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quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

Respeito à Propriedade Alheia

Era uma tarde de domingo muito bonita e ensolarada. Os pássaros cantavam, as borboletas enfeitavam alegremente as flores e todos os animais brincavam felizes.

Foi então que Joãozinho disse a seu amigo Antoninho:

- Vamos aproveitar este dia bonito e passear no pomar de maçãs do Seu Joaquim?

Antoninho, com água na boca, respondeu:

- Oba! Vamos sim, quero comer aquelas maçãs maravilhosas!

Assim, foram correndo até o pomar. Chegando lá, olharam para todos os lados, para ver se não havia ninguém. Foi então, que após espreitarem com cuidado, subiram nos pés de macieiras.

Joãozinho dizia sorridente:

- Olha, Antoninho, que frutas deliciosas!

- São saborosas!

Antoninho, com o os olhos brilhando, respondeu:

- É verdade, ainda bem que podemos comer de graça. Vamos comer muitas maçãs e levar o que pudermos para casa.

E assim o fizeram.

Continuaram a comer muitas maças e quando já estavam apanhando algumas frutas para levarem embora, avistaram uma menina que se aproximava.

Era a Aninha, a sobrinha do Seu Joaquim.

Ficaram assustados, mas depois pensaram: é só uma menina!

Aninha se aproximou e perguntou:

- Quem são vocês? O que vocês fazem no pomar do tio Joaquim?

Eles responderam baixinho:

- Viemos comer algumas maças.

- E vocês pediram permissão para meu tio? - indagou Aninha.

Os dois se olharam e disseram que ninguém estava vendo.

Aninha apontou para o céu e disse:

- Deus está vendo, Ele sabe tudo o que fazemos e somos responsáveis pelas nossas atitudes.

Após ouvirem o que Aninha falou, Joãozinho e Antoninho ficaram envergonhados.

- Você tem razão Aninha, Deus vê tudo o que fizemos, por isso, devemos sempre agir corretamente, disse Joãozinho.

Antoninho tomou coragem e pediu desculpas. Disse que desse dia em diante sempre pediriam permissão para pegarem coisas que não fossem suas, respeitando as coisas alheias.

Autoria: Carla Kitzmann – Imagem meramente ilustrativa - Fonte: Internet Google.
 

terça-feira, 15 de novembro de 2022

O Servo Infeliz

Existiu certa vez num país muito distante, um homem que vivia sempre muito infeliz e desgostoso da vida que levava.

Todo serviço era pesado e desagradável. Não havia tarefa que desejasse realizar e qualquer pequeno serviço que se lhe ordenasse era feito de má vontade.

Vivia resmungando pelos cantos e acabou por tornar-se uma companhia indesejável até junto dos outros servos da casa.

Se o patrão o mandava lavar e tratar dos cavalos, reclamava que o cheiro dos animais lhe causava mal-estar. Se a tarefa solicitada era ir até a cidade comprar mantimentos, alegava que o sol lhe dava tonturas e que era sempre ele a fazer o serviço pesado. Se ele era mandado recolher o rebanho no pasto ao anoitecer, alegava que o sereno era ruim para sua saúde delicada.

Enfim, qualquer tarefa que lhe fosse conferida era executada de mal humor e muita má vontade, embora tivesse corpo sadio e braços fortes.

Certo dia, ele e outro servo foram mandados à cidade para fazer um serviço, e, como não poderia deixar de ser, ele ia reclamando da vida para o companheiro que o escutava com paciência infinita.

— Pois é como lhe digo. Todo serviço mais desagradável fica para mim. Faço sempre as obrigações mais pesadas e, se não bastasse isso, vivo com problemas de saúde e dores no corpo todo. Já não aguento mais!

O outro, com delicadeza retrucava, convicto:

— Não é bem assim, meu amigo. Todos nós trabalhamos bastante, é verdade. Mas somos recompensados, pois o patrão é bom e generoso. Não podemos nos queixar da sorte. Além do mais, todo serviço é bênção de Deus.

— Qual nada! Somos tratados como animais e trabalhamos qual burro de carga para ganhar uma miséria. Ah! Como eu gostaria de ter uma vida diferente, de não precisar trabalhar!

E avistando na estrada, logo adiante, um homem sentado sob uma árvore, à frente de pequeno portão que dava acesso a uma casa simples, mas que exalava limpeza, apontou-o enquanto falava:

— Olha aquele homem ali calmamente sentado à beira do caminho. Sua fisionomia serena mostra que não deve ter problemas. E, para estar sentado a essa hora do dia, é sinal de que não trabalha. Isso é que é vida!

Aproximaram-se. O homem fitava-os com tranquilidade. Como ainda estivesse um pouco frio, trazia uma manta bastante surrada, mas limpa, que o cobria até a cintura.

Entabularam conversação, e o servo infeliz o inquiriu curioso:

— Diga-me, bom homem, o que faz da vida? Com certeza não deve trabalhar! Ah, como o invejo!

O estranho fitou-o serenamente e respondeu:

— É verdade. Não trabalho mais como antigamente porque não posso. Toda a minha vida fui um homem trabalhador. Chegava todas as noites em casa exausto, mas feliz, porque cumprira bem minhas obrigações. Um dia, porém, conduzia uma carroça rumo ao povoado quando sofri um acidente. Os cavalos assustaram-se e a carroça desgovernou-se.

Tentando deter os animais, que saíram num galope desenfreado, pulei sobre os cavalos e fiquei entre eles, segurando-os com meus fortes punhos. O varal, porém, partiu-se, e eu perdi o equilíbrio, caindo entre as patas dos animais. Fiquei muito ferido, porém com a bênção de Deus, estou ainda vivo.

E, fazendo uma pausa, retirou a manta de sobre as pernas, concluindo:

— Fiquei sem minhas pernas, mas não lamento. Ainda posso fazer muita coisa, garanto-lhes. Tenho ainda os braços fortes, os dedos ágeis e a cabeça lúcida. Disse-lhes que não executava mais o serviço antigo...

E, apontando com a mão, mostrou um garoto sorridente que se aproximava trazendo um fardo de palha.

— Agora faço cestas para vender. Meu filho me ajuda e temos conseguido sobreviver com essa atividade.

E elevando a fronte para o alto, falou com os olhos rasos de lágrimas:

— Deus é muito bom! Tenho uma família amorosa, não me falta serviço e estou vivo com a graça de Deus. Como podem ver, tenho tudo o que preciso para ser feliz.

O servo descontente abaixou a cabeça, envergonhado pela lição que recebera. Comovido, saiu dali meditando em todas as dádivas que Deus lhe dera e que nunca soubera aproveitar e agradecer.

Desse dia em diante tornou-se um outro homem. Com bom ânimo e alegria realizava todas as tarefas, lembrando sempre de agradecer a Deus as oportunidades que lhe concedera na vida.

Autoria: Célia Xavier Camargo – Imagem meramente ilustrativa - Fonte: Internet Google.
 

terça-feira, 1 de novembro de 2022

O Melhor Pai do Mundo

Carlinhos, um menino muito arteiro, entrou em casa se sentindo muito chateado.

Estava no quintal jogando bola com os amigos e, sem querer, quebrou o vidro de uma das janelas.

O pai, que lia o jornal na varanda, percebeu o que tinha acontecido. Levantou-se na mesma hora e foi chamar a atenção do filho:

— Meu filho, tenha cuidado! Não chute a bola com tanta força. Você quebrou um vidro da nossa janela. E se fosse da casa do vizinho? Seu pai teria que pagar! E se você tivesse machucado alguém?

— Mas, papai, eu não tive culpa!

— Seja como for, você causou um prejuízo e descontarei da sua mesada.

Entrando na cozinha, Carlinhos sentou-se numa cadeira, revoltado. Maria, a empregada de sua mãe, que enxugava umas louças, perguntou:

— O que foi desta vez, Carlinhos?

— Meu pai brigou comigo só porque quebrei o vidro de uma janela. Disse que vai descontar da minha mesada. Sempre a culpa é minha! Tudo eu! Tudo eu!

Maria, que gostava muito do menino, com carinho respondeu:

— Carlinhos, todos temos que ser responsáveis pelas nossas ações. E seu pai estava apenas tentando ensinar-lhe responsabilidade, disciplina e respeito às coisas alheias.

— Maria, mas ele briga comigo o tempo todo! Para tomar banho, fazer a tarefa da escola, arrumar os brinquedos. Ufa! Estou cansado! Gostaria de ter outro pai. Olha Maria, acho que nem vou dar presente a ele nos Dia dos Pais.

— Ele faz isso por amor, Carlinhos. E não é verdade que seu pai chama sua atenção o tempo todo. Pense bem!

Carlinhos, já mais calmo, pensou um pouco e concordou.

Lembrou-se de todas as vezes que o pai o tinha levado para passear, pescar, tomar sorvete, andar de bicicleta, ao parque de diversões. Todas as vezes que o pai tinha chegado cansado do serviço, mas tinha se sentado para lhe ensinar os deveres da escola, que ele não conseguia fazer sozinho.

Mais ainda: lembrou-se das vezes que o pai tinha entrado na ponta dos pés em seu quarto para desejar-lhe boa-noite.

— Você tem razão, Maria. Meu pai se preocupa comigo.

E Maria, que era uma mulher muito sofrida, colocou a mão da cabeça dele, sentou-se a seu lado e disse:

— Vou lhe contar uma história, Carlinhos. Tem um rapaz que, desde pequeno, foi muito peralta, fazia coisas erradas, brigava com os vizinhos, não respeitava as pessoas, porém nunca teve alguém que o ensinasse. A mãe o amava muito e, como o menino já não tinha pai, ela não queria que ele sofresse. E assim, sempre desculpava tudo o que o filho fazia, cercando-o de cuidados e de atenções. Nunca acreditava nas professoras da escola e nem nas pessoas que vinham alertá-la sobre o péssimo comportamento do filho. Um dia, ele começou a roubar. No começo, eram pequenos furtos, depois passou a roubar coisas maiores, aparelhos de som, televisões, e até carros.

Carlinhos ouvia com os olhos arregalados de espanto:

— E depois? — perguntou interessado.

— Depois, acabou sendo preso. A mãe lamenta até hoje não ter dado a educação que ele precisava.

O menino estava impressionado.

— Você o conhece, Maria?

Com os olhos úmidos ela respondeu:

— Conheço sim, Carlinhos. Esse rapaz é meu filho.

Somente naquele momento o garoto percebeu que, embora Maria trabalhasse na sua casa desde que ele tinha nascido, nada sabia sobre a vida dela.

Maria parou de falar, enxugou os olhos no avental, e completou:

— Por isso, Carlinhos, agradeça a Deus todos os dias por ter um pai que se preocupa com você e que o ama muito. Se eu tivesse me preocupado em dar uma boa educação e orientações religiosas a meu filho, provavelmente hoje ele seria diferente.

Carlinhos, muito sério, lembrou:

— É por isso que o papai e a mamãe sempre dizem que o Evangelho de Jesus nos ajudará a sermos pessoas melhores.

— Isso mesmo, Carlinhos. Porém, na época, eu não sabia.

Voltando das compras, a mãe entrou em casa e Carlinhos correu ao seu encontro.

— Mamãe! Mamãe! Precisamos comprar o presente do papai!

— Calma, meu filho! Mas o que aconteceu para você estar assim tão ansioso?

— É que eu descobri que tenho um pai maravilhoso! O MELHOR PAI DO MUNDO!

Autoria: Célia Xavier Camargo – Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.
 

sábado, 15 de outubro de 2022

O Pequeno Órfão

Morando numa casa confortável, Ricardo era um menino que levava vida tranquila e segura. Uma família amorosa supria-lhe as necessidades, e ele frequentava uma boa escola onde tinha muitos amigos.

Ricardo, porém, não se contentava com o que Deus lhe concedera.

Estava sempre desejando algo mais e suspirando por tudo o que seus amigos tinham.

Sabem o que é isso? É um sentimento muito feio chamado: INVEJA.

Se os pais o presenteavam com um carrinho, ele reclamava com raiva:

— Não quero essa droga. Quero um carrinho de controle remoto, como o que o Dudu ganhou no aniversário!

— Mas, filhinho, é muito caro! — dizia a mãe, triste.

— Não me interessa. Quero, quero e quero! — gritava, batendo os pés.

Quando a mamãe carinhosa lhe comprava uma roupa, ele falava com desprezo:

— Que coisa horrível! Acha que vou usar “isso”? Essa roupa não vale nada!

— Quando a vi na loja achei bonita e lembrei-me de você, meu filho — justificava-se a mãe, pesarosa.

— Pois pode devolver. Não vou usar. Gosto de roupas caras e de lojas chiques. Na verdade, eu quero mesmo é uma calça “jeans” como a do Beto.

Na hora da refeição era o mesmo problema sempre. Ricardo reclamava de tudo:

— Legumes novamente?

— Sim, meu filho. Legumes fazem bem à saúde e são gostosos.

— Pois não como! — gritava o menino, empurrando o prato com grosseria. — Ainda se fosse um frango assado, como o que eu vi outro dia na casa do Adriano, eu comeria.

— Meu filho — respondia a mãe desgostosa — essas coisas são caras e a vida está difícil. Você sabe que nada nos falta, mas o papai trabalha muito para manter a casa. Devemos é agradecer a Deus por tudo o que possuímos e pela vida tranquila que temos.

O garoto balançava os ombros com desprezo e saía resmungando.

A mãe de Ricardo, em suas orações, sempre pedia a Deus que ajudasse seu filho, tão invejoso e egoísta, a ver a vida com outros olhos.

Certo dia, o garoto havia brigado com os pais; exigira a compra de uma bicicleta nova e, como eles se negaram, o menino saiu batendo a porta, chorando e reclamando:

— Ninguém gosta de mim! Ninguém me dá o que peço! Sou um infeliz abandonado. Tenho vontade de sumir de casa!

Ricardo chegou até uma praça e sentou-se num banco. Amuado, ali ficou, resolvido a não voltar logo para casa; queria dar um susto nos pais.

Após alguns minutos percebeu uma criança um pouco menor do que ele que, sentada no chão, parecia muito triste.

Aproximou-se sem saber por quê. Na verdade, nunca se interessara pelos problemas dos outros.

— Olá! — disse, a guisa de cumprimento.

O menino levantou a cabeça e Ricardo percebeu que chorava.

— Aconteceu alguma coisa? — perguntou sem muito interesse.

— É que me sinto muito sozinho. Não tenho ninguém que goste de mim. Sou órfão e vivo na rua — murmurou o garoto.

— Como assim? Não tem casa?

— Não. Quando meus pais morreram fui morar com uma tia. Mas ela me maltratava e obrigava-me a roubar, alegando que eu comia bastante e lhe dava muitas despesas. Depois de algum tempo, não aguentei mais; fugi de casa e, desde esse dia, durmo nos bancos das praças.

— E onde você come?

O garoto sorriu. Um sorriso triste e desconsolado.

— Normalmente, peço um prato de comida em alguma casa rica, mas nem sempre consigo. Então, reviro as latas de lixo à procura de algo para comer. Você não imagina quanta coisa boa a gente acha numa lata de lixo!

Ricardo, que nunca imaginara que existissem pessoas passando por tanta necessidade, estava surpreso e chocado.

— Quantos anos você tem? Como se chama?

— Tenho oito anos e me chamo Zezé. E você? Você também está triste! Também não tem ninguém?

— Tenho sim, Zezé — falou Ricardo com satisfação. — Tenho uma família maravilhosa e gostaria que você a conhecesse. Minha mãe é muito boa e faz uma comida simples, mas muito gostosa. Quer almoçar comigo?

Zezé aceitou com alegria. Desde o dia anterior não se alimentara e estava faminto.

Chegando ao seu lar, Ricardo apresentou o novo amigo e, em lágrimas, pediu desculpas pelo seu comportamento.

— Mamãe, eu compreendo agora que Deus foi muito bom dando-me uma casa boa e confortável e uma família amorosa que se preocupa comigo. Que mais posso desejar?

Muito contente com a mudança que se operara em seu filho, a mãe abraçou-o emocionada, dizendo-lhe com carinho:

— Que bom, meu filho, que você pense assim. Deus ouviu minhas preces e, se não somos ricos de dinheiro, somos ricos de amor, de paz, de alegria e de saúde. Não é verdade?

— É verdade, mamãe — concordou Ricardo, sorridente.

Zezé ficou por alguns dias naquele lar e, tão bem se adaptou ao ambiente da casa que, a pedido de Ricardo, que se afeiçoara muito a ele, foi adotado, passando a fazer parte da família, para alegria de todos.

Autoria: Célia Xavier Camargo – Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.
 

sábado, 1 de outubro de 2022

A Surpresa do Achado

Certa vez, um pequeno pastor caminhava pelos campos pastoreando suas ovelhas.

Já estava cansado e com fome quando, sobre o capim verde e em meio à vegetação, encontrou pequena bolsa de couro. Abriu e, qual não foi sua surpresa: ali estavam cinco lindas moedas de ouro brilhando no fundo da bolsa!

Ficou eufórico! Quanta coisa poderia fazer com esse dinheiro!

Pegando as rutilantes moedas na mão, ainda pensou que deveriam pertencer a alguém, e que esse alguém por certo estaria desesperado.

O desejo de ficar com as moedas, porém, falou mais alto e, acalmando a consciência, guardou o pequeno tesouro pensando, sem muito entusiasmo:

— Se por acaso encontrar a pessoa que perdeu as moedas, devolvo-as. Caso contrário, elas são minhas por direito, pois as encontrei.

E assim pensando, passou o resto do dia a fazer planos de como usaria o tesouro que tão inesperadamente lhe caíra nas mãos.

Ao cair da tarde, levou as ovelhinhas de volta para casa, resolvido a nada contar à sua mãe, com medo de que ela o fizesse devolver as moedas. Afinal, não existiam tantas casas assim nas imediações e, por certo, alguém do vale as perdera.

Ao chegar em casa ficou sabendo que seu pai precisara fazer uma viagem para fechar um negócio muito lucrativo.

Três dias depois seu pai voltou. Vinha desanimado e triste, todo sujo e coberto de poeira.

A mulher, preocupada, perguntou o que acontecera, e ele respondeu:

— Você não imagina o que me aconteceu! Após muito viajar cheguei ao meu destino. Quando fui fechar o negócio, porém, dei por falta do dinheiro que levara separado para pagar as ovelhas. Procurei por todo lado, revirei meus pertences, mas nada achei. Percebi, tarde demais, que a mochila que levara estava com um buraco no fundo e, por certo, deixara cair pelo caminho a bolsa com o dinheiro. Mas, como encontrar? Com certeza alguém já teria achado seu dinheiro e nunca mais veria aquele que representava as economias de muito trabalho e dedicação.

E o homem tristemente concluiu:

— Meus recursos terminaram e tive que recorrer à caridade pública. Não tinha onde me abrigar, nem o que comer. Graças a Deus, consegui chegar até aqui em casa depois de muito sofrimento. Embora tenha perdido tudo o que possuía, tenho vocês que são o meu tesouro.

Assim dizendo, abraçou o filho e a esposa, emocionado até às lágrimas.

O jovem, lembrando-se do tesouro que possuía ficou contente. Afinal, poderia fazer algo pelo seu querido pai.

Correu até seu quarto e voltou com a pequena bolsa de couro contendo as cinco moedas e, com sorriso feliz, entregou-a ao pai, dizendo-lhe:

— Pegue, meu pai. É tudo seu!

O pobre homem ao ver a bolsa reconheceu-a e perguntou surpreso:

— Onde foi que a encontrou, meu filho?

— Em meio à vegetação, quando pastoreava as ovelhas.

— É verdade! Eu quis ganhar tempo e cortei caminho pelo campo, saindo da estrada. Oh, meu filho! Graças a Deus, você a encontrou. O Senhor é muito bom! Mas, como soube que era minha?

De olhos arregalados o rapaz respondeu:

— Não sabia, papai. Nunca poderia supor que lhe pertencesse. Julguei que fosse de outra pessoa!

O pai ficou sério repentinamente e, segurando-o pelo braço, inquiriu:

— O que fez, meu filho? Encontrou este tesouro que alguém perdera e ficou com ele, quando não lhe pertencia? Como fui eu que perdi, poderia ser qualquer outra pessoa aqui do vale. Não pensou no desespero que, por certo, atingiria o dono das moedas e na falta que elas lhe fariam?

— Não, papai. Não pensei em nada disso. Desculpe-me. Somente agora começo a perceber como fui egoísta e ambicioso.

O pequeno pastor, arrependido, abaixou a cabeça, enquanto as lágrimas corriam pelo seu rosto.

— Perdoe-me, papai. Sei que agi errado e agora compreendo a enormidade da minha falta.

O pai afagou a cabeça do filho, dizendo:

— Meu filho, nós temos que respeitar o que é dos outros, para que os outros também respeitem o que nos pertence. Jesus, nosso Mestre, ensinou que seríamos responsáveis por todos os nossos atos e que deveríamos fazer ao próximo o que gostaríamos que ele nos fizesse. Agora pense: Se você tivesse perdido as moedas, o que gostaria que lhe fizessem?

— Ficaria muito feliz se quem as achou me devolvesse a bolsa, com as moedas, claro!

— Então, meu filho, assim também deve fazer para com os outros.

O pequeno pastor agradeceu a lição recebida e prometeu a si mesmo que nunca mais seria egoísta e ambicioso.

Autoria: Célia Xavier Camargo – Imagem meramente ilustrativa - Fonte: Internet Google.
 

quinta-feira, 15 de setembro de 2022

O Esquilo Fujão

Numa clareira da floresta, habitava uma família de esquilos que vivia em paz e harmonia.

A pequena família era constituída do papai Esquilão, da mamãe Esquila e de um casal de filhotes muito obedientes. Todos se estimavam sinceramente, pois entre eles havia compreensão e amizade.

Enquanto papai Esquilão saía em busca do sustento da família, mamãe Esquila permanecia em casa cuidando dos filhos e dos afazeres domésticos.

Certo dia, Esquila descobriu que ia ser mãe novamente. Todos ficaram muito felizes. Afinal, as crianças estavam crescidinhas e um bebê fazia falta em casa.

Dentro de pouco tempo, a família aumentou. Era um lindo filhotinho!

O filhote crescia rápido e se tornava cada vez mais exigente. A pequena família vivia em função dele, fazendo-lhe todas as vontades.

Mas nem tudo podia ser permitido! E cada vez que sua mãe o repreendia, ele ficava revoltado e infeliz.

Com o passar do tempo, começou a achar que ninguém o amava. Sempre viviam ralhando com ele: “Não faça isso, Esquilino! Não faça aquilo! Arrume suas coisas!”

Um dia, cansado de tudo, sentindo-se muito triste, foi embora resolvido a viver livre na floresta. Sua mãe sempre o alertara para os perigos que encontraria, mas ele nunca se importou. O pai também jamais permitira que ele se internasse na mata sozinho preocupado com sua segurança. Agora, no entanto, ele estava livre e não precisava obedecer a ordens de ninguém.

— Ufa! Afinal vou levar a vida que sempre desejei. Já sou bastante crescido para cuidar de mim mesmo! — pensou.

Andou bastante pela floresta, satisfeito da vida.

Aos poucos foi escurecendo e o pequeno esquilo não tinha encontrado ainda local onde pudesse se abrigar. Os ruídos da mata o assustavam e ele desejou estar ao lado de sua mamãe, sempre tão amorosa.

Mas agora estava perdido. Não sabia mais voltar. E, além de tudo, estava com uma fome terrível!

A escuridão foi ficando cada vez maior e mais apavorante.

Cansado de tanto andar, Esquilino aninhou-se no tronco de uma grande árvore e adormeceu depois de muito chorar.

De manhãzinha, acordou ouvindo o ruído de folhas secas. Alguém se aproximava. Levantou-se rápido. Quem sabe era alguém que poderia ajudá-lo?

Era um lobo enorme e ameaçador!

Quando o lobo uivou, arregaçando os dentes perigosamente, o esquilinho saiu em grande disparada.

Ao perceber que não estava mais ao alcance do lobo, parou para descansar.

— Ufa! Que sufoco! — disse mais aliviado.

Nisso, ouviu um ruído estranho, como se fossem guizos. Olhou para o chão e se deparou com uma enorme cobra pronta para dar o bote.

Apavorado, fugiu novamente tão rápido quanto lhe permitiam as pernas.

Com o coração aos saltos e a respiração ofegante, parou junto a uma árvore. Suas pernas estavam bambas! Encostou-se nela para recuperar o fôlego, quando escutou um zumbido diferente.

O que seria? Olhou para o lado e percebeu que quase tocara num grande cacho de abelhas. E elas pareciam realmente enfezadas!

Reunindo as forças, fugiu de novo procurando escapar do enxame que vinha em sua direção.

Olhando para trás, não viu um riacho logo à sua frente. Caiu dentro dele, ficando todo molhado.

Felizmente, as abelhas o perderam de vista e Esquilino pôde sair da água tranquilamente.

Olhando em volta, reconheceu o lugar. Sim! Estava próximo de casa!

Mais confiante, tomou uma pequena trilha e em poucos minutos chegou à clareira onde residia.

Todos ficaram felizes e aliviados com sua volta e o abraçaram e beijaram repetidas vezes.

Mais refeito, após se alimentar convenientemente, Esquilino disse à sua mãe:

— Sabe, mamãe, descobri que nada é melhor do que o lar da gente! Pensei que não me amassem, porque viviam me repreendendo. Agora, sei que é justamente por me amarem muito que agiam assim. Passei por muitos perigos, sentindo-me só e desamparado. Apenas aqui, junto de vocês, estou seguro e tranquilo.

E a mamãe, com lágrimas nos olhos, afirmou risonha:

— É verdade, meu filho. Nada como o amor da família. Porém, jamais esteve desamparado. Deus velava por você e o trouxe são e salvo para o nosso convívio.

E Esquilino, baixando a cabeça, disse comovido:

— Obrigado, meu Deus, pela família maravilhosa que o Senhor me concedeu!

Autoria: Célia Xavier Camargo – Imagem meramente ilustrativa - Fonte: Internet Google.
 

quinta-feira, 1 de setembro de 2022

Luz interior

Prisma era um peixinho que vivia solitário em um pequeno rochedo submerso. Quase não saia de casa, devido a uma deficiência motora, que dificultava a sua locomoção.

Quando nasceu ninguém sabia dizer, e muito menos dizer quem eram seus pais.

Muitos moradores daquela aldeia sabiam apenas que Prisma era uma criaturinha diferente dos outros de sua espécie.

Às vezes o peixinho colocava sua cabecinha para fora do pequeno rochedo para abocanhar algas frescas.

Eu sabia da sua vida e das suas dificuldades, porque Prisma era meu vizinho.

Quem sou eu?

Meu nome é Conchilda e sou uma concha velha, mas muito observadora. Via Prisma sair quase todas as noites e ficar olhando para o grande clarão da lua que refletia nas águas, e isso chamava minha atenção.

Às vezes eu me perguntava o quê será que Prisma pensava!

Um dia tomei coragem e aproximei-me do peixinho, que estava envolto em seus pensamentos, a olhar distante para a luz, e disse:

- Por que olha tanto?

Sem tirar os olhos da luz, delicadamente disse:

- Procuro respostas.

- Respostas para quê?

- Resposta para compreender a minha existência – e prosseguiu: Às vezes a luz se torna forte, dando-me uma grande sensação de segurança, e posso até me sentir vitorioso.

Eu pensei: Como vitorioso?! Afinal, o pobre mal podia bater sua barbatana!

Dei um pequeno sorriso e tentei conter minha emoção, e lhe disse:

- Não compreendo você!

- Nem queira Conchilda, porque para sermos vitoriosos precisamos aceitar o inevitável.

Pensei... O quê seria inevitável?!

- Conchilda, nossa existência é a obra máxima do Criador.

- Como?!

- Olha, imploramos para ser criados e pouco agradecemos pela nossa existência. A vida, por si só, já é uma benção, e devemos agradecê-la sempre, ainda que não sejamos perfeitos, pois deve haver uma razão justa para isso.

- Você agradece ao Pai Criador, Prisma?

- Sim, todas as noites venho aqui e fico a admirar a luz, e oro ao Criador pelas dádivas maravilhosas que Ele nos concede.

Fiquei calada. Como podia um peixe feio, defeituoso e solitário pensar ainda em agradecer ao Criador?! Muitos outros sadios vivem a cobrar do Criador!

Mas refleti profundamente sobre como Prisma aceitava a sua vida, e reconheci a grandeza de sua alma superava as suas limitações físicas. Naquela noite, aprendi com ele a despertar para a vida e acender a minha luz interior, pela oração ao Pai.

Hoje, já sem Prisma ao meu lado, procuro ajudar meu semelhante, ensinando sobre o poder da prece e falando da importância da confiança na luz que existe em nós.

Crianças:

Para conquista a luz interior é necessário abrir o coração para Deus, agradecendo sempre a Sua Luz, que nunca nos falta.

Tiamara – Imagem meramente ilustrativa: Fonte: Internet Google.
 

segunda-feira, 15 de agosto de 2022

O Balão Colorido

Janjão era um menino que possuía um bom coração, mas era muito desobediente.

Sua mãe vivia a lhe dar conselhos, dizendo-lhe:

–Janjão, não mexa com fogo, pois você pode se queimar!

–Janjão, desça desse muro, você pode cair e se machucar!

–Janjão, cuidado com essa faca, meu filho. Ela é muito perigosa!

Mas, qual nada. Janjão continuava o que estava fazendo, fingindo não ouvir as recomendações de sua mãezinha.

Certo dia, Janjão e Pedrinho, seu melhor amigo, estavam entediados. Já haviam brincado de esconde-esconde, jogado bolas de gude, pega-pega, etc., e não sabiam mais o que fazer.

Janjão teve uma ideia luminosa:

– Já sei! Vamos fazer um balão!

– Um balão? – repetiu Pedrinho, surpreso. – Mas não é perigoso?

– Sim, um balão. E não é perigoso não, seu medroso. Vá comprar o papel e a cola.

— Eu? Por que eu? A ideia foi sua! – reagiu Pedrinho.

— Está bem. Então eu vou.

Trabalharam a tarde toda num quartinho que existia no fundo da casa de Pedrinho. Sabiam que a mãe dele estaria ocupada trabalhando e não perceberia.

Depois de pronto, aguardaram com muita ansiedade o anoitecer. Afinal, para ter graça, balão tem que ser solto à noite.

Acenderam o balão e ficaram torcendo para ver se ele ia subir.

O balão foi enchendo... enchendo... enchendo até que lentamente começou a subir.

Os garotos não continham a animação e a alegria. Em pouco tempo, o lindo balão colorido foi subindo... subindo... subindo para o céu, cada vez mais alto. Logo, tornou-se apenas um ponto luminoso como se fosse outra estrela do firmamento. Depois, escondeu-se atrás de umas grandes árvores e os garotos o perderam de vista.

Do balão colorido só ficou mesmo a lembrança. Ainda conversaram mais um pouco relembrando, emocionados, a linda subida do balão.

Janjão, lembrando-se de que já era tarde e seus pais deveriam estar preocupados, despediu-se e foi embora.

Morava num sítio e precisava andar um pouco pelo campo para chegar até a sua casa. De longe, avistou um imenso clarão que iluminava o céu, afugentando a escuridão. Apertou o passo e logo percebeu que o fogo vinha de sua casa.

Ao aproximar-se, viu as chamas lambendo as paredes de sua casa, os móveis no terreiro, pessoas que corriam com baldes d’água, tentando conter o fogo. Seu pai, preocupado, andando de um lado para o outro, sua mãe e sua irmã chorando. Aflito perguntou:

– Que aconteceu, papai?

– Ah! Meu filho! Graças a Deus você está bem. Estávamos preocupados sem saber onde você estava. Pensávamos até que poderia estar dentro da casa em chamas. Alguém andou soltando balões e, quando percebemos, o fogo já se alastrara e tomara conta de tudo, como você vê. Com a ajuda de amigos conseguimos ainda salvar alguma coisa, com a graça de Deus.

O garoto, já arrependido, e percebendo o ato que praticara, começou a soluçar:

– Perdoe-me papai. A culpa é toda minha. Fui eu que soltei o balão, mas nunca poderia imaginar que causaria tantos danos.

O pai suspirou, compreendendo o sofrimento do filho, enquanto lhe disse, severo:

– Está vendo, meu filho? Por ser desobediente, quanto mal você causou? Graças a Deus, os prejuízos são materiais apenas, e, embora sejamos pobres, conseguiremos vencer e recuperar o prejuízo que tivemos. Mas, e se alguém tivesse perdido a vida?

Janjão chorava sentidamente.

– Perdoe-me, papai. Agora eu compreendo o mal que causei e que, quando mamãe fala que é perigoso, é porque ela está vendo o que pode acontecer.

O pai abraçou o filho e desse dia em diante Janjão tornou-se um garoto diferente, mais responsável, e até começou a trabalhar para ajudar seu pai a cobrir os danos que involuntariamente causara.

Autoria: Célia Xavier Camargo

Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.
 

segunda-feira, 1 de agosto de 2022

O Presente

Beto, menino de nove anos, muito pobre, certo dia ganhou um lindo e apetitoso pedaço de bolo.

Com os olhos brilhantes, pegou o bolo com as mãos, aspirando, com satisfação, o cheiro bom que se desprendia dele, e abriu a boca preparando-se para dar-lhe uma mordida.

Nesse exato momento, porém, parou, lembrando-se que seu irmão menor, Renato, de sete anos, gostava muito de bolo e que há muito tempo não comia um pedaço.

Com um suspiro, embrulhou o pedaço de bolo e disse:

— Já sei! Vou dá-lo de presente ao Renato. Meu irmãozinho vai adorar!

Mais tarde Beto entregou o pequeno embrulho ao irmão que, abrindo-o, não conteve a alegria:

— Que bom! Gosto muito de bolo. Obrigado, Beto.

Mas quando ia morder o pedaço de bolo, Renato lembrou-se de sua irmã Rosa, de quem ele gostava muito, e falou:

— Ah! Beto, se você não se incomodar, gostaria de presentear a mana Rosa com este pedaço de bolo. Ela tem sido tão boa, leva-me para a escola, ajuda-me com os deveres de casa e convida-me para passear.

Beto concordou e ambos levaram o presente para a irmã.

Abrindo o embrulho, Rosa sentiu água na boca. Quando ia dar a primeira mordida, porém, lembrou-se do irmão mais velho, Geraldo, e afirmou:

— Desde que papai desencarnou, nossa situação tem sido muito difícil e Geraldo tem trabalhado bastante para ajudar na manutenção da casa. Acho que ele merece este pedaço de bolo por tudo o que tem feito por nós.

Os outros concordaram e, como estava na hora de Geraldo chegar do trabalho, ficaram aguardando-o no portão, ansiosamente.

Mal o avistaram, os três irmãos correram ao seu encontro. Rosa entregou-lhe o embrulho.

Geraldo abriu e sorriu, feliz. Estava cansado e com fome. Trabalhara o dia todo e quase não se alimentara, e esse pedaço de bolo era muito bem-vindo.

Lembrou-se, porém, da mãe, que vivia exausta de tanto trabalhar e que os amava tanto. Fitou os irmãos e disse:

— Meus queridos irmãos. Agradeço-lhes a dádiva que me fazem, mas acredito que a mamãe merece este bolo mais do que eu. Sempre se sacrificou por todos nós e é justo que ganhe este presente.

Os irmãos foram unânimes em concordar.

Entraram em casa e dirigiram-se à cozinha, onde a mãe preparava a humilde refeição da tarde. Geraldo, rodeado pelos irmãos, explicou o que estava acontecendo e entregou o bolo à mãe.

Com os olhos rasos de lágrimas, a mãezinha fitou os filhos e falou, sensibilizada:

— Beto, Renato, Rosa e Geraldo. Estou muito satisfeita com todos. Vocês demonstraram hoje que somos realmente uma família, que nos amamos muito e que pensam uns nos outros com esquecimento de si mesmos. Vocês aprenderam a lição de Jesus que manda fazer aos outros aquilo que gostaríamos que nos fosse feito. Estou muito feliz e o papai, onde estiver, com certeza também estará bastante satisfeito.

Os filhos estavam muito emocionados, e a mãe sorriu com carinho, propondo:

— E agora, vamos jantar. Depois, repartiremos fraternalmente este lindo bolo e cada um comerá um pedacinho.

Autoria: Célia Xavier Camargo – Imagem meramente ilustrativa - Fonte: Internet Google.
 

sexta-feira, 15 de julho de 2022

Necessidade do Perdão

O dia estava lindo e agradável. Marcelo, porém, chegou em casa irritado e nervoso.

Entrou pisando duro, bateu a porta com força e jogou a mochila numa cadeira.

A mãe, que o observava, aproximou-se serena perguntando:

— Por que todo esse mal humor, meu filho? O sol está brilhando lá fora e a vida é bela! O que aconteceu de tão grave que justifique a maneira desagradável com que entrou em casa hoje?

Carrancudo, o menino respondeu:

— Estou zangado com o Gabriel. Além de rasgar meu livro de estimação, ainda brigou comigo. Não vou perdoá-lo nunca!

A mãezinha enlaçou-o carinhosamente e aconselhou:

— Não diga isso, meu filho. Todos nós precisamos do perdão, pois também erramos. Jesus ensinou que devemos perdoar não sete vezes apenas, mas setenta vezes sete vezes. Isto é, ensinou que devemos perdoar sempre. Além disso, também não devemos julgar ninguém. Será que o Gabriel rasgou seu livro de propósito?

— Não sei e nem me interessa. Não quero mais a amizade dele — afirmou o garoto, categórico.

A mãe passou a mão pelos cabelos do filho e ponderou:

— Tente perdoar, Marcelo. Enquanto você não esquecer a ofensa, não terá felicidade e paz.

— Não consigo, mamãe. Acho que não sei perdoar.

A senhora pareceu meditar por alguns instantes e depois falou:

— Lembra-se de quando você ganhou a bicicleta?

— Como não? — respondeu Marcelo. — Quantas vezes caí até conseguir equilibrar-me e sair andando!

— É verdade, meu filho. Hoje, porém, você não se lembra mais disso quando sai para passear. E quando aprendeu a nadar?

— Também me custou muito esforço! — lembrou o menino.

— E quando entrou na escola para ser alfabetizado? — insistiu a mãe.

— Ah, foi muito difícil. Graças a Deus já sei ler e escrever direitinho — respondeu o garoto contente consigo mesmo.

— Então, meu filho, nada se consegue sem esforço. Também as nossas imperfeições precisam de muita boa vontade da nossa parte para ser tiradas do nosso íntimo. E o ressentimento é uma delas. Precisamos aprender a perdoar.

— Ah! Já entendi. A senhora quer dizer que preciso exercitar o perdão, não é?

— Exatamente.

— Está bem, mamãe. Vou tentar.

No dia seguinte, muito a propósito, Marcelo foi brincar com um vizinho e, sem querer, quebrou um carrinho de estimação do garoto.

Triste, mas conformado, o menino aceitou seu pedido de desculpas, dizendo:

— Não tem importância, Marcelo. Sei que você não fez de propósito.

Ao ouvir as palavras do amigo, que com justa razão deveria estar zangado com ele, Marcelo lembrou-se das palavras da mãe quando afirmou que todos precisamos de perdão.

Naquele mesmo dia, procurou o colega na escola e, com um sorriso alegre, disse:

— Quero que você me desculpe se fui grosseiro outro dia, Gabriel.

— Você tinha razão, Marcelo. Eu rasguei seu livro — respondeu o menino.

— Mas tenho certeza de que não fez por querer — afirmou convicto.

— É verdade. Ele caiu das minhas mãos e, tentando segurá-lo, eu o rasguei.

Abraçaram-se contentes, prometendo mútua amizade.

Depois das aulas, Marcelo levou Gabriel até sua casa e apresentou-o à sua mãe.

— Mamãe, este é o meu “amigo” Gabriel — falou, acentuando a palavra.

Muito satisfeita, pelo sorriso do filho a mãe percebeu que o mal-entendido terminara e que Marcelo havia aprendido a perdoar.

Autoria: Célia Xavier Camargo – Imagem meramente ilustrativa - Fonte: Internet Google.
 

sexta-feira, 1 de julho de 2022

O Circo Chegou

Geraldinho andava sem destino pelas ruas, chutando pedras.

Ao virar uma esquina, deparou com um grande cartaz colorido onde se via um leão e um domador.

— Oba! O circo chegou!

Geraldinho sempre tivera grande atração por circos, mas dificilmente aparecia algum em sua pequena cidade.

Imediatamente o menino revirou os bolsos da bermuda a ver se encontrava alguma moeda. Nada. Só algumas figurinhas, um pedregulho bem polido e um estilingue.

— Como vou fazer para ir ao circo?

Pensou um pouco e descobriu:

— Já sei. Vou pedir dinheiro para a mamãe.

Voltando para casa, Geraldinho falou com a mãe, que respondeu:

— Dou sim, meu filho. Antes, porém, preciso que você me ajude varrendo o quintal.

— Varrer o quintal? Trabalhar? Nem pensar!

Geraldinho foi até a mercearia da esquina, onde o seu José era muito seu amigo.

— Seu José, poderia emprestar-me uma moeda? Quero ver o espetáculo do circo e não tenho dinheiro.

— Como não, Geraldinho? Darei a moeda se você me fizer um favor. O empregado não veio hoje e tenho algumas entregas para fazer. Poderia fazê-las para mim?

O menino, muito desapontado, foi saindo de fininho:

— Infelizmente não posso, seu José. Tenho que estudar.

Voltando para casa, Geraldinho passou defronte da residência de dona Luzia, uma vizinha muito boa e simpática. Como ela estivesse ali fora varrendo a calçada, o menino atreveu-se a pedir-lhe uma moeda emprestada.

— Claro, Geraldinho! Dar-lhe-ei a moeda, mas estou tão atarefada hoje! Minha ajudante está doente e preciso de quem me ajude a arrancar o mato do jardim. Se você me fizer essa gentileza, prometo dar-lhe não uma, mas duas moedas.

Decepcionado, o garoto respondeu:

— Infelizmente, dona Luzia, agora não dá. Minha mãe está me esperando. Até logo! — e foi embora.

Geraldinho era assim mesmo. Não gostava de fazer nada e as pessoas conhecidas sabiam disso.

Aflito, o menino via o tempo passar sem conseguir recursos para ir ao circo.

À noite, aproximou-se do local onde o circo estava montado. A lona, toda esticada, parecia um balão; o nome, em letras grandes e luminosas, piscava, convidando-o a entrar. Mas, como?

Geraldinho pensou que, se tivesse feito algum serviço, qualquer serviço, teria a alegria de assistir ao espetáculo, mas agora era tarde. Essa seria a última apresentação, e, no dia seguinte, a lona estaria desarmada e os caminhões rodando pela estrada afora.

Sentou-se no meio-fio a observar o movimento de pessoas e carros que iam e vinham.

Nisso, uma senhora idosa escorregou e caiu no chão. A sacola que carregava abriu e o conteúdo se espalhou pela calçada.

Penalizado, o garoto levantou-se imediatamente e a socorreu.

— A senhora está bem, vovó? — perguntou atencioso.

— Estou bem, meu filho, não foi nada. Graças a Deus, não me machuquei. Ficarei dolorida por alguns dias, mas é só.

O menino ajudou-a a erguer-se e, depois, recolheu as coisas dela que tinham caído no chão, colocando tudo de volta na sacola.

Refeita do susto, a senhora pediu a Geraldinho que a ajudasse a atravessar a rua.

Percebendo que a sacola estava muito pesada, ele se prontificou:

— Farei mais, vovó. Vou acompanhá-la até sua casa e carregarei a bolsa para a senhora, pois está muito pesada.

— Quanta gentileza! Mas não quero atrapalhar, meu filho. Com certeza você tem alguma coisa para fazer...

Pensando no circo, o menino suspirou, afirmando:

— Não... nada tenho para fazer.

Geraldinho levou a senhora até o portão da residência e despediu-se. A velhinha abriu a bolsa e, pegando uma linda moeda, entregou-a ao garoto:

— Agradecida, meu filho. Olhe, isto é para você. Compre o que quiser. E venha visitar-me qualquer dia desses!

Surpreso, Geraldinho fitou a moeda depositada na palma da sua mão. Era exatamente o que precisava para comprar o ingresso do circo.

Quando menos esperava, recebeu o que tanto queria. Geraldinho compreendeu que, como ajudara a velhinha, também fora ajudado. Compreendeu também que, se desejamos alguma coisa, temos que nos esforçar para obtê-la. Que, na medida em que damos, recebemos em troca.

Assim, Geraldinho comprou o ingresso e, naquela noite, divertiu-se a valer assistindo ao espetáculo do circo.

Autoria: Célia Xavier Camargo – Imagem meramente ilustrativa - Fonte: Internet Google.