ESTE É UM BLOG DE ARQUIVO

ESTE BLOG É UM ARQUIVO DE ESTÓRIAS E CONTOS DO BLOG CARLOS ESPÍRITA - Visite: http://carlosespirita.blogspot.com/ Todo conteúdo deste blog é publico. Copie, imprima ou poste textos e imagens daqui em outros blogs. Vamos divulgar o Espiritismo.

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

A TINA

Meu pai morreu quando eu era muito pequena.

Viúva e pobre, sem desejar contrair novo matrimônio, minha mãe teve de trabalhar muito para nos sustentar.

Quando fiquei um pouco maior, disse-lhe que gostaria imensamente de estudar música.

Ela me ouviu com muita atenção e, dali para a frente, redobrou esforços para alugar um piano e custear o pagamento das aulas.

Mas, dentro em pouco, eu já me aborrecia com os infindáveis exercícios que, de tanto serem repetidos, acabavam por me cansar e entediar.

Quando eu fechava o piano e fugia para o quintal, para minhas brincadeiras, ela olhava para mim, muito tranquila e não dizia nenhuma palavra de reprovação.

Depois voltava ao trabalho, que tomava o seu tempo, de manhã à noite.

Um dia, quando eu já dedilhava o teclado preguiçosamente e com pouco – ou nenhum – interesse, ela se aproximou silenciosamente de mim e disse com naturalidade:

- Você está cansada do estudo, minha filha. Feche o piano e, por favor, venha me ajudar a alvar aquela tina de roupa. Estou um pouco fatigada e vai ser bom trabalharmos um pouco juntas.

Trabalhamos a tarde toda. Minha mãe dissera que estava um pouco cansada e, de fato, eu percebia que os esforços que ela despendia estava, praticamente, acima de suas forças. Entretanto, ela não parecia disposta a interromper o trabalho e as pilhas de roupa iam se renovando dentro da tina.

Paramos para jantar e, por essas alturas, eu já me sentia tão exausta que estava a ponto de cair em pranto. A água e o sabão me haviam arroxeado as mãos, meus dedos estavam duros e entorpecidos.

Então notei uma coisa: as mãos de minha mãe – embora até então eu não o tivesse notado – estavam sempre daquele jeito.

Engolindo um soluço, eu disse a minha mãe:

- Mamãe, eu estive pensando. Desejo, realmente, estudar música. Vai me cansar muito, porém preciso perseverar e prosseguir sempre.

- Está bem, querida! Disse minha mãe me olhando nos olhos. Se você deseja se tornar uma pianista eu não posso lhe pedir que seja uma lavadeira de roupa: eu me esforçarei de um lado e você do outro. Não é mesmo?

Hoje eu sou uma concertista.

Rodrigues, Wallac e Leal V. :Para o Resto da Vida.


CVDEE - Centro Virtual de Divulgação e Estudo do Espiritismo

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

A SURPRESA

Faremos uma surpresa para nossa querida Otília. Iremos ao seu lar e cantaremos para ela, cumprimentando-a por seu aniversário. Ela vai "morrer" de emoção!

O grupo de jovens, integrado na Mocidade Espírita, em atuante instituição, tinha razões para festejar o acontecimento, Otília era muito estimada, jovem dinâmica, musicista, cheia de iniciativas, alegre e comunicativa.

Planejaram tudo certinho. Prepararam "comes e bebes" para a festinha que se seguiria à homenagem. . . Tudo feito "em surdina", a fim de que a aniversariante não desconfiasse de nada. Chegaram até a compor uma música, com estribilho tosco, mas sincero, que dizia assim:

Você é nossa companheira,

Nosso exemplo vivo,

Nossa líder inspiradora,

Seguiremos sempre consigo.

Chegaram de mansinho, silenciosamente, contendo a própria euforia, risos abafados... Abriram o portão, ganharam a área interna e preparavam-se para iniciar a cantoria quando ouviram a voz de Otília, timbre estranho, ardido, discutindo com a mãe:

- Eu já lhe disse para não se intrometer em minha vida! Faço o que julgo direito e você não tem nada com isso!

- Minha filha - pedia a mãe - fale baixo, olhe os vizinhos... Tenhamos cuidado. Ninguém precisa saber de nossos problemas...

- Ora, os vizinhos que se danem - gritava a moça a plenos pulmões - e você também!

- Otília, não quero discutir, mas não é justo agir como se fosse sozinha. Nossa vida está difícil! Há seus irmãos menores, seu pai está doente. Precisamos nos unir...

- Você quer dizer com isso que devo cuidar da molecada? Contribuir para o sustento da casa? Negativo! Meu tempo é escasso e há necessidades pessoais. O que ganho mal dá para atendê-las!

O pessoal ouvia estarrecido. Aquela Otília lhes era totalmente desconhecida. Áspera, agressiva, deseducada, bem diferente da moça que frequentava o Centro, exibindo enganador sorriso.

O diálogo prosseguia, num duelo ingrato entre a mãe, senhora respeitável e sofredora, e a filha, indisciplinada e estentórica.

Em dado instante, Otília, exasperada, afasta-se a pronunciar palavrões e abre a porta...

Lívida, desagradavelmente surpreendida, depara com os companheiros que a fitam em silêncio. Pouco depois ela está só na área. No chão ficam cópias amassadas da música em sua homenagem, com o estribilho:

Você é nossa companheira,

Nosso exemplo vivo,

Nossa líder inspiradora,

Seguiremos sempre consigo.

Se falece em nós o empenho de ajustar nosso comportamento ao que idealizamos, sob inspiração de princípios morais, não só marcaremos passo em relação à própria edificação, como causaremos desanimadoras decepções naqueles que seguem conosco.


Livro: Atravessando a Rua – Richard Simonetti