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quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

O Intruso

Alberto era uma criança muito feliz. Tinha apenas quatro anos e sentia-se o centro do Universo. Rodeado pelo amor de quantos conviviam com ele, bastava que manifestasse um desejo e logo os pais se apressavam em satisfazê-lo.

O quarto de Alberto, decorado especialmente para ele, era cheio de brinquedos.

Certo dia a mamãe informou, com lindo e doce sorriso:

— Alberto, você vai ganhar um irmãozinho!

O menino sentiu que o mundo desabava sobre sua cabecinha. Não sabia bem o que era isso, mas percebeu que sua vida ia ser invadida por um estranho. Ouvindo a mãe referir-se ao intruso com amor, dentro dele acendeu-se uma luz de alerta que parecia dizer:

— PERIGO! PERIGO! PERIGO!...

Com o passar dos dias, suas suspeitas se confirmaram. Um dia a mamãe convidou:

— Vamos sair e comprar roupinhas para o bebê?

E lá foram eles percorrer as lojas e escolher roupinhas e presentes para o intruso.

E dali por diante era sempre assim:

— Temos que comprar móveis para o quarto do bebê!

— O bebê vai precisar de uma banheira!

— Que tal comprar ursinhos de pelúcia para enfeitar o quarto do bebê?

Que tal comprar isso, que tal comprar aquilo... Era sempre assim.

E não parou por aí. Um dia a mamãe chamou Alberto e perguntou com delicadeza:

— Filhinho, quer trocar de quarto?

— Por quê?

— Porque eu e seu pai achamos que será melhor montar o quarto do bebê ali.

— Por quê?

— Você ficará com um quarto maior e mais bonito. Você se incomoda?

Alberto não se incomodou e mudou de quarto. Mas só por fora. Por dentro, a cada dia gostava menos desse “irmãozinho” que nem chegara e já fazia tanta confusão em sua vida.

A barriga da mamãe começou a aumentar, e ela falava com carinho:

— Veja, Alberto, o nenê está se mexendo. Coloque a mão na minha barriga e sinta.

— Não. Não quero.

— Então venha almoçar, meu filho.

— Não.

— Por que não quer comer?

— Porque não gosto dessa comida.

E Alberto, num repente, empurrou o prato que caiu ao chão em mil pedaços, espalhando comida para todo lado.

Ele mostrava-se irritado, nervoso, e a mãe perguntou:

— Por que fez isso? De uns tempos para cá, você está ficando insuportável, meu filho. Está manhoso e chorão, coisa que nunca foi. Se continuar assim, vai levar umas boas palmadas no bumbum.

Alguns meses depois, a mãe foi para a maternidade, e Alberto ficou a sentir-se sozinho e abandonado, em casa. Na verdade, ficou com a vovó, enquanto o pai acompanhava a mamãe até o hospital.

Quando sua mãe voltou, trazia um embrulho nos braços. Alberto, saudoso, correu para abraçá-la, gritando de alegria:

— Mamãe! Senti muito a sua falta! Que bom que você voltou!

Em vez de abraçá-lo com carinho, ela disse:

— Cuidado, meu filho! Não faça barulho. Vai acordar o bebê. Veja, Alberto, é seu irmãozinho! Não é lindo?

O garoto contemplou o pequeno rosto vermelho que saía do meio das roupas e deu sua opinião:

— Não. Ele é feio. Muito feio.

Se Alberto achava que antes o bebê ocupava muito o tempo e as atenções da mãe, agora então nem se fala! Ele desejava ficar junto da mãe, mas o colo dela estava sempre ocupado. Lidava o dia inteiro com o bebê. Dava de mamar, trocava as fraldas, dava banho, fazia dormir.

Nem durante a noite “aquela coisinha” dava sossego. Ninguém mais dormia naquela casa. O intruso chorava o tempo todo.

E as visitas? Gente que nunca tinha aparecido na sua casa, agora vinha visitar e trazer presentes. Sabem para quem? Para o bebê, é claro!

Cada vez mais Alberto sentia-se infeliz e descontente. E cheio de raiva, também.

Enquanto a mãe conversava com as amigas, ele aproximava-se do bebê fingindo abraçá-lo. Apertava suas bochechas. No fundo, gostaria mesmo é de machucar aquele intruso.

— Veja como ele gosta do irmãozinho! Não sai de cima dele! — dizia a mãe, convicta.

— Alberto está com ciúmes porque perdeu o colo!

O menino olhou para a mulher que tinha dito aquelas palavras, fez uma careta e saiu da sala, emburrado.

Ele não sabia o que fazer. A cada dia o “inimigo” ganhava mais espaço e ele era deixado de lado.

A mamãe, percebendo o que estava acontecendo com Alberto, tomou-o no colo com muito carinho e disse:

— Meu filho, nós o amamos muito. Não é porque ganhamos um outro bebê que deixamos de amar você. Os pais amam os filhos da mesma maneira e com o mesmo amor. Deus, que é Pai de todas as criaturas, nos deu a vida e nos colocou em famílias para que pudéssemos viver juntos nos ajudando mutuamente e aprendendo uns com os outros. Seu irmãozinho é um espírito que o Papai do Céu mandou para que nós cuidássemos dele, protegendo-o e educando-o de forma a se conduzir bem na vida. Entendeu? Você não precisa ficar com ciúmes dele. O que acontece é que, no momento, ele precisa mais de mim. Como você, quando era bebê!

Alberto ficou mais tranquilo depois dessa conversa e, com o passar do tempo, foi prestando mais atenção no bebê, até que, um dia, ele sorriu! Aquela coisinha feia e desengonçada, abriu um lindo sorriso.

Foi tão inesperado que deixou Alberto surpreso e encantado.

— Mamãe! Veja, ele sorriu para mim. O bebê é meu amigo!

— Viu? Ele gosta de você, meu filho. O primeiro sorriso dele foi para você!

A partir desse dia, Alberto passou a ver o irmão com outros olhos. Já não o achava tão feio. Até que era engraçadinho!

A mãe agora tinha mais tempo para Alberto e, sempre que necessário, pedia sua ajuda para cuidar do bebê, enquanto fazia os serviços domésticos.

Sentindo-se mais seguro e feliz, Alberto esperava ansiosamente que o irmãozinho crescesse para poderem brincar juntos.

Afinal, o bebê não era mais um intruso. Era seu amigo!

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.
 

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

O Tesouro do Cristo

Conta-se que há muito tempo atrás, Paulo de Tarso e seu amigo Barnabé estavam viajando a serviço da divulgação da doutrina cristã.

Levavam a palavra do Mestre, pregando o seu Evangelho para povos incultos e rudes, mas necessitados de Deus. Viajavam com muita simplicidade, geralmente a pé, levando o mínimo indispensável para sua sobrevivência.

Certa vez, estavam passando por regiões desertas, cheias de precipícios e de florestas infestadas de bandidos. Seu destino era a cidade de Antioquia da Pisídia, que ainda estava longe. Pela primeira vez, foram obrigados a dormir ao relento, no seio da natureza.

Venceram precipícios, atravessaram rio caudaloso e, do outro lado, encontraram uma caverna nas rochas, onde se acomodaram para descansar o corpo exausto e dolorido.

Quase não tinham o que comer, mas estavam animados, vencendo obstáculos com otimismo e coragem.

A solidão lhes sugeria belos pensamentos.

Ao cair da tarde e após uma refeição frugal, passaram a comentar animadamente sobre as excelências do Evangelho, exaltando a grandeza da missão de Jesus Cristo.

– Se os homens soubessem... – dizia Barnabé, fazendo comparações.

– Todos se reuniriam em torno do Senhor e descansariam – rematava Paulo cheio de convicção.

– Ele é o príncipe que reinará sobre todos.

– Ninguém trouxe a este mundo riqueza maior.

– Ah! – comentava Barnabé. – O tesouro de que foi mensageiro engrandecerá a Terra para sempre.

E, assim, continuaram conversando, quando singular movimento lhes despertou a atenção. Dois homens armados precipitaram-se sobre ambos, à fraca luz de uma tocha acessa com resinas.

– A bolsa! – gritou um dos malfeitores.

Barnabé empalideceu ligeiramente, mas Paulo estava sereno e impassível.

– Entreguem o que têm ou morrem! – exclamou o outro bandido, alçando o punhal.

Olhando fixamente o companheiro, Paulo ordenou:

– Dá-lhes o dinheiro que resta. Deus suprirá nossas necessidades de outro modo.

Barnabé esvaziou a bolsa que trazia entre as dobras da túnica, enquanto os malfeitores recolhiam, ávidos, a pequena quantia.

Reparando nos pergaminhos do Evangelho que os missionários consultavam à luz da tocha improvisada, um dos ladrões interrogou desconfiado e irônico:

– Que documentos são esses? Falavam de um príncipe opulento... Ouvimos referências a um tesouro... Que significa isso?

Com admirável presença de espírito, Paulo explicou:

– Sim, de fato, estes pergaminhos são o roteiro do imenso tesouro que nos trouxe o Cristo Jesus, que há de reinar sobre os príncipes da Terra.

Um dos bandidos, grandemente interessado, examinou o rolo de anotações do Evangelho.

– Quem encontrar esse tesouro – prosseguia Paulo, resoluto – nunca mais sentirá necessidades.

Os ladrões guardaram o Evangelho cuidadosamente e, apagando a tocha bruxuleante, desapareceram na escuridão da noite.

Quando se viram a sós, Barnabé não conseguiu dissimular o assombro:

– E agora? – perguntou com voz trêmula.

– A missão continua bem – disse Paulo, cheio de ânimo. – Não contávamos com a excelente oportunidade de transmitir a Boa Nova aos ladrões.

Admirando-se de tamanha serenidade, Barnabé considerou, um tanto preocupado:

– Mas levaram-nos, além das moedas, os derradeiros pães de cevada, bem como as capas com que nos agasalhávamos...

– Haverá sempre alguma fruta na estrada – esclarecia Paulo, decidido – e quanto às coberturas, não tenhamos maior cuidado, pois não nos faltarão as folhas das árvores.

– Mas, como recomeçar nossa tarefa, se não temos sequer as anotações do Evangelho?

Paulo, todavia, desabotoando a túnica, retirou alguma coisa que guardava junto ao coração.

– Enganas-te, Barnabé. – disse com sorriso otimista. – Tenho aqui o Evangelho que ganhei de meu mestre Gamaliel e que guardei sempre comigo com muito carinho.

O missionário apertou nas mãos o tesouro do Cristo e o júbilo voltou a iluminar lhe o coração.

Aqueles homens valorosos poderiam dispensar todo o conforto do mundo, mas a palavra de Jesus não poderia faltar.

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.