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sábado, 25 de setembro de 2010
A RAZÃO DA DOR
Raquel, antiga servidora da residência de Cusa, ergueu a voz para indagar do Mestre por que motivo a dor se convertia em aflição nos caminhos do mundo.
Não era o homem criação de Deus? Não dispõe a criatura do abençoado concurso dos anjos? Não vela o Céu sobre os destinos da Humanidade? Jesus fitou na interlocutora o olhar firme e considerou: — A razão da dor humana procede da proteção divina.
Os povos são famílias de Deus que, à maneira de grandes rebanhos, são chamados ao Aprisco do Alto.
A Terra é o caminho.
A luta que ensina e edifica é a marcha.
O sofrimento é sempre o aguilhão que desperta as ovelhas distraídas à margem da senda verdadeira.
Alguns instantes se escoaram mudos e o Mestre voltou a ponderar: — O excesso de poder favorece o abuso, a demasia de conforto, não raro, traz o relaxamento, e o pão que se amontoa, de sobra, costuma servir de pasto aos vermes que se alegram no mofo...
Reparando, porém, que a assembléia de amigos lhe reclamava explicação mais ampla, elucidou fraternalmente:
— Um anjo, por ordem do Eterno Pai, tomou à própria conta um homem comum, desde o nascimento.
Ensinou-lhe a alimentar-se, a mover os membros e os músculos, a sorrir, a repousar e a asilar-se nos braços maternos.
Sem afastar-se do protegido, dia e noite, deu-lhe as primeiras lições da palavra e, em seguida, orientou-lhe os impulsos novos, favorecendo-lhe o ensejo de aprender a raciocinar, a ler, a escrever e a contar.
Afastava-o, hora a hora, de influências perniciosas ou mortíferas de Espíritos infelizes que o arrebatariam, por certo para o sorvedouro da morte.
Soprando-lhe ao pensamento idéias iluminadas aos clarões do Infinito Bem, através de mil modos de socorro imperceptível, garantiu-lhe a saúde e o equilíbrio do corpo.
Dava-lhe medicamentos invisíveis, por intermédio do ar e da água, da vestimenta e das plantas.
Vezes sem conta, salvou-o do erro, do crime e dos males sem remédio que atormentam os pecadores.
Ao amanhecer, o Pajem Celestial acorria, atento, preparando-lhe dia calmo e proveitoso, defendendo-lhe a respiração, a alimentação e o pensamento, vigiando-lhe os passos, com amor, para melhor preservar-lhe os dons; ao anoitecer, postava-se-lhe à cabeceira, amparando- lhe o corpo contra o ataque de gênios infernais, aguardando-o, com maternal cuidado, para as doces instruções espirituais nos momentos de sono.
No transcurso da vida, guiou-lhe os ideais, auxiliou-o a selecionar as emoções e a situar-se em trabalho digno e respeitável; clareou- lhe o cérebro jovem, insuflou-lhe entusiasmo santo, rumo à vida superior, e estimulou-o a formar um reino de santificação e serviço, progresso e aperfeiçoamento, num lar...
O homem, todavia, que nunca se lembrara de agradecer as bênçãos que o cercavam, fez-se orgulhoso e cruel, diante dos interesses alheios.
Ele, que retinha tamanhas graças do Céu, jamais se animou a estendê-las na Terra e passou simplesmente a humilhar os outros com a glória de que fora revestido por seu devotado e invisível benfeitor.
Quando experimentou o primeiro desgosto, que ele mesmo provocou menosprezando a lei do amor universal, que determina a fraternidade e o respeito aos semelhantes, gesticulou, revoltado, contra o Céu, acusando o Supremo Senhor de injusto e indiferente.
Aflito, o anjo guardião procurava levantar-lhe o ideal de bondade, quando um Anjo Maior se aproximou dele e ordenou que o primeiro dissabor do tutelado endurecido por excesso de regalias se convertesse em aflição.
Rolando, mentalmente, de aflição em aflição, o homem começou a recolher os valores da paciência, da humildade, do amor e da paz com todos, fazendo-se, então, precioso colaborador do Pai, na Criação.
Finda a historieta, esperou Jesus que Raquel expusesse alguma dúvida, mas emudecendo a servidora, dominada pela meditação que os ensinamentos da noite lhe sugeriam, o culto da Boa Nova foi encerrado com ardente oração de júbilo indefinível.
Livro: Jesus no Lar, lição 31 - Médium: Chico Xavier - Espírito: Néio Lúcio.
sábado, 18 de setembro de 2010
O SANTO DESILUDIDO
Inclinara-se a palestra, no lar humilde de Cafarnaum, para os assuntos alusivos à devoção, quando o Mestre narrou com significativo tom de voz: — Um venerado devoto retirou-se, em definitivo, para uma gruta isolada, em plena floresta, a pretexto de servir a Deus.
Ali vivia, entre orações e pensamentos que julgava irrepreensíveis, e o povo, crendo tratar-se de um santo messias, passou a reverenciá-lo com intraduzível respeito.
Se alguém pretendia efetuar qualquer negócio do mundo, dava-se pressa em buscar-lhe o parecer.
Fascinado pela alheia consideração, o crente, estagnado na adoração sem trabalho, supunha dever situar toda gente em seu modo de ser, com a respeitável desculpa de conquistar o paraíso.
Se um homem ativo e de boa-fé lhe trazia à apreciação algum plano de serviço comercial, ponderava, escandalizado: — É um erro.
Apague a sede de lucro que lhe ferve nas veias.
Isto é ambição criminosa.
Venha orar e esquecer a cobiça.
Se esse ou aquele jovem lhe rogava opinião sobre o casamento, clamava, aflito: — É disparate.
A carne está submetendo o seu espírito.
Isto é luxúria.
Venha orar e consumir o pecado.
Quando um ou outro companheiro lhe implorava conselho acerca de algum elevado encargo, na administração pública, exclamava, compungido: — É um desastre.
Afaste-se da paixão pelo poder.
Isto é vaidade e orgulho.
Venha orar e vencer os maus pensamentos.
Surgindo pessoa de bons propósitos, reclamando-lhe a opinião quanto a alguma festa de fraternidade em projeto, objetava, irritadiço: — É uma calamidade.
O júbilo do povo é desregramento.
Fuja à desordem.
Venha orar subtraindo-se à tentação.
E assim, cada consulente, em vista da imensa autoridade que o santo desfrutava, se entristecia de maneira irremediável e passava a partilhar-lhe os ócios na soledade, em absoluta paralisia da alma.
O tempo, todavia, que todo transforma, trouxe ao preguiçoso adorador a morte do corpo físico.
Todos os seguidores dele o julgaram arrebatado ao Céu e ele mesmo acreditou que, do sepulcro, seguiria direto ao paraíso.
Com inexcedível assombro, porém, foi conduzido por forças das trevas a terrível purgatório de assassinos.
Em pranto desesperado indagou, à vista de semelhante e inesperada aflição, dos motivos que lhe haviam sitiado o espírito em tão pavoroso e infernal torvelinho, sendo esclarecido que, se não fora homicida vulgar na Terra, era ali identificado como matador da coragem e da esperança em centenas de irmãos em humanidade.
Silenciou Jesus, mas João, muito admirado, considerou: — Mestre, jamais poderia supor que a devoção excessiva conduzisse alguém a infortúnio tão grande! O Cristo, porém, respondeu, imperturbável: — Plantemos a crença e a confiança entre os homens, entendendo, entretanto, que cada criatura tem o caminho que lhe é próprio.
A fé sem obras é uma lâmpada apagada.
Nunca nos esqueçamos de que o ato de desanimar os outros, nas santas aventuras do bem, é um dos maiores pecados diante do Poderoso e Compassivo Senhor.
Livro Jesus no Lar, lição 11 – Médium: Chico Xavier – Espírito: Néio Lúcio.
sábado, 11 de setembro de 2010
O SERVIDOR NEGLIGENTE
Á porta de grande carpintaria, chegou um rapaz, de caixa às costas, à procura de emprego.
Parecia humilde e educado.
O diretor da instituição compareceu, atencioso, para atendê-lo.
- Tem serviço com que me possa favorecer? – indagou o jovem, respeitoso, depois das saudações habituais.
- As tarefas são muitas – elucidou o chefe.
- Oh! Por favor! – tornou o interessado – meus velhos pais necessitam de amparo. Tenho batido, em vão, à porta de várias oficinas. Ninguém me socorre. Contentar-me-ei com salário reduzido e aceitarei o horário que desejar.
O diretor, muito calmo, acentuou:
- Trabalho não falta...
E, enquanto o candidato mostrava um sorriso de esperança, acrescentou:
- Traz suas ferramentas em ordem?
- Perfeitamente – respondeu o interpelado.
- Vejamo-las.
O moço abriu a caixa que trazia. Metia pena reparar-lhe os instrumentos.
A enxó se achava deformada pela ferrugem grossa.
O serrote mostrava vários dentes quebrados.
O martelo tinha cabo incompleto.
O alicate estava francamente desconjuntado.
Diversos formões não atenderiam a qualquer apelo de serviço, tal a imperfeição que apresentavam seus gumes.
Poeira espessa recobria todos os objetos.
O dirigente da oficina observou... observou ... e disse, desencantado:
- Para o senhor, não temos qualquer trabalho.
- Oh! por quê? – interrogou o rapaz, em tom de súplica.
O diretor esclareceu, sem azedume:
- Se o senhor não tem cuidado com as ferramentas que lhe pertencem, como preservará nossas máquinas? Se é indiferente naquilo em que deve sentir-se honrado, chegará a ser útil aos interesses alheios? Quem não zela atentamente no “pouco” de que dispõe, não é digno de receber o “muito”. Aprenda a cuidar das coisas aparentemente sem importância. Pelas amostras, grandes negócios se realizam neste mundo e o menosprezo para consigo é indesejável mostruário de sua indiferença perniciosa. Aproveite a experiência e volte mais tarde.
Não valeram petitórios do moço necessitado.
Foi compelido a retirar-se, em grande abatimento, guardando a dura lição.
Assim também acontece no caminho comum.
Quem deseja o corpo iluminado e glorioso na espiritualidade, além da morte, cuide respeitosamente do corpo físico.
Quem aspira à companhia dos anjos, mostre boas maneiras, boas palavras e boas ações aos vizinhos.
Quem espera colheita de alegrias no futuro, aproveite a hora presente, na sementeira do bem.
E quantos sonharem com o Céu, tratem de fazer um caminho de elevação na Terra mesma.
Três irmãos dedicados a Jesus leram no Evangelho que cada homem receberá sempre, de acordo com as próprias obras, e prometeram cumprir as lições do Mestre.
O primeiro colocou-se na indústria do fio de algodão e, de tal modo se aplicou ao serviço que, em breve, passou à condição de interessado nos lucros administrativos. Dentro de vinte e cinco anos, era o chefe da organização e adquiriu títulos de verdadeiro benfeitor do povo. Ganhava dinheiro com imensa facilidade e socorria infortunados e sofredores. Dividia o trabalho eqüitativamente e distribuía os lucros com justiça e bondade.
O segundo estudou muito tempo e tornou-se juiz famoso. Embora gozasse do respeito e da estima dos contemporâneos, jamais olvidou os compromissos que assumira à frente do Evangelho. Defendeu os humildes, auxiliou os pobres e libertou muitos prisioneiros perseguidos pela maldade. De juiz tornou-se legislador e cooperou na confecção de leis benéficas e edificantes. Viveu sempre honrado, rico, feliz, correto e digno.
O terceiro, porém, era paralítico. Não podia usar a inteligência com facilidade. Não poderia comandar uma fábrica, nem dominar um tribunal. Tinha as pernas mirradas. O leito era a sua residência.
Lembrou, contudo, que poderia fazer um serviço de oração e começou a tarefa pela humilde mulher que lhe fazia a limpeza doméstica.
Viu-a triste e lacrimosa e procurou conhecer-lhes as mágoas com discrição e fraternidade. Confortou-a com ternura de irmão. Convidou-a a orar e pediu para ela as bênçãos divinas.
Bastou isto e, em breve, trazidos pela servidora reconhecida, outros sofredores vinham rogar-lhe o concurso da prece. O aposento singelo encheu-se de necessitados. Orava em companhia de todos, oferecia-lhes o sorriso de confiança na bondade celeste. Comentava os benefícios da dor, expunha suas esperanças no Reino Divino. Dava de si mesmo, gastando emoções e energias no santo serviço do bem.
Escrevia cartas inúmeras, consolando viúvas e órfãos, doentes e infortunadas, insuflando-lhes paz e coragem. Comia pouco e repousava menos. Tanto sofreu com as dores alheias que chegou a esquecer-se de si mesmo e tanto trabalhou que perdeu o dom da vista. Cego, contudo, não ficou sozinho. Prosseguiu colaborando com os sofredores, através da oração, ajudando-os, cada vez mais.
Morreram os três irmãos, em idade avançada, com pequenas diferenças de tempo.
Quando se reuniram, na vida espiritual, veio um Anjo examinar-lhes as obras com uma balança.
O industrial e o juiz traziam grande bagagem, que se constituía de várias bolsas, recheadas com o dinheiro e com as sentenças que haviam distribuído em benefício de muitos. O servidor da prece trazia apenas pequeno livro, onde costumava escrever suas rogativas.
O primeiro foi abençoado pelo conforto que espalhou com os necessitados e o segundo foi também louvado pela justiça que semeara sabiamente. Quando o Anjo, porém, abriu o livro do ex-paralítico, dele saiu uma grande luz, que tudo envolveu numa coroa resplandecente. A balança foi incapaz de medir-lhe a grandeza.
Então, o Mensageiro falou-lhe feliz:
- Teus irmãos são benditos na Casa do Pai pelos recursos que distribuíram, em favor do próximo, mas, em verdade, não é muito difícil ajudar com o dinheiro e com a fama que se multiplicam facilmente no mundo. Sê, porém, bem-aventurado, porque deste de ti mesmo, no amor santificante. Gastaste as mãos, os olhos, o coração, as forças, os sentimentos e o tempo a benefício dos semelhantes e a Lei do Sacrifício determina que a tua moradia seja mais alta. Não transmitiste apenas os bens da vida: irradiaste os dons de Deus.
E o servidor humilde do povo foi conduzido a um céu mais elevado, de onde passou a exercer autoridade sobre muita gente.