ESTE É UM BLOG DE ARQUIVO

ESTE BLOG É UM ARQUIVO DE ESTÓRIAS E CONTOS DO BLOG CARLOS ESPÍRITA - Visite: http://carlosespirita.blogspot.com/ Todo conteúdo deste blog é publico. Copie, imprima ou poste textos e imagens daqui em outros blogs. Vamos divulgar o Espiritismo.

segunda-feira, 15 de maio de 2023

Salvando Uma Vida

Era um lindo sábado de sol. Henrique passeava com seu pai caminhando sob a sombra das árvores no parque municipal.

Calado, o pequeno Henrique pensava. Ficara impressionado com algumas cenas que tinha visto no dia anterior durante a transmissão do jornal de uma emissora de televisão.

— Papai, como pode existir gente que mata outras pessoas? — perguntou.

Apertando mais a sua mãozinha, o pai respondeu:

— É mesmo muito triste, não é, meu filho? Isso acontece porque os homens ainda trazem o mal no coração. Se todos se amassem como irmãos, isso não aconteceria. Seríamos todos como uma grande família!

O garoto, de apenas seis anos, mas muito observador, pensou um pouco e retrucou:

— Mas ontem mesmo eu vi na televisão uma notícia que um pai foi preso porque machucou seu filho! Eu pensei que todos os pais amassem seus filhos!

Naquele momento estavam passando por um banco e o pai convidou:

— Vamos nos sentar e descansar um pouco.

Acomodados no banco, o pai fitou o menino que aguardava uma resposta, e prosseguiu:

— Todas as pessoas, Henrique, são espíritos em evolução. Deus, que é o Supremo Criador, criou os seres para a evolução. Através de muitas vidas, todos progridem e se aperfeiçoam, tornando-se melhores. Desde os micróbios, que nós não vemos porque são muito pequenos, até os astros celestes que contemplamos à distância, tudo progride.

O menino estava surpreso e pôs-se a perguntar:

— Ah! E o meu gatinho? E as flores desse jardim? E os peixes que vimos no lago? E...

O pai sorriu amorosamente, completando:

— Tudo, meu filho. Os minerais, os vegetais, os animais e os seres humanos. Tudo evolui. Assim, quando a criatura humana comete maldades, significa que ainda tem muito o que aprender. Até mesmo os pais, que os filhos julgam serem as melhores pessoas do mundo, embora amem seus filhos, são imperfeitos e trazem agressividade dentro de si. Com o tempo, todas as pessoas se tornarão boas e só praticarão o bem: a si mesmas, aos seus semelhantes e ao mundo em que vivem.

— Ah!...

— Por isso, devemos respeitar a natureza, respeitando a vida.

Henrique, que ouvia com muita atenção, lembrou:

— Mas os homens matam os animais para comer. Coitadinhos!

— Sim, meu filho, mas isso faz parte da nossa cultura e tende a desaparecer. O pior é que há homens que matam e destroem por prazer. Os animais, que são inferiores a nós, só matam para se defender ou para saciar a fome. Mas o homem mata por maldade os próprios irmãos de raça, e os animais, por esporte; destrói a natureza por ambição, queimando as matas, sujando os rios e poluindo as cidades.

O garoto, com carinha preocupada, exclamou:

— Puxa, papai! Eu quero fazer alguma coisa para ajudar!

— Muito bem, meu filho. Todos nós podemos ajudar a preservar o nosso planeta para que ele seja melhor, mais limpo e mais agradável. Sabe como? Dando o exemplo de amor e respeito pela vida e mostrando às outras pessoas como devem agir.

Henrique sentiu-se naquele instante como um homenzinho a quem fosse conferida grande tarefa.

Era tarde. Hora de voltar para casa.

Recomeçaram a caminhar, quando viram, vindo em sentido contrário, uma garotinha e sua mãe.

A menina, que tinha acabado de comprar um sorvete, desembrulhou o picolé, jogando o papel no chão.

Quando mãe e filha se aproximaram de Henrique e seu pai, um pequeno grilo surgiu do meio dos arbustos, saltando entre eles.

As reações foram diferentes. A garota tirou o sorvete da boca e correu até onde estava o inseto, levantando ameaçadoramente o pé para esmagá-lo.

Henrique também correu, e, mais rápido, jogou-se no chão e conseguiu pegar o grilo, antes que ela o atingisse com o pé.

Depois se levantou, ainda ofegante, acariciou o assustado grilo que repousava na palma de sua mão, sorriu satisfeito e disse:

— Por que queria matá-lo? Deixe-o viver! Ele não lhe fez mal algum!

E, ante o assombro de mãe e filha, coradas de vergonha, Henrique fitou o pai com orgulho, afirmando:

— Temos que preservar a vida, não é papai?

Em seguida, sem esperar resposta, reiniciou sua caminhada.

Deu alguns passos, mas sentiu que ainda faltava alguma coisa. Parou, virou-se para a menina e completou:

— E saiba que lugar de papel é no lixo!

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.
 

segunda-feira, 1 de maio de 2023

Aprendendo a Viver

Morando numa pequena casa em um bairro humilde, Toninho vivia inconformado.

Na escola via colegas mais bem-vestidos, calçando tênis caros, e sentia-se triste. Gostaria de ser como um deles, ter casa bonita, passear no “shopping center”, ter brinquedos sofisticados, “videogames”. Ouvia o relato dos amigos sobre a programação de final de semana, e ficava humilhado.

Por que só ele tinha uma vida tão chata e tão sem atrativos?

Nunca podia comprar nada de diferente, usava o par de tênis que não servia mais para o seu irmão, e suas roupas estavam velhas e surradas. É bem verdade que a mamãe as trazia sempre limpas e bem-passadas, mas Toninho sentia-se mal por usar sempre as mesmas roupas.

Ao chegar em casa para o almoço, reclamava. A comidinha era simples e nunca tinha pratos diferentes.

– Outra vez feijão com arroz?

O pai, operário de uma fábrica, respondia com paciência:

– E não está bom? Tem muita gente que não tem o que comer, meu filho! Vamos agradecer a Deus, pois nunca passamos fome.

Toninho não respondia. Abaixava a cabeça e punha-se a comer, de má vontade.

Certo dia, Toninho saiu chateado de casa. Brigara com os pais, pois queria uma calça jeans que tinha visto numa loja no centro da cidade e seu pai lhe dissera que era impossível naquele momento. Não tinha dinheiro.

Nervoso, engolindo as lágrimas e chutando uma lata, Toninho foi para a rua. Andou bastante, sem destino. Cansado, parou para descansar um pouco. Logo, uma menina aproximou-se dele e pediu uma moeda.

Ele olhou admirado para a garota, afirmando:

– Não tenho dinheiro!

– Mas você parece rico. Deveria ter dinheiro.

Toninho, espantado, olhou melhor para a menina, achando graça.

– Então, acha que sou rico?

– Pois não é? Está limpo, bem-vestido, bem-calçado. Aposto que tem até uma casa!

Toninho, que sempre se considerara muito pobre, perguntou:

– Tenho. Por quê? Você não tem uma casa?

A menina respondeu, apontando para um lugar ali perto:

– Não. Moro debaixo daquele viaduto ali.

O garoto, que nunca se dera conta da verdadeira pobreza, estava horrorizado. A menina, cujo nome era Júlia, convidou-o para conhecer “sua casa” e ele a acompanhou.

Lá chegando, Toninho viu um casal simpático acendendo o fogo num fogão improvisado com tijolos. Também havia outras famílias dividindo o local.

Os pais de Júlia o receberam com um sorriso. Haviam recebido alguns gêneros alimentícios e estavam contentes. Teriam o que comer naquele dia e poderiam até ajudar outras famílias que ali estavam.

– Não se assuste – disse a mãe de Júlia a Toninho –, nem sempre estivemos nesta situação. Acontece que há alguns meses meu marido foi dispensado na indústria onde trabalhava e está desempregado até hoje. Não pudemos mais pagar o aluguel e fomos despejados. Para comprar o que comer, nós fomos vendendo os móveis e eletrodomésticos que possuíamos. Assim, perdemos o jogo de sofá, a geladeira, o fogão, o aparelho de som, as camas. Agora, estamos morando aqui debaixo desse viaduto. Mas, não pense que estamos tristes. Não, de modo algum! Sempre agradecemos a Deus por termos onde nos abrigar. Existem pessoas que nem isso possuem!

Toninho sentiu um nó na garganta. Despediu-se, emocionado.

Chegando em casa, Toninho sentiu a segurança e o aconchego do ambiente doméstico. Entrou na cozinha e um cheiro bom de comida veio do fogão.

Seu pai chegou da fábrica e se sentaram à mesa para comer. Toninho pediu para fazer a oração de agradecimento.

– Muito obrigado, Senhor, por tudo o que temos. Pela nossa casa, pela família, pela comida. E que nunca nos falte o necessário para viver. Assim seja.

Notando que o filho estava emotivo e diferente, o pai explicou:

– Meu filho, amanhã vou receber um dinheiro extra e poderei comprar aquela calça jeans que você tanto deseja.

Para sua surpresa, Toninho respondeu:

– Não, papai, não precisa. Isso agora já não tem qualquer importância.

Vendo o espanto dos pais, que não estavam entendendo, o menino contou-lhes a história de Júlia, sua nova amiga.

Os pais de Toninho também quiseram conhecer a família de Júlia, que tanto bem fizera a seu filho, e tornaram-se amigos. O pai de Toninho explicou o caso na fábrica e, dentro de poucos dias, surgindo uma vaga, o pai de Júlia foi contratado.

Na escola, agora o comportamento de Toninho era completamente diferente. O exemplo de otimismo e resignação daquela família havia tocado seu coração. Mostrava-se mais alegre, satisfeito e nunca mais se sentiu infeliz, reconhecendo que a vida é um bem muito precioso e que Deus dá a cada um o necessário para poder viver.

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.