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sábado, 27 de outubro de 2012


COMUNICAÇÕES

A história parece brejeira, mas o fato é autêntico.

Rafael Provenzano escutava os grandes comentaristas do Evangelho, entre despeitado e infeliz. Atormentado de inveja. Queria também falar às massas, comover a multidão. Nada lhe fulgia tanto aos olhos como a tribuna. E aguardava ansioso, o dia em que pudesse alcançar aquele ponto saliente no espaço, de onde a sua voz conseguisse impressionar centenas de ouvidos. Embora fixado à semelhante ambição, era empregado de singela sapataria. E a sua especialidade era bater pinos em sola.

Bastas vezes, surpreendia-se no trabalho, mentalizando público enorme e ele a falar, a falar sob aplausos.

Talvez por isso fosse ranzinza. Conflito permanente entre a vocação e a profissão. A família e os companheiros pagavam a diferença. A esposa e as quatro filhinhas, em casa, sofriam-lhe a teimosia e o desespero. Irritadiço, classificava-se à conta de tirano doméstico. Apurava com esmero o hábito de chacoalhar e ferir. A tensão não se limitava ao círculo mais íntimo. A parentela toda aguentava espancamentos morais. Entre amigos era temido na condição de crítico impertinente. Apesar de tudo isso, a paixão de Rafael era pregar solenemente a verdade cristã nos templos espíritas.

Certa noite, quando falava Martinho, o orientador espiritual da reunião mediúnica de que era participante, Rafael consultou o comunicante a respeito de seus velhos propósitos.

Sim, meu filho – comentou o benfeitor, através do médium -, você poderá ensinar, mais tarde, das tribunas. Agora, porém, é cedo. Convém estudar, preparar-se, aprender a servir...

E prosseguiu explicando que a banca de solador era também lugar santo. Podia demonstrar fé e abnegação pelo exemplo, edificar, inspirar, auxiliar...

Ouviu paciente, mas saiu desapontado.

Decorridas algumas semanas, o grupo se aprestava à reunião, em sala adequada. Conversa amena. Uma hora faltando para o início das orações.

Rafael chega alegre. Participa que deseja expor ao estimado Martinho o estudo de um belo sonho e contou aos circunstantes que, na noite anterior, se vira espiritualmente, fora do corpo físico. Sentira-se volitando, leve qual pluma ao vento. E contemplara aos céus um cartaz com seis letras “A.D.P.S.B.P.”, em projeção radiante. Tomara nota de tudo ao despertar.

Dona Emília, que supunha nos sonhos um constante veículo para grandes ensinamentos, inquiriu dele, quanto à conclusão a que chegara.

Pois a senhora não compreende?

Rafael explanou para o auditório interessado:

Segundo a minha intuição, as letras querem dizer: “agora deves pregar sem bater pinos”.

E acentuou que, apesar de algum sacrifício para a família, se dispunha a tentar outro emprego. Precisava de tempo livre. Se isso redundasse em privações e provações, afirmava-se pronto para o que desse e viesse. Por fim, declarou-se cansado de bater couro de boi para calçados. Aspirava a posição diferente.

No horário justo, a pequena assembleia se entregou às tarefas que, naquela noite, se vinculavam à desobsessão.

Atividades preparatórias. Preces. E começou movimentado socorro às entidades enfermas. Martinho ocupava o médium esclarecedor, que, de quando em quando, orientava os serviços, dava ideias.

Rafael pediu vez para conversar. O instrutor, contudo, recomendou-lhe esperasse. Necessário desincumbir-se de obrigações mais urgentes. Entender-se-iam no fim. Com efeito, ao término das atividades, Martinho convidou-o à palavra.

Algo tímido. Provenzano narrou o sonho, referiu-se às letras luminosas que descobrira no firmamento, como que brilhando especialmente para ele, e reasseverou os antigos desejos. Queria ser grande conferencista e prometia consagrar-se, de corpo e alma, aos ensinamentos públicos do Evangelho.

O amigo espiritual, sereno, perguntou sobre a interpretação que ele, o interessado, dera às letras.

Rafael repetiu, impávido: “agora deves pregar sem bater pinos”.

O benfeitor espiritual, todavia, pintou expressão de complacência no rosto do médium e observou:

Efetivamente, Rafael, você esteve fora do corpo de carne e viu, de fato, a mensagem do plano espiritual... Mas, engana-se, quanto ao que julga ter lido. As letras querem dizer, simplesmente: “antes de pregar seja bom primeiro”.

Livro: Cartas e Crônicas – Médium: Chico Xavier - Espírito Irmão X.
Fonte da imagem: Internet Google.

sábado, 6 de outubro de 2012


CARTA ESTIMULANTE

Diz você, meu amigo, que, depois de haver assistido a alguns trabalhos interessantes de materialização, passou a registrar estranhas modificações no modo de ver.

Assinalou diversas entidades momentaneamente corporificadas, à frente dos olhos, e, pela surpreendente claridade que irradiavam, compreendeu a beleza da vida

Quando os clarões das luzes inexprimíveis se apagaram, retomou quase desacoroçoado, à tarefa comum.

A lembrança das sugestivas revelações perdurava-lhe na memória; entretanto, a via pública pareceu-lhe mais fria e o ambiente doméstico, onde ninguém se lhe afeiçoa as idéias, figurou-se-lhe um cárcere ao pensamento.

No dia seguinte, em retomando o serviço habitual, os companheiros de luta, menos esclarecidos, eram mais duros de suportar.

Deslocara-se-lhe a mente.

À maneira do lenhador que examina uma central elétrica, você passou a sentir o peso do trabalho no carvão comum.

Para que alimentar o fogo a toras de madeira, se há força acessível e eficiente?

Tedioso cansaço assomou-lhe o coração.

E marcou espantado, o vigoroso conflito entre sua alma e a realidade, através de incoercível desajustamento.

Não seria razoável abandonar toda atividade considerada por inferior e partir em busca das claridades de cima? Valeria a pena prosseguir enfrentando o barro da cerâmica em que você trabalha, quando a imortalidade se lhe patenteou indiscutível e brilhante?

Todavia, é forçoso considerar que se a semente pudesse despertar ante a grandeza de uma espiga madura e não se sujeitasse mais ao serviço que lhe compete na cova lodacenta, naturalmente o mundo se privaria de pão.

O plano espiritual, contudo, não pretende instalar a fome ou a ociosidade na Terra.

O Planeta é uma escola em que a inteligência encarnada recebe a lição de que necessita.

Entre a maloca indígena e o castelo civilizado, medeiam muitos séculos de cultura, com experiências vastíssimas e assombrosas, e, entre o palácio dos homens e o santuário dos anjos, há que andar por numerosos séculos ainda...

O Cristianismo que você abraçou, com tanta sinceridade e ternura, permanece repleto de ensinamentos nesse sentido.

Diante do Tabor, em que Espíritos bem-aventurados se materializaram ao lado do Mestre, em transfiguração indescritível, Pedro, deslumbrado, pede para que uma choupana seja ali construída, a fim de que nunca mais regressassem ao mundo vulgar; entretanto, o grande apóstolo é arrebatado de lá, ao torvelinho de ação rotineira, dentro do qual perdeu e venceu várias vezes, sob o tacão de vicissitudes humanas até alcançar a verdadeira exaltação pelo martírio e pelo sacrifício.

Envolve-se Paulo num dilúvio de bênçãos nas vizinhanças de Damasco, mas, ao invés de acompanhar o Cristo magnânimo que o abraça de improviso, é convocado a perambular por muitos anos entre desapontamento e pedradas, no seio da multidão.

Que mais?

O próprio Mestre, no Jardim da prece solitária, sente-se visitado por um anjo divino que desce do firmamento em sublime esplendor; todavia, longe de segui-lo em carro de triunfo para as Esferas Superiores, desce para o cárcere, sofre o insulto da turba ameaçadora, e marcha humilhado para a crucificação.

Não transforme, pois, a excelência do estímulo revelador em desalento para o trabalho natural.

Valores imperecíveis não surgem de imediato.

Tempo e esforço são as chaves do crescimento da alma.

Se os Espíritos elevados reaparecem no intercâmbio dos dois círculos de vida a que nos ajustamos, é que se inspiram no ministério da caridade e desejam acordar os homens para mais altas noções de justiça e fraternidade, a fim de que se fortaleçam e aprimorem, perante a continuidade da vida e da individualidade, além túmulo...

Se você foi chamado às tarefas do oleiro, atenda, quanto possível, ao enriquecimento íntimo, nos estudos e serviços que a nossa Consoladora Doutrina oferece, mas não olvide os tijolos e manilhas, telhas e vasos que a sua indústria foi convidada a materializar.

Institua facilidade e abundância para que os menos favorecidos de recursos e de inteligência consigam construir seus ninhos aos quais se abrigam pobres aves humanas, em peregrinação aflitiva na erraticidade.

Esforce-se para que seu nome seja louvado e abençoado pelos que compram e vendem, pelos que administram e obedecem, convencido de que, se não devemos esquecer a contemplação das estrelas, não encontraremos o caminho de acesso a elas se não acendermos alguma lamparina no chão.

Livro: Cartas e Crônicas – Médium: Chico Xavier - Espírito Irmão X.
Fonte da imagem: Internet Google.