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terça-feira, 15 de março de 2022

A Visita

Sílvia morava numa casa confortável, tinha pais amorosos, frequentava uma boa escola e nada lhe faltava.

Filha única, ela se acostumara a ver satisfeitas todas as suas vontades, e jamais aceitava “não” como resposta.

Com o passar dos anos, os pais de Sílvia perceberam como tinham errado na educação da filha. Reconheceram que tinham transformado a menina, agora com oito anos, numa criaturinha egoísta, arrogante, insatisfeita, orgulhosa e exigente. Quando não faziam sua vontade, jogava-se no chão e esperneava, berrando a plenos pulmões.

Após passar por inúmeros vexames, os pais de Sílvia resolveram que era preciso mudar, antes que fosse tarde demais. O que era engraçadinho numa criança de dois anos tornara-se inaceitável numa garota de oito.

Querendo colocá-la diante da realidade, certo dia a mãe lhe disse:

— Venha, minha filha. Vamos sair.

— Oba! Vamos fazer compras? Estou mesmo precisando de um montão de coisas! Quero comprar algumas camisetas, três calças jeans, alguns calçados e também brinquedos. Estou cansada dos que tenho. São velhos e imprestáveis! — considerou a menina, fazendo uma careta.

A mãe, tranquilamente, afirmou:

— Não vamos fazer compras, Sílvia.

— Ah! Não? E aonde vamos, posso saber?

— Vamos fazer uma visita.

— Não quero fazer visita! Quero fazer compras! — respondeu a criança, mal-humorada.

Sem perder a calma, a mãe insistiu:

— Primeiro a visita. Depois, se você se comportar, veremos!

Sem dar maiores explicações, Olinda pegou a filha pela mão e levou-a até o carro. De cara amarrada, a menina olhava pela janela.

O carro deixou as ruas de maior movimento, encaminhando-se para um bairro na periferia. Aonde iriam? — pensou Sílvia.

Estacionaram numa rua muito pobre. As casas eram miseráveis, as pessoas sujas e malvestidas. Nas ruas, não havia calçadas nem asfaltamento. Crianças brincavam na terra, em meio a poças de lama malcheirosa.

Sílvia sentiu nojo. Que lugar horrível!

A mãe parecia não notar tanta sujeira. Caminhava serena, cumprimentando as pessoas com um sorriso amistoso. Diante de uma casa, parou. Bateu na porta e alguém veio abrir. Era uma mulher toda despenteada, rosto sujo e roupas remendadas.

— Bom dia, Maria. Viemos fazer-lhes uma visita.

O semblante da dona da casa iluminou-se ao ver a recém-chegada.

— Dona Olinda! Que prazer tê-la em nossa casa! Entre! Entre!

Sílvia estranhou. Nunca pensou que sua mãe tivesse relacionamento com “essa gentinha”.

Entraram. A moradia era muito pequena. Na sala, que também servia de quarto, Sílvia viu um leito. Aproximou-se, curiosa.

Uma menina, que parecia ter a sua idade, estava deitada.

— Ela está doente? — perguntou surpresa.

— Márcia, quando bebê, esteve muito doente. A partir daí, não saiu mais dessa cama. Não anda, não fala, não enxerga. Só ouve. Tenho que lhe dar comida na boca. Faz as necessidades aí mesmo, por isso não há roupa que chegue. Agora mesmo, já está molhada. Fez xixi e preciso trocá-la.

Sílvia ficou olhando aquela menina que ali estava deitada, sem poder sair do leito, brincar, ir à escola ou passear. Seus olhos se encheram de lágrimas e sentiu o coração inundar-se de compaixão.

Nesse momento, ouviu que sua mãe dizia:

— Maria, trouxe gêneros alimentícios, leite e bolachas; para a Marcinha, roupas e calçados. Além disso, pegue este dinheiro. Não é muito, mas será o suficiente para pagar as contas de água, energia elétrica e comprar gás. Se precisar de mais alguma coisa, me avise. Sei que você é sozinha e não pode trabalhar porque tem que cuidar da Marcinha.

A pobre mulher não cabia em si de felicidade. Com lágrimas nos olhos agradeceu, comovida:

— Dona Olinda, foi Jesus quem mandou a senhora. Deus lhe pague! Nunca há de faltar nada para a senhora e para sua filha.

Despediram-se. Entrando no carro, iniciaram o caminho de volta. Chegando ao centro da cidade, Olinda perguntou:

— Quer fazer compras agora, minha filha?

Sílvia enxugou uma lágrima e balançou a cabeça:

— Não, mamãe. Descobri que não preciso de nada. Já tenho demais.

O resto do trajeto a menina manteve-se calada.

Mais tarde. Sílvia chamou sua mãe no quarto. Duas caixas de papelão se achavam no meio do aposento, abarrotadas de roupas, calçados e brinquedos. Com um sorriso radiante, Sílvia perguntou:

— O que acha, mamãe, de levarmos todas essas coisas para Marcinha? Afinal, não preciso delas. Tenho certeza de que, lá, terão muito mais utilidade. Também tenho alguns livros que pretendo doar. Como ela ouve, pretendo ler para ela.

Olinda abraçou a filha com carinho. A lição fora bem aproveitada. Agora estava certa de que Sílvia jamais voltaria a ser a mesma criança exigente e egoísta.

— Tem toda razão, querida. Hoje mesmo levaremos tudo para a Marcinha. Ela vai adorar!

Autoria: Célia Xavier Camargo – Imagem: Internet Google.
 

terça-feira, 1 de março de 2022

Pagar o Mal Com o Bem

Caminhando apressado rumo à escola, Orlando encontrou um grupo de colegas com quem estava tendo problemas. Sem motivo, desde algum tempo, Pedro tomara-se de antipatia por ele e passara a tratá-lo mal em qualquer lugar onde estivesse.

Por isso, vendo que o grupo se aproximava, Orlando ficou preocupado.

E não deu outra. Passando por ele, Pedro jogou a mochila de Orlando no chão, numa atitude provocadora, e depois se afastou dando uma gargalhada.

Orlando, porém, não reagiu. Com tranquilidade, abaixou-se, apanhou a mochila, e continuou seu trajeto como se nada tivesse acontecido.

Na escola, enquanto a professora escrevia no quadro-negro, Pedro levantou-se de sua carteira e jogou todo o material de Orlando no chão.

Ouvindo o barulho, a professora virou-se. Pedro, já no seu lugar, ria disfarçadamente, acompanhado pelos demais alunos.

— O que houve, Orlando? — perguntou ela ao ver os cadernos e livros espalhados no chão.

Recolhendo o material, o menino desculpou-se:

— Não foi nada, professora. Derrubei sem querer.

E isso se repetia todos os dias. Pedro encontrava sempre novas maneiras de agredir o colega: no jogo de futebol, na escola ou na rua.

Orlando nunca reagia, o que deixava Pedro cada vez mais irritado.

Certo dia, Orlando estava passeando de bicicleta quando viu Pedro e sua turma que vinham em sentido contrário. Tentou se esquivar, mas não teve jeito. Eles o encurralaram de encontro a um muro.

Orlando desceu da bicicleta, enquanto os garotos o cercavam. Pedro aproximou-se com ar ameaçador.

— É agora que eu lhe arrebento a cara, seu pirralho!

E assim dizendo, levantou os punhos cerrados, prontos para espancar o outro. Orlando continuou olhando-o sem dizer nada.

— Vamos, seu covarde! Lute!

Mas Orlando continuou calado, embora lágrimas surgissem em seus olhos.

A turma ria, incentivando Pedro que, cansado de esperar, partiu para cima do menino.

Nisso, um homem que passava viu o que estava acontecendo e correu para socorrer Orlando. O bando, assustado, saiu correndo, mas ainda a tempo de ouvir o homem perguntar:

— Sabe quem são aqueles meninos? Quer que os siga?

Enxugando as lágrimas, o pequeno Orlando respondeu:

— Não. Não foi nada. Eles não fizeram por mal. Deixe-os ir embora, senhor.

Apesar de admirado, o homem respeitou a vontade de Orlando. E, depois de se certificar de que ele estava bem, afastou-se, aconselhando-o a tomar cuidado porque a turma poderia voltar.

Na tarde do dia seguinte, Orlando saíra para fazer uma tarefa e viu Pedro que vinha de bicicleta descendo a rua. Certamente estivera fazendo compras para sua mãe, porque trazia uma sacola presa no guidão.

De súbito, tentando ajeitar melhor a sacola, Pedro não viu um buraco no asfalto. A bicicleta se desequilibrou e ele foi jogado sobre o meio-fio, batendo a cabeça na quina da calçada. Um filete de sangue escorreu pela sua testa. Sentindo muita dor, Pedro gemia.

Orlando aproximou-se, atencioso:

— Você está bem? Quer ir para um hospital? Está ferido e precisa de cuidados.

Surpreso ao ver quem o estava socorrendo, Pedro respondeu meio sem jeito:

— Não foi nada. Foi só um susto.

— Graças a Deus! Quer que o ajude a chegar em casa? — perguntou Orlando, recolhendo os tomates e cenouras que estavam espalhados pelo chão.

Pedro estava perplexo. Não entendia porque Orlando mostrava-se tão bondoso com ele. Pensativo, ficou olhando para o garoto à sua frente. Afinal, não se conteve:

— Orlando, você tem muitos motivos para me detestar. Trato-o muito mal e não perco oportunidade de desafiar, humilhar e diminuir você perante os colegas. Por que está me ajudando?!...

— Porque aprendi que não se deve retribuir o mal com o mal — respondeu o garoto com simplicidade.

Espantado com a resposta do colega, Pedro falou:

— Agora entendo porque nunca aceitou uma provocação. Mas com quem foi que aprendeu essas coisas?

— Com Jesus. A professora da aula de Moral Cristã, do Centro Espírita que frequento, falou sobre esse assunto outro dia. Jesus ensinou que devemos retribuir o mal com o bem. Que se alguém nos bater numa face, devemos apresentar a outra. E, mais do que isso, que devemos amar, não apenas os nossos amigos, mas também os inimigos. É isso.

Calado, Pedro ouviu as explicações de Orlando. Na verdade, naquele momento se deu conta de que nunca havia conversado com ele, e não sabia como era, nem o que pensava. Agora, ouvindo-o, percebeu que Orlando era diferente dos outros colegas, mais consciente e responsável, apesar da pouca idade.

Pedro sentiu, naquele instante, que o rancor e a animosidade tinham desaparecido do seu coração.

— Obrigado! — disse simplesmente, afastando-se.

No domingo, ao chegar ao Centro, Orlando teve uma grata surpresa.

Lá estava Pedro, todo sorridente, embora um pouco encabulado, para também participar da aula de evangelização.

Autoria: Célia Xavier Camargo – Imagem: Internet Google.