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quinta-feira, 15 de junho de 2023

A Pesca Inesperada

Antônio morava com a família numa pequena aldeia à beira-mar e seu pai, Pedro, era pescador.

Eram dias difíceis aqueles. Viviam da pesca e os peixes haviam desaparecido do mar.

A mãe de Antônio trabalhava muito, fazendo todo o serviço doméstico e ainda auxiliando na limpeza dos peixes que seriam colocados à venda.

Nunca lhes faltara o necessário, embora eles fossem pobres. Agora, porém, a fome rondava a casa.

Durante muitos dias, seu pai saíra para o mar, jogara as redes, mas o barco voltava vazio.

Um grande desânimo tomou conta do coração do pescador e já nem tinha vontade de sair para pescar.

A comida rareava em seu lar, pois não tinha dinheiro, e Pedro via com preocupação o dia em que sua família passaria fome.

Um dia, bateu à porta da casa do pescador uma velhinha suplicando um prato de comida.

— Estou faminta — disse ela com voz fraca. — Pelo amor de Deus, ajudem-me!

Pedro, irritado e nervoso com a situação difícil que atravessava no momento respondeu com grosseria:

— Ajudá-la, como? Mal temos o suficiente para nossa alimentação! Não posso.

O pequeno Antônio, cheio de compaixão pela pobre velhinha, retrucou:

— Mas, papai, ela está pedindo em nome de Deus! Mamãe me ensinou que Jesus disse que deveríamos fazer aos outros o que gostaríamos que os outros nos fizessem. Se estivéssemos na situação dessa senhora, não apreciaria o senhor também ser tratado com bondade?

A mãe de Antônio, de coração generoso e também desejando ajudar a anciã, concordou:

— Nosso filho tem razão, Pedro. Além disso, um prato de comida é tão pouco! Não nos fará falta e Jesus ficará contente conosco.

Vencido pelos familiares, Pedro concordou, afinal.

Era hora da janta e, carinhosamente, a mãe de Antônio fez com que a mendiga entrasse.

Sentaram-se à mesa e repartiram o pouco que tinham, fraternalmente.

Na manhã seguinte o menino acordou e viu seu pai dentro de casa.

— O senhor não vai sair para pescar hoje? — perguntou curioso.

— Não adianta. Os peixes desapareceram do mar — respondeu o pescador cheio de desânimo.

Antônio, com os olhos brilhantes, disse:

— Tenha confiança em Jesus, meu pai. Ele não nos desampara nunca. Vamos para o mar e eu o ajudarei a pescar. Tenho fé em Deus que conseguiremos.

Mais animado pelas palavras do garoto, Pedro arrumou suas coisas rapidamente e saíram no barco.

Pedro jogou a rede e, para sua surpresa, recolheu-a cheia de peixes. E assim, na segunda e na terceira vez.

Retornaram para casa felizes. Pedro não continha sua alegria.

— Graças a você, meu filho, fizemos uma grande pesca e a tranquilidade voltará a reinar em nossa casa.

Fez uma pausa, abraçou o menino e completou, comovido:

— Não fosse sua fé em Deus, nada teríamos conseguido. Bem que Jesus nos ensinou que quem tivesse fé do tamanho de um grão de mostarda conseguiria qualquer coisa. Mas porque você tinha tanta certeza de que nós não voltaríamos de mãos vazias?

— Porque eu aprendi, com Jesus, que quando ajudamos alguém também somos ajudados! — respondeu Antônio com muita lógica.

Pedro fitou o filho longamente, com os olhos rasos de lágrimas, agradecendo a Deus as lições que teve nesse dia inesquecível pela boca de uma criança.

A partir dessa data, Pedro passou a confiar mais em Deus e, informado de que aquela velhinha não possuía um lar e nem parentes, convidou-a para, daquele dia em diante, morar em sua casa e fazer parte da sua família.

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.
 

quinta-feira, 1 de junho de 2023

Encontro Com a Realidade

Marcos era um menino que, não obstante ter tudo, não dava o menor valor às coisas que possuía.

Nunca estava contente com os brinquedos que ganhava, reclamava sempre das roupas que sua mãe comprava com tanto carinho.

Mas o pior mesmo é quando chegava a hora das refeições. Marcos nunca estava satisfeito, a comida sempre ruim e sem gosto.

Sua mãezinha aconselhava-o, preocupada com seu bem-estar:

— Coma um pouco, meu filho. Você precisa se alimentar!

— Não quero! Não gosto de nada! Esta comida está uma droga. Quero chocolate e biscoitos.

— Mas meu filho — insistia a mãe com carinho e tolerância — você nem experimentou! A carne assada está uma delícia. Além do mais, os alimentos são necessários para nosso organismo. Você acabará ficando fraco...

O garoto fazia uma careta de desagrado e respondia mal-educado:

— Não. Não quero. Não gosto de carne assada. Ainda se fosse uma torta de frango...

A mãe suspirava, desanimada.

No dia seguinte, porém, à hora do almoço, a mãezinha afirmava contente:

— Hoje fiz o que você queria, meu filho. Veja o que temos para o almoço. Uma linda e apetitosa torta de frango!

O menino fazia uma careta e reclamava, mal-humorado:

— Torta de frango?!... Logo hoje que estou com vontade de comer uma macarronada?

E assim acontecia sempre: no café da manhã, no almoço, no jantar. Nada estava bom.

Ele não se alimentava a não ser de bobagens, e a cada dia se enfraquecia mais, embora sua mãe o aconselhasse, preocupada:

— Marcos, meu filho, temos que saber agradecer a Deus o que nos concede. Existem muitas crianças que dariam tudo para ter o que você tem e não dá valor.

Marcos tinha um colega na escola que vivia sempre muito calado. Era um menino humilde, bom e delicado, e Marcos gostava dele.

Certo dia, Marcos reclamou da insistência de sua mãe para que ele se alimentasse e perguntou se a dele, João, também era assim.

— Não — respondeu João com simplicidade.

— Como? Sua mãe não insiste para que você coma?

— Não. Minha mãe me deixa à vontade.

Marcos ficou todo entusiasmado:

— Ah! Como gostaria de morar na sua casa! Estou cansado da vida que levo. Eu não poderia passar uns dois dias com vocês? Olhe, este final de semana estarei livre; meus pais vão viajar e ficarei com os empregados. Não será difícil convencer mamãe a deixar-me ficar em sua casa. Por favor, eu gostaria muito!

Com a insistência de Marcos, Joãozinho concordou, relutante.

Não tinham muito tempo, pois já era sexta-feira. Concedida permissão para passar o final de semana com o amigo, Marcos arrumou algumas coisas numa pequena mochila e foram para a casa de Joãozinho.

Andaram... andaram... andaram muito. Essa foi a primeira decepção de Marcos, pois a casa ficava muito longe, num bairro distante do centro da cidade.

Ao chegarem, o menino estranhou a simplicidade da moradia. Era uma pequena construção de madeira, pintada de creme e cercada por um jardinzinho.

João apresentou o amigo à sua mãe, explicando que Marcos iria ser hóspede da casa por dois dias. Amável, a senhora falou-lhe com um sorriso amigo:

— Seja bem-vindo, meu filho!

Alegando que estava cansado, Marcos pediu para repousar um pouco, indagando onde era o quarto que iria ocupar.

— Aqui mesmo! — apontou Joãozinho — Dormiremos meu irmão, você e eu no mesmo quarto. Você e meu irmão ocuparão as camas, eu durmo no chão.

Marcos nada disse, mas não gostou de repartir o quarto com outras pessoas. Sempre tivera o seu próprio quarto.

A refeição foi frugal, consistindo em chá com pão. Estranhando, Marcos perguntou: — Só isso?

— Só. Essa é a nossa janta. — respondeu a dona da casa com delicadeza — Desde que meu marido morreu, nossa situação ficou muito difícil e luto para sustentar a casa. Aceita um pouco de chá?

— Não gosto de chá, obrigado.

— Sinto muito. Não temos outra coisa para lhe oferecer. Quando tenho dinheiro compro leite, mas hoje não deu.

Marcos foi dormir com o estômago vazio. Na manhã seguinte, o café foi mais magro ainda. Não havia pão, só chá.

Era sábado e não teriam aula. A mãe de Joãozinho acordou-os cedo. Precisavam ajudá-la nos cuidados com a horta.

A contragosto, Marcos trabalhou a manhã inteira. Na hora do almoço estava esfomeado. Para comer, havia alguns ovos, cenouras e couves, colhidos na horta, e arroz.

Com a fome que estava, Marcos até aceitou a comida simples com prazer. Após o almoço ajudaram nas tarefas domésticas, depois foram brincar.

Àquela altura, Marcos já estava com fome novamente. Lembrava-se da comidinha gostosa e farta de sua mãe, dos doces saborosos, dos biscoitos... e sentiu uma profunda saudade. Agora tudo aquilo lhe parecia tão importante!

A mãe de Joãozinho tinha feito pão e o cheiro de pão assado era muito convidativo. Comeu pão e tomou chá, como se fosse a melhor refeição do mundo.

Após o final de semana, quando voltou para casa, estava bem diferente. Ao encontrar sua mãe Marcos falou-lhe comovido:

— Estava com muita saudade, mamãe.

— Como foi o passeio? — perguntou ela, sentindo que algo acontecera.

— Sabe, mamãe, aprendi muita coisa. Aprendi até a gostar de chá, cenouras e couves! Joãozinho é um menino muito pobre e eles quase não têm o que comer. Ele não tem roupas, nem brinquedos e seus sapatos estão furados. Agora entendo porque a senhora disse que temos que agradecer a Deus tudo o que temos.

A mãe abraçou o filho, emocionada.

— Que bom, meu filho, que você agora pensa assim.

— Compreendo agora que a vida pode ser muito difícil e acho que tive um encontro com a realidade. Quero pedir que a senhora vá comigo até a casa do Joãozinho. Tem tanta coisa que não preciso e que faz falta a eles!

A mãe fitou com os olhos rasos de lágrimas aquele garoto de oito anos e que agora lhe parecia um homenzinho, falando tão sério e compenetrado.

Abraçou-o com imenso carinho, agradecendo a Deus a proveitosa lição que seu filho tivera.

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.