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quarta-feira, 15 de março de 2023

A Árvore e os Frutos

Chegando em casa após as aulas, Denis procurou não fazer ruído. Entrou pé-ante-pé, com receio de enfrentar a mãe. Todavia, não escapou da pergunta costumeira:

— Onde esteve, meu filho?

— Ora, mamãe! No colégio, é lógico!

— Denis, suas aulas terminaram às 5 e já passam das 7 horas da noite. O que fez nesse tempo todo?

A senhora se preparou para ouvir as explicações do filho, que nos últimos dias aconteciam com frequência. Denis fez cara de inocente e retrucou:

— Poxa, mamãe! Tenho que dar conta de todos os meus passos? Estava com amigos, ora!

— Que amigos?

— Uma turma legal que conheci há algum tempo.

Como o pai não tardaria a chegar e ela estivesse atrasada com a refeição, a senhora deu por terminada a conversa, dizendo:

— Falaremos sobre isso depois, meu filho. Agora, tome o seu banho e não demore. Hoje é dia de nosso Evangelho no Lar, lembra-se?

O garoto concordou, feliz por ter se livrado da bronca.

Após o jantar, sentaram-se para fazer o Evangelho. O pai Eugênio, a mãe Clara, Luciana de 6 anos e Denis.

A lição da noite, aberto o livro ao acaso, foi:

“A árvore que produz maus frutos não é boa e a árvore que produz bons frutos não é má; portanto cada árvore se conhece pelo seu próprio fruto. Não se colhem frutos nos espinheiros, nem cachos de uvas nas sarças. O homem de bem tira as coisas boas do bom tesouro do seu coração e o homem mau tira as más do mau tesouro do seu coração; porquanto a boca fala do que está cheio o coração”. (Lucas, 6:43 a 45.)

Após a leitura, fizeram comentários sobre a lição. Clara explicou:

— Jesus quis dizer com essas palavras que nosso comportamento dirá aos outros como nós somos. Daí a importância do nosso exemplo em qualquer lugar: na escola, no trabalho, na rua, no lar. Se agirmos mal, seja através de palavras ou de atos, estaremos demonstrando a todos que viemos de uma árvore má. E isso denota o que trazemos por dentro, como são baixos os nossos pensamentos, que se traduzem em atitudes negativas da nossa parte.

Luciana, que ouvira a conversa da mãe com o irmão, lembrou-se de comentar:

— Mamãe, ontem vi Denis com uma turma tão esquisita! Os meninos eram grandes, usavam cabelos pintados de cores fortes e tinham brincos nas orelhas.

Denis, que ouvia calado, respondeu irritado:

— Você não tem nada com isso, sua fofoqueira! Eles são legais e meus verdadeiros amigos.

O pai interferiu, prontamente:

— Calma, meus filhos! Não é hora para discutirmos esse problema. Nossa reunião semanal não é um tribunal em que analisamos as atitudes das pessoas. Além disso, Luciana, não podemos julgar ninguém pela aparência externa. O importante é o que a pessoa é por dentro. Os amigos de Denis podem ser excelentes garotos. A verdade é que não os conhecemos.

Denis olhou para o pai, agradecido pela força que lhe dera, enquanto Luciana fazia uma careta para o irmão. A mãe, para concluir, disse-lhe com carinho:

— Os pais sempre querem o melhor para seus filhos. Se muitas vezes parecemos severos, é que desejamos dar a vocês a melhor educação possível, para que ninguém venha a dizer que vocês são frutos de uma árvore má. Especialmente você, Denis, que já está com doze anos, deve ter muito cuidado com as amizades que escolhe, porque existem por aí muito desequilíbrio, vícios e toda espécie de mal. Mas, confiamos em vocês, que receberam a boa semente do Evangelho de Jesus e temos certeza de que sempre agirão o melhor possível de acordo com suas consciências.

Clara fez uma prece e deu por terminada a reunião.

No dia seguinte, a turma de Denis combinou de sair à noite. O rapazinho prometeu que ia falar com os pais.

Assim, acabando as aulas, foi direto para casa. A mãe ficou satisfeita, achando que era resultado da conversa do dia anterior.

Encontrando um momento propício, Denis pediu:

— Papai, mamãe, gostaria de sair hoje à noite com a turma. Afinal, já tenho doze anos.

O casal trocou um olhar preocupado. Eugênio perguntou:

— Aonde pretendem ir?

— Apenas comer um sanduíche, papai. Abriu uma lanchonete nova e queremos conhecer. Prometo que volto logo. Deixa, pai!

— Está bem, meu filho. Mas não demore! — concordou o pai, dando-lhe algum dinheiro.

Todo satisfeito, Denis arrumou-se e saiu para encontrar com os amigos.

— Aonde vamos? — perguntou a Vitão, o líder da turma.

— Dar um “rolé” por aí. Aguarde e verá. Não vai se arrepender.

Denis não entendeu, mas ficou calado. A turma era de quatro rapazes mais velhos, experientes, e ele sentia-se orgulhoso de ter sido aceito por eles.

Logo passaram por um carro estacionado e o líder deu uma risadinha:

— Esse carro é do professor de Ciências, aquela careta. Caprichem nele.

Os rapazes rodearam o carro e esvaziaram completamente os pneus, para espanto de Denis.

Mais adiante, local de menos movimento, Vitão tirou do bolso interno da jaqueta um spray de tinta preta e puseram-se a pichar um muro pintado de novo. Horrorizado, Denis via tudo isso sem poder fazer nada. Não estava reconhecendo os amigos.

Depois, passando por um orelhão, quebraram todo o aparelho telefônico.

Naquele instante, vendo o vandalismo dos amigos, Denis lembrou-se da lição do dia anterior. Certamente aqueles frutos não viriam de árvores boas. Apesar do medo que sentia do líder, garoto forte e agressivo, resolveu dar um basta:

— Estou fora — disse.

— Como assim? — perguntou Vitão, espantado.

— Você entendeu. Se é esse tipo de coisa que vocês costumam fazer, não são meus amigos, nem amigos de ninguém. Estou fora. Adeus.

Fez meia volta, sem se preocupar com a reação do bando, e retornou para casa. Estava triste e decepcionado, mas, ao mesmo tempo, orgulhoso por ter tido coragem de tomar uma atitude.

Ao entrar, sua mãe estranhou:

— Ué! De volta tão cedo?!...

— É, mamãe. Descobri que o melhor sanduíche ainda é o seu.

— E a turma? — indagou o pai, surpreso.

— Ficaram lá. Percebi que não me servem. Não são frutos bons.

Satisfeito, comeu com apetite o sanduíche que sua mãe preparou com imenso carinho.

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.
 

quarta-feira, 1 de março de 2023

Sacrifício de Mãe

O pai havia desencarnado fazia já algum tempo, partindo para a Pátria Espiritual, e Maneco ficou sozinho com sua mãe.

A vida, que até aquela data fora tranquila, sem que nada lhes faltasse, tornou-se difícil. Os recursos que o pai deixara minguavam dia a dia e, em poucos meses, acabaram por completo.

Maneco, porém, sem perceber a situação, continuava na mesma vida: estudava, brincava e divertia-se.

Acostumado a ter o que desejava, sem se privar de nada, começou a reclamar de tudo: da comida, das roupas gastas, dos sapatos usados, mostrando-se exigente e insatisfeito.

A mãezinha amorosa, cujos recursos restringiam-se à pensão que o marido deixara ao desencarnar, não sabia o que fazer para agradar o filho.

Não tendo dinheiro, a pobre mulher recorria à bondade dos vizinhos e amigos, emprestando o suficiente para comprar algo melhor para o filho: uma fruta, um pedaço de carne, algumas batatas, algum doce.

Quando o rapazinho se sentava à mesa e comia com apetite, a mãe sentia-se compensada de seus esforços, e fitava-o embevecida, satisfeita. Maneco perguntava:

— Não vai almoçar, mamãe?

Invariavelmente ela respondia, dando uma desculpa:

— Não estou com fome, meu filho.

Ou, então, alegava que já havia almoçado, ou que almoçaria depois.

Certo dia, ao chegar à sua casa, Maneco encontrou a mãezinha na cama, desfalecida.

O médico, chamado às pressas, após examiná-la, informou:

— O estado de sua mãe é de fraqueza extrema. Provavelmente não come há vários dias. Precisa alimentar-se melhor para poder recuperar as forças.

Maneco, surpreso, não sabia o que dizer. Aproximando-se do leito, perguntou à mãe:

— Por que não tem se alimentado, mamãe?

A generosa senhora, um pouco envergonhada, nada disse; apenas uma lágrima desceu pelo seu rosto pálido.

Maneco, perplexo, compreendeu enfim. Aos poucos foi ligando os fatos, lembrando-se de tudo o que vinha acontecendo, e entendeu que a mãezinha sacrificava-se por ele. Dava o melhor de si para o filho, nada reservando para ela mesma. E ele, insensível e prepotente, nunca percebera o sacrifício da mãe.

Maneco caiu ajoelhado, em lágrimas, ao lado do leito pobre, enquanto lhe dizia com voz entrecortada de emoção:

— Perdoe mãezinha, não ter percebido a nossa real situação e a grandeza da sua generosidade. Mas, nunca senti falta de nada! Como é que a senhora conseguia comprar tudo que me oferecia?

Uma vizinha, que chegara há pouco e ouvia a conversa, respondeu comovida:

— Sua mãe emprestava o dinheiro de um e de outro para que nada lhe faltasse, Maneco.

— Meu Deus! Como pude ser tão cego? Mamãe, eu arranjarei um emprego, pois já tenho idade para trabalhar. Não ganharei muito, por certo, mas o pouco que receber será o suficiente para amenizar nosso infortúnio. Deus nos ajudará mamãe, e seremos muito felizes ainda.

A mãe, com sorriso terno, afirmou contente:

— Deus já nos ajudou meu filho, e considero-me muito feliz por Ele ter-me dado um filho como você!

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.