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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

Responsabilidade e Amizade

Juquinha voltava da escola com a mochila dependurada nas costas e uma bola nas mãos. Brincando, ele chutou a bola e quebrou a vidraça da janela de uma residência pela qual estava passando.

Temeroso pelo que fizera, ele saiu correndo e dobrou a esquina, rápido.

Zezé, seu colega, que vinha um pouco atrás, preocupado com uma prova que faria no dia seguinte, nem notou o que tinha acontecido.

Ao passar diante da casa, deparou-se com um homem muito zangado, que, o agarrando pelo braço, gritou:

— Peguei você, moleque safado!

Assustado, sem entender o que estava acontecendo, Zezé se defendeu:

— Eu não fiz nada! Não sei do que a senhor me acusa.

— Como não sabe? Você acaba de quebrar a vidraça da janela de minha casa e não sabe?...

— Não sei não, senhor. Não fui eu! Não fui eu!

— Ah, não? E essa bola aqui, de quem é?

Zezé havia reconhecido a bola, nova e bonita, que pertencia ao seu amigo Juquinha. Porém ele não era dedo-duro e não entregaria o colega. Então, apenas respondeu:

— Não é minha, senhor, eu juro!

— Se você estiver mentindo para mim, vai se arrepender. Vamos! Vou levá-lo até sua casa e falar com seus pais.

— Por favor, senhor, solte-me! Meus pais estão trabalhando e não tem ninguém em casa.

Zezé chorava e suplicava tanto, que o homem cedeu. Largou o braço dele e pediu-lhe o endereço, que o garoto deu. Depois, voltando aos poucos à normalidade, ele informou:

— Amanhã irei à escola falar com sua professora. Como é seu nome?

— José Luiz Barbosa, mas todos me chamam de Zezé.

— Muito bem, Zezé. Pode ir agora.

Zezé continuou seu caminho, aliviado. No dia seguinte tudo se esclareceria, tinha certeza. Certamente Juquinha não deixaria que ele fosse acusado injustamente.

De manhã Zezé levantou-se, confiante, e foi para a escola.

Eram dez horas quando o homem apareceu na porta da sala de aula.

A professora Dorinha o recebeu e perguntou o que desejava. Ele entrou e explicou o que tinha acontecido diante de toda a classe.

Juquinha encolheu-se na carteira.

Diante da acusação daquele homem, Zezé esperou que Juquinha assumisse a culpa, não deixando que ele fosse acusado injustamente.

Como Juquinha continuasse calado, Zezé baixou a cabeça triste e desiludido.

A professora Dorinha, vendo a situação criada, saiu em defesa do aluno.

— O senhor tem toda razão de reclamar e até de desejar uma reparação, porém não pode vir aqui e acusar um aluno meu sem ter certeza da culpa dele. Além disso, esta bola não é do Zezé, posso lhe afirmar.

— Mas alguém quebrou minha janela com esta bola e quero saber quem foi.

Ele olhava para toda a classe, fitando um por um. Todavia, ninguém se manifestou. Irritado, ele disse:

— Muito bem. Vocês estão se protegendo, mas eu vou descobrir quem foi e, aí, tomarei providências. Deixarei a bola aqui na mesa. Que o dono a pegue depois, se tiver coragem. Passem bem.

O homem retirou-se pisando duro. Após a saída dele, Dorinha olhou para sua classe, triste, e considerou:

— Estou bastante decepcionada com vocês. Não importa o que tenhamos feito, temos a obrigação moral de assumir nossos erros. Mentir é muito feio e, omitir nossa responsabilidade, deixando que alguém seja acusado em nosso lugar, é pior ainda.

Zezé, com a cabeça entre as mãos, chorava baixinho.

Nesse momento, Juquinha levantou-se, tímido e envergonhado:

— Professora, fui eu que quebrei a vidraça. Mas não fiz por querer! Foi um acidente!

Depois, virando-se para o amigo que chorava, disse:

— Zezé, me desculpe! Não quis criar um problema para você, apenas fiquei com medo da reação de meus pais ao ficarem sabendo. Porém, você sabia que eu era culpado e não me entregou, e isso me deixou com vergonha de mim mesmo. Será que você pode me perdoar?

Zezé levantou a cabeça, limpou as lágrimas e sorriu:

— Claro, Juquinha. Sabia que você não deixaria que eu fosse acusado injustamente. Afinal, somos bons amigos!

Juquinha caminhou até Zezé e abraçaram-se, contentes por terem resolvido bem a situação.

Depois, Juquinha, também emocionado, prometeu:

— Professora, eu prometo que ao sair daqui irei à casa daquele senhor, contarei a verdade e me responsabilizarei pelos danos que causei.

— Ótimo, Juquinha. Você decidiu muito bem — concordou Dorinha.

E Zezé, ao lado dele, afirmou:

— Eu acompanho você, Juquinha.

A professora abraçou a ambos, depois olhando para os demais alunos, informou:

— Neste dia tivemos uma lição ao vivo. Uma situação difícil se resolveu de forma pacífica, e todos amadureceram um pouco mais. Juquinha aprendeu que a mentira só prejudica, e pôde comprovar a grandeza de Zezé que não entregou o amigo, mesmo sabendo-o culpado.

Ela parou de falar por alguns momentos, depois prosseguiu comovida:

— Juquinha ainda vai enfrentar dificuldades com o homem a quem prejudicou, e também com seus pais, mas tudo ficará mais fácil diante da sua resolução de dizer a verdade. Que todos possamos ter aprendido a lição.

Ao terminar a aula, Zezé acompanhou Juquinha, que explicou ao homem o que tinha acontecido, desculpando-se e prometendo pagar os danos causados, usando sua mesada para comprar-lhe uma vidraça nova.

Contaria a seus pais o que tinha acontecido, e tinha certeza de que o problema seria resolvido com tranquilidade.

O mais difícil fora admitir a culpa. Tudo o mais não tinha importância.

Sereno e confiante, Juquinha retornou para casa, certo de que, dali por diante, não haveria problema que não conseguisse resolver.

Aprendera, também, que uma amizade sincera como a de Zezé, não tinha preço e precisava ser valorizada.

E desse dia em diante, tornaram-se ainda mais amigos.

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.
 

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

Respeito às Coisas Alheias

Paulinho era um menino que fora criado com todo amor e carinho pelos seus pais.

Estudava numa escola boa e confortável, tinha professora dedicada e amigos com quem se divertia nas horas de folga. Enfim, era um bom aluno.

Contudo, certa vez entrou na sua classe um garoto maior que veio transferido de outra escola. De personalidade envolvente, Roberto começou a dominar Paulinho, que passou a ver no novo amigo um líder.

Desse dia em diante, Paulinho mostrou fraco rendimento escolar, não fazia mais os deveres de casa, tornou-se malcriado e saía sempre à noite voltando tarde ao lar, sem que sua mãe soubesse onde tinha estado.

Não valeram conselhos e recomendações dos pais e da professora; o garoto cada vez mais mostrava indisciplina, desrespeito e desinteresse por tudo o que lhe fora ensinado até então.

Seus pais, muito preocupados, não sabiam mais o que fazer.

Nessa época, o pai de Paulinho começou a ter problemas de saúde. O coração estava seriamente comprometido e era necessário um tratamento rigoroso e muito cuidado.

Certo dia, Paulinho chegou tarde da noite e encontrou tudo fechado e silencioso. Ninguém em casa.

Sem saber o que fazer, procurou informações com um vizinho. Assim, recebeu a notícia de que seu pai passara mal e fora levado às pressas para o hospital.

Com o coração angustiado, correu até o hospital e encontrou sua mãe em prantos.

— Graças a Deus que você chegou, meu filho — disse ela.

— Como está papai? — perguntou, aflito.

— Está sendo atendido pelo médico, Paulinho, mas demoramos muito para vir e temo que o socorro chegue tarde.

— Mas, por que, mamãe? Por que não pediu para Aninha ligar logo de um telefone público?

— Eu pedi, meu filho, mas o telefone está quebrado.

Muito desapontado, o garoto lembrou-se de que fora ele mesmo e seu bando quem destruíra o aparelho por brincadeira. Gaguejando, insistiu:

— Mas tem um pronto-socorro próximo de nossa casa. Por que a senhora não solicitou uma ambulância?

Meneando a cabeça, a mãe informou algo desalentada:

— Tentamos, Paulinho... Mas a ambulância, infelizmente, estava com os quatro pneus cortados, serviço de um bando de garotos desocupados que andam por aí, segundo informaram.

Corando até a raiz dos cabelos, Paulinho lembrou-se que, também por divertimento, eles haviam estragado os pneus da ambulância que estava estacionada no pátio defronte o pronto-socorro.

Cheio de vergonha e arrependimento, em lágrimas, Paulinho confessou à sua mãe tudo o que fizera, e concluiu:

— Se o papai morrer, nunca mais vou me perdoar. Por minha culpa ele não recebeu a assistência urgente de que tanto precisava.

A mãezinha que ouvia calada afagou-lhe os cabelos e falou com carinho:

— Sempre é tempo de nos arrependermos de nossas ações más, meu filho. Ore e peça a Deus em favor do seu pai. Ele nunca deixa de nos amparar nas nossas necessidades.

Algum tempo depois, o médico veio avisar que estava tudo correndo bem e que o paciente logo estaria recuperado.

Cheios de alegria, mãe e filho se abraçaram, agradecendo a Deus que atendera às suas súplicas.

E, a partir daquele dia, Paulinho voltou a ser o menino que era antes, reconhecendo que o respeito à propriedade alheia é muito importante, especialmente às coisas públicas que prestam serviço inestimável à população, e que nunca sabemos quando nós também vamos precisar delas.

Que ele, ao invés de transmitir suas boas qualidades aos amigos indisciplinados, se deixara contaminar por eles.

Paulinho prometeu a si mesmo que faria tudo o que pudesse para que seus amigos também compreendessem que somente o respeito e o amor ao próximo poderão nos tornar pessoas melhores e mais felizes.

Fiel às promessas de mudança interior que fizera a si mesmo, Paulinho procurou à companhia telefônica e a direção do pronto-socorro responsabilizando-se pelos estragos verificados e prontificando-se a pagar com seu trabalho os prejuízos que causara.

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.