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terça-feira, 15 de outubro de 2024

A Experiência da Raposa

Certa vez, uma raposa de lindo rabo peludo e de elegante nariz pontudo, aproveitando a noite que tinha chegado de mansinho, entrou em um galinheiro.

Fez-se grande tumulto. As aves corriam assustadas, trombando umas nas outras e cacarejando de medo.

Satisfeita com a confusão que se estabeleceu entre as galinhas, a raposinha corria de um lado para o outro, arrancando-lhes as penas e divertindo-se a valer. Até que percebeu uma galinha que continuava no mesmo lugar. Parou a brincadeira e aproximou-se, curiosa.

A galinha, com as asas abertas, arrepiada, protegia seu ninho onde sete pintainhos, mal acabados de sair da casca do ovo, pipilavam. Ao ver que a raposa se aproximava, tremendo de pavor, a pobre mãe suplicou:

— Por favor, dona Raposa, não destrua minha família que amo tanto. Se quiser pode comer a mim, mas não mate meus filhinhos e Deus a recompensará por sua generosidade. Eles nada lhe fizeram! São pobres criaturinhas indefesas. Tenha piedade!

Ouvindo a súplica da mãezinha aflita, a pequena raposa condoeu-se e foi embora do galinheiro, para grande surpresa das aves que respiraram aliviadas.

Algum tempo depois, a raposa, já crescida, foi também abençoada com duas lindas raposinhas, que eram o seu maior tesouro.

Certo dia percebeu, nas imediações da sua toca, um cachorro adestrado na caça às raposas, e procurou proteger seus filhotinhos da melhor maneira possível.

Porém o cão, que possuía faro muito delicado, encontrou o esconderijo. Impedindo que elas fugissem, arreganhou os dentes, rosnando colérico e pronto para atacá-las.

Nesse instante, a raposa-mãe lembrou-se da vez em que entrara no galinheiro e das palavras da galinha.

Tremendo de medo ela gaguejou:

— Você tem filhotes?

Surpreso, o cachorro parou e respondeu:

— Tenho.

Criando coragem, a raposa continuou:

— Então sabe o que estou sentindo. Por piedade, não mate minhas filhas que são tudo o que tenho. E se isso estivesse acontecendo com sua família? Poupe-nos e Deus o recompensará por sua generosidade.

O valente cão de caça pensou... Pensou... E achou que a raposa tinha razão. Cheio de piedade foi embora sem molestá-las.

A raposa abraçou as filhas com amor, agradecendo a Deus a ajuda e reconhecendo o valor da lição que manda fazer ao próximo aquilo que queremos que os outros nos façam.

Como naquele dia em que ela tinha ajudado uma pobre galinha desesperada que suplicava pela vida de seus pintainhos, agora, por sua vez, num momento de perigo, tinha recebido a mesma ajuda de um cão de caça, que se condoeu da sua situação de mãe, que defendia seus filhotes.

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.
 

terça-feira, 1 de outubro de 2024

A Descoberta

Toninho, de nove anos, era um menino diferente e, por isso, causava muitas preocupações aos seus pais.

Frequentava a escola, mas não gostava de estudar e apresentava dificuldades em acompanhar a classe.

Apreensivos com seu futuro, os pais tentavam de todas as maneiras fazer com que Toninho se interessasse por alguma coisa. Mas, qual nada! Ele gostava mesmo era de brincar.

À medida que o tempo passava, os pais do menino ficavam cada vez mais aflitos. Já haviam tentado de tudo.

Procuraram despertar-lhe interesse pela música. Foi um desastre. Piano, Toninho não tinha paciência para suportar os monótonos exercícios. Violão, ele ficava irritado e colocava tanta força no manejo que em pouco tempo arrebentava as cordas. Violino, nem pensar. Bateria, ele não gostava de barulho. Enfim, para a música, não tinha vocação, nem ritmo e nem sensibilidade, deixando os professores desanimados.

— Já que você não tem tendência para a música, meu filho, quem sabe uma outra arte? A pintura, por exemplo. Veja o exemplo dos grandes gênios da pintura. É fascinante!

— Está bem. Vou tentar.

Mas, qual! Toninho não conseguia lidar com os pincéis nem com a mistura das cores. Ficava entediado, e logo desistiu.

— Se você não gosta de estudar, nem de música ou de pintura, quem sabe se interessa por algum esporte? Poderia talvez jogar futebol! — considerou a mãezinha dedicada.

— Nem pensar. Gosto de assistir jogo, mas não de correr atrás de uma bola.

— Bem, talvez então alguma modalidade de atletismo?

— Corrida, salto em distância, arremesso de peso... Nada disso faz o meu gênero.

— Tênis?

— Nem pensar.

— Talvez vôlei?

— Não tenho altura suficiente.

— Natação?

— Gosto de ir à piscina, mas entro na água apenas para refrescar o corpo do calor do sol.

— Basquete?

— Não tenho pontaria.

Enfim, tentaram todas as modalidades de esporte. Nada.

Os pais, cada vez mais preocupados. Toninho contava agora quinze anos. Crescera, transformando-se num rapaz alto e magro. Porém ainda não descobrira nada que o interessasse.

Experimentaram a informática, mas ele usava o computador apenas para divertir-se com os jogos.

A mãe de Toninho estava cada vez mais aflita, mas o pai insistia em afirmar:

— Fique calma, querida. Todas as pessoas têm habilidade ou tendência para alguma coisa. Nosso filho não é diferente. Ele vai acabar descobrindo do que gosta.

— Será? Tenho pedido tanto a Deus que ilumine nosso filho! — dizia a mãezinha um tanto desanimada.

Certo dia, Toninho encontrava-se passeando num parque. Sentou-se à borda do lago e pôs-se a pensar. Aquela situação também não era agradável para ele. Tinha vontade de fazer alguma coisa, mas não sabia o quê. Nesse momento, lembrou-se de Deus e orou com fervor suplicando ajuda e proteção. Sentia-se inútil e sem objetivos na vida. Abaixou a cabeça e chorou sentidamente.

Sentiu-se mais reconfortado. De repente, Toninho olhou em torno e viu um pedaço de madeira ali perto. Teve o impulso de pegá-lo nas mãos. Revirou-o para todos os lados, observando-o. Interessante! Pareceu-lhe ver a imagem de um pássaro de asas fechadas naquela madeira. No mesmo instante, Toninho pegou um canivete de estimação que trazia sempre no bolso, e começou a trabalhar.

Com habilidade, esculpiu a cabeça, colocou os olhos no lugar, trabalhou as asas. Depois, modelou as pernas e os pés, que se apoiavam num pedaço de galho.

Toninho não viu o tempo passar. Quando terminou, ele ficou extasiado diante da pequena escultura, obra de suas mãos.

Correu para casa. Queria contar a novidade. Chegando, mostrou a escultura.

— Vejam! Papai, você tinha razão. Todos nós temos potencialidades ignoradas e habilidades insuspeitas. Descobri que minhas mãos servem para alguma coisa. Também posso ser útil e criativo.

— Mas, quando foi que aprendeu a esculpir em madeira? — indagou o pai, intrigado.

— Não sei. Parece-me que já aprendi e que estou apenas recordando!

Era imensa a perplexidade e a alegria dos pais. Finalmente, Toninho descobrira uma razão para viver!

Desse dia em diante, Toninho como que tivera sua vista alargada. Tudo o que via, enxergava com outros olhos, vislumbrando sempre o que poderia fazer, modificar, transformar, esculpir.

Tornou-se um grande artista. Seus trabalhos eram muito procurados e suas exposições bastante concorridas. Ficou conhecido no Brasil e no exterior, mas jamais deixou de ser a criatura simples que era.

Agora, porém, tinha um objetivo. Ajudar crianças, passando seus conhecimentos e ensinando que somente nos sentiremos felizes quando trabalharmos com amor fazendo aquilo que gostamos.

Agradecia sempre a Deus, que o ajudara quando mais precisava, indicando-lhe o caminho que deveria trilhar.

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.