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domingo, 15 de maio de 2022

A Galinha Insatisfeita

Em certo sítio bastante agradável, vivia uma galinha chamada Petita.

Normalmente, Petita estava de mau-humor, reclamando de tudo e de todos.

O poleiro era muito alto, o ninho muito duro, o milho não tinha gosto, as minhocas não eram macias, e a água não era limpa nem fresca.

Enfim, nada estava bom para dona Petita.

As outras aves do terreiro andavam sempre alegres e felizes, mas dona Petita já acordava de mal com a vida.

Se o galo cantava muito cedo seu có-có-ró-có-có, ela reclamava que ele não a deixava dormir; se ele cantava mais tarde para atender-lhe a vontade, ralhava com ele porque a fizera perder a hora de levantar. Quando os animais faziam festa no terreiro, ela reclamava do barulho; se não a convidavam para dançar e participar das brincadeiras, afirmava-se abandonada por todos.

Enfim, não sabiam mais o que fazer para agradá-la.

Até que um belo dia ela ouviu a patroa conversando com o empregado encarregado de tratar dos animais:

— Amanhã logo cedo quero que você pegue a Petita e a mate. Eu desejo comer galinha ensopada no almoço. E ela está bem gordinha, no ponto de ir para a panela.

A galinha, que ciscava ali perto, ao ouvir isso estremeceu. Queriam botá-la numa panela!

E Petita já começou a sentir os tormentos que a aguardavam.

Aquela noite, Petita não conseguia dormir. E quando, afinal, fechou os olhos, exausta, teve sono agitado. Sonhou que o empregado corria atrás dela e agarrava-a com força; já se sentia num tacho com água fervente, e depois alguém lhe tirava as penas, deixando-a peladinha, peladinha. Foi temperada com esmero, e ia ser colocada no fogo, quando ela acordou, suando frio e toda arrepiada.

A pobre Petita chorou... Chorou muito. Quem poderia ajudá-la? Ninguém gostava dela! Tinha certeza de que ficariam muito felizes com seu sofrimento e ninguém sentiria sua ausência.

O dia começou a clarear e Petita lamentou, lembrando-se que nunca mais ouviria o lindo co-có-ró-có-có do galo; que nunca mais botaria ovos no seu ninho, que agora reconhecia ser tão macio e quentinho; que não mais comeria o milho gostoso e as minhocas tenras; que nunca mais conversaria com ninguém, e percebeu como iria sentir saudades de tudo aquilo.

Só então Petita se deu conta de como sua vida sempre fora boa e agradável. Quanto tempo ela perdera se lastimando!

— Oh! Deus! Se eu pudesse voltar atrás, faria tudo diferente — pensava, suspirando profundamente.

O empregado já se aproximava para pegá-la, quando surgiu a patroa conduzindo seu filhinho pela mão.

O garoto, ao ver a intenção do empregado começou a chorar, gritando:

— Não! Não quero que matem a Petita! Não quero que matem ninguém!

E a mãe, surpresa com a atitude do menino, retrucou:

— Ora essa, meu filho! Galinha ensopada é tão bom!

— Não quero, mamãe. Prefiro comer batatas, se for para sacrificar alguém.

A mãe pensou... Pensou... Na atitude do filho e afinal concordou, dizendo-lhe:

— Tem razão, meu filho. Não devemos tirar a vida de ninguém. De hoje em diante todos os animais deste sítio estão a salvo e poderão viver tranquilos.

Petita respirou, aliviada. Estava salva! E devia sua vida justamente àquele garoto que ela sempre considerara tão desagradável, e que agora afirmava gostar dela!

Satisfeita e cacarejando feliz, Petita abraçou a todos no terreiro, e fizeram uma grande festa.

A partir desse dia, Petita transformou-se numa galinha alegre e satisfeita da vida, não se cansando de agradecer a bondade de Deus, que lhe dera uma nova oportunidade, pela mão de uma criança.

Autoria: Célia Xavier Camargo – Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.
 

domingo, 1 de maio de 2022

A Dor de Garganta

Sentada à porta da sua casa em companhia de Cláudia, uma amiga, Mariana divertia-se a observar as pessoas que passavam, tecendo comentários em torno de cada uma delas. E dizia, rindo:

— Veja, Cláudia, aquela mulher lá do outro lado da rua. Que roupa horrorosa!

Dali a pouco comentava:

— E aquela outra? Olhe os cabelos dela, desgrenhados. Parece uma bruxa! Só falta a vassoura! — e caía na gargalhada.

Ao ver um garoto que passava na frente delas, criticou em voz alta, sem se preocupar que ele ouvisse:

— Olha o tênis desse menino! Está todo sujo e rasgado! Deve tê-lo encontrado numa lata de lixo.

O garoto, que ouvira a observação de Mariana feita com desprezo, virou-se e olhou para elas com expressão de tristeza e humilhação, e, baixando a cabeça, continuou seu caminho sem dizer nada.

Cláudia, de coração bom e generoso, ficou muito envergonhada com a atitude da amiga.

— Mariana, precisamos ter respeito com as pessoas. Não podemos tratá-las dessa maneira. Viu como o garoto ficou chateado?

Indiferente, Mariana retrucou, balançando os ombros:

— Que me importa? É bom mesmo que tenha ouvido, assim não sairá mais à rua daquele jeito!

— Ele não tem culpa de ser um menino pobre, Mariana. Com certeza é o melhor par de calçados que tem! Além disso, Jesus ensinou que devemos fazer aos outros o que queremos que os outros nos façam. Você gostaria que alguém agisse assim com você?

Mariana, porém, que não estava acostumada a ser contestada pela amiga, reclamou com maus modos:

— Você é uma chata! Vá embora!

Levantou-se irritada e entrou batendo a porta, deixando Cláudia sozinha no portão.

A mãe, ao vê-la chegar daquele jeito indagou:

— Que falta de educação, minha filha! Por que bateu a porta daquela maneira?

E Mariana, numa crise de raiva, respondeu nervosa:

— A Cláudia me irrita, mamãe! Não quero mais saber dela. Não sou mais sua amiga.

A mãe não disse nada, limitando-se a convidá-la para almoçar.

A família acomodou-se para a refeição. Sentados à mesa, Mariana continuava de péssimo humor: reclamou do irmãozinho, que não comia direito; do avô, que fazia barulho para tomar a sopa; da comida, que não estava a seu gosto; e até do cachorro, que latia no quintal.

Após a refeição, a mãezinha chamou Mariana, sentou-se com ela no sofá e, aconchegando-a ao coração com muito carinho, perguntou:

— Minha filha, quer me contar o que aconteceu e que a deixou tão mal-humorada?

Mais calma, Mariana contou tudo o que acontecera. A mãe ouviu e, com serenidade, lembrando-se de todas as vezes que havia alertado a filha para esse problema, considerou:

— Sua amiga Cláudia tem razão, minha querida. Comece a observar seu comportamento e perceberá que você só enxerga o lado negativo de tudo. À hora do almoço mesmo, limitou-se a criticar seu irmãozinho, o avô, a comida e até o cãozinho de quem você gosta tanto. Nada disse de agradável para ninguém!

A bondosa senhora parou de falar, analisando o efeito de suas palavras, e prosseguiu:

— Não acha que deve mudar a maneira de encarar a vida, procurando ver mais o lado positivo das pessoas, das situações e das coisas? Você será bem mais feliz, pode acreditar. Além disso, Jesus ensinou que cada um receberá de acordo com as próprias obras. Aquilo que semeamos, colhemos. É da Lei.

Mariana ouviu as palavras da mãe e permaneceu pensativa o resto do dia.

Naquela noite, foram fazer uma visita à vovó que morava do outro lado da cidade. Na volta, o tempo virou para chuva e ventava muito. A temperatura caiu e, quando chegaram em casa, já estava chovendo.

No dia seguinte, Mariana acordou com dor de garganta e completamente sem voz. Ao ver a mãe na cozinha preparando o café, apanhou uma folha de caderno e escreveu:

— A senhora tinha razão. Já estou colhendo!

Ao ler o que estava escrito, a mãezinha sorriu achando graça e respondeu:

— É natural que você esteja com a garganta irritada, filha. Ontem apanhou muita friagem!

Mas apesar do comentário materno, Mariana conservou a íntima certeza de que estava recebendo pelo que fizera aos outros. Havia falado demais, menosprezado seus semelhantes, e agora estava sem voz.

— E se eu não puder falar nunca mais?!... — pensou ela, assustada.

Naquele momento, Mariana tomou uma decisão. Procuraria modificar sua maneira de agir, realçando o lado bom de tudo e passaria a respeitar todas as pessoas.

Começou a colocar em prática suas boas disposições logo ao sair de casa para ir à escola, pedindo desculpas à Cláudia pelo que fizera. Mas, tranquila e bem humorada, a amiga nem se lembrava mais do desentendimento.

Satisfeita da vida, levantando a cabeça e olhando o céu, Mariana exclamou contente:

— Que dia lindo!

Autoria: Célia Xavier Camargo – Imagem: Internet Google.