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sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

O Brinquedo Avariado

Naquele quarteirão morava uma criança diferente.

Netinho havia nascido com uma deficiência mental e não conseguia pensar ou falar direito. Ficava sentado no portão, quietinho, pois gostava de olhar o movimento da rua e ver as crianças brincarem.

E, porque era diferente, muitas crianças o rejeitavam, maltratando-o, jogando-lhe pedras ou caçoando dele. Agiam assim especialmente os amigos André, Tiago, Pedro e Alfredo.

Às vezes, atingido por uma pedrada, Netinho corria para dentro do portão, chorando. Sua mãe abraçava-o com carinho, olhava os meninos e dizia:

— Por que agem assim com meu filho? Que mal ele lhes fez?!...

Um dia, Dona Júlia, a mãe de Pedro, passando por ali viu o grupo de meninos mexendo com Netinho. Encolhido num canto, com os braços protegendo a cabeça, ele chorava, assustado.

A senhora aproximou-se, cheia de compaixão, abraçou o menino, consolando-o, e levou-o para dentro, entregando-o aos cuidados da mãe.

Depois voltou e, sem qualquer crítica ao comportamento dos garotos, convidou-os para irem tomar um suco em sua casa. Eles aceitaram satisfeitos o convite, muito surpresos por não terem levado a bronca que esperavam.

Enquanto preparava o suco, a mãe de Pedro deu alguns brinquedos para eles se distraírem: um violão, um pequeno toca-fitas, um pianinho, alguns jogos e várias outras coisas.

Quando voltou trazendo os copos de suco, perguntou risonha:

— Como é, estão se divertindo?

Os garotos reclamaram, decepcionados:

— Não dá para brincar! Está tudo quebrado! O violão está sem cordas — afirmou Tiago.

— E o toca-fitas não dá para ouvir música. Está sem as pilhas! — disse André.

— O pianinho está desafinado e faltam algumas teclas! — resmungou Alfredo.

E Pedro, indignado, explodiu:

— É isso mesmo, mamãe! Você sabe que estes brinquedos não funcionam. Os jogos estão faltando peças e o trenzinho elétrico está quebrado... Nada funciona!

Dona Júlia sentou-se e, olhando um por um, concordou:

— É verdade. Vocês têm toda razão. Estes brinquedos não funcionam. Mas, felizmente, são os brinquedos que estão avariados, e não vocês. Devem ser gratos a Deus por isso.

Sem entender direito, os meninos perguntaram:

— Como assim?

Com serenidade, Dona Júlia esclareceu:

— Todos vocês nasceram perfeitos! Não têm qualquer dificuldade para pensar e estudam com facilidade, pois seus cérebros trabalham com perfeição. E seus corpos também funcionam corretamente; seus sentidos não apresentam qualquer avaria: ouvem, falam, sentem e enxergam sem qualquer problema. Vocês têm mãos e pés que se movimentam com facilidade. Isso não é ótimo?

As crianças concordaram, satisfeitas. A mãe de Pedro prosseguiu:

— Já pensaram se um de vocês tivesse nascido cego? Ou sem um braço? Ou sem uma perna, e não pudesse andar?

— Ah! Seria horrível! Nem é bom pensar! — disse um dos meninos.

Dona Júlia concordou, continuando:

— Pois é. Mas existem pessoas que não são tão felizes, como vocês. Nasceram com alguma dificuldade de expressão no corpo ou na mente, como um brinquedo avariado. Vocês conhecem alguém assim?

Os garotos lembraram-se do menino que eles tanto amolavam.

— É o caso do Netinho, não é? — perguntou alguém.

— Exatamente. Netinho nasceu com um problema na cabeça e por isso não pode se expressar como todo mundo. Ele, como espírito, é inteligente como vocês, mas não consegue fazer o “aparelho”, que é o corpo, funcionar direito. Compreenderam?

— Quer dizer que ele entende tudo o que acontece ao seu redor? — indagou Pedro.

— Sem dúvida. Só não consegue fazer com que as outras pessoas saibam disso e sofre muito. Netinho merece todo o nosso respeito e carinho. Se Deus é Pai Justo e Bom, e sabe o que é melhor para nós, e fez com que Netinho nascesse com esse problema, é que esse sofrimento será útil para seu progresso.

Fez uma pausa e concluiu:

— Jesus disse que “deveríamos fazer aos outros, o que gostaríamos que os outros nos fizessem”. Assim, se vocês estivessem no lugar de Netinho, como gostariam de ser tratados?

Os meninos, meditando sobre o que tinham ouvido, ficaram envergonhados, somente agora percebendo como tinham sido injustos com Netinho, cada qual refletindo que poderia ter sido “ele” a nascer com qualquer problema.

No dia seguinte, houve uma grande mudança. Arrependidos, os meninos pediram desculpas a Netinho por tudo o que lhe tinham feito. Passaram a conversar com ele, chamando-o para brincar e aceitando-o como amigo.

Satisfeito e risonho, Netinho participava de tudo, aprendendo as brincadeiras e mostrando que as suas dificuldades não eram tão grandes como pareciam.

Dessa forma, Netinho se tornou um ótimo companheiro para todos eles.

*

A Doutrina Espírita nos fala sobre a responsabilidade dos pais em relação aos filhos, Espíritos que Deus lhes confiou, acreditando na capacidade deles como educadores.

Especialmente a mãe, cuja presença é tão necessária ao filho, tem um papel preponderante no encaminhamento desse espírito, através da orientação ético-moral, constante das lições que Jesus nos legou.

No lar, primeira escola da alma, encontram-se todos os conteúdos imprescindíveis ao crescimento e amadurecimento do filho, especialmente através do exemplo dos pais, preparando-o para, no futuro, ser um cidadão digno e útil à sociedade, sabendo respeitar e amar a seus semelhantes como irmãos.

Às Mães, na passagem do seu dia, as nossas melhores e mais sinceras homenagens.

FELIZ DIA DAS MÃES!

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.
 

quarta-feira, 15 de novembro de 2023

Novo Filho, Novo Irmão!

Carlos estava na pré-adolescência, idade em que a revolta e a irritação eram constantes. Queixava-se de tudo e nunca estava contente com nada. Reclamava da família, da escola, da comida, das roupas, da casa, dos amigos.

Em razão disso, as pessoas começaram a se afastar dele, pois não há quem goste de alguém sempre mal-humorado.

Certo dia, ele estava particularmente desagradável. Havia brigado com sua irmãzinha, quebrado um brinquedo dela de propósito e batido no cachorro.

A mãe o repreendeu com carinho, dizendo:

— Meu filho, para vivermos bem com as pessoas, é preciso que aprendamos a amar e respeitar a todos os que convivem conosco e a tudo o que nos cerca. Todos nós o amamos, mas ninguém é obrigado a aguentar o seu mal humor constante. O que está acontecendo? Você tem tudo e está sempre aborrecido! Deixe de ser tão egoísta. Tem gente que tem bem menos do que você e não reclama. Pense nisso!

Carlos, vermelho de raiva, e mais irritado ainda com as palavras da mãe, afastou-se resmungando:

— Ninguém me entende nessa casa! Tudo é culpa minha!

Atravessou o jardim para sair; ao abrir o portão, parou, vendo um garoto de rua.

Em outra ocasião, ele teria escorraçado o menino. Contra sua vontade, porém, ficara pensativo. As palavras da mãe continuavam a vibrar em seus ouvidos. Sabia que ela tinha razão. Sentia seus amigos distantes, evitando se aproximar dele; a irmãzinha que sempre o estimara, agora o olhava receosa.

— Estou com fome. Tem pão velho? — perguntou o garoto com olhar triste.

As palavras do menino o tocaram fundo. Deve ser duro sentir fome — pensou.

Com o coração mais amolecido, Carlos entrou correndo e voltou em seguida com um copo de leite e um sanduíche que ele mesmo tinha preparado.

Enquanto o menino comia, sentou-se perto dele na calçada, e pôs-se a conversar.

— Meu nome é Carlos. E o seu? — perguntou.

— Pedro.

— E onde você mora, Pedro? — perguntou

— Moro num bairro bem afastado, com umas pessoas que me acolheram. Não tenho família — disse o garotinho, baixando a cabeça, tristonho.

Ao ver Pedro lamentar não ter família, Carlos retrucou, sem pensar:

— Invejo você, Pedro. Ter família é muito chato! Especialmente mãe, que pega muito no pé da gente. Gostaria mesmo é de viver sozinho!

O garoto ergueu a cabeça e Carlos percebeu que seus olhos estavam cheios de lagrimas.

— Você não sabe o que é viver sozinho, Carlos. Não ter uma casa, não ter família, não ter pai, nem mãe; não ter alguém que lhe faça um carinho, que o oriente, até que ralhe com você. Alguém com quem você possa conversar, falar dos seus problemas, das suas dúvidas. Alguém que, quando você estiver doente, lhe dê remédio e fique a seu lado. Você não sabe o que é ser sozinho. Especialmente, sem ter uma mãe.

Carlos percebeu que dera uma mancada, e, constrangido concordou:

— Tem razão, Pedro. Falei sem pensar. Mas, e a família que o acolheu? Não e boa?

— É muito boa. Olha, não conheci meu pai, e quando minha mãe ficou doente e morreu, essa família me socorreu. Então, não quero ser ingrato, devo muito a ela. Apesar de extremamente pobre, me ajudou quando mais precisei. Mas não é a mesma coisa. Sinto falta da “minha mãe”, entende?

— Entendo.

Naquele momento é que Carlos sentiu a importância de ter uma família, de ter uma mãe. Seu coração encheu-se de um sentimento novo que brotava em seu íntimo e do qual ele nunca se dera conta, preocupado consigo mesmo: O AMOR.

Os dois meninos não perceberam é que, ali mesmo, abraçando-os com amor, estava a mãezinha de Pedro, desencarnada.

Na mente de Carlos brotava uma ideia. Uma imensa compaixão por Pedro fez com que ele o convidasse para entrar.

— Venha. Quero que conheça minha mãe.

Entraram. Carlos apresentou Pedro à mãezinha. Ele estava tão diferente, emocionado, que ela percebeu logo que algo tinha acontecido com o filho.

— Seja bem-vindo, Pedro. Mas, o que houve, meu filho?

— Mamãe! Sei que o Dia das Mães se aproxima e costumo dar-lhe um presente. A senhora aceitaria qualquer presente que eu lhe desse?

— Claro, meu filho! Porém, não preciso de presentes. Tenho vocês!

— Mas eu quero dar-lhe um presente, mamãe.

— Seja o que for, aceito com prazer, meu filho.

Aproximando-se de Pedro, que ouvia a conversa sem entender nada, Carlos colocou o braço em seus ombros, e, com os olhos rasos d’água, falou:

— Aceita um novo filho, mamãe? De quebra, terei um outro irmão!

— Mas...e a família de Pedro, meu filho?

Carlos contou à mãe a situação do novo amigo, mas ela, ainda em dúvida, questionou:

— Pedro, e essa família com a qual você mora? São seus amigos! Não ficariam tristes sem você?

Surpreso e encantado com a ideia de Carlos, sem poder nem acreditar nessa felicidade, ele respondeu:

— Não, senhora. São meus amigos sim, gosto muito deles e serei sempre grato. Ajudaram-me numa hora de necessidade, quando minha mãe morreu e fiquei só. Mas acredito que para eles seria um alívio não ter mais uma boca para alimentar. Sabe como é, a vida está tão difícil!...

— E você gostaria de vir morar conosco? Bem, parece que Carlinhos não pediu sua opinião e precisamos saber o que você realmente deseja!

O menino sorriu, emocionado:

— Eu ficaria muito feliz de ter uma nova família!

Também comovida com a situação de Pedro, a mãe não teve mais dúvidas. Correu para eles, abraçando-os, emocionada dizendo ao filho:

— Carlos, seu pai e eu sempre quisemos adotar mais um filho, porém tínhamos medo da sua reação. Seu pai e sua irmãzinha também ficarão muito felizes.

Depois, dirigindo-se a Pedro, completou:

— Seja bem-vindo, meu filho, ao seu novo lar.

E naquele dia, a alegria voltou àquela casa, com as bênçãos de Deus.

Carlos tornou-se um rapazinho mais compreensivo, bem-humorado e feliz, porque deixara de pensar apenas em si mesmo, estendendo amor a outro mais necessitado.

Alguns dias depois, reunidos para almoçar, a família atual e aquela que ajudara Pedro, comemoraram o Dia das Mães em conjunto, como se todos fossem parte de uma única família.

Ali, junto deles, radiante de alegria estava a mãezinha de Pedro, que envolveu a todos com infinito amor e gratidão.

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.
 

quarta-feira, 1 de novembro de 2023

Mãos Unidas

A família reunida em torno de uma mesa fazia o Evangelho no Lar.

O tema da noite era a Caridade e, após a leitura do texto evangélico, cada um fez seu comentário. A pequena Sônia, de cinco anos, falou:

— Papai, eu vi na televisão que o Natal está chegando e as lojas estão cheias de brinquedos!

— Sim, minha filha. Mas essa é uma deturpação da ideia do Natal, que deveria ser dedicado a Jesus, cujo nascimento comemoramos no dia 25 de dezembro — esclareceu Antônio.

Orlando, de oito anos, lembrou:

— Além disso, tem muita gente que não pode comprar presentes. Vi outro dia no jornal que, em virtude de uma grande chuva numa região, muitas famílias perderam tudo e estão desabrigadas.

A mãe, dona Clara, disse cheia de piedade:

— Tem razão, meu filho. Ao lado dos felizes do mundo, também há muito sofrimento e dor que nos compete amenizar. Aqui mesmo, em nossa cidade, existem bairros muito pobres onde as pessoas não têm o que comer, e muito menos terão condições de pensar em comprar presentes no Natal.

O mais velho, Ricardo, de 12 anos, que estava bastante pensativo, propôs:

— A lição de hoje é sobre a Caridade, lembrando-nos que precisamos dividir o que possuímos, ajudando os mais necessitados. Que tal se partíssemos para a ação, fazendo alguma coisa?

Satisfeitos por ver que a semente do evangelho germinava, os pais concordaram:

— Muito bem lembrado, Ricardo. O que vocês sugerem?

— Eu dou minhas roupas velhas e alguns brinquedos! — exclamou Soninha.

— Eu também vou separar algumas roupas e brinquedos. Além disso, tenho sapatos e tênis que não me servem mais — disse Orlando.

— Ótimo! — afirmou Ricardo que, por ser o mais velho, parecia o chefe da pequena equipe. — Mas isso não basta. É pouco. Precisamos pedir ajuda para todas as pessoas conhecidas: vizinhos, parentes, amigos, colegas de classe, professores.

Os demais concordaram animados, batendo palmas.

Das palavras passaram à ação e, em poucos dias, as doações começaram a chegar: eram gêneros alimentícios, roupas, calçados, brinquedos, remédios, livros e até alguns utensílios domésticos e móveis.

Os pais levaram as crianças para conhecer os bairros mais pobres da periferia e eles voltaram sensibilizados, chegando à conclusão de que precisavam de mais auxílio, pois a quantidade de necessitados era enorme.

Ricardo foi à emissora de rádio local e transmitiram-se pedido de ajuda para a “Campanha Mãos Unidas”, como passaram a chamar, e a resposta não tardou.

Choveram donativos de todos os lados, do campo e da cidade, dos bairros mais ricos e até dos pobres. Todos queriam colaborar.

No dia de Natal, encerrando a “Campanha Mãos Unidas”, puseram tudo num caminhão e foram levar o resultado obtido para as famílias carentes.

Uma grande quantidade de pessoas que haviam colaborado os acompanhou e todos estavam muito felizes. Cada um ajudou como pôde, até se vestindo de palhaço para distribuir balas e alegrar a criançada.

Foi uma grande festa. No encerramento, Antônio fez uma prece, agradecendo a Deus em nome de todos, pelas bênçãos desse dia, no que foi acompanhado por uma multidão de pessoas de todos os credos religiosos.

Todos retornaram para seus lares cheios de felicidade e bem-estar, especialmente a família de Antônio, pois não fosse o empenho das três crianças, não teriam este ano um Natal realmente diferente e dedicado a Jesus e aos menos afortunados.

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.
 

domingo, 15 de outubro de 2023

A Bola Colorida

Brincando no quintal, Susana, de seis anos, viu seu amigo Érico do outro lado da cerca.

Feliz por ver o vizinho, ela o chamou:

– Érico, venha brincar comigo! Acabo de ganhar uma linda bola colorida!

Com os olhos brilhantes de animação, o pequeno pulou a cerca baixa, indo ao encontro da amiguinha.

Susana segurava a bola com as mãos e o menino ficou encantado.

Era realmente uma bola de plástico de belo colorido, que chamaria a atenção de qualquer criança.

Puseram-se a brincar no gramado.

Érico tinha um cão. Um vira-lata caramelo e branco, vivo e inteligente, que gostava de brincar e de passear com eles.

De repente Bob, cachorro de Érico viu os dois brincando e não teve dúvida. Passou por um buraco na cerca e, latindo alegremente, avançou, querendo participar da brincadeira. Em disparada, pulou sobre a bola e suas garras afiadas a alcançaram no ar. Para espanto das crianças e do próprio cão, que não sabia o que estava acontecendo, a linda bola colorida caiu na grama, murcha, vazia, rasgada, enquanto o cachorro gania, frustrado.

Susana, surpresa, não queria acreditar no que estava vendo. Num momento, a bola estava no ar, cheia e linda; no momento seguinte, era um trapo qualquer, vazio e sem graça.

Revoltada por ter perdido o brinquedo novo, começou a chorar, acusando Érico pelo acidente:

– Buááá!... Está vendo o que você fez?

– Não tive culpa, Susana. Desculpe-me. Foi o Bob que quis brincar conosco. Coitado! Ele também não teve intenção de estragar sua bola. Veja como está triste!

– Não interessa. O cachorro é seu e, portanto, a culpa é sua. Quem mandou deixá-lo entrar no meu quintal? A partir de agora você não é mais meu amigo. Vá embora!

O menino e o cachorro estavam desolados. Érico tentou explicar, mas Susana não o deixou falar. Apesar das lágrimas do garoto e dos uivos do cão, a menina não reconsiderou sua atitude.

Virou-lhe as costas e entrou em casa muito zangada, enquanto Érico e o cachorro ficavam parados, tristes.

Susana, cheia de indignação, contou para a mãe o que tinha acontecido, pedindo-lhe que tomasse uma atitude contra o vizinho.

A senhora, serena, considerou:

– Minha filha, entendo que você esteja lamentando a perda da sua bola. Contudo, é só um brinquedo, e, pelo que entendi, a culpa não foi de ninguém. Seu pai lhe comprará outra, fique tranquila.

– Não quero! Quero aquela bola! Nunca mais falo com Érico. Nunca mais quero vê-lo!

A mãezinha calou-se, compreendendo que não adiantaria falar mais nada naquela hora.

Os dias se passaram. Susana, da janela da cozinha, via Érico encostado na cerca, tristinho de fazer dó. Porém não amolecia o coração.

Certo dia, uma semana depois, a mãe lhe disse:

– Minha filha, vejo que você anda meio chateada, não brinca mais...

– Não tenho vontade, mamãe. Sozinha não tem graça.

– Chame o Érico. Ele está lá do outro lado da cerca – sugeriu.

– Não. Não quero.

– Ele não é seu melhor amigo? Vocês sempre se deram tão bem!

– Era! Agora não é mais.

A mãe pensou um pouco, chamou a filha, sentou-a no colo com carinho, e considerou:

– Minha filha, amizade é um tesouro de valor incalculável. E você está perdendo esse tesouro por uma colorida bola de plástico, frágil, que estragou na primeira brincadeira? Pense bem! Bola igual àquela você encontra em qualquer loja, mas uma amizade valiosa, não.

Susana ficou pensativa por alguns instantes. Depois, decidiu-se.

Abriu a porta e voou para o quintal. Aproximou-se da cerca, convidando:

– Vamos brincar?

O garoto, meio sem jeito, perguntou:

– Não está mais zangada comigo? Afinal, por minha culpa perdeu sua bola nova. Mas, não se preocupe. Falei com minha mãe e ela vai lhe comprar outra.

Susana sorriu, já esquecida do incidente:

– Isso não tem importância. Sua amizade vale muito mais!

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.
 

domingo, 1 de outubro de 2023

Lágrimas de Arrependimento

Ciro gostava muito de brincar no quintal de sua casa. À sombra acolhedora de uma grande árvore, ele passava horas, distraído com seus brinquedos.

Era um lugar fresco e agradável, onde a luz do sol filtrava-se suavemente, e onde, muitas vezes, ele até adormecia com a cabeça apoiada em suas raízes possantes, cansado de brincar.

A árvore era uma linda mangueira e dava frutos saborosos, que Ciro colhia com as próprias mãos ao sentir fome.

Apesar de tudo isso, Ciro era um menino cheio de vontades, e certo dia começou a implicar com a árvore, desejando cortá-la.

Chegando até sua mãe, ele disse:

— Mãe, eu quero que a senhora mande cortar a mangueira.

Surpresa, a mãe retrucou:

— Por que, meu filho? Você sempre gostou tanto dela!

Batendo o pé no chão o garoto respondeu:

— Não gosto mais, ora essa. Ela toma muito espaço, faz muita sombra e está atrapalhando no quintal.

Espantada, a senhora considerou:

— Pense bem, meu filho. As árvores devem ser preservadas, pois são muito úteis e levam anos para crescer e produzir. Essa nossa mangueira dá mangas deliciosas e em seus galhos acolhedores os pássaros fazem seus ninhos, e...

— Não adianta, minha mãe! — interrompeu-a o garoto caprichoso. — Quero que a ponha abaixo.

Quando o pai chegou, após o serviço, foi informado da exigência do filho.

Novo diálogo se estabeleceu tentando fazê-lo desistir da ideia. Tudo em vão. Não valeram conselhos e ponderações, argumentos e reprimendas. Ciro estava irredutível.

Tanto ele gritou, chorou e reclamou que seus pais, apesar de considerarem um absurdo o seu desejo, resolveram fazer-lhe a vontade.

Afinal, era filho único! E o que é que ele pedia que os pais não lhe davam?

No dia seguinte, o pai mandou cortar a bela árvore com o coração amargurado.

Ciro estava feliz. A cada golpe desfechado no tronco ele sorria. Afinal, o homem deu por terminado o serviço. Da bela mangueira só restara um toco.

Ciro deu-se por satisfeito e foi brincar.

Contudo, o sol muito forte doía-lhe os olhos e o calor era excessivo. Em poucos minutos estava cansado e todo cheio de suor. Resolveu entrar.

A mãe, que o observava de longe, perguntou:

— Não vai brincar mais, Ciro?

Desapontado, o garoto respondeu:

— Estou cansado. O sol está muito quente hoje.

— Quer comer alguma coisa? — tornou a mãe, carinhosa.

— Sim, mamãe. Gostaria de chupar uma manga.

— Ah, meu filho, não temos mais mangas. Esqueceu que a mangueira foi destruída? As últimas que sobraram dei para o jardineiro levar!

Despeitado, Ciro sentou-se nos degraus da porta da cozinha, olhando o quintal que lhe parecia tão estranhamente vazio agora.

Observou muitos passarinhos que pareciam voar a esmo, sem lugar para ficar.

Ciro lembrou-se que tinha visto, nos galhos derrubados, vários ninhos e compreendeu que aqueles pássaros haviam perdido suas casinhas. Também notou que estavam famintos, procurando migalhas no chão para comer.

Com o passar dos dias, Ciro foi ficando cada vez mais arrependido da decisão que tomara.

Não brincava mais no quintal. Tudo ficara sem graça, não tinha mais árvore para subir, o sol era inclemente e queimava tudo.

Suspirando, um dia aproximou-se do toco, agora escuro e ressequido e, abraçando o que sobrara da mangueira, deu vazão à sua tristeza. Em lágrimas, ele começou a dizer.

— Estou muito arrependido, minha amiga. Você não sabe a falta que me faz. Não sabia que você era tão importante para nós e agora nada mais tem graça. Não tenho mais sombra para brincar e o sol me queima. Os passarinhos ficaram sem saber o que fazer, como eu, e foram embora, em busca de outros galhos acolhedores. Ah! Se eu pudesse voltar atrás! Agora compreendo porque dizem que é preciso cuidar da ecologia, preservando as árvores. Sem vocês, tudo fica árido e feio...

Ciro chorou... chorou muito, abraçado aos restos da sua velha companheira.

Suas lágrimas de arrependimento, contudo, umedeceram o tronco ressequido e, alguns dias depois, ao aproximar-se dele, Ciro teve uma grande surpresa.

Do meio do tronco, brotos frágeis e verdinhos surgiam como esperança de uma nova vida em seu âmago.

Cheio de alegria, Ciro percebeu que o milagre da vida se repetia, e que a árvore voltaria a crescer, com a bênção de Deus!

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.
 

sexta-feira, 15 de setembro de 2023

O Medo

Glorinha saiu de casa para ir à escola como fazia todos os dias. E aquele parecia ser um dia como todos os outros. Mas não era.

No trajeto, Glorinha percebeu que alguma coisa estava acontecendo. Nas ruas, as pessoas estavam agitadas, falavam alto e pareciam atemorizadas.

Intrigada, a menina desejou saber qual a novidade. Ao passar diante da banca de jornais, viu duas mulheres conversando e, curiosa, parou para escutar. Uma dizia à outra:

— Já se viu uma coisa dessas? Agora toda a cidade está em perigo!

— Mas, como foi que ele escapou? — perguntava a outra.

— Sei lá! Com certeza algum descuidado deixou aberta a porta da jaula e ele...zás! Fugiu!

Quem teria fugido? Glorinha resolveu perguntar ao dono da banca, um velhinho muito simpático com quem sempre conversava.

— Seu Antônio, “quem” foi que fugiu?

O velhinho arregalou os olhos, levantou as sobrancelhas e, ajeitando os óculos na ponta do nariz, informou:

— Você não sabe, Glorinha? Pois foi um leão! Escapou do circo que chegou ontem na cidade.

— Ah! Um leão?!... E ele é grande? — quis saber a menina.

— Se é grande? Dizem que é enorme! E muito feroz também. Tenha cuidado ao andar pela cidade.

Agradecendo o conselho, Glorinha continuou seu caminho. Agora, informada do que estava acontecendo, entendia melhor as conversas que ouvia de passagem.

Encontrou dois homens e um deles dizia:

— Olha, mandei minha mulher trancar toda a casa e não permitir que nossos filhos saiam para a rua. Os meninos não irão às aulas enquanto a fera não tiver sido capturada.

E o outro concordava plenamente:

— Tem toda razão. Certa vez ouvi contar que um animal escapou de um circo e feriu duas pessoas. Não podemos facilitar. Olha, já preparei até minha espingarda. Se o bicho aparecer, prego fogo!

Cada vez mais assustada, Glorinha chegou à escola. Ali os comentários eram os mesmos: giravam em torno do terrível leão que escapara do circo.

Preocupadas, as mães pediam às professoras que tomassem todo o cuidado com seus filhos. Outras eram de opinião que o melhor seria fechar a escola, dispensando os alunos das aulas naquele dia, ou até que fosse solucionado o problema.

As crianças estavam apavoradas e ouviam-se gritos e choros por toda parte. Enfim, o ambiente estava um verdadeiro caos!

A professora de Glorinha, moça tranquila e de bom-senso, reunindo os alunos na classe considerou, serena:

— O melhor que nós temos a fazer é manter a calma. A confusão apenas complica e o medo tem terrível poder sobre as pessoas, impedindo que se possa analisar e julgar com acerto. Não se preocupem. Fiquem tranquilos que nada nos acontecerá. Estamos seguros neste prédio e, em qualquer circunstância, devemos confiar em Deus, que nunca nos desampara. Além disso, nem sabemos se tudo isso é verdade!

Vendo que os alunos estavam mais calmos, a professora pediu que abrissem o livro, informando:

— Vamos à lição do dia.

Após as aulas, ao sair da escola Glorinha notou que a situação estava pior ainda. Agora, a confusão era geral. Carros da polícia percorriam as ruas da cidade orientando as pessoas para que permanecessem em suas casas. O corpo de bombeiros fora acionado e grupos de cidadãos, armados, procuravam pistas do terrível animal em todos os lugares da cidade e nos arredores, em defesa da população.

Chegando em casa, Glorinha encontrou a mãe toda apavorada, tremendo de medo.

— Graças a Deus você chegou, minha filha. Ocupada com o serviço doméstico, somente agora liguei o rádio e ouvi a notícia. Você está bem? O leão não te ameaçou?

Glorinha, lembrando o que a professora tinha dito, falou:

— Mamãe! Claro que estou bem! Além disso, minha professora disse que é importante manter a calma e confiar em Deus. Nada devemos temer.

Como se fosse uma confirmação daquelas palavras, de repente elas ouviram um miado estranho na porta da cozinha. Pensando que era o gato da vizinha, Glorinha correu a abrir a porta, que a mãe havia trancado.

Com surpresa, encontrou escondido num canto da escada uma coisa fofa e peluda que miava cheia de medo. Chegando mais perto, a menina reconheceu, naquele bichinho inofensivo, trêmulo e faminto, um filhote de leão.

Pegando-o no colo, chamou a mãe e exclamou:

— Veja mamãe! Aqui está o terrível e feroz leão que faz a cidade toda tremer! Parece que ele está mais assustado do que nós!

Dando uma sonora risada, completou satisfeita e aliviada:

— O que o medo pode fazer com as pessoas!

Em pouco tempo, a casa de Glorinha estava repleta de gente que viera ver o filhote de leão. A polícia, a imprensa, os bombeiros, os vizinhos, populares curiosos e até o prefeito municipal, todos queriam ver de perto o animalzinho. E, ao vê-lo, sentiam uma enorme vergonha do alarido todo que fora feito em torno do fato.

Chegou o dono do circo, constrangido, e o prefeito exigiu uma explicação:

— Por que não esclareceu que o animal que fugiu do seu circo era um pequeno e inofensivo filhote de leão?

Coçando a barba, o astuto proprietário justificou-se:

— Bem, achei que era uma excelente propaganda para o meu circo. Pelo menos, a cidade inteira ficou sabendo que chegamos, não é?

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.
 

sexta-feira, 1 de setembro de 2023

O Salvamento

O dia estava lindo. Um sol radioso brilhava no céu sem nuvens.

Bruno resolveu ir à praia brincar e jogar bola com uns amigos.

Duas horas depois, cansados da brincadeira, os garotos pararam para descansar um pouco.

De repente, Bruno olhou para o mar e viu alguém que parecia estar em dificuldades.

— Socorro! Socorro! Acudam! — gritava o rapazinho.

— É o Zeca! — disse alguém — Conheço aquele rapaz.

Naquela praia não havia guarda-vidas. Bruno, apavorado, olhou para todos os lados, esperando que alguém se jogasse na água para salvar o garoto.

Todavia, os adultos que ali estavam não tomavam nenhuma atitude. Ficaram assustados e sem ação, apenas olhando fixo para o menino que gritava por socorro.

Bruno sentiu que precisava fazer alguma coisa. Era preciso salvar aquele rapazinho, de qualquer jeito.

Ele sabia nadar um pouco, porém não tinha muito fôlego e também não ignorava que para retirar de dentro da água alguém que estava se afogando, era preciso muita força e destreza, caso contrário correria o risco de também morrer afogado.

Mas alguém tinha que fazer alguma coisa. Pesando os prós e os contras, resolveu arriscar, pensando:

— Eu confio em Deus. Ele vai me ajudar!

Jogou-se na água, nadando rápido contra as ondas, indo ao encontro do Zeca.

Estava já cansado, quando, ao olhar para trás, viu que diversos homens igualmente haviam se jogado na água para tentar salvar o garoto e, rapidamente, o estavam alcançando.

Mais tranquilo Bruno diminuiu o ritmo das braçadas, e foi com imenso alívio que viu os homens passarem por ele, aproximando-se do rapazinho em dificuldades.

Dentro em pouco, a turma do salvamento chegou à praia trazendo o menino, desacordado.

Após os primeiros-socorros, o garoto voltou a si, começando a respirar novamente e jogando para fora a água que havia engolido.

Foi uma alegria geral! Todos estavam muito felizes e agradecidos a Deus por terem salvo uma vida.

Recuperado, Zeca agradeceu a seus salvadores:

— Muito obrigado. Se não fosse a coragem de vocês, eu teria morrido.

Um dos homens respondeu, envergonhado:

— Não agradeça a nós, garoto. O corajoso realmente foi esse menino aqui, o Bruno, que, sem pensar na sua própria segurança e nos riscos que corria, jogou-se no mar para salvar você.

Zeca olhou para Bruno com os olhos cheios de lágrimas:

— Bruno, você é incrível! Nem sei como lhe agradecer. Mas, diga-me, você acha que conseguiria me salvar? Sou bem maior do que você e iria dar trabalho! Como você iria me carregar?

Bruno coçou a cabeça, deu um sorrisinho e respondeu:

— Na verdade não sei, Zeca. Porém, tinha muita confiança em Jesus e a esperança de que outras pessoas também seguissem meu gesto e se jogassem na água. Foi o que aconteceu, graças a Deus!

Os demais estavam emocionados diante do gesto corajoso de Bruno. O menino se sacrificara para dar o exemplo a todos os que estavam apenas observando, sem ação.

E, com o amparo de Deus e a coragem de Bruno, uma vida fora salva.

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.
 

terça-feira, 15 de agosto de 2023

O Recém Nascido

Em certa região bem distante, morava um homem muito pobrezinho. Um dia, andando pela mata à procura de lenha para vender, à margem do caminho encontrou uma cesta e, dentro dela, viu uma criança.

Ouviu o choro fraco do recém-nascido, que estava cuidadosamente embrulhado numa manta e, cheio de compaixão, pegou o pequenino aconchegando-o ao peito.

De coração generoso, imediatamente resolveu levá-lo para casa. Preocupava-o, porém, a pobreza extrema em que vivia. Como cuidar do bebê, prover-lhe as necessidades, ele, a quem muitas vezes faltava o que comer? Quem sabe alguém com mais recursos, que passasse por aquela estrada, poderia ficar com ele e dar-lhe uma vida melhor?

Contudo, ouvindo os vagidos da criança que o fitava com olhinhos vivos, comentou alto:

— Não posso abandoná-la aqui exposta aos perigos. Deus vai me ajudar! Além disso, sempre quis ter um filho. Melhor dividir com esta criança a minha pobreza do que deixá-la entregue a destino incerto.

Como se entendesse a decisão que o lenhador tomara, o recém-nascido se aquietou e dormiu tranquilo.

Chegando em casa, o homem abriu a porta e disse:

— Mulher, veja o que eu trouxe!

A esposa, curiosa, aproximou-se e abriu o embrulho que o marido trazia nos braços. O recém-nascido dormia serenamente, e seu coração se enterneceu. Cheia de alegria, exclamou:

— O filho que sempre quisemos ter! Deus ouviu nossas preces!

Ao mesmo tempo, consciente da miséria em que vivia, indagou, aflita:

— Mas, como vamos cuidar do bebê, João? Não temos comida nem para nós! E uma criança precisa de cuidados especiais!

Confiante, o marido respondeu:

— Não se aflija, Ana. Se o Senhor nos mandou este bebê, certamente nos dará os meios para sustentá-lo.

Era um menino e deram-lhe o nome de Benvindo.

A partir desse dia, tudo mudou. A casa, antes triste e sem vida, tornou-se alegre e cheia de risos.

João, mais estimulado ao trabalho, agora não se limitava a procurar lenha no mato para vender. Buscava outras fontes de renda.

Sabendo da criança, um sitiante das redondezas vendeu-lhe uma cabra por preço módico que João poderia pagar como pudesse. Assim estava garantido o leite do bebê.

A vida estava mudando. Mas isso não bastava. O que mais poderia fazer?

João, na soleira da porta da casa, olhava o terreno que se estendia à sua frente e pensou que poderia cultivá-lo. Assim, teriam verduras, legumes e talvez algumas frutas.

Não pensou duas vezes. O homem que lhe vendera a cabra arrumou-lhe também sementes e mudas diversas, satisfeito por vê-lo interessado no trabalho.

João pegou o machado e derrubou algumas árvores, limpando o terreno. Depois, fez canteiros e jogou as sementes no solo. Plantou as mudas e cuidou delas com muito amor.

Logo, tudo estava diferente. À medida que Benvindo crescia, forte e saudável, as plantas igualmente se desenvolviam na terra fértil.

Dentro de pouco tempo, no terreno, antes inculto e abandonado, os legumes e as verduras surgiam, encantando a vista e trazendo fartura. As árvores frutíferas logo começaram a produzir: agora tinham bananas, laranjas, maçãs, mangas e limões à vontade. Como a produção fosse grande, além de terem alimentos, João passou a vender as frutas, os legumes e as verduras excedentes.

Com o coração alegre pelas novas funções como mãe, transformando sua casa num lar, Ana passou a cuidar com mais carinho da moradia, a exemplo do marido, plantando um jardim e cultivando flores que enfeitavam e perfumavam o ambiente.

Benvindo crescia aprendendo a trabalhar com o pai. Era um menino vivo e inteligente. Ainda pequeno, João contou a ele como o encontrara abandonado e da satisfação de trazê-lo para casa, afirmando sempre:

— Você é nosso filho muito querido. Foi Deus quem o mandou para nós.

O tempo passou. Benvindo começou a frequentar a escola, na aldeia. João e Ana faziam questão absoluta que o filho não fosse um analfabeto, como eles.

Mas, apesar de se considerarem ignorantes, souberam dar ao menino noções realmente importantes para sua vida, como amor a Deus e ao Evangelho de Jesus. E ele cresceu sabendo valorizar a honestidade, o trabalho, o respeito ao próximo, o perdão das ofensas e, acima de tudo, o bem.

Já moço, Benvindo foi morar numa cidade grande para continuar os estudos. Terminando o curso, com grande satisfação dos pais, ele retornou para casa e disse, emocionado:

— Papai, não sei como agradecer tudo o que fizeram por mim. Criança abandonada, poderia ter morrido de fome e de frio, mas graças a sua bondade, vim para esta casa como filho que tanto tenho recebido de ambos. Tudo o que sou hoje devo a vocês. Muito obrigado!

Enxugando as lágrimas, Benvindo fitou o pai, já velhinho e encarquilhado, abraçando-o com profundo amor.

Comovido, João pegou o filho pela mão e levou-o para fora de casa, onde se descortinava lindo panorama: bem próximo, o jardim cheio de flores coloridas e perfumadas; um pouco mais além, do lado esquerdo, as árvores do pomar, carregadas de frutos. Do lado direito, a perder de vista, a horta, onde as verduras e legumes produziam fartamente.

— Está vendo tudo isso, meu filho?

— Sim, meu pai. É uma imagem que não me canso de admirar. Como é bonita a nossa propriedade!

— Pois bem. Nada disso existia antes de você vir para cá. Eu e sua mãe, envelhecidos e cansados da vida, não tínhamos disposição para lutar. Passamos até fome.

Fez uma pausa, limpou uma lágrima, e prosseguiu:

— Quando você chegou, meu filho, encheu-nos de esperança e de novo ânimo. Precisávamos alimentá-lo, vesti-lo, cuidá-lo. Para isso, tive que trabalhar muito. Mas o resultado aí está.

Abraçando o filho com imenso carinho e justo orgulho, apontou as terras cultivadas:

— Assim, devemos tudo isso a você! E devo mais ainda. Devo a você, meu filho, a oportunidade e a bênção de ser chamado de PAI!

A mãe, que chorava comovida, aproximou-se também e permaneceram abraçados por longo tempo.

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.
 

terça-feira, 1 de agosto de 2023

A Sementinha

Beto estava muito triste. Seu cão ficou doente e, apesar de todos os cuidados, morreu em seus braços sem que ele nada pudesse fazer para impedir.

Já havia se passado uma semana, mas Beto continuava inconsolável. Não se conformava com a morte do cãozinho Vira.

Lembrava, com saudade, do dia em que encontrara Vira, ainda um filhote, perdido na rua perto de sua casa. Tinha aspecto de cão abandonado. Seu pelo era ralo e feio, estava muito magro e gania de fazer dó. Tinha fome, certamente.

Apesar da feiura, Beto sentiu imediata simpatia por ele. Tomou-o no colo e, quando o cãozinho lambeu seu rosto, já estava decidido a levá-lo para casa.

Recebeu o apelido de Vira, de tanto os familiares caçoarem do pobre e feio filhote, dizendo que ele era um legítimo exemplar da raça dos Vira-latas. Assim, apesar do nome que Beto lhe dera, Rex, passou a ser chamado carinhosamente de Vira.

Desde esse dia, tornaram-se inseparáveis. Só não estavam juntos quando Beto ia para a escola e durante a noite, pois a mãe proibira, terminantemente, que o animalzinho dormisse no quarto, como era desejo do menino.

O resto do dia eles divertiam-se a valer: brincavam de bola, apostavam corridas, passeavam na calçada, ou, simplesmente, rolavam na grama.

Vira transformara-se num belo cachorro. Limpo e bem cuidado, em nada lembrava o filhote magro e feio que Beto encontrou um dia.

Mas agora Vira estava morto. Beto sentia muita falta da sua companhia e vivia a chorar pelos cantos. A mãe não sabia mais o que fazer para alegrá-lo.

Um dia, ela teve uma ideia. Apanhou uma semente de flor e disse:

— Meu filho, quer ajudar-me a plantar esta semente?

Apesar de não ter vontade nenhuma, Beto aceitou, apenas para agradá-la.

Dirigiram-se para o jardim e a mãe foi explicando como o serviço deveria ser feito:

— Primeiro você fará um buraco no solo. Depois depositará a semente na cova e cobrirá com um pouco de terra. Esta semente, meu filho, lançada ao solo, irá morrer e, depois de algum tempo, germinará.

O menino, que ainda era pequeno, não entendeu direito e perguntou:

— Como assim?!...

— Bem, meu filho, tudo o que existe na face da Terra, e que tem vida, precisa morrer para nascer de novo, isto é, voltar a viver. Como isso acontece, só Deus, que é a Suprema Sabedoria e o Criador de tudo o que existe, o sabe. Mas assim acontece com as plantas, com os animais e com as pessoas, para que todos evoluam, tornando-se cada vez melhores!

Beto ouviu muito sério e compenetrado. Em seguida, indagou:

— Isso vai acontecer também com o Vira?!...

— Sem dúvida! Só que a sementinha dele, que é o espírito, renascerá de uma outra mãe, em outro local.

— Ah!... E eu poderei reconhecê-lo?

— Quem sabe? Se nascer aqui por perto, isso é possível! Ele poderá apresentar o mesmo jeitinho, as mesmas manias, as mesmas tendências.

— Então, se algum dia eu reencontrar o Vira, vou reconhecê-lo, mamãe, e tenho certeza de que ele também vai se lembrar de mim.

Beto calou-se, mas a mãe percebeu que, ao deixarem o jardim, ele já estava diferente, menos triste e bem mais animado.

A partir desse dia, Beto cuidou com muito carinho da sementinha que tinha lançado a terra. Cercava-a de atenções, não deixando faltar água. Ele passava horas sentado no chão, ali perto, pedindo a Jesus que permitisse à semente germinar, enquanto observava cuidadosamente o local onde a depositara.

Até que, alguns dias depois, cheio de alegria e entusiasmo ele correu para a mãe, agitando os braços e gritando:

— Ela brotou, mamãe! Ela brotou! A sementinha está viva de novo! Viva!...

A mãezinha deixou os afazeres domésticos e foi até o jardim. Os olhos do menino estavam brilhantes de emoção, e ela percebeu como tudo aquilo era importante para seu filho.

Envolveu-o carinhosamente num abraço, afirmando:

— Você cuidou muito bem da semente que lhe confiei, meu filho, e Deus atendeu às suas preces. Parabéns!

Desse dia em diante, acompanhando o desenvolvimento da plantinha, Beto enchia-se cada vez mais de esperança, de confiança e de gratidão a Deus, Supremo Doador da Vida.

Logo, a plantinha cobriu-se de lindas e perfumadas flores, que Beto não se cansava de admirar e mostrar para as outras pessoas, cheio de justa satisfação, dizendo:

— Fui eu que plantei!

Agora, a ideia da morte não lhe causava mais tristeza ou medo. Ao contrário, sentia-se tranquilo e confiante, compreendendo que a morte era apenas uma etapa natural na vida de todos os seres da Criação, que morreriam e voltariam a nascer, muitas e muitas vezes, para atingir o sublime objetivo da evolução.

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.