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terça-feira, 15 de agosto de 2023

O Recém Nascido

Em certa região bem distante, morava um homem muito pobrezinho. Um dia, andando pela mata à procura de lenha para vender, à margem do caminho encontrou uma cesta e, dentro dela, viu uma criança.

Ouviu o choro fraco do recém-nascido, que estava cuidadosamente embrulhado numa manta e, cheio de compaixão, pegou o pequenino aconchegando-o ao peito.

De coração generoso, imediatamente resolveu levá-lo para casa. Preocupava-o, porém, a pobreza extrema em que vivia. Como cuidar do bebê, prover-lhe as necessidades, ele, a quem muitas vezes faltava o que comer? Quem sabe alguém com mais recursos, que passasse por aquela estrada, poderia ficar com ele e dar-lhe uma vida melhor?

Contudo, ouvindo os vagidos da criança que o fitava com olhinhos vivos, comentou alto:

— Não posso abandoná-la aqui exposta aos perigos. Deus vai me ajudar! Além disso, sempre quis ter um filho. Melhor dividir com esta criança a minha pobreza do que deixá-la entregue a destino incerto.

Como se entendesse a decisão que o lenhador tomara, o recém-nascido se aquietou e dormiu tranquilo.

Chegando em casa, o homem abriu a porta e disse:

— Mulher, veja o que eu trouxe!

A esposa, curiosa, aproximou-se e abriu o embrulho que o marido trazia nos braços. O recém-nascido dormia serenamente, e seu coração se enterneceu. Cheia de alegria, exclamou:

— O filho que sempre quisemos ter! Deus ouviu nossas preces!

Ao mesmo tempo, consciente da miséria em que vivia, indagou, aflita:

— Mas, como vamos cuidar do bebê, João? Não temos comida nem para nós! E uma criança precisa de cuidados especiais!

Confiante, o marido respondeu:

— Não se aflija, Ana. Se o Senhor nos mandou este bebê, certamente nos dará os meios para sustentá-lo.

Era um menino e deram-lhe o nome de Benvindo.

A partir desse dia, tudo mudou. A casa, antes triste e sem vida, tornou-se alegre e cheia de risos.

João, mais estimulado ao trabalho, agora não se limitava a procurar lenha no mato para vender. Buscava outras fontes de renda.

Sabendo da criança, um sitiante das redondezas vendeu-lhe uma cabra por preço módico que João poderia pagar como pudesse. Assim estava garantido o leite do bebê.

A vida estava mudando. Mas isso não bastava. O que mais poderia fazer?

João, na soleira da porta da casa, olhava o terreno que se estendia à sua frente e pensou que poderia cultivá-lo. Assim, teriam verduras, legumes e talvez algumas frutas.

Não pensou duas vezes. O homem que lhe vendera a cabra arrumou-lhe também sementes e mudas diversas, satisfeito por vê-lo interessado no trabalho.

João pegou o machado e derrubou algumas árvores, limpando o terreno. Depois, fez canteiros e jogou as sementes no solo. Plantou as mudas e cuidou delas com muito amor.

Logo, tudo estava diferente. À medida que Benvindo crescia, forte e saudável, as plantas igualmente se desenvolviam na terra fértil.

Dentro de pouco tempo, no terreno, antes inculto e abandonado, os legumes e as verduras surgiam, encantando a vista e trazendo fartura. As árvores frutíferas logo começaram a produzir: agora tinham bananas, laranjas, maçãs, mangas e limões à vontade. Como a produção fosse grande, além de terem alimentos, João passou a vender as frutas, os legumes e as verduras excedentes.

Com o coração alegre pelas novas funções como mãe, transformando sua casa num lar, Ana passou a cuidar com mais carinho da moradia, a exemplo do marido, plantando um jardim e cultivando flores que enfeitavam e perfumavam o ambiente.

Benvindo crescia aprendendo a trabalhar com o pai. Era um menino vivo e inteligente. Ainda pequeno, João contou a ele como o encontrara abandonado e da satisfação de trazê-lo para casa, afirmando sempre:

— Você é nosso filho muito querido. Foi Deus quem o mandou para nós.

O tempo passou. Benvindo começou a frequentar a escola, na aldeia. João e Ana faziam questão absoluta que o filho não fosse um analfabeto, como eles.

Mas, apesar de se considerarem ignorantes, souberam dar ao menino noções realmente importantes para sua vida, como amor a Deus e ao Evangelho de Jesus. E ele cresceu sabendo valorizar a honestidade, o trabalho, o respeito ao próximo, o perdão das ofensas e, acima de tudo, o bem.

Já moço, Benvindo foi morar numa cidade grande para continuar os estudos. Terminando o curso, com grande satisfação dos pais, ele retornou para casa e disse, emocionado:

— Papai, não sei como agradecer tudo o que fizeram por mim. Criança abandonada, poderia ter morrido de fome e de frio, mas graças a sua bondade, vim para esta casa como filho que tanto tenho recebido de ambos. Tudo o que sou hoje devo a vocês. Muito obrigado!

Enxugando as lágrimas, Benvindo fitou o pai, já velhinho e encarquilhado, abraçando-o com profundo amor.

Comovido, João pegou o filho pela mão e levou-o para fora de casa, onde se descortinava lindo panorama: bem próximo, o jardim cheio de flores coloridas e perfumadas; um pouco mais além, do lado esquerdo, as árvores do pomar, carregadas de frutos. Do lado direito, a perder de vista, a horta, onde as verduras e legumes produziam fartamente.

— Está vendo tudo isso, meu filho?

— Sim, meu pai. É uma imagem que não me canso de admirar. Como é bonita a nossa propriedade!

— Pois bem. Nada disso existia antes de você vir para cá. Eu e sua mãe, envelhecidos e cansados da vida, não tínhamos disposição para lutar. Passamos até fome.

Fez uma pausa, limpou uma lágrima, e prosseguiu:

— Quando você chegou, meu filho, encheu-nos de esperança e de novo ânimo. Precisávamos alimentá-lo, vesti-lo, cuidá-lo. Para isso, tive que trabalhar muito. Mas o resultado aí está.

Abraçando o filho com imenso carinho e justo orgulho, apontou as terras cultivadas:

— Assim, devemos tudo isso a você! E devo mais ainda. Devo a você, meu filho, a oportunidade e a bênção de ser chamado de PAI!

A mãe, que chorava comovida, aproximou-se também e permaneceram abraçados por longo tempo.

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.
 

terça-feira, 1 de agosto de 2023

A Sementinha

Beto estava muito triste. Seu cão ficou doente e, apesar de todos os cuidados, morreu em seus braços sem que ele nada pudesse fazer para impedir.

Já havia se passado uma semana, mas Beto continuava inconsolável. Não se conformava com a morte do cãozinho Vira.

Lembrava, com saudade, do dia em que encontrara Vira, ainda um filhote, perdido na rua perto de sua casa. Tinha aspecto de cão abandonado. Seu pelo era ralo e feio, estava muito magro e gania de fazer dó. Tinha fome, certamente.

Apesar da feiura, Beto sentiu imediata simpatia por ele. Tomou-o no colo e, quando o cãozinho lambeu seu rosto, já estava decidido a levá-lo para casa.

Recebeu o apelido de Vira, de tanto os familiares caçoarem do pobre e feio filhote, dizendo que ele era um legítimo exemplar da raça dos Vira-latas. Assim, apesar do nome que Beto lhe dera, Rex, passou a ser chamado carinhosamente de Vira.

Desde esse dia, tornaram-se inseparáveis. Só não estavam juntos quando Beto ia para a escola e durante a noite, pois a mãe proibira, terminantemente, que o animalzinho dormisse no quarto, como era desejo do menino.

O resto do dia eles divertiam-se a valer: brincavam de bola, apostavam corridas, passeavam na calçada, ou, simplesmente, rolavam na grama.

Vira transformara-se num belo cachorro. Limpo e bem cuidado, em nada lembrava o filhote magro e feio que Beto encontrou um dia.

Mas agora Vira estava morto. Beto sentia muita falta da sua companhia e vivia a chorar pelos cantos. A mãe não sabia mais o que fazer para alegrá-lo.

Um dia, ela teve uma ideia. Apanhou uma semente de flor e disse:

— Meu filho, quer ajudar-me a plantar esta semente?

Apesar de não ter vontade nenhuma, Beto aceitou, apenas para agradá-la.

Dirigiram-se para o jardim e a mãe foi explicando como o serviço deveria ser feito:

— Primeiro você fará um buraco no solo. Depois depositará a semente na cova e cobrirá com um pouco de terra. Esta semente, meu filho, lançada ao solo, irá morrer e, depois de algum tempo, germinará.

O menino, que ainda era pequeno, não entendeu direito e perguntou:

— Como assim?!...

— Bem, meu filho, tudo o que existe na face da Terra, e que tem vida, precisa morrer para nascer de novo, isto é, voltar a viver. Como isso acontece, só Deus, que é a Suprema Sabedoria e o Criador de tudo o que existe, o sabe. Mas assim acontece com as plantas, com os animais e com as pessoas, para que todos evoluam, tornando-se cada vez melhores!

Beto ouviu muito sério e compenetrado. Em seguida, indagou:

— Isso vai acontecer também com o Vira?!...

— Sem dúvida! Só que a sementinha dele, que é o espírito, renascerá de uma outra mãe, em outro local.

— Ah!... E eu poderei reconhecê-lo?

— Quem sabe? Se nascer aqui por perto, isso é possível! Ele poderá apresentar o mesmo jeitinho, as mesmas manias, as mesmas tendências.

— Então, se algum dia eu reencontrar o Vira, vou reconhecê-lo, mamãe, e tenho certeza de que ele também vai se lembrar de mim.

Beto calou-se, mas a mãe percebeu que, ao deixarem o jardim, ele já estava diferente, menos triste e bem mais animado.

A partir desse dia, Beto cuidou com muito carinho da sementinha que tinha lançado a terra. Cercava-a de atenções, não deixando faltar água. Ele passava horas sentado no chão, ali perto, pedindo a Jesus que permitisse à semente germinar, enquanto observava cuidadosamente o local onde a depositara.

Até que, alguns dias depois, cheio de alegria e entusiasmo ele correu para a mãe, agitando os braços e gritando:

— Ela brotou, mamãe! Ela brotou! A sementinha está viva de novo! Viva!...

A mãezinha deixou os afazeres domésticos e foi até o jardim. Os olhos do menino estavam brilhantes de emoção, e ela percebeu como tudo aquilo era importante para seu filho.

Envolveu-o carinhosamente num abraço, afirmando:

— Você cuidou muito bem da semente que lhe confiei, meu filho, e Deus atendeu às suas preces. Parabéns!

Desse dia em diante, acompanhando o desenvolvimento da plantinha, Beto enchia-se cada vez mais de esperança, de confiança e de gratidão a Deus, Supremo Doador da Vida.

Logo, a plantinha cobriu-se de lindas e perfumadas flores, que Beto não se cansava de admirar e mostrar para as outras pessoas, cheio de justa satisfação, dizendo:

— Fui eu que plantei!

Agora, a ideia da morte não lhe causava mais tristeza ou medo. Ao contrário, sentia-se tranquilo e confiante, compreendendo que a morte era apenas uma etapa natural na vida de todos os seres da Criação, que morreriam e voltariam a nascer, muitas e muitas vezes, para atingir o sublime objetivo da evolução.

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.