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segunda-feira, 31 de agosto de 2015

A MULTA MAIOR

O recinto do Tribunal estava lotado, não tanto pela importância dos crimes que seriam julgados, mas pela presença do prefeito de Nova York, La Guardia, que costumava, nessas ocasiões, sentenciar casos policiais simples, com decisões que ficavam famosas pelo seu conteúdo de sabedoria e originalidade.

Um dos acusados fora pilhado em flagrante, roubando pão em movimentada padaria. O homem inspirava compaixão: muito magro, barba por fazer, roupas em desalinho – era a própria imagem da miséria!…

La Guardia submeteu-o, solene, ao interrogatório, consultou as testemunhas e, após rápida apreciação, considerou-o culpado, aplicando-lhe a multa de cinquenta dólares. A alternativa seria a prisão…

Em seguida, dirigindo-se à pequena multidão que acompanhava, atenta o julgamento, disse, peremptório:

- Quanto aos presentes, estão todos condenados a pagar meio dólar cada um, importância que servirá para liquidar o débito do réu, restituindo-lhe a liberdade.

E ante a estupefação geral, acentuou:

- Estão multados por viverem numa cidade onde um homem é obrigado a roubar pão para matar a fome!…

Todos nós, habitantes de qualquer cidade do Mundo, estamos sujeitos a uma multa muito mais severa, a uma sanção muito mais grave – a frustração dos anseios de Felicidade, os desajustes intermináveis, as crises de angústia – por vivermos num planeta onde as palavras fraternidade, bondade, solidariedade, são enunciadas como virtudes raras, quando são apenas elementares deveres, indispensáveis à preservação do equilíbrio em qualquer comunidade.

Dizem os Espíritos Superiores que a Felicidade do Céu é socorrer a infelicidade da Terra. Diríamos que somente na medida em que estivermos dispostos a socorrer a infelicidade da Terra é que estaremos a caminho da Felicidade do Céu.

Não há alternativa. Podemos nos isolar da multidão aflita e sofredora, mas jamais estaremos bem, porquanto a infelicidade é o clima crônico dos que se fecham em si mesmos.

Mãos servindo são antenas que estendemos para a sintonia com as fontes da Vida e a captação das Bênçãos de Deus!

Richard Simonetti - Livro: Atravessando a Rua


Fonte da imagem: Internet Google.

domingo, 16 de agosto de 2015

NO CAMINHO DO AMOR

Em Jerusalém, nos arredores do Templo, adornada mulher encontrou um nazareno, de olhos fascinantes e lúcidos, de cabelos delicados e melancólico sorriso, e fixou-o estranhamente.

Arrebatada na onda de simpatia a irradiar-se dele, corrigiu as dobras da túnica muito alva, colocou no olhar indizível expressão de doçura e, deixando perceber, nos meneios do corpo frágil, a visível paixão que a possuíra de súbito, abeirou-se do desconhecido e falou, ciciante:

- Jovem, as flores de Séforis encheram-me a ânfora do coração com deliciosos perfumes. Tenho felicidade ao teu dispor, em minha loja de essências finas…

Indicou extensa vila, cercada de rosas, à sombra de arvoredo acolhedor, e ajuntou:

- Inúmeros peregrinos cansados me buscam à procura do repouso que reconforta. Em minha primavera juvenil, encontram o prazer que representa a coroa da vida. É que o lírio do vale não tem a carícia dos meus braços e a romã saborosa não possui o mel de meus lábios.

Vem e vê! Dar-te-ei leito macio, tapetes dourados e vinho capitoso… Acariciar-te-ei a fronte abatida e curar-te-ei o cansaço da viagem longa! Descansarás teus pés em água de nardo e ouvirás, feliz, as harpas e os alaúdes de meu jardim.  Tenho a meu serviço músicos e dançarinas, exercitados em palácios ilustres!…

Ante a incompreensível mudez do viajor, tornou, súplice, depois de leve pausa:

- Jovem, por que não respondes? Descobri em teus olhos diferente chama e assim procedo por amar-te. Tenho sede de afeição que me complete a vida. Atende! atende!…

Ele parecia não perceber a vibração febril com que semelhantes palavras eram pronunciadas e, notando-lhe a expressão fisionômica indefinível, a vendedora de essências acrescentou um tanto agastada:

- Não virás?

Constrangido por aquele olhar esfogueado, o forasteiro apenas murmurou:

- Agora, não. Depois, no entanto, quem sabe?!…

A mulher, ajaezada de enfeites, sentindo-se desprezada, prorrompeu em sarcasmos e partiu.

Transcorridos dois anos, quando Jesus levantava paralíticos, ao pé do Tanque de Betesda, venerável anciã pediu-lhe socorro para infeliz criatura, atenazada de sofrimento.

O Mestre seguiu-a, sem hesitar.

Num pardieiro denegrido, um corpo chagado exalava gemidos angustiosos.

A disputada mercadora de aromas ali se encontrava carcomida de úlceras, de pele enegrecida e rosto disforme. Feridas sanguinolentas pontilhavam lhe a carne, agora semelhante ao esterco da terra.

Exceção dos olhos profundos e indagadores, nada mais lhe restava da feminilidade antiga. Era uma sombra leprosa, de que ninguém ousava aproximar.

Fitou o Mestre e reconheceu-o.

Era o mesmo mancebo nazareno, de porte sublime e atraente expressão.

O Cristo estendeu-lhe os braços, tocado de intraduzível ternura e convidou:

- Vem a mim, tu que sofres! Na Casa de Meu Pai, nunca se extingue a esperança.

A interpelada quis recuar, conturbada de assombro, mas não conseguiu mover os próprios dedos, vencida de dor.

O Mestre, porém, transbordando compaixão, prosternou-se fraternal, e aconchegou-a, de manso…

A infeliz reuniu todas as forças que lhe sobravam e perguntou, em voz reticenciosa e dorida:

- Tu?… O Messias Nazareno?… O Profeta que cura, reanima e alivia?!… Que vieste fazer, junto de mulher tão miserável quanto eu?

Ele, contudo, sorriu benevolente, retrucando apenas:

- Agora, venho satisfazer-te os apelos.

E, recordando-lhe as palavras do primeiro encontro, acentuou, compassivo:

– Descubro em teus olhos diferente chama e assim procedo por amar-te.


Médium: Chico Xavier - Espírito: Irmão X

domingo, 2 de agosto de 2015

PACIÊNCIA

O caminhoneiro solitário seguia, com fome, à margem do rio.

Nervoso e impaciente, ia censurando a tudo e a todos, por achar-se em penúria.

Caminhava devagar, quando viu algo na estrada chamando-lhe a atenção.

Uma cédula!

Abaixou-se e colheu o achado.

Uma nota de cem cruzados, enrolada e manchada.

Contudo, para surpresa sua, era somente a metade da cédula, que apesar de nova, fora inexplicavelmente cortada.

Ainda mais irritado, amarfanhou o papel valioso e atirou-o à correnteza do rio, blasfemando.

Deu mais alguns passos à frente, seguindo pela mesma estrada, quando surpreendeu outro fragmento de papel no solo.

Inclinou-se de novo e apanhou-o.

Era a outra metade da cédula que, enervado e contrafeito, havia projetado nas águas.

O vento separara as duas partes; ele, porém, não tivera a paciência de esperar alguns segundos, apenas.

Há sempre socorro às nossas necessidades.

No entanto, até para receber o auxílio da Divina Bondade ninguém prescinde de calma e da paciência.

Médium: Waldo Vieira – Espírito: Valérium.

Fonte da imagem: Internet Google.