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quinta-feira, 15 de abril de 2021

O Crente Desapontado

Havia um homem que possuía uma pequena área de terra, mas de solo fértil e dadivoso.

Dono de profunda e invejável fé, o nosso homem não se cansava de louvar a Deus por toda a criação e pelas dádivas da natureza, sempre tão pródiga.

O terreno vizinho era habitado por um homem muito pobre, mas muito trabalhador. Ele nada possuía, mas trabalhava tanto que nem sequer tinha tempo de pensar em Deus. Acreditava no seu esforço pessoal e em tudo aquilo que seus braços podiam realizar.

E, assim pensando, desde o alvorecer até o poente, lá estava ele, arroteando o terreno, adubando, plantando e arrancando as ervas daninhas que se misturavam à boa semente.

O outro criticava-o pela falta de religião e dizia-lhe:

– Não sei como pode deixar de louvar a Deus! Veja a beleza do céu com seus astros, a pujança da natureza que nos concede suas dádivas! Agradeço a Deus todos os dias e peço a Ele que me ajude porque sei que não deixará de ouvir minhas preces.

O incrédulo sorria, concordava com a cabeça e pedia licença, retirando-se:

– Agora não tenho tempo. O sol já está se pondo e preciso regar minha horta e dar milho para as galinhas.

E o crente ali ficava, condoído da falta de fé do vizinho e sentado sob uma árvore, a contemplar as primeiras estrelas que já começavam a surgir, embevecido ante a majestosa obra do Criador.

O tempo foi passando e a propriedade do crente foi mudando de aspecto.

Onde antes existira uma plantação viçosa, agora o mato tomava conta, sufocando as poucas sementes que teimavam por nascer. A cerca estava toda quebrada e a horta destruída pelas galinhas que penetravam pelos buracos, e pelos passarinhos que, não encontrando oposição, comeram as plantas existentes.

No pomar, sem cuidados, as frutas amadureceram nos pés e, sem ninguém que as colhesse, apodreceram caindo ao chão, servindo de repasto para os vermes e insetos.

Enfim, o aspecto era de abandono e desolação. A sujeira tomava conta de tudo.

No terreno ao lado, porém, tudo era diferente. As plantas, bem cuidadas, faziam a alegria do seu dono. As hortaliças e legumes produziam bastante, propiciando farta alimentação, além da venda no mercado do excedente da produção.

As frutas colhidas e armazenadas deram-lhe bom lucro e, com a renda, aumentou o rancho, fez uma pintura bem bonita e ainda comprou algumas vacas.

O crente, sem entender o que acontecera, inquiriu o incrédulo:

– Não sei por que minha propriedade está indo tão mal, enquanto a sua, que era um terreno ruim e cheio de pedras, está tão bonita. Não entendo! Sou fervoroso crente em Deus. Jamais deixei de cumprir minhas obrigações religiosas e sempre tenho suplicado a ajuda do nosso Mestre Jesus.

Fazendo uma pausa, perguntou, algo desapontado:

– Será que Ele me esqueceu?

Ao que o incrédulo respondeu:

– Louvar a Deus no íntimo do coração é muito importante, mas creio que “Ele” não desprezou o trabalho. Disseste que minha terra era ruim e cheia de pedras, mas o que sei é que trabalhei muito. Para o solo, usei como adubo a estrumeira dos teus animais que jogavas em meu terreno por sobre a cerca, tornando-o mais fértil e melhorando a produção. Com as pedras que retirei do solo, fiz uma cerca mais forte e resistente ao assédio dos animais.

Fez uma pausa e prosseguiu:

– Não tenho muito tempo para dedicar-me a Deus, mas creio que esqueceste uma lição muito importante que foi deixada há muito tempo atrás por Jesus de Nazaré, que dizes amar.

– Qual é? – perguntou o crente fervoroso.

– Ajuda-te a ti mesmo que o céu te ajudará!

Envergonhado, o crente baixou a cabeça, reconhecendo que o outro tinha razão e que ele, que se julgara tão superior ao vizinho, aprendia com ele uma lição de vida, extraordinária.

Entendeu então que é muito importante ter fé em Deus, mas isto não basta. É preciso transformar em obras as lições recebidas. O Evangelho de Jesus, que ele prezava tanto, estava apenas em seu cérebro, não em seu coração.

Fora preciso alguém, que nem sequer tinha tempo de louvar a Deus, abrir-lhe os olhos e lembrar a lição inesquecível do Mestre de Nazaré:

– Ajuda-te a ti mesmo que o céu te ajudará!

Célia Xavier Camargo

Fonte da imagem: Internet Google.
 

quinta-feira, 1 de abril de 2021

As Visitas da Mamãe

Hoje acordei muito cedo. Estou de férias no colégio, mas minha mãe fez questão de me acordar para sairmos juntas. Não vamos ao clube, não vamos ao shopping, nem passear. Ela tem um hábito, já há muito tempo, de visitar as famílias que moram em bairros mais carentes onde, alguns, nem casa têm.

Para mim, no início, parecia estranho essas visitas, mas agora eu me acostumei e até gosto. Fiz amizade com crianças que nunca tinham tido brinquedos, que quase sempre usam a mesma roupa porque não tem outra, que ficam contentes em ganhar biscoitos que eu já estou enjoada de comer. Aprendi com elas que para ser feliz não é necessário muita coisa.

Observei que mamãe não coloca suas roupas mais enfeitadas para estas visitas e entendi, depois de algum tempo, que era para não humilhar as outras mães que não podiam se vestir como ela, assim elas ficam mais próximas umas das outras.

Nossa primeira visita foi em uma família que eu adoro. Quando chegamos à porta da casa muito pobre todos nos receberam com enorme alegria. As crianças cercaram e abraçaram mamãe com muito amor. A senhora dona da casa, mesmo preocupada com o esposo que estava acamado no hospital, recebeu-nos com muito afeto e gratidão. Levamos roupas, comida e um pouco de dinheiro, pois sem o esposo, a família não tem condições de se manter.

Eu queria dar alguma coisa para eles também, mas minha mãe explicou que qualquer coisa que eu desse não seria minha, então eu não teria nenhum merecimento. Se eu quisesse dar algo de mim, que eu tratasse dos doentes, cuidasse das crianças, auxiliasse em alguma tarefa naquele lar – isso seria a minha caridade. Poderia também aprender a costurar e fazer alguma roupa para aquelas crianças. Eu entendi que a caridade só pode ser feita quando damos aquilo que é nosso, seja algo material, o tempo ou o próprio esforço.

Mamãe prometeu às crianças que visitaria o pai delas no hospital, levando conforto e tranquilidade. Quando saímos desse lar, fomos a outros, ajudando naquilo que cada um mais precisava.

Já no fim da tarde, cansadas de tantas visitas, mas com o coração leve e extremamente alegre, chegamos em casa com a sensação de ter 'ganho o dia'. Algo que sempre me chamou atenção é que ninguém, além de mim, sabe dessas visitas da mamãe. Ela diz que, para fazer o bem, não se deve ter nenhum outro interesse se não o de ajudar.

O que eu sei é que minha mãe é uma pessoa especial porque está sempre feliz, de bem com a vida e nunca se queixa de nada – acho que isso tem a ver também com as preces que todos prometeram fazer por ela.

Baseado em Os infortúnios ocultos de O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XIII, item 4.


Luis Roberto Scholl

Fonte da imagem: Internet Google.