordas — afirmou Tiago.

— E o toca-fitas não dá para ouvir música. Está sem as pilhas! — disse André.

— O pianinho está desafinado e faltam algumas teclas! — resmungou Alfredo.

E Pedro, indignado, explodiu:

— É isso mesmo, mamãe! Você sabe que estes brinquedos não funcionam. Os jogos estão faltando peças e o trenzinho elétrico está quebrado... Nada funciona!

Dona Júlia sentou-se e, olhando um por um, concordou:

— É verdade. Vocês têm toda razão. Estes brinquedos não funcionam. Mas, felizmente, são os brinquedos que estão avariados, e não vocês. Devem ser gratos a Deus por isso.

Sem entender direito, os meninos perguntaram:

— Como assim?

Com serenidade, Dona Júlia esclareceu:

— Todos vocês nasceram perfeitos! Não têm qualquer dificuldade para pensar e estudam com facilidade, pois seus cérebros trabalham com perfeição. E seus corpos também funcionam corretamente; seus sentidos não apresentam qualquer avaria: ouvem, falam, sentem e enxergam sem qualquer problema. Vocês têm mãos e pés que se movimentam com facilidade. Isso não é ótimo?

As crianças concordaram, satisfeitas. A mãe de Pedro prosseguiu:

— Já pensaram se um de vocês tivesse nascido cego? Ou sem um braço? Ou sem uma perna, e não pudesse andar?

— Ah! Seria horrível! Nem é bom pensar! — disse um dos meninos.

Dona Júlia concordou, continuando:

— Pois é. Mas existem pessoas que não são tão felizes, como vocês. Nasceram com alguma dificuldade de expressão no corpo ou na mente, como um brinquedo avariado. Vocês conhecem alguém assim?

Os garotos lembraram-se do menino que eles tanto amolavam.

— É o caso do Netinho, não é? — perguntou alguém.

— Exatamente. Netinho nasceu com um problema na cabeça e por isso não pode se expressar como todo mundo. Ele, como espírito, é inteligente como vocês, mas não consegue fazer o “aparelho”, que é o corpo, funcionar direito. Compreenderam?

— Quer dizer que ele entende tudo o que acontece ao seu redor? — indagou Pedro.

— Sem dúvida. Só não consegue fazer com que as outras pessoas saibam disso e sofre muito. Netinho merece todo o nosso respeito e carinho. Se Deus é Pai Justo e Bom, e sabe o que é melhor para nós, e fez com que Netinho nascesse com esse problema, é que esse sofrimento será útil para seu progresso.

Fez uma pausa e concluiu:

— Jesus disse que “deveríamos fazer aos outros, o que gostaríamos que os outros nos fizessem”. Assim, se vocês estivessem no lugar de Netinho, como gostariam de ser tratados?

Os meninos, meditando sobre o que tinham ouvido, ficaram envergonhados, somente agora percebendo como tinham sido injustos com Netinho, cada qual refletindo que poderia ter sido “ele” a nascer com qualquer problema.

No dia seguinte, houve uma grande mudança. Arrependidos, os meninos pediram desculpas a Netinho por tudo o que lhe tinham feito. Passaram a conversar com ele, chamando-o para brincar e aceitando-o como amigo.

Satisfeito e risonho, Netinho participava de tudo, aprendendo as brincadeiras e mostrando que as suas dificuldades não eram tão grandes como pareciam.

Dessa forma, Netinho se tornou um ótimo companheiro para todos eles.

*

A Doutrina Espírita nos fala sobre a responsabilidade dos pais em relação aos filhos, Espíritos que Deus lhes confiou, acreditando na capacidade deles como educadores.

Especialmente a mãe, cuja presença é tão necessária ao filho, tem um papel preponderante no encaminhamento desse espírito, através da orientação ético-moral, constante das lições que Jesus nos legou.

No lar, primeira escola da alma, encontram-se todos os conteúdos imprescindíveis ao crescimento e amadurecimento do filho, especialmente através do exemplo dos pais, preparando-o para, no futuro, ser um cidadão digno e útil à sociedade, sabendo respeitar e amar a seus semelhantes como irmãos.

Às Mães, na passagem do seu dia, as nossas melhores e mais sinceras homenagens.

FELIZ DIA DAS MÃES!

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.
 

quarta-feira, 15 de novembro de 2023

Novo Filho, Novo Irmão!

Carlos estava na pré-adolescência, idade em que a revolta e a irritação eram constantes. Queixava-se de tudo e nunca estava contente com nada. Reclamava da família, da escola, da comida, das roupas, da casa, dos amigos.

Em razão disso, as pessoas começaram a se afastar dele, pois não há quem goste de alguém sempre mal-humorado.

Certo dia, ele estava particularmente desagradável. Havia brigado com sua irmãzinha, quebrado um brinquedo dela de propósito e batido no cachorro.

A mãe o repreendeu com carinho, dizendo:

— Meu filho, para vivermos bem com as pessoas, é preciso que aprendamos a amar e respeitar a todos os que convivem conosco e a tudo o que nos cerca. Todos nós o amamos, mas ninguém é obrigado a aguentar o seu mal humor constante. O que está acontecendo? Você tem tudo e está sempre aborrecido! Deixe de ser tão egoísta. Tem gente que tem bem menos do que você e não reclama. Pense nisso!

Carlos, vermelho de raiva, e mais irritado ainda com as palavras da mãe, afastou-se resmungando:

— Ninguém me entende nessa casa! Tudo é culpa minha!

Atravessou o jardim para sair; ao abrir o portão, parou, vendo um garoto de rua.

Em outra ocasião, ele teria escorraçado o menino. Contra sua vontade, porém, ficara pensativo. As palavras da mãe continuavam a vibrar em seus ouvidos. Sabia que ela tinha razão. Sentia seus amigos distantes, evitando se aproximar dele; a irmãzinha que sempre o estimara, agora o olhava receosa.

— Estou com fome. Tem pão velho? — perguntou o garoto com olhar triste.

As palavras do menino o tocaram fundo. Deve ser duro sentir fome — pensou.

Com o coração mais amolecido, Carlos entrou correndo e voltou em seguida com um copo de leite e um sanduíche que ele mesmo tinha preparado.

Enquanto o menino comia, sentou-se perto dele na calçada, e pôs-se a conversar.

— Meu nome é Carlos. E o seu? — perguntou.

— Pedro.

— E onde você mora, Pedro? — perguntou

— Moro num bairro bem afastado, com umas pessoas que me acolheram. Não tenho família — disse o garotinho, baixando a cabeça, tristonho.

Ao ver Pedro lamentar não ter família, Carlos retrucou, sem pensar:

— Invejo você, Pedro. Ter família é muito chato! Especialmente mãe, que pega muito no pé da gente. Gostaria mesmo é de viver sozinho!

O garoto ergueu a cabeça e Carlos percebeu que seus olhos estavam cheios de lagrimas.

— Você não sabe o que é viver sozinho, Carlos. Não ter uma casa, não ter família, não ter pai, nem mãe; não ter alguém que lhe faça um carinho, que o oriente, até que ralhe com você. Alguém com quem você possa conversar, falar dos seus problemas, das suas dúvidas. Alguém que, quando você estiver doente, lhe dê remédio e fique a seu lado. Você não sabe o que é ser sozinho. Especialmente, sem ter uma mãe.

Carlos percebeu que dera uma mancada, e, constrangido concordou:

— Tem razão, Pedro. Falei sem pensar. Mas, e a família que o acolheu? Não e boa?

— É muito boa. Olha, não conheci meu pai, e quando minha mãe ficou doente e morreu, essa família me socorreu. Então, não quero ser ingrato, devo muito a ela. Apesar de extremamente pobre, me ajudou quando mais precisei. Mas não é a mesma coisa. Sinto falta da “minha mãe”, entende?

— Entendo.

Naquele momento é que Carlos sentiu a importância de ter uma família, de ter uma mãe. Seu coração encheu-se de um sentimento novo que brotava em seu íntimo e do qual ele nunca se dera conta, preocupado consigo mesmo: O AMOR.

Os dois meninos não perceberam é que, ali mesmo, abraçando-os com amor, estava a mãezinha de Pedro, desencarnada.

Na mente de Carlos brotava uma ideia. Uma imensa compaixão por Pedro fez com que ele o convidasse para entrar.

— Venha. Quero que conheça minha mãe.

Entraram. Carlos apresentou Pedro à mãezinha. Ele estava tão diferente, emocionado, que ela percebeu logo que algo tinha acontecido com o filho.

— Seja bem-vindo, Pedro. Mas, o que houve, meu filho?

— Mamãe! Sei que o Dia das Mães se aproxima e costumo dar-lhe um presente. A senhora aceitaria qualquer presente que eu lhe desse?

— Claro, meu filho! Porém, não preciso de presentes. Tenho vocês!

— Mas eu quero dar-lhe um presente, mamãe.

— Seja o que for, aceito com prazer, meu filho.

Aproximando-se de Pedro, que ouvia a conversa sem entender nada, Carlos colocou o braço em seus ombros, e, com os olhos rasos d’água, falou:

— Aceita um novo filho, mamãe? De quebra, terei um outro irmão!

— Mas...e a família de Pedro, meu filho?

Carlos contou à mãe a situação do novo amigo, mas ela, ainda em dúvida, questionou:

— Pedro, e essa família com a qual você mora? São seus amigos! Não ficariam tristes sem você?

Surpreso e encantado com a ideia de Carlos, sem poder nem acreditar nessa felicidade, ele respondeu:

— Não, senhora. São meus amigos sim, gosto muito deles e serei sempre grato. Ajudaram-me numa hora de necessidade, quando minha mãe morreu e fiquei só. Mas acredito que para eles seria um alívio não ter mais uma boca para alimentar. Sabe como é, a vida está tão difícil!...

— E você gostaria de vir morar conosco? Bem, parece que Carlinhos não pediu sua opinião e precisamos saber o que você realmente deseja!

O menino sorriu, emocionado:

— Eu ficaria muito feliz de ter uma nova família!

Também comovida com a situação de Pedro, a mãe não teve mais dúvidas. Correu para eles, abraçando-os, emocionada dizendo ao filho:

— Carlos, seu pai e eu sempre quisemos adotar mais um filho, porém tínhamos medo da sua reação. Seu pai e sua irmãzinha também ficarão muito felizes.

Depois, dirigindo-se a Pedro, completou:

— Seja bem-vindo, meu filho, ao seu novo lar.

E naquele dia, a alegria voltou àquela casa, com as bênçãos de Deus.

Carlos tornou-se um rapazinho mais compreensivo, bem-humorado e feliz, porque deixara de pensar apenas em si mesmo, estendendo amor a outro mais necessitado.

Alguns dias depois, reunidos para almoçar, a família atual e aquela que ajudara Pedro, comemoraram o Dia das Mães em conjunto, como se todos fossem parte de uma única família.

Ali, junto deles, radiante de alegria estava a mãezinha de Pedro, que envolveu a todos com infinito amor e gratidão.

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.
 

quarta-feira, 1 de novembro de 2023

Mãos Unidas

A família reunida em torno de uma mesa fazia o Evangelho no Lar.

O tema da noite era a Caridade e, após a leitura do texto evangélico, cada um fez seu comentário. A pequena Sônia, de cinco anos, falou:

— Papai, eu vi na televisão que o Natal está chegando e as lojas estão cheias de brinquedos!

— Sim, minha filha. Mas essa é uma deturpação da ideia do Natal, que deveria ser dedicado a Jesus, cujo nascimento comemoramos no dia 25 de dezembro — esclareceu Antônio.

Orlando, de oito anos, lembrou:

— Além disso, tem muita gente que não pode comprar presentes. Vi outro dia no jornal que, em virtude de uma grande chuva numa região, muitas famílias perderam tudo e estão desabrigadas.

A mãe, dona Clara, disse cheia de piedade:

— Tem razão, meu filho. Ao lado dos felizes do mundo, também há muito sofrimento e dor que nos compete amenizar. Aqui mesmo, em nossa cidade, existem bairros muito pobres onde as pessoas não têm o que comer, e muito menos terão condições de pensar em comprar presentes no Natal.

O mais velho, Ricardo, de 12 anos, que estava bastante pensativo, propôs:

— A lição de hoje é sobre a Caridade, lembrando-nos que precisamos dividir o que possuímos, ajudando os mais necessitados. Que tal se partíssemos para a ação, fazendo alguma coisa?

Satisfeitos por ver que a semente do evangelho germinava, os pais concordaram:

— Muito bem lembrado, Ricardo. O que vocês sugerem?

— Eu dou minhas roupas velhas e alguns brinquedos! — exclamou Soninha.

— Eu também vou separar algumas roupas e brinquedos. Além disso, tenho sapatos e tênis que não me servem mais — disse Orlando.

— Ótimo! — afirmou Ricardo que, por ser o mais velho, parecia o chefe da pequena equipe. — Mas isso não basta. É pouco. Precisamos pedir ajuda para todas as pessoas conhecidas: vizinhos, parentes, amigos, colegas de classe, professores.

Os demais concordaram animados, batendo palmas.

Das palavras passaram à ação e, em poucos dias, as doações começaram a chegar: eram gêneros alimentícios, roupas, calçados, brinquedos, remédios, livros e até alguns utensílios domésticos e móveis.

Os pais levaram as crianças para conhecer os bairros mais pobres da periferia e eles voltaram sensibilizados, chegando à conclusão de que precisavam de mais auxílio, pois a quantidade de necessitados era enorme.

Ricardo foi à emissora de rádio local e transmitiram-se pedido de ajuda para a “Campanha Mãos Unidas”, como passaram a chamar, e a resposta não tardou.

Choveram donativos de todos os lados, do campo e da cidade, dos bairros mais ricos e até dos pobres. Todos queriam colaborar.

No dia de Natal, encerrando a “Campanha Mãos Unidas”, puseram tudo num caminhão e foram levar o resultado obtido para as famílias carentes.

Uma grande quantidade de pessoas que haviam colaborado os acompanhou e todos estavam muito felizes. Cada um ajudou como pôde, até se vestindo de palhaço para distribuir balas e alegrar a criançada.

Foi uma grande festa. No encerramento, Antônio fez uma prece, agradecendo a Deus em nome de todos, pelas bênçãos desse dia, no que foi acompanhado por uma multidão de pessoas de todos os credos religiosos.

Todos retornaram para seus lares cheios de felicidade e bem-estar, especialmente a família de Antônio, pois não fosse o empenho das três crianças, não teriam este ano um Natal realmente diferente e dedicado a Jesus e aos menos afortunados.

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.
 

domingo, 15 de outubro de 2023

A Bola Colorida

Brincando no quintal, Susana, de seis anos, viu seu amigo Érico do outro lado da cerca.

Feliz por ver o vizinho, ela o chamou:

– Érico, venha brincar comigo! Acabo de ganhar uma linda bola colorida!

Com os olhos brilhantes de animação, o pequeno pulou a cerca baixa, indo ao encontro da amiguinha.

Susana segurava a bola com as mãos e o menino ficou encantado.

Era realmente uma bola de plástico de belo colorido, que chamaria a atenção de qualquer criança.

Puseram-se a brincar no gramado.

Érico tinha um cão. Um vira-lata caramelo e branco, vivo e inteligente, que gostava de brincar e de passear com eles.

De repente Bob, cachorro de Érico viu os dois brincando e não teve dúvida. Passou por um buraco na cerca e, latindo alegremente, avançou, querendo participar da brincadeira. Em disparada, pulou sobre a bola e suas garras afiadas a alcançaram no ar. Para espanto das crianças e do próprio cão, que não sabia o que estava acontecendo, a linda bola colorida caiu na grama, murcha, vazia, rasgada, enquanto o cachorro gania, frustrado.

Susana, surpresa, não queria acreditar no que estava vendo. Num momento, a bola estava no ar, cheia e linda; no momento seguinte, era um trapo qualquer, vazio e sem graça.

Revoltada por ter perdido o brinquedo novo, começou a chorar, acusando Érico pelo acidente:

– Buááá!... Está vendo o que você fez?

– Não tive culpa, Susana. Desculpe-me. Foi o Bob que quis brincar conosco. Coitado! Ele também não teve intenção de estragar sua bola. Veja como está triste!

– Não interessa. O cachorro é seu e, portanto, a culpa é sua. Quem mandou deixá-lo entrar no meu quintal? A partir de agora você não é mais meu amigo. Vá embora!

O menino e o cachorro estavam desolados. Érico tentou explicar, mas Susana não o deixou falar. Apesar das lágrimas do garoto e dos uivos do cão, a menina não reconsiderou sua atitude.

Virou-lhe as costas e entrou em casa muito zangada, enquanto Érico e o cachorro ficavam parados, tristes.

Susana, cheia de indignação, contou para a mãe o que tinha acontecido, pedindo-lhe que tomasse uma atitude contra o vizinho.

A senhora, serena, considerou:

– Minha filha, entendo que você esteja lamentando a perda da sua bola. Contudo, é só um brinquedo, e, pelo que entendi, a culpa não foi de ninguém. Seu pai lhe comprará outra, fique tranquila.

– Não quero! Quero aquela bola! Nunca mais falo com Érico. Nunca mais quero vê-lo!

A mãezinha calou-se, compreendendo que não adiantaria falar mais nada naquela hora.

Os dias se passaram. Susana, da janela da cozinha, via Érico encostado na cerca, tristinho de fazer dó. Porém não amolecia o coração.

Certo dia, uma semana depois, a mãe lhe disse:

– Minha filha, vejo que você anda meio chateada, não brinca mais...

– Não tenho vontade, mamãe. Sozinha não tem graça.

– Chame o Érico. Ele está lá do outro lado da cerca – sugeriu.

– Não. Não quero.

– Ele não é seu melhor amigo? Vocês sempre se deram tão bem!

– Era! Agora não é mais.

A mãe pensou um pouco, chamou a filha, sentou-a no colo com carinho, e considerou:

– Minha filha, amizade é um tesouro de valor incalculável. E você está perdendo esse tesouro por uma colorida bola de plástico, frágil, que estragou na primeira brincadeira? Pense bem! Bola igual àquela você encontra em qualquer loja, mas uma amizade valiosa, não.

Susana ficou pensativa por alguns instantes. Depois, decidiu-se.

Abriu a porta e voou para o quintal. Aproximou-se da cerca, convidando:

– Vamos brincar?

O garoto, meio sem jeito, perguntou:

– Não está mais zangada comigo? Afinal, por minha culpa perdeu sua bola nova. Mas, não se preocupe. Falei com minha mãe e ela vai lhe comprar outra.

Susana sorriu, já esquecida do incidente:

– Isso não tem importância. Sua amizade vale muito mais!

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.
 

domingo, 1 de outubro de 2023

Lágrimas de Arrependimento

Ciro gostava muito de brincar no quintal de sua casa. À sombra acolhedora de uma grande árvore, ele passava horas, distraído com seus brinquedos.

Era um lugar fresco e agradável, onde a luz do sol filtrava-se suavemente, e onde, muitas vezes, ele até adormecia com a cabeça apoiada em suas raízes possantes, cansado de brincar.

A árvore era uma linda mangueira e dava frutos saborosos, que Ciro colhia com as próprias mãos ao sentir fome.

Apesar de tudo isso, Ciro era um menino cheio de vontades, e certo dia começou a implicar com a árvore, desejando cortá-la.

Chegando até sua mãe, ele disse:

— Mãe, eu quero que a senhora mande cortar a mangueira.

Surpresa, a mãe retrucou:

— Por que, meu filho? Você sempre gostou tanto dela!

Batendo o pé no chão o garoto respondeu:

— Não gosto mais, ora essa. Ela toma muito espaço, faz muita sombra e está atrapalhando no quintal.

Espantada, a senhora considerou:

— Pense bem, meu filho. As árvores devem ser preservadas, pois são muito úteis e levam anos para crescer e produzir. Essa nossa mangueira dá mangas deliciosas e em seus galhos acolhedores os pássaros fazem seus ninhos, e...

— Não adianta, minha mãe! — interrompeu-a o garoto caprichoso. — Quero que a ponha abaixo.

Quando o pai chegou, após o serviço, foi informado da exigência do filho.

Novo diálogo se estabeleceu tentando fazê-lo desistir da ideia. Tudo em vão. Não valeram conselhos e ponderações, argumentos e reprimendas. Ciro estava irredutível.

Tanto ele gritou, chorou e reclamou que seus pais, apesar de considerarem um absurdo o seu desejo, resolveram fazer-lhe a vontade.

Afinal, era filho único! E o que é que ele pedia que os pais não lhe davam?

No dia seguinte, o pai mandou cortar a bela árvore com o coração amargurado.

Ciro estava feliz. A cada golpe desfechado no tronco ele sorria. Afinal, o homem deu por terminado o serviço. Da bela mangueira só restara um toco.

Ciro deu-se por satisfeito e foi brincar.

Contudo, o sol muito forte doía-lhe os olhos e o calor era excessivo. Em poucos minutos estava cansado e todo cheio de suor. Resolveu entrar.

A mãe, que o observava de longe, perguntou:

— Não vai brincar mais, Ciro?

Desapontado, o garoto respondeu:

— Estou cansado. O sol está muito quente hoje.

— Quer comer alguma coisa? — tornou a mãe, carinhosa.

— Sim, mamãe. Gostaria de chupar uma manga.

— Ah, meu filho, não temos mais mangas. Esqueceu que a mangueira foi destruída? As últimas que sobraram dei para o jardineiro levar!

Despeitado, Ciro sentou-se nos degraus da porta da cozinha, olhando o quintal que lhe parecia tão estranhamente vazio agora.

Observou muitos passarinhos que pareciam voar a esmo, sem lugar para ficar.

Ciro lembrou-se que tinha visto, nos galhos derrubados, vários ninhos e compreendeu que aqueles pássaros haviam perdido suas casinhas. Também notou que estavam famintos, procurando migalhas no chão para comer.

Com o passar dos dias, Ciro foi ficando cada vez mais arrependido da decisão que tomara.

Não brincava mais no quintal. Tudo ficara sem graça, não tinha mais árvore para subir, o sol era inclemente e queimava tudo.

Suspirando, um dia aproximou-se do toco, agora escuro e ressequido e, abraçando o que sobrara da mangueira, deu vazão à sua tristeza. Em lágrimas, ele começou a dizer.

— Estou muito arrependido, minha amiga. Você não sabe a falta que me faz. Não sabia que você era tão importante para nós e agora nada mais tem graça. Não tenho mais sombra para brincar e o sol me queima. Os passarinhos ficaram sem saber o que fazer, como eu, e foram embora, em busca de outros galhos acolhedores. Ah! Se eu pudesse voltar atrás! Agora compreendo porque dizem que é preciso cuidar da ecologia, preservando as árvores. Sem vocês, tudo fica árido e feio...

Ciro chorou... chorou muito, abraçado aos restos da sua velha companheira.

Suas lágrimas de arrependimento, contudo, umedeceram o tronco ressequido e, alguns dias depois, ao aproximar-se dele, Ciro teve uma grande surpresa.

Do meio do tronco, brotos frágeis e verdinhos surgiam como esperança de uma nova vida em seu âmago.

Cheio de alegria, Ciro percebeu que o milagre da vida se repetia, e que a árvore voltaria a crescer, com a bênção de Deus!

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.