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sábado, 22 de outubro de 2011

A PARÁBOLA RELEMBRADA


Depois da parábola do bom samaritano, à noite, em casa de Simão, Tadeu, sinceramente interessado no assunto, rogou ao Mestre fosse mais explícito no ensinamento, e Jesus, com a espontaneidade habitual, falou:


— Um homem enfermo jazia no chão, em esgares de sofrimento, às portas de grande cidade, assistido por pequena massa popular menos esclarecida e indiferente.


Passou por ali um moço romano de coração generoso, em seu carro apressado, e atirou-lhe duas moedas de prata, que um rapazelho de maus costumes subtraiu às ocultas.


Logo após, transitou pelo mesmo local um venerando escriba da Lei, que, alegando serviços prementes, prometeu enviar autoridades em benefício do mendigo anônimo.


Quase de imediato, desfilou por ali um sacerdote que lançou ao viajante desamparado um gesto de bênção e, afirmando que o culto ao Supremo Senhor esperava por ele, exortou o povo a asilar o doente e alimentá-lo.


Depois dele, surgiu, de relance, respeitável senhora, a quem o pobre se dirigiu em comovedora súplica; todavia, a nobre matrona, lastimando as dificuldades da sua condição de mulher, invocou o cavalheirismo masculino, para aliviá-lo, como se fazia imprescindível.


Minutos após, um grande juiz varou o mesmo trecho da via pública asseverando que nomearia testemunhas a fim de saber se o mísero não seria algum viciado vulgar, afastando-se, lépido, sob o pretexto de que a oportunidade lhe não era favorável.


Decorridos mais alguns instantes, veio à cena um mercador de bolsa que, condoído, asseverou a sua carência de tempo e deu vinte moedas a um homem que lhe pareceu simpático, a fim de que o problema de assistência fosse resolvido, mas o preposto improvisado era um malfeitor evadido do cárcere e fugiu com o dinheiro sem prestar o socorro prometido.


O doente tremia e suava de dor, rojado ao pó, quando surgiu ali velho publicano, considerado de má vida, por não adorar o Senhor, segundo as regras dos fariseus.


Com espanto de todos, aproximou-se do infeliz, endereçou-lhe palavras de encorajamento e carinho, deu-lhe o braço levantou-o e, sustentando-o com as próprias energias, conduziu-o a uma estalagem de confiança, fornecendo-lhe medicação adequada e dividindo com ele o reduzido dinheiro que trazia consigo.


Em seguida, retomou a sua jornada, seguindo tranqüilamente o seu caminho.


Depois de interromper-se, ligeiramente, o Mestre perguntou ao discípulo:


— Em tua opinião, quem exerceu a caridade legítima?


— Ah! sem dúvida — exclamou Tadeu, bem-humorado —, embora aparentemente desprezível, foi o publicano, porquanto, além de dar o dinheiro e a palavra, deu também o sentimento, o tempo, o braço e o estímulo fraterno, utilizando, para isso, as próprias forças.


Jesus, complacente, fitou no aprendiz os olhos penetrantes e rematou:


— Então, faze tu o mesmo.


A caridade, por substitutos, indiscutivelmente é honrosa e louvável, mas o bem que praticamos em sentido direto, dando de nós mesmos, é sempre o maior e o mais seguro de todos.


Livro: Jesus no Lar - Médium: Chico Xavier – Espírito: Néio Lúcio.
Fonte da imagem: Internet

sábado, 15 de outubro de 2011

O JUIZ REFORMADO


Como houvesse o Senhor recomendado nas instruções do dia muita cautela no julgar, a conversação em casa de Pedro se desdobrava em derredor do mesmo tema.


— É difícil não criticar — comentava Mateus, com lealdade —, porque, a todo instante, o homem de mediana educação é compelido a emitir pareceres na atividade comum.


— Sim — concordava André, muito franco —, não é fácil agir com acerto, sem analisar detidamente.


Depois de vários depoimentos, em torno do direito de observar e corrigir, interferiu Jesus sem afetação: — Inegavelmente, homem algum poderá cumprir o mandato que lhe cabe, no plano divino da vida, sem vigiar no caminho em que se movimenta, sob os princípios da retidão.


Todavia, é necessário não inclinar o espírito aos desvarios do sentimento, para não sermos vitimados por nós mesmos.


Seremos julgados pela medida que aplicarmos aos outros.


O rigor responde ao rigor, a paciência à paciência, a bondade à bondade...


E, transcorridos alguns instantes, contou: — Quando Israel vivia sob o governo dos grandes juízes, existiu um magistrado austero e violento, em destacada cidade do povo escolhido, que imprimiu o terror e a crueldade em todos os serventuários sob a sua orientação.


Abusando dos poderes que a lei lhe conferia, criou ordenações tirânicas para a punição das mínimas faltas.


Multiplicou infinitamente o número dos soldados, edificou muitos cárceres e inventou variados instrumentos de flagelação.


O povo, asfixiado por estranhas proibições, devia movimentar-se debaixo de severa fiscalização, qual se fora rebanho de bravios animais.


Trabalharia, descansaria e adoraria o Senhor, em horas rigorosamente determinadas pela autoridade, sob pena de sofrer humilhantes castigos, nas prisões, com pesadas multas de toda espécie.


Se bem mandava o juiz, melhor agiam os subordinados, cheios de natural malvadez.


Assim foi que, certa feita, dirigindo-se o magistrado, alta noite, à casa de um filho enfermo, foi aprisionado, sem qualquer consideração, por um grupo de guardas bêbedos e inconscientes que o conduziram a escura enxovia que ele mesmo havia inaugurado, semanas antes.


Não lhe valeram a apresentação do nome e as honrosas insígnias de que se revestia.


Tomado por temível ladrão, foi manietado, despojado dos bens que trazia e espancado sem piedade, afirmando os sentinelas que assim procediam, obedecendo às instruções do grande juiz, que era ele próprio.


Somente no dia imediato foi desfeito o equívoco, quando o infeliz homem público já havia sofrido a aplicação das penas que a sua autoridade estabelecera para os outros.


O legislador atribulado reconheceu, então, que era perigoso transmitir o poder a subalternos brutalizados e ignorantes, percebendo que a justiça construtiva e santificante é aquela que retifica ajudando e educando, na preparação do Reinado do Amor entre os homens.


Desde a singular ocorrência, a cidade adquiriu outro modo de ser, porque o juiz reformado, embora prosseguisse atento às funções que lhe competiam, ergueu, sobre o tribunal, a benefício de todos, o coração de pai compreensivo e amoroso.


Lá fora, brilhavam estrelas, retratadas nas águas serenas do grande lago.


Depois de longa pausa, o Mestre concluiu: — Somente aquele que aprendeu intensamente com a vida, estudando e servindo, suando e chorando para sustentar o bem, entre os espinhos da renúncia e as flores do amor, estará habilitado a exercer a justiça, em nome do pai.


Livro: Jesus no Lar - Médium: Chico Xavier – Espírito: Néio Lúcio.
Fonte da imagem: Internet

sábado, 8 de outubro de 2011

A CARIDADE DESCONHECIDA


A conversação em casa de Pedro versava, nessa noite, sobre a prática do bem, com a viva colaboração verbal de todos.


Como expressar a compaixão, sem dinheiro? Por que meios incentivar a beneficência, sem recursos monetários? Com essas interrogativas, grandes nomes da fortuna material eram invocados e a maioria inclinava-se a admitir que somente os poderosos da Terra se encontravam à altura de estimular a piedade ativa, quando o Mestre interferiu, opinando, bondoso: — Um sincero devoto da Lei foi exortado por determinações do Céu ao exercício da beneficência; entretanto, vivia em pobreza extrema e não podia, de modo algum, retirar a mínima parcela de seu salário para o socorro aos semelhantes.


Em verdade, dava de si mesmo, quanto possível, em boas palavras e gestos pessoais de conforto e estímulo a quantos se achavam em sofrimento e dificuldade; porém, magoava-lhe o coração a impossibilidade de distribuir agasalho e pão com os andrajosos e famintos à margem de sua estrada.


Rodeado de filhinhos pequeninos, era escravo do lar que lhe absorvia o suor.


Reconheceu, todavia, que, se lhe era vedado o esforço na caridade pública, podia perfeitamente guerrear o mal, em todas as circunstâncias de sua marcha pela Terra.


Assim é que passou a extinguir, com incessante atenção, todos os pensamentos inferiores que lhe eram sugeridos; quando em contacto com pessoas interessadas na maledicência, retraía- se, cortês, e, em respondendo a alguma interpelação direta, recordava essa ou aquela pequena virtude da vítima ausente; se alguém, diante dele, dava pasto à cólera fácil, considerava a ira como enfermidade digna de tratamento e recolhia-se à quietude; insultos alheios batiam-lhe no espírito à maneira de calhaus em barril de mel, porquanto, além de não reagir, prosseguia tratando o ofensor com a fraternidade habitual; a calúnia não encontrava acesso em sua alma, de vez que toda denúncia torpe se perdia, inútil, em seu grande silêncio; reparando ameaças sobre a tranqüilidade de alguém, tentava desfazer as nuvens da incompreensão, sem alarde, antes que assumissem feição tempestuosa; se alguma sentença condenatória bailava em torno do próximo, mobilizava, espontâneo, todas as possibilidades ao seu alcance na defesa delicada e imperceptível; seu zelo contra a incursão e a extensão do mal era tão fortemente minucioso que chegava a retirar detritos e pedras da via pública, para que não oferecessem perigo aos transeuntes.


Adotando essas diretrizes, chegou ao termo da jornada humana, incapaz de atender às sugestões da beneficência que o mundo conhece.


Jamais pudera estender uma tigela de sopa ou ofertar uma pele de carneiro aos irmãos necessitados.


Nessa posição, a morte buscou-o ao tribunal divino, onde o servidor humilde compareceu receoso e desalentado.


Temia o julgamento das autoridades celestes, quando, de improviso, foi aureolado por brilhante diadema, e, porque indagasse, em lágrimas, a razão do inesperado prêmio, foi informado de que a sublime recompensa se referia à sua triunfante posição na guerra contra o mal, em que se fizera valoroso empreiteiro.


Fixou o Mestre nos aprendizes o olhar percuciente e calmo e concluiu, em tom amigo: — Distribuamos o pão e a cobertura, acendamos luz para a ignorância e intensifiquemos a fraternidade aniquilando a discórdia, mas não nos esqueçamos do combate metódico e sereno contra o mal, em esforço diário, convictos de que, nessa batalha santificante, conquistaremos a divina coroa da caridade desconhecida.


Livro: Jesus no Lar - Médium: Chico Xavier – Espírito: Néio Lúcio.
Fonte da imagem: Internet

sábado, 1 de outubro de 2011

Os Mensageiros Distraídos


Os ouvintes do culto da Boa Nova discorriam sobre as polêmicas que se travavam incessantemente em torno da fé, nos círculos do farisaísmo de várias escolas, quando o Cristo, dentro da profunda simplicidade que lhe era característica, narrou, tolerante:


— Um grande senhor recebeu alarmantes notícias de vasto agrupamento de servos, em zona distante da sede do seu governo, que se viam fustigados por febre maligna, e, desejoso de socorrer os tutelados que sofriam na região remota de seus domínios, enviou-lhes mensageiros de confiança, conduzindo remédios adequados à situação e providências alusivas ao reajustamento geral.


Os emissários saíram do palácio com grandes promessas de trabalho, segurança e eficiência na missão; todavia, assim que se viram fora das portas do senhor, começaram a rixar pela escolha dos caminhos.


Uns reclamavam o atalho, outros a planície sem espinheiros e outros, ainda, pediam a passagem através dos montes.


Longos dias perderam na disputa, até que o grupo se desuniu, cada falange atendendo aos próprios caprichos, com absoluto esquecimento do objetivo fundamental.


As dificuldades, porém, não foram solucionadas com decisão.


Criados os roteiros diferentes, como que se dilataram os conflitos.


Reduzidas agora, numericamente, as expedições sofreram, com mais rigor, os golpes esterilizantes das opiniões pessoais.


Os viajantes não cuidavam senão de inventar novos motivos para o atrito inútil.


Entre os que marchavam pelo trilho mais curto, pela vargem e pela serra lavraram discussões improdutivas, contundentes e intermináveis.


Dias e noites preciosos eram despendidos em comentários ruidosos quanto à febre, quanto à condição dos enfermos ou quanto às paisagens em torno.


Horas difíceis de amargura e desarmonia, de momento a momento, interrompiam a viagem, sendo a muito custo evitadas as cenas de pugilato e homicídio.


Surgiam as contendas, a propósito de mínimas questões, com pleno desperdício da oportunidade, e, em razão disso, tanto se atrasaram os viajores do atalho, quanto os da planície e do monte, de vez que se encontraram no vale da peste a um só tempo, com enorme e irremediável desapontamento para todos, porquanto, à míngua do prometido recurso, não sobrara nenhum doente vivo na carne.


A morte devorara-os, um a um, enquanto os mensageiros discutidores matavam o tempo, através da viagem.


O Mestre fixou nos aprendizes o olhar muito lúcido e aduziu:


— Neste símbolo, temos o mundo atacado pela peste da maldade e da descrença e vemos o retrato dos portadores da medicação celeste, que são os religiosos de todos os matizes, que falam na Terra, em nome do Pai.


Os homens iluminados pela sabedoria da fé, entretanto, apesar de haverem recebido valiosos recursos do Céu para os que sofrem e choram, em conseqüência da ignorância e da aflição dominantes no mundo, olvidam as obrigações que lhes assinalam a vida e, sobrepondo os próprios caprichos aos propósitos do Supremo Senhor, se desmandam em desvarios verbais de toda espécie.


Enquanto alimentam o distúrbio, levianos e distraídos, os necessitados de luz e socorro desfalecem à falta de assistência e dedicação.


E afagando uma das crianças presentes, qual se concentrasse todas as esperanças no sublime futuro, finalizou sorridente e calmo:


— A discussão, por mais proveitosa, nunca deve distrair-nos do serviço que o Senhor nos deu a fazer.


Livro: Jesus no Lar - Médium: Chico Xavier – Espírito: Néio Lúcio.
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