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segunda-feira, 15 de abril de 2024

O Cavalinho Insatisfeito

Apesar de morar numa linda cocheira cheia de conforto, o cavalinho estava sempre insatisfeito.

Tinha um grande campo verde para cavalgar e brincar com seus amigos, onde não lhe faltava erva tenra e macia para sua alimentação e água pura e límpida para beber num regato próximo.

E quando a noite chegava, recolhia-se à cocheira, onde um monte de capim novo e seco lhe servia de leito, enquanto pela janela aberta podia ver as estrelas brilhando no céu, lá longe.

João, um servidor amigo, banhava-o regularmente, escovando seu pelo com cuidado e deixando-o brilhante e sedoso.

Ainda assim, não estava contente e passava o tempo a reclamar da vida.

Reclamava de ter que levantar cedo, da grama que não estava bem verde e macia, da água que alguém turvara, do colchão de capim duro.

Quando o empregado vinha banhá-lo, reclamava que a água estava muito fria, e a escova, muito dura, o machucava.

Certo dia, quando João chegou sorridente para tratá-lo, encontrou-o ainda com humor pior do que nos outros dias. Sem querer, o empregado descuidou-se e o balde com água caiu sobre a pata do cavalo.

Imediatamente, o animal reagiu, irritado, dando um coice no coitado do servidor, dizendo com maus modos:

— Desastrado!

Caindo de mau-jeito, o rapaz não conseguiu se levantar, gritando por socorro.

Quando vieram acudi-lo, vendo-o no chão, indagaram:

— O que houve, João?

Gostando realmente do cavalinho e não desejando que fosse punido, respondeu:

— Não foi nada. Caí e machuquei a perna.

Levado a um hospital, constataram que João fraturara um osso de uma perna e seria preciso engessá-la. Durante um mês teria que fazer repouso e não poderia trabalhar.

No dia seguinte, outro empregado foi encarregado de cuidar dos animais, substituindo João em suas funções.

Sendo muito preguiçoso, o novo empregado não se preocupava com nada. Esquecia de soltar os animais para passear no campo, não trocava a água dos bebedouros, não tirava o capim velho substituindo por novo e não gostava de dar banho, deixando-os sujos e malcheirosos.

Como o cavalinho reclamasse do tratamento que lhes estava sendo dispensado, pois vivia cheio de moscas, ainda recebeu algumas chibatadas no lombo, que o deixaram ferido.

Assustado, visto que nunca tinha apanhado, o cavalinho ficou com medo e nunca mais reclamou de nada.

Lembrava-se, porém, com profunda saudade do servidor amigo que os tratava sempre com bondade e nunca lhes deixara faltar nada. À noite, sozinho, olhando as estrelas, ele chorava de tristeza em seu leito sujo e malcheiroso.

Quando João retornou, após os trinta dias, foi com um relincho feliz que o recebeu. O cavalinho encostou a cabeça em seu peito, satisfeito pela volta do amigo.

O empregado estranhou a atitude carinhosa do animal, antes tão mal-humorado, e se condoeu do seu aspecto, pois perdera o ar altivo, mantendo a cabeça baixa; estava todo sujo e seu pelo ferido sangrava, mordido pelos insetos que assentavam em seu corpo, atraídos pela sujeira.

Cheio de compaixão, abraçou o cavalinho que suspirou feliz. Em seguida lavou-o, cuidou das feridas e escovou o pelo que readquiriu, em parte, o aspecto brilhante e sedoso. Quando acabou, olhou o animal, exclamando:

— Pronto. Agora você já está com melhor aspecto!

O cavalinho, que tivera muito tempo para pensar durante aqueles trinta dias, falou-lhe comovido, demonstrando humildade:

— Agradeço seu cuidado e atenção. Foi preciso que eu sofresse para saber valorizar sua amizade. Agora compreendo como fui rude e malcriado com você, e como foi bom para mim. Perdoe-me o coice que lhe dei. Isso nunca mais acontecerá.

Fez uma pausa e, fitando o amigo com os olhos úmidos de emoção, concluiu:

— Aprendi que é preciso saber agradecer tudo o que temos. Deus me deu uma vida boa onde nada me faltava, no entanto eu vivia insatisfeito com tudo. Foi preciso que as coisas piorassem para que eu pudesse perceber como era feliz. Entendi, também, que é preciso saber respeitar os outros se desejamos ser respeitados.

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.
 

segunda-feira, 1 de abril de 2024

Páscoa

Olá, meu amiguinho!

Chegamos ao domingo de Páscoa! É um dia muito feliz porque logo lembramos de presentes, de coelhinhos e de ovos de chocolate! Contudo, a verdadeira Páscoa não é nada disso.

Você sabe o que representa a Páscoa?

Originalmente, a Páscoa é uma festa anual dos hebreus, que comemoram a saída do seu povo do cativeiro no Egito.

Muito tempo depois, tornou-se uma festa anual dos cristãos, porque foi exatamente na Páscoa judaica que Jesus foi preso, julgado e condenado a morrer na cruz, entre dois ladrões. Era sexta-feira.

No domingo, Maria Madalena e outras duas mulheres, levando aromas e ervas para embalsamar o corpo de Jesus, foram até o túmulo e o encontraram vazio. Depois, Maria Madalena viu Jesus e conversou com ele, compreendendo que ele tinha ressuscitado.

Então, em memória de Jesus, que retornou em espírito e verdade após a sua morte, os cristãos passaram a comemorar a Páscoa.

Esse fato, conhecido como a ressurreição de Jesus, é dos acontecimentos mais importantes e decisivos, pois representa a prova da imortalidade da alma, que o Cristo tanto havia pregado.

Quanto ao costume de presentear com ovos, vem dos tempos antigos, quando os pagãos celebravam a volta da primavera oferecendo uns aos outros ovos de galinha, pintados de cores vivas, hábito que ainda existe em certos países.

E o que é que o coelho tem com isso?

Muitos povos têm o coelho como símbolo da fertilidade, representando a renovação da vida, assim como o próprio ovo.

E os ovos de chocolate, tão gostosos?

Para incentivar as vendas no período que antecede à Páscoa, alguém uniu o útil ao agradável. Inventou os ovos de chocolate, que os comerciantes passaram a vender com grande sucesso.

Podemos ganhar e comer ovos de chocolate, sem culpa. Não podemos nos esquecer, porém, de que o significado da Páscoa é muito importante para nós, cristãos.

Neste domingo de Páscoa, então, vamos nos lembrar de Jesus, agradecendo a ele pela sua vida, pelo exemplo que nos deixou e pelo seu Evangelho, que é luz em nossas almas.

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.
 

sexta-feira, 15 de março de 2024

O Sapo Sabido

Quac era um sapo muito sabido e todos o admiravam pela sua inteligência e sabedoria.

Na lagoa onde residia, era ele quem ensinava outros sapos e rãs, fazendo às vezes de professor.

Mas, justamente por ser sábio, havia aqueles que tinham inveja dele e desejavam o seu mal.

Croc era um desses. Orgulhoso e egoísta, sentia-se enciumado toda vez que seus irmãos, os outros sapos, demonstravam afeição por Quac, pois não admitia que ninguém fosse melhor do que ele.

Por isso, resolveu dar-lhe uma lição.

Croc sabia que no tronco de certa árvore, um pouco distante da lagoa, habitava uma serpente.

Certo dia convidou Quac para darem um passeio e, perto da árvore onde sabia morar a serpente, parou e disse:

— Ali no tronco daquela árvore existem minhocas muito apetitosas.

Aos pulos, Quac para lá se dirigiu e, qual não foi sua surpresa quando, de dentro do buraco, surgiu uma cobra de cabeça erguida e de língua de fora, pronta para dar o bote.

Ele levou um susto danado! Deu um pulo para o lado e escapou por pouco, desaparecendo no meio do mato.

Croc ficou muito decepcionado porque o sábio Quac escapou do bote da serpente.

Alguns dias depois, Quac andava procurando comida pela mata, quando viu alguns homens que, munidos de faroletes e redes, dirigiam-se para a lagoa. Eram caçadores de rãs. Esperavam a noite cair para, sem piedade, dizimarem seus irmãos sapos.

Rapidamente, aos pulos, Quac voltou para a lagoa e, encontrando Croc, avisou-o do perigo que estava correndo, e notificou também os outros do grupo, alertando-os para que se escondessem o mais depressa possível.

E assim eles fizeram, escondendo-se bem. Em pouco tempo os homens chegaram e não encontraram nenhuma rãzinha.

Procuraram... procuraram... mas as rãs tinham sumido, então os caçadores foram embora muito irritados por não terem conseguido caçar nada.

Aliviados, os sapos saíram de seus esconderijos e comemoraram a vitória, agradecendo ao querido Quac por salvar suas vidas.

Croc estava pensativo. Aproximando-se de Quac, perguntou por que ele os alertara do perigo, especialmente ele, Croc, quando teria sido mais fácil fugir, abandonando-os à própria sorte.

Arregalando os grandes olhos, Quac respondeu:

— Porque eu aprendi que devemos fazer aos outros o que desejamos que os outros nos façam!

Croc meditou sobre estas palavras e sentiu-se envergonhado da atitude que tivera.

Pediu perdão a Quac, afirmando:

— Você é realmente um grande sábio e muito bom também. Agora compreendo porque todos o admiram.

E, a partir desse dia, tornaram-se verdadeiros amigos e a paz voltou a reinar na lagoa.

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.
 

sexta-feira, 1 de março de 2024

O Remédio

Dentre todos os garotos da vizinhança, Juquinha era o mais levado.

Cheio de energia, estava sempre inventando algo para fazer.

Quando não estava no telhado da casa, arriscando-se a cair e quebrar o pescoço, ele estava em cima do muro do vizinho mexendo com as pessoas que passavam na rua.

Gostava também de apanhar, às escondidas, frutos no pomar do senhor José. De outras vezes, ele subia nas árvores arrancando dali ninhos de pobres aves indefesas, destruindo-os depois, pelo simples prazer de destruir.

Os garotos da rua o temiam e muitos não brincavam com ele para evitar brigas e encrencas.

A mãe de Juquinha dava-lhe sempre bons conselhos, mas ele ria, e saía de perto sem lhe atender aos apelos.

Dona Joana tentava fazer com que Juquinha se interessasse em mudar de vida, e explicava-lhe que não devia agir de maneira maldosa, causando confusão e inimizades.

Quando era dia do Evangelho no Lar, dona Joana procurava atrair Juquinha para a reunião singela, ciente de que as preces e leituras das passagens evangélicas poderiam auxiliar poderosamente na mudança de atitudes do filho, mas qual nada!...

Juquinha alegava obrigações inadiáveis e fugia ao convívio carinhoso da família.

Triste, dona Joana elevava o pensamento em prece e, com o coração repleto de emoção, suplicava a ajuda de Jesus. Não desejava que seu filho persistisse no mal e temia, com justa razão, que com o passar do tempo, ele se tornasse cada vez pior.

Sabia que, se não conseguisse incutir nele ideias sadias de amor, trabalho, devotamento, respeito, piedade, etc., enquanto ainda era um garoto, depois seria mais difícil.

E atendendo às súplicas do seu coração generoso, a resposta do Alto não se fez esperar.

Certo dia, enquanto fugia do proprietário de uma chácara aonde fora roubar frutas, Juquinha caiu do muro, fraturando um osso da perna.

Como consequência, ele, que nunca parava em casa e estava sempre inventando alguma arte, foi obrigado a permanecer preso a uma cadeira de rodas sem poder caminhar por quarenta dias.

E, quando Juquinha reclamava da inatividade forçada, dona Joana respondia-lhe com um sorriso:

— Tenha paciência, meu filho. Este foi o remédio que Deus encontrou para que você pudesse dar um novo rumo à sua vida e repensar suas atitudes.

E, com um suspiro aliviado, completava satisfeita:

— Podia ser pior!...

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.
 

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

O Intruso

Alberto era uma criança muito feliz. Tinha apenas quatro anos e sentia-se o centro do Universo. Rodeado pelo amor de quantos conviviam com ele, bastava que manifestasse um desejo e logo os pais se apressavam em satisfazê-lo.

O quarto de Alberto, decorado especialmente para ele, era cheio de brinquedos.

Certo dia a mamãe informou, com lindo e doce sorriso:

— Alberto, você vai ganhar um irmãozinho!

O menino sentiu que o mundo desabava sobre sua cabecinha. Não sabia bem o que era isso, mas percebeu que sua vida ia ser invadida por um estranho. Ouvindo a mãe referir-se ao intruso com amor, dentro dele acendeu-se uma luz de alerta que parecia dizer:

— PERIGO! PERIGO! PERIGO!...

Com o passar dos dias, suas suspeitas se confirmaram. Um dia a mamãe convidou:

— Vamos sair e comprar roupinhas para o bebê?

E lá foram eles percorrer as lojas e escolher roupinhas e presentes para o intruso.

E dali por diante era sempre assim:

— Temos que comprar móveis para o quarto do bebê!

— O bebê vai precisar de uma banheira!

— Que tal comprar ursinhos de pelúcia para enfeitar o quarto do bebê?

Que tal comprar isso, que tal comprar aquilo... Era sempre assim.

E não parou por aí. Um dia a mamãe chamou Alberto e perguntou com delicadeza:

— Filhinho, quer trocar de quarto?

— Por quê?

— Porque eu e seu pai achamos que será melhor montar o quarto do bebê ali.

— Por quê?

— Você ficará com um quarto maior e mais bonito. Você se incomoda?

Alberto não se incomodou e mudou de quarto. Mas só por fora. Por dentro, a cada dia gostava menos desse “irmãozinho” que nem chegara e já fazia tanta confusão em sua vida.

A barriga da mamãe começou a aumentar, e ela falava com carinho:

— Veja, Alberto, o nenê está se mexendo. Coloque a mão na minha barriga e sinta.

— Não. Não quero.

— Então venha almoçar, meu filho.

— Não.

— Por que não quer comer?

— Porque não gosto dessa comida.

E Alberto, num repente, empurrou o prato que caiu ao chão em mil pedaços, espalhando comida para todo lado.

Ele mostrava-se irritado, nervoso, e a mãe perguntou:

— Por que fez isso? De uns tempos para cá, você está ficando insuportável, meu filho. Está manhoso e chorão, coisa que nunca foi. Se continuar assim, vai levar umas boas palmadas no bumbum.

Alguns meses depois, a mãe foi para a maternidade, e Alberto ficou a sentir-se sozinho e abandonado, em casa. Na verdade, ficou com a vovó, enquanto o pai acompanhava a mamãe até o hospital.

Quando sua mãe voltou, trazia um embrulho nos braços. Alberto, saudoso, correu para abraçá-la, gritando de alegria:

— Mamãe! Senti muito a sua falta! Que bom que você voltou!

Em vez de abraçá-lo com carinho, ela disse:

— Cuidado, meu filho! Não faça barulho. Vai acordar o bebê. Veja, Alberto, é seu irmãozinho! Não é lindo?

O garoto contemplou o pequeno rosto vermelho que saía do meio das roupas e deu sua opinião:

— Não. Ele é feio. Muito feio.

Se Alberto achava que antes o bebê ocupava muito o tempo e as atenções da mãe, agora então nem se fala! Ele desejava ficar junto da mãe, mas o colo dela estava sempre ocupado. Lidava o dia inteiro com o bebê. Dava de mamar, trocava as fraldas, dava banho, fazia dormir.

Nem durante a noite “aquela coisinha” dava sossego. Ninguém mais dormia naquela casa. O intruso chorava o tempo todo.

E as visitas? Gente que nunca tinha aparecido na sua casa, agora vinha visitar e trazer presentes. Sabem para quem? Para o bebê, é claro!

Cada vez mais Alberto sentia-se infeliz e descontente. E cheio de raiva, também.

Enquanto a mãe conversava com as amigas, ele aproximava-se do bebê fingindo abraçá-lo. Apertava suas bochechas. No fundo, gostaria mesmo é de machucar aquele intruso.

— Veja como ele gosta do irmãozinho! Não sai de cima dele! — dizia a mãe, convicta.

— Alberto está com ciúmes porque perdeu o colo!

O menino olhou para a mulher que tinha dito aquelas palavras, fez uma careta e saiu da sala, emburrado.

Ele não sabia o que fazer. A cada dia o “inimigo” ganhava mais espaço e ele era deixado de lado.

A mamãe, percebendo o que estava acontecendo com Alberto, tomou-o no colo com muito carinho e disse:

— Meu filho, nós o amamos muito. Não é porque ganhamos um outro bebê que deixamos de amar você. Os pais amam os filhos da mesma maneira e com o mesmo amor. Deus, que é Pai de todas as criaturas, nos deu a vida e nos colocou em famílias para que pudéssemos viver juntos nos ajudando mutuamente e aprendendo uns com os outros. Seu irmãozinho é um espírito que o Papai do Céu mandou para que nós cuidássemos dele, protegendo-o e educando-o de forma a se conduzir bem na vida. Entendeu? Você não precisa ficar com ciúmes dele. O que acontece é que, no momento, ele precisa mais de mim. Como você, quando era bebê!

Alberto ficou mais tranquilo depois dessa conversa e, com o passar do tempo, foi prestando mais atenção no bebê, até que, um dia, ele sorriu! Aquela coisinha feia e desengonçada, abriu um lindo sorriso.

Foi tão inesperado que deixou Alberto surpreso e encantado.

— Mamãe! Veja, ele sorriu para mim. O bebê é meu amigo!

— Viu? Ele gosta de você, meu filho. O primeiro sorriso dele foi para você!

A partir desse dia, Alberto passou a ver o irmão com outros olhos. Já não o achava tão feio. Até que era engraçadinho!

A mãe agora tinha mais tempo para Alberto e, sempre que necessário, pedia sua ajuda para cuidar do bebê, enquanto fazia os serviços domésticos.

Sentindo-se mais seguro e feliz, Alberto esperava ansiosamente que o irmãozinho crescesse para poderem brincar juntos.

Afinal, o bebê não era mais um intruso. Era seu amigo!

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.
 

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

O Tesouro do Cristo

Conta-se que há muito tempo atrás, Paulo de Tarso e seu amigo Barnabé estavam viajando a serviço da divulgação da doutrina cristã.

Levavam a palavra do Mestre, pregando o seu Evangelho para povos incultos e rudes, mas necessitados de Deus. Viajavam com muita simplicidade, geralmente a pé, levando o mínimo indispensável para sua sobrevivência.

Certa vez, estavam passando por regiões desertas, cheias de precipícios e de florestas infestadas de bandidos. Seu destino era a cidade de Antioquia da Pisídia, que ainda estava longe. Pela primeira vez, foram obrigados a dormir ao relento, no seio da natureza.

Venceram precipícios, atravessaram rio caudaloso e, do outro lado, encontraram uma caverna nas rochas, onde se acomodaram para descansar o corpo exausto e dolorido.

Quase não tinham o que comer, mas estavam animados, vencendo obstáculos com otimismo e coragem.

A solidão lhes sugeria belos pensamentos.

Ao cair da tarde e após uma refeição frugal, passaram a comentar animadamente sobre as excelências do Evangelho, exaltando a grandeza da missão de Jesus Cristo.

– Se os homens soubessem... – dizia Barnabé, fazendo comparações.

– Todos se reuniriam em torno do Senhor e descansariam – rematava Paulo cheio de convicção.

– Ele é o príncipe que reinará sobre todos.

– Ninguém trouxe a este mundo riqueza maior.

– Ah! – comentava Barnabé. – O tesouro de que foi mensageiro engrandecerá a Terra para sempre.

E, assim, continuaram conversando, quando singular movimento lhes despertou a atenção. Dois homens armados precipitaram-se sobre ambos, à fraca luz de uma tocha acessa com resinas.

– A bolsa! – gritou um dos malfeitores.

Barnabé empalideceu ligeiramente, mas Paulo estava sereno e impassível.

– Entreguem o que têm ou morrem! – exclamou o outro bandido, alçando o punhal.

Olhando fixamente o companheiro, Paulo ordenou:

– Dá-lhes o dinheiro que resta. Deus suprirá nossas necessidades de outro modo.

Barnabé esvaziou a bolsa que trazia entre as dobras da túnica, enquanto os malfeitores recolhiam, ávidos, a pequena quantia.

Reparando nos pergaminhos do Evangelho que os missionários consultavam à luz da tocha improvisada, um dos ladrões interrogou desconfiado e irônico:

– Que documentos são esses? Falavam de um príncipe opulento... Ouvimos referências a um tesouro... Que significa isso?

Com admirável presença de espírito, Paulo explicou:

– Sim, de fato, estes pergaminhos são o roteiro do imenso tesouro que nos trouxe o Cristo Jesus, que há de reinar sobre os príncipes da Terra.

Um dos bandidos, grandemente interessado, examinou o rolo de anotações do Evangelho.

– Quem encontrar esse tesouro – prosseguia Paulo, resoluto – nunca mais sentirá necessidades.

Os ladrões guardaram o Evangelho cuidadosamente e, apagando a tocha bruxuleante, desapareceram na escuridão da noite.

Quando se viram a sós, Barnabé não conseguiu dissimular o assombro:

– E agora? – perguntou com voz trêmula.

– A missão continua bem – disse Paulo, cheio de ânimo. – Não contávamos com a excelente oportunidade de transmitir a Boa Nova aos ladrões.

Admirando-se de tamanha serenidade, Barnabé considerou, um tanto preocupado:

– Mas levaram-nos, além das moedas, os derradeiros pães de cevada, bem como as capas com que nos agasalhávamos...

– Haverá sempre alguma fruta na estrada – esclarecia Paulo, decidido – e quanto às coberturas, não tenhamos maior cuidado, pois não nos faltarão as folhas das árvores.

– Mas, como recomeçar nossa tarefa, se não temos sequer as anotações do Evangelho?

Paulo, todavia, desabotoando a túnica, retirou alguma coisa que guardava junto ao coração.

– Enganas-te, Barnabé. – disse com sorriso otimista. – Tenho aqui o Evangelho que ganhei de meu mestre Gamaliel e que guardei sempre comigo com muito carinho.

O missionário apertou nas mãos o tesouro do Cristo e o júbilo voltou a iluminar lhe o coração.

Aqueles homens valorosos poderiam dispensar todo o conforto do mundo, mas a palavra de Jesus não poderia faltar.

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.
 

segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

Presente Para Jesus

Quando a professora entrou na sala, os alunos estavam conversando entre si e cada um falava do presente que iria pedir no Natal.

Aproveitando a oportunidade, já que este seria o último dia de aula antes do encerramento do ano letivo, a professora lembrou aos seus alunos:

— Na Festa de Natal comemora-se o nascimento de Jesus. Então, o aniversariante é Jesus e não devemos ficar tão preocupados em ganhar presentes. Ao contrário, devemos nos lembrar das palavras do Mestre quando disse que tudo o que fizermos aos mais necessitados será a ele mesmo que estaremos fazendo.

— Mas então o que podemos fazer, professora? — perguntou um dos garotos.

— Isso é vocês que devem resolver. Pensem e decidam.

De toda a classe, somente Vera, Carla e Raul ficaram preocupados com as palavras da professora.

A caminho de casa eles iam conversando. Eram vizinhos e amigos, e estavam sempre juntos.

— O que podemos dar de presente de Natal para as pessoas, como se o estivéssemos dando ao próprio Jesus? — perguntou Carla, pensativa.

— Que tal dar balas e doces? Cada um de nós pedirá dinheiro à sua mãe e compraremos as guloseimas. Depois, sairemos distribuindo às pessoas! — sugeriu Raul.

Vera, porém, ponderou:

— Desse modo, na verdade serão nossas mães que estarão dando os presentes, não nós, porque não temos dinheiro! Então, penso que não podem ser coisas que precisamos comprar. Que tal darmos nossas roupas?

Carla e Raul ficaram pensativos durante alguns instantes, depois Carla retrucou:

— Acho que não daria certo. Mesmo porque, se nós dermos nossas roupas, teremos que comprar outras! Ou então, daremos as que não usamos mais e que nem gostamos. Não seria um verdadeiro presente.

— Já sei! — disse Raul — e se fizermos visitas às casas?

— Bem lembrado. Contudo, só a visita não é suficiente. Também precisamos levar “algo mais”. Mas, o quê?!... E não pode ser de comprar porque não temos dinheiro! — lembrou Vera.

Afinal, Carla, de olhos brilhantes, disse:

—Tive uma ideia! Se nós desejamos dar alguma coisa, e não pode ser adquirido com dinheiro, mas deve representar nosso esforço, nosso sentimento, que tal levarmos alegria e espírito natalino através da música? Olhem! Nós três gostamos de cantar. Podemos ensaiar algumas músicas natalinas e, na véspera do Natal iremos cantar para as pessoas! Que tal?

Vera e Raul bateram palmas, aplaudindo a ideia.

Assim, os três amiguinhos escolheram as músicas e ficaram dias ensaiando.

Na véspera do Natal, se arrumaram direitinho e saíram de casa percorrendo as ruas do bairro. Paravam na frente das casas, começavam a cantar e, ao ouvirem as vozes infantis, os moradores abriam as portas, atraídos pelas belas melodias.

E em cada casa que eles passavam, os moradores iam acompanhando o pequeno grupo, que crescia sempre. Percebendo o movimento, eles olharam para trás e perceberam, com emoção, que agora todas as pessoas do bairro os acompanham e cantavam junto com eles. A alegria, o entendimento e a fraternidade haviam dominado os corações de todos, graças àquelas crianças.

Como a noite avançasse, sorridentes e felizes, os moradores resolveram fazer uma grande festa no meio da rua.

Em pouco tempo, trouxeram mesas, cadeiras, toalhas e enfeites natalinos. Cada um colaborou com os pratos que havia preparado em casa para a sua ceia, e, juntando tudo, uma linda festa surgiu!

Pessoas necessitadas, moradores de rua, se aproximaram, encantados, e também participaram, tornando-se a grande festa realmente uma comemoração digna do Aniversário de Jesus.

Vibrações de paz, amor e fraternidade envolveram a todos. Vizinhos que estavam brigados fizeram as pazes. Pessoas que não se conheciam, começaram a conversar e se tornaram amigas, aumentando os elos afetivos.

Estavam todos satisfeitos e abraçaram Carla, Vera e Raul, agradecendo-lhes pela excelente ideia.

Pela primeira vez na vida, sentiam-se mais perto de Jesus, comemorando a Festa de Natal como se o Divino Aniversariante estivesse ali presente!

FELIZ NATAL!

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.