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quarta-feira, 15 de junho de 2022

A Mentira

Embora não fosse rica, Clarinha era uma menina a quem nada faltava. Morava numa casa confortável, tinha uma família amorosa e, tudo o que desejava, na medida do possível, seu pai lhe comprava.

Mas Clarinha tinha um grande problema: a mentira.

Mentia a todo instante, para qualquer pessoa e em qualquer ocasião. De tanto mentir, Clarinha não conseguia mais parar. A mentira tornara-se um hábito em sua vida e quando menos se esperava, lá estava ela inventando coisas.

Na verdade, ela sentia verdadeiro prazer nisso e seus olhos brilhavam de satisfação ao inventar uma história.

Certo dia, Clarinha estava na escola quando um vizinho veio perguntar se ela sabia do paradeiro de seus pais.

Mais que depressa ela colocou a cabecinha avoada para funcionar:

— Ah! Sei sim! Papai e mamãe foram visitar meu tio João que está doente. Sabe? Ele está com um problema terrível no estômago e...

— E onde mora seu tio João?

— Mora na cidadezinha aqui perto. Não sei o endereço, mas é próximo ao supermercado.

O amigo de seu pai agradeceu e saiu rapidamente, aflito.

Quando Clarinha saiu da escola, após as aulas, foi para casa brincando pelo caminho, colhendo flores e parando para ver as vitrinas das lojas de brinquedos.

Chegando próximo à sua casa, percebeu um movimento incomum. Uma grossa cortina de fumaça cobria tudo e os vizinhos tentavam apagar o fogo inutilmente.

Viu seus pais suarentos e cansados, que faziam esforços para retirar seus pertences do interior da casa em chamas. Com os olhos arregalados de espanto, Clarinha perguntou:

— O que aconteceu, papai?...

Virando-se para ela, ele respondeu com severidade:

— Aconteceu, minha filha, que sua mãe esqueceu o ferro elétrico ligado e a casa pegou fogo. Nossos vizinhos perceberam que algo de estranho estava acontecendo pelo cheiro de queimado que se espalhava ao redor, e não sabendo onde nos encontrar, perguntaram a você.

Clarinha, muito vermelha, abaixou a cabeça envergonhada.

— Então, fomos visitar seu tio João que está doente?

Gaguejando, Clarinha procurou se desculpar:

— Pa... papai, desculpe. Não pensei que fosse causar algum problema!

— “Algum problema”? Minha filha, você percebe o que fez com sua mentira? Quase perdemos tudo! Bastaria que tivesse dito a verdade, isto é, que fomos ao sítio, pertinho da cidade, para que grande parte do problema fosse evitado. Embora desejosos de ajudar, nossos amigos não conseguiram abrir a porta, que estava trancada. Se tivessem nos encontrado antes, nada disso teria acontecido.

— Estou tão envergonhada!...

— Espero que isto lhe sirva de lição, minha filha. Graças a Deus, perdemos apenas bens materiais. Nossa família nada sofreu — completou com um suspiro de alívio.

Com os olhos cheios de lágrimas, Clarinha prometeu:

— Vou tentar me corrigir, papai. Nunca mais direi uma mentira. Daqui por diante quero dizer só a verdade.

Autoria: Célia Xavier Camargo – Imagem meramente ilustrativa - Fonte: Internet Google.
 

quarta-feira, 1 de junho de 2022

Respeito Mútuo

O senhor Manoel era um homem muito bom e compassivo. Vivia do amanho da terra e suas tarefas eram executadas sempre com amor e devotamento. Ele tinha um filho que, não obstante a educação que lhe dava, era indisciplinado e agia sempre sem se preocupar com os outros, jamais cogitando se prejudicava alguém ou não.

O pai carinhoso tentava orientá-lo para o bem, afirmando-lhe que sempre devemos amar o próximo e respeitá-lo, como Jesus nos ensinou.

– E os animais? - perguntava Toninho, impaciente.

– Os animais também, meu filho. São nossos irmãos menores, credores de toda a nossa consideração e respeito, necessitando da nossa ajuda, tanto quanto nós não prescindimos do concurso deles para nossas tarefas do dia-a-dia.

Como estavam no campo, o pai fez uma pausa e exemplificou, apontando um animal atrelado ao arado.

– Veja o Gentil, por exemplo. É dócil e manso, nunca desdenhando o trabalho árduo do campo, e, nestes anos todos em que trabalhamos juntos, nunca o vi rebelde e indisciplinado. Jamais agrediu alguém!

– O Gentil ainda concordo, pois ele o ajuda, papai. Mas os outros!... – retrucou Toninho com desprezo.

– Os outros animais também ajudam, meu filho. Cada qual tem uma tarefa diferente, mas não menos importante. A Mimosa, nossa vaquinha, fornece o leite tão gostoso que bebemos toda manhã; as galinhas fornecem os ovos para a nossa alimentação e o nosso cão trabalha sem descanso, cuidando da defesa da nossa casa. Portanto, todos merecem nosso carinho e gratidão.

Mas Toninho ainda não estava convencido.

No dia seguinte, o senhor Manoel convidou Toninho para irem à cidade fazer umas compras. Toninho, eufórico com o passeio, aboletou-se na pequena carroça, feliz da vida.

Ao chegarem à cidade, enquanto seu pai entrou no armazém para fazer compras, Toninho ficou vendo o movimento da rua.

O tempo foi passando e seu pai não voltava. O menino foi ficando impaciente.

Olhou para Gentil, que permanecia parado, de olhos baixos, humilde, sem dar demonstrações de impaciência. Teve vontade de agredir o animal para ver sua reação.

– Vou dar uma volta. Veremos se ele é realmente obediente.

Toninho olhou ao redor e viu um pedaço de tábua, longo e fino, numa construção ali perto.

Pegou a ripa e, sem titubear, subiu na carroça e ordenou a Gentil que andasse. O animal, não reconhecendo a voz do dono a que estava habituado, não saiu do lugar.

Toninho, tomando da ripa, desceu com ela sobre o lombo do cavalo. Este relinchou de dor e, levantando as patas dianteiras, empinou perigosamente a frágil carroça, jogando Toninho ao chão.

Ao ouvir os gritos na rua, o Sr. Manoel acudiu correndo, encontrando o filho no solo, aos berros.

Ao saber do que acontecera, através de pessoas que assistiram ao fato, Manoel ficou indignado.

– Mas, papai, o senhor disse que o Gentil era manso e ele me derrubou! – gritava o garoto, surpreso.

E o pai, pegando o filho e levando-o até junto do animal, disse-lhe:

– E acha que ele poderia agir diferente? Veja o que você fez com o pobre animal!

Do lombo do cavalo escorria um filete de sangue. Toninho não percebera que na ponta da ripa existia um prego e fora a dor do ferimento que fizera Gentil reagir.

Aproveitando a oportunidade que se lhe oferecia, Manoel completou:

– Gentil é manso como um cordeiro. Apenas se defendeu de uma agressão, instintivamente. Todos nós, meu filho, recebemos de acordo com que tivermos feito. Se você tivesse lhe dado carinho e amor, teria recebido a retribuição correspondente. Como você agrediu, foi agredido. Entendeu?

Muito envergonhado, Toninho balançou a cabeça em sinal de assentimento e prometeu a si mesmo que nunca mais cometeria o mesmo erro.

Autoria: Célia Xavier Camargo – Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.