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segunda-feira, 15 de setembro de 2025

O Carrossel

Fernando era um menino muito pobre. De família humilde, suas dificuldades eram imensas, pois muitas vezes em sua casa faltava até o que comer.

Mas Fernando possuía um coração muito bom, era alegre e prestativo, e o pouco que ele tinha repartia com os outros.

Era entregador numa loja, cujo dono resolvera ajudá-lo apenas para que não ficasse na rua. Seu “salário” era muito pequeno. Na verdade, resumia-se às gorjetas que as pessoas de boa-vontade lhe davam pela sua ajuda.

Um dia voltava ele para casa e aquele tinha sido um dia de pouco movimento; ganhara apenas algumas moedas.

Era quase noite. Passando defronte de uma linda vitrine de confeitaria, ficou parado olhando os doces que ali estavam expostos.

Ouviu um suspiro fundo vindo do seu lado. Virou-se e viu uma garotinha que, de olhos arregalados, fitava um enorme pedaço de bolo com cobertura de chocolate.

A menina, maltrapilha, tinha o aspecto pálido e doentio de quem não se alimentava há muitas horas. Condoído da situação da garota, Fernando perguntou:

— Você está com fome?

Ela balançou a cabeça, concordando, sem tirar os olhos do bolo.

Fernando enfiou a mão no bolso consultando seus magros recursos.

Ele também estava com fome. Porém, certamente em casa sua mãe o estaria esperando com um prato de sopa quente e um pedaço de pão.

Gostaria de comprar alguma coisa para ele, Fernando, com aquele dinheiro que lhe custara tanto ganhar, mas a pequena parecia tão faminta!

Resolveu-se. Entrou na confeitaria, pegou o pedaço de bolo e orgulhosamente, por ter podido comprá-lo com o “seu dinheiro”, ofereceu-o à pequena maltrapilha com amplo sorriso.

O olhar de alegria da menina foi suficiente para recompensá-lo.

Satisfeito, tomou o caminho para seu lar. Próximo de sua casa viu as luzes de um parque de diversões que haviam montado naquele dia.

A música, as luzes e o movimento de pessoas atraíram a atenção de Fernando.

Adorava parque de diversões com seus brinquedos e sua música. Principalmente o carrossel, com os cavalinhos que subiam e desciam rodando sempre ao som de uma música, o encantava.

Ficou parado, olhando. Como gostaria de andar naquele carrossel! Mas, infelizmente, não tinha mais moedas.

O preço de um ingresso para uma volta no brinquedo era o mesmo que gastara comprando o pedaço de bolo para a pequena mendiga. Se não tivesse comprado o doce, agora teria o dinheiro para dar uma volta no carrossel.

Lembrou-se, porém, do rostinho sujo e satisfeito da menina e afastou esse pensamento egoísta da sua cabeça.

“Não tem importância” — pensou — “Mamãe sempre me disse que tudo aquilo que fizermos aos outros, Deus nos dará em dobro. Está, portanto, bem empregado o meu dinheiro”.

Nisso, percebeu um garoto muito bem vestido a seu lado, chupando um sorvete. Vendo Fernando olhar o carrossel, perguntou:

— Quer andar de cavalinho?

— Quero. Mas não tenho dinheiro — respondeu.

O garoto estendeu-lhe dois bilhetes dizendo, indiferente:

— Tome.

— Mas não tenho com que pagar! — gaguejou Fernando.

— Não tem importância. Já estou cansado desses brinquedos. Meu pai é dono desse parque e tenho sempre quantos bilhetes quiser.

Agradecendo, Fernando fitou os bilhetes com os olhos úmidos de emoção, enquanto dizia para si mesmo:

— Minha mãe tinha razão. Eu sabia que Deus ia me retribuir, mas não pensei que fosse tão rápido.

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.
 

segunda-feira, 1 de setembro de 2025

O Sonho de Laurinho

Laurinho tinha apenas oito anos, mas era muito vivo e inteligente.

Certo dia, na escola, ele ouviu a professora falar sobre a existência da “alma” explicando que ela é imortal e, por isso, já existia antes desta vida e continuaria existindo após a morte do corpo. Para finalizar, a professora, que era espírita, completou:

— O sono é um estado muito parecido ao da morte, porque o espírito se desprende do corpo e vai para onde quiser. A diferença é que, do sono, acordamos todas as manhãs; e, quando ocorre a morte do corpo material, o espírito não volta mais a habitar aquele corpo de carne.

Laurinho escutou com muita atenção e ficou preocupado com as palavras da professora.

Na verdade, não entendia direito como isso poderia acontecer. Aliás, nem sabia se acreditava em “espírito”.

— Será que temos mesmo uma alma ou espírito? — perguntou.

— Nós não temos uma alma ou espírito, Laurinho. “Nós somos” o espírito — respondeu a professora.

Laurinho estava surpreso. Ele nunca ouvira ninguém falar sobre esse assunto!

Assim, voltou pensativo e cheio de dúvidas para casa, e o resto do dia não conseguiu pensar em outra coisa.

À noite, fez uma pequena oração para Jesus, que a mãe ensinara, e deitou-se. Não demorou muito, estava dormindo.

Algum tempo depois, Laurinho acordou. Sentiu sede e levantou-se para beber água.

Reconhecia-se mais leve, bem disposto. Ao olhar para o leito, levou um susto. Viu um outro Laurinho dormindo.

Como poderia estar em dois lugares ao mesmo tempo?!...

Lembrou-se, então, do que a professora havia ensinado.

— Que legal! Então, este é meu corpo espiritual e estou fora do corpo de carne!

Achando graça da situação, saiu do quarto e caminhou pela casa. Seus pais ainda estavam acordados e Laurinho viu a mãe fazendo tricô e o pai lendo um livro em sua cadeira de balanço preferida.

Foi até a cozinha beber água, mas não conseguiu segurar o copo, pois sua mão passava por ele sem conseguir pegá-lo.

Viu seu gatinho Xuxu que estava ronronando num canto da cozinha e resolveu brincar com ele.

— Xuxu! Xuxu! — chamou.

O gatinho acordou, sonolento. Laurinho aproximou-se e passou as mãos no animalzinho que, eriçando os pelos, miou e correu a esconder-se no quarto de despejo no meio de um monte de roupas, como se estivesse com medo.

Laurinho resolveu deixar Xuxu em paz e voltar para o quarto.

Ao passar pela sala, viu o vovô Carlos ao lado de sua mãe. O avô, sorridente, disse:

— Cuide de sua mãe para mim, Laurinho. Diga a ela que estou muito bem.

O menino, já com sono, voltou para o quarto e deitou-se.

No dia seguinte, Laurinho despertou cedo para ir à escola. Trocou de roupa e foi até a cozinha onde sua mãe acabava de preparar o café.

Sentaram-se. A senhora comentou, enquanto colocava café na xícara:

— Que estranho! Não sei onde está o seu gatinho. Sempre que sentamos à mesa para as refeições, Xuxu se aproxima para ganhar alguma coisa. Estou acordada há horas e ele ainda não apareceu.

Naquele momento, Laurinho lembrou-se do sonho que tivera e afirmou:

— Eu sei onde ele está.

Levantou-se, foi até o quarto de despejo, abriu a porta e Xuxu saiu se espreguiçando todo.

— Como você sabia que ele estava lá? — Perguntou o pai, curioso.

Laurinho contou o sonho que teve à noite, deixando os pais surpresos. Depois continuou:

— E tem mais. O vovô Carlos, que estava na sala ao seu lado, mamãe, pediu-me que cuidasse de você e que lhe dissesse que ele está muito bem.

Emocionada, a senhora, cujo pai tinha morrido há alguns meses, exclamou:

— Mas, seu avô Carlos já morreu, meu filho!

— Pois eu o vi bem vivo, mamãe. E nem me lembrei que ele já estava morto.

Os pais de Laurinho não continham a satisfação e se abraçaram, percebendo que algo de muito grandioso ocorrera àquela noite.

Eles, que não acreditavam em nada, sentiam agora uma nova esperança em seus corações, graças ao sonho de seu filho Laurinho.

E o menino, de olhos arregalados, disse:

— E não é que minha professora tem razão? A morte não existe!...

Autoria: Célia Xavier Camargo
Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.